Capítulo 03

2540 Words
Beatriz O chão fugiu aos meus pés quando soube que meu salvador se machucou, ele arriscou sua vida para salvar a minha e da Luna eu precisava saber se ele estava bem, precisava saber do seu estado, precisava lhe agradecer por me dar mais uma chance de viver novamente, se nao fosse por ele talvez nesse momento eu não estaria aqui. Quando a dona Ruth termina de me falar eu só me levanto do sofá e vou até a recepção do hotel e falo com o recepcionista. __ Por favor, preciso usar seu telefone. __ Claro, sem problema. Meu corpo inteiro tremia, minhas mãos suavam, meus olhos já queriam marejar de novo, me controlo e ligo na Central de informações e peço o telefone do Corpo de Bombeiros de meu bairro. Quando a ligação foi completada, eu estava à beira de um ataque de nervos. Eu m*l deixei o homem do outro lado da linha falar e já me adiantei. __ Sou a mulher que o bombeiro salvou ontem. A mim e à minha filha. Acabei de saber que ele se machucou. Preciso saber como ele está. Ele se machucou muito? Quanto tempo vai demorar para ele ficar bem de novo? __ Desculpe-me, senhora, mas não posso lhe dar essa informação. __ Por favor senhor, ele se colocou em uma situação terrivelmente perigosa para salvar a mim e à minha filha. Preciso agradece-lo, preciso que saiba o quanto significa o que ele fez por nós, ele foi o nosso herói. Se Não fosse por ele talvez eu nem estivesse aqui falando com o senhor. __ Compreendo que esteja preocupada, mas... Espere um momento. __ É a Sra. Thompson? Por um momento, fico surpresa pelo homem saber o meu nome, logo outro senhor atende a minha ligação. __ Alô! __ Oi, eu sou a Beatriz Thompson a moça que o bombeiro salvou. __ Meu nome é Jeff Phillips. Sou o capitão do Pelotão 6. Como você e sua filha estão passando? __ Saímos do hospital há poucas horas e dentro do possível estamos bem. __ Fico feliz em saber disso. E sinto muito pelo incêndio em seu apartamento. Eu sabia que chegaria a hora em que ficaria de luto pela perda dos momentos preciosos dos tempos em que a Luna era bebê e dos meus momentos com o Marcus no apartamento. A perda de meus bens materiais, porém, não significava nada diante do fato de que um bombeiro se feriu tentando nos salvar. __Preciso agradecer ao bombeiro pessoalmente pelo que fez tentando ajudar a mim e a minha filha. __Desculpe-me, Sra. Thompson, mas... __ Por favor, devo tudo a ele. Devo a minha vida a ele. __ Preciso falar com o Raphael primeiro. __ Muito obrigada. Vou ser muito grata se o senhor consegui lhe convencer a nos ver. Antes de encerrar a ligação dei ao capitão o número do telefone da recepção do hotel, logo após subi com a Luna a nossa nova casa temporária, chegamos ao nosso quarto e minha pequena já pula na cama e liga a TV, mas eu não conseguia parar de me preocupar com o homem, Raphael que havia colocado a própria segurança em risco para garantir a segurança minha e da Luna. Deixo a Luna na TV e vou resolver minhas questões bancárias, fico tão concentrada em resolver logo tudo que acabo me assustando com as batidas na porta do quarto, só peço um minuto e vou atender era o recepcionista. __ Um capitão dos bombeiros ligou. Vai se encontrar com a senhora no hospital em meia hora. __ Muito obrigado. Ele sai e fico parada ainda sem acreditar que vou poder conhecer e agradecer pessoalmente ao homem que arriscou a sua própria vida para salvar a minha e da Luna. ============================ Raphael Louco de vontade de sair desse lugar, dessa maldita cama de hospital. Também queria arrancar esse soro do meu braço, e estava prestes a fazer isso quando minha mãe entra. __ Não ouse tentar tirar isso daí. Dona Mary Simpson já tinha vindo me ver mais cedo, mas agora voltou com dois de meus irmãos e as respectivas namoradas. Bruna veio na frente. __ Ai, meu Deus, fiquei tão preocupada com você! Bruna era a namorada do meu irmão Matheus, ela é uma cantora famosa, quando ela soube que o Corpo de Bombeiros da cidade estava atravessando uma fase de cortes pesados no orçamento, teve a ideia de fazer um show para angariar fundos. Mas, no final de seu show acústico beneficente, o nosso Pelotão foi chamado para um prédio de quatro andares na zona leste da cidade onde havia iniciado um incêndio. Ela jogou seus braços ao meu redor de propósito eu a puxo mais para perto enquanto o Matheus nos observava. O jeito que meu irmão balançou a cabeça indicava que sabia o que eu estava fazendo. Em qualquer outra situação, o Matheus teria me colocado contra a parede por chegar tão perto de sua mulher, mas, evidentemente, estar preso em uma cama de hospital tinha lá suas vantagens por exemplo, o fato de estar tão feliz ao ver o irmão vivo o fez se controlar ao ver minhas mãos apoiadas bem na cintura da Bruna. __ Arranje sua própria namorada Raphael e pare de agarrar a minha. Termina de falar e a puxa de volta para ele. Eu entendia exatamente por que meu irmão mais velho tinha se apaixonado pela cantora pop star, ela era não apenas bonita e talentosa, mas também tinha um coração enorme. Fazia anos que eu não ficava com alguém como ela, uma mulher que tivesse todas essas qualidades, alguém com quem pudesse realmente imaginar ter um relacionamento de longo prazo em vez de só algumas horas entre os lençóis. Felizmente, assim que a Bruna foi puxada para trás, Chloe tomou o lugar dela nos meus braços. __ p**a merda! Liam meu irmão resmungou. __Agora ele pegou a minha. Nada como ser um herói para as mulheres se jogarem em cima de você viu Rafa. — Acabei de falar com o médico e ele me informou que você ficará aqui outra noite para terem certeza de que não começou nenhuma hemorragia interna no seu cérebro. __ Ah, mãe! Estou me sentindo bem. Falo para tentar sair, mas minha cabeça doía a ponto de explodir, mas já tinha passado por ressacas tão ruins quanto isso. __ Já que tenho certeza de que a viga na cabeça lhe tirou o pouco de bom senso que tinha, vou confiar no médico. — Como aconteceu isso, Rafa? Você sempre foi esperto, mas, pelo que pudemos ouvir dos noticiários sobre o incêndio, aquele prédio não era um lugar seguro para entrar. Nem perto de ser seguro. Eu já havia imaginado que o Matheus seis anos mais velho do que eu, seria quem faria as perguntas sobre o que fiz. No entanto, apesar de o resgate ter quase terminado em tragédia, eu não teria feito absolutamente nada diferente.Não quando ainda conseguia ver aquela garotinha indefesa nos braços da mãe, os grandes olhos verdes dela implorando para que eu salvasse a pessoa que ela mais amava no mundo. __ O prédio estava vazio, exceto pela moça e sua filha que não conseguiram sair a tempo. __ Você podia ter morrido, Rafa. __ Você está certo. Eu podia. Mas ainda estou aqui. __ Quantas vezes você vai abusar da sorte tentando bancar o herói? __ Matheus! — a mamãe exclamou. __ Tudo bem, mãe. Este é o jeito do Matheus mostrar que se preocupa comigo. __Todo mundo sabe que você é como um desses doces duros com o recheio mole, Matheus. Meu velho irmão olha a Bruna com uma cara feia, mas, quando ela ficou na ponta dos pés e beijou-lhe, a cara feia sumiu. Antes que o Matheus ou alguém mais, começasse a me dar bronca novamente, eu dei um bocejo grande e alto. O dia inteiro foi um vaivém de irmãos, um depois do outro. __ Levarei comida à sua casa amanhã. Eu podia me alimentar sozinho, mas sabia que me ajudando daquela forma minha mãe se sentiria melhor em relação ao que aconteceu, ou, mais especificamente, sobre o que quase aconteceu. Ela nunca foi muito fã dos perigos inerentes ao fato de eu ser um bombeiro, mas, mesmo assim, me apoiou. __ Obrigado, mãe. Eles saíram e eu fechei os olhos por alguns minutos, quando ouviu outra batida na porta. O capitão, Jeff, entrou no quarto. __ Como está indo, Rafa? __Bem, capitão. __ Está bem assim. Sei que sua cabeça deve estar doendo muito. Está pronto para ver a Sra. Thompson e a filha, Luna? Não, naquele momento tudo o que eu queria era não olhar para aqueles olhos de novo. Estava pensando tempo demais na Beatriz e na filha dela para me confortar, não só por estar repassando o resgate, tentando analisar o que eu poderia ter feito diferente para tirá-las mais rápido e com mais segurança, mas porque eu não conseguia esquecer a força dela, o quanto ela tinha lutado para permanecer consciente, e o quanto tinha sido uma batalhadora em cada segundo daquela jornada angustiante para sair do apartamento em chamas. Mesmo assim, eu compreendia que as vítimas do incêndio sentiam necessidade de agradecer aos homens que as tinham salvado, especialmente em um caso como esse, quando a morte tinha passado tão perto. __ Vou pedir a Beatriz e à filha que voltem mais tarde então. __ Não. Será melhor vê-las agora. Ela me agradeceria, eu lhe diria que estava feliz em ver a filha e ela tão bem e seria isso. Não seria mais perseguido por aqueles olhos, pela força surpreendente que havia demonstrado, quando engatinhou no chão do apartamento e pela escadaria abaixo. Dois minutos depois, o capitão Jeff entrou de volta com a mãe e a filha. Ignorando a minha dor na cabeça, me sentei mais ereto e forçei um sorriso no rosto. E, então, os meus olhos encontraram com os dela e o meu sorriso congelou. Meu Deus, ela é linda. A última vez que vi o seu rosto foi através da névoa espessa de fumaça escura e da consciência de que qualquer movimento errado significaria a nossa morte. Os olhos dela eram tão grandes e lindos como antes, o corpo tão esguio e forte como quando eu a ajudei a se arrastar pelo chão, mas agora eu conseguia ver sua meiguice, as curvas macias de seus s***s e quadris dentro da camiseta e do jeans. Eu não conseguia parar de olhar para os olhos verdes impressionantes, o cabelo escuro e sedoso caindo sobre os ombros, e o jeito da filhinha, que era uma cópia perfeita dela, a única diferença estava no cabelo, um era escuro e o outro, claro. Ela parecia tão surpresa quanto eu e, por um bom tempo, ficamos nos olhando em silêncio até que a filha dela correu e jogou os braços em volta de mim. __ Obrigada por salvar a mim e a minha mãe. Os braços da garotinha eram tão fortes quanto os da mãe. __ De nada, Luna. Quantos anos você tem? __ Fiz sete no sábado. Ela brilhava para mim, e exatamente naquele momento, eu entreguei um pedaço de meu coração àquela garotinha sem os dois dentes da frente. __ Feliz aniversário atrasado, mas feliz aniversário. Do canto do olho, um movimento me chamou a atenção. Beatriz estava chegando mais perto e, de novo, quando olhei para ela, não conseguiu tirar os olhos. Sem perceber o que estava fazendo, dei uma olhada na mão esquerda dela procurando uma aliança de casamento, mas não achei nada. __ Sr. Simpson, não consigo dizer o quanto significa para mim o que fez. Eu quase pedi a ela que me chamasse de Rafa, como todos fazem, mas sabia que meu nome soaria muito bem saindo daqueles lábios carnudos. Meu cérebro já estava querendo entrar na fantasia de como seria ouvi-la dizendo meu nome em circunstâncias absolutamente diferentes, sem uma criança nem o capitão no quarto... e com muito menos roupa. Como era de se esperar, eu não conseguia tirar os olhos dos lábios dela, que se mexiam pouco a pouco. Ela cerrou os lábios enquanto esfregava rapidamente os olhos com as pontas dos dedos. __Me desculpe. Prometi a mim mesma que não choraria. __ Ela fica fazendo isso todo o tempo. __ É perfeitamente normal. __ Precisávamos vir aqui para lhe agradecer. E para ter certeza de que estava bem. __ Estou bem graças a Deus. __ Fico tão feliz por isso. __ Como vocês duas estão? Inalaram muita fumaça. __ Nós duas estamos bem. A médica disse que só vou ficar parecendo um sapo por mais uns dois dias, mas fora isso está tudo bem. __ Precisa ver a mamãe coaxar ela fica igualzinha ao sapo que temos na minha classe da escola. Faça para ele ver, mamãe. A força do sorriso dela, a maneira que seus olhos se iluminaram e a covinha que apareceu na sua bochecha esquerda me destruíram. Eu poderia ficar bêbado com os sorrisos dela e já sentia como se tivesse sido golpeado por um deles. Se a Beatriz fosse alguém que eu tivesse conhecido em um café ou em um bar, ou se fosse uma das amigas de minhas irmãs se ela fosse qualquer outra pessoa e não alguém que eu tivesse resgatado de um incêndio, eu não só estaria tentando encontrar maneiras para ela ficar mais um pouco, como também tentaria conseguir seu telefone ou marcaria um encontro com ela. Entretanto, a única razão de o olhar com o coração nos olhos era porque ele havia salvado a vida dela e da filha. Sabia que era melhor não se deixar levar por ela e por aquela linda garotinha. Eu não precisava me esforçar para fechar a cara diante das lembranças do passado, do quanto fui i****a ao ignorar os limites profissionais e, estupidamente, me envolver com uma vítima de incêndio. __ Claro que ele quer ouvir. Não é mesmo? __ Com certeza. Falei mas em um tom soava exatamente o contrário. Por que não? Mas parece que ela decifrou sem a menor dificuldade o que eu estava fazendo e puxando a garota dos meus braços para os dela. __ Não queríamos incomodá-lo - afirmou, com uma voz defensiva. Eu não lhe disse que não havia sido um incômodo. Era melhor acharem que tinham me incomodado, assim não voltariam, assim eu não veria nenhuma das duas de novo. __Agradeço por nos deixar vê-lo hoje. Já precisamos ir mesmo? __ Aposto que ele tem histórias muito legais sobre todas as coisas assustadoras que já fez mamãe. __ Tenho certeza de que o Sr. Simpson precisa descansar, meu amor. Diga adeus agora, meu amor. __Acha que podemos passar qualquer dia pelo Pelotão do Corpo de Bombeiros? Você sabe, para nos mostrar as coisas? Beatriz não deixou nem eu responder e já foi saindo. __Adeus, Sr. Simpson. Eu quis sorrir para a Luna, queria que ela soubesse que a maneira como eu estava agindo não tinha nada a ver com ela, e tudo a ver com saber que era melhor não se deixar envolver por algo que, no final, terminaria machucando a todos. Em vez disso, tudo o que consegui dizer foi. __Adeus, Luna.
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