Nala
Acordei. Infelizmente, eu finalmente completei 19 anos. Eu poderia estar fazendo a minha faculdade ou viajando o mundo, mas as pessoas cismaram que eu sou Jesus Cristo e agora acham que eu vou consertar a vida de um vagabundo conhecido no meu bairro. Eu só vou entrar naquela igreja por amor, porque se fosse por livre e espontânea vontade, eu meteria uma bala na cara dele. Mas, enfim, estou aqui escolhendo o meu vestido e sorri quando vi um preto perfeito. É isso que ele merece: me ver caminhando de luto até o altar.
Sandra: Por favor, minha filha, isso vai dar confusão.
Nala: Mãe, o pai dele arrumou confusão quando eu nasci e agora a senhora acha que um vestido vai mudar as coisas? Duvido! Aquele galinha não vai me deixar passar nem se eu for de freira.
Sandra: Promete que vai se comportar? Eu ouvi boatos sobre ele e nenhum deles é bom.
Nala: Deixa ele vir com o demônio no corpo que eu vou de pastora de libertação da Universal. Dia sexta-feira, eu não quero saber se ele é o cão, porque se ele vier com 8, eu vou com 80 e viro a minha mão na cara de p*u dele.
Sandra: Por favor, não casa de preto, seu pai vai tomar um esculacho.
Nala: Ah, então essa vagabunda aqui pode ser esculachada, mas o resto do mundo não, né? Moça, eu quero o preto, pode embrulhar.
- Tem certeza? Preto dá azar no casamento. Você é tão bonita, tem certeza disso?
Nala: Azar eu tive quando eu vim mulher, o restante é bônus. Embrulha o preto.
Peguei o vestido, comprei outras coisas e fui para casa. Amanhã o dia vai ser gostosinho. Vi uma mensagem do Matheus e respirei fundo antes de ligar para ele.
**Ligação**
Nala: Oi, amor.
Matheus: Você vai mesmo se casar com aquele homem?
Nala: Você sabe que eu não tenho escolha.
Matheus: Você pode sumir.
Nala: Aí ele mata os meus pais e eu fico com culpa pelo resto da minha vida. Não tem como ser feliz assim.
Matheus: Você vai sofrer ao lado desse homem, ele vai te maltratar.
Nala: Meu nome é Nala, não é bagunça. Se ele tentar a sorte, vai ser a última coisa que ele vai fazer na vida dele.
Matheus: Você está louca se está pensando em enfrentar ele.
Nala: Não, eu vou virar o saco de pancadas deles. Pode deixar, já estou até virando. Virei boi para ele amaciar a minha carne. Eu, hein, Matheus, se liga, não vou abaixar a minha cabeça. Se ele quiser paz, amém. Se ele quiser guerra, eu tô pronta.
Matheus: Isso não vai dar certo, nós vamos nos separar.
Nala: Faz uma loucura por mim, entra naquela igreja e me tira de lá. Dá um tiro na cara dele e foge comigo. Aí sim eu não teria culpa. Vai fazer?
Matheus: Eu não sairia vivo.
Nala: Então eu vou para o abate como um bicho prestes a morrer, mas fica tranquilo, eu estou de boa agora. Boa noite, eu vou me arrumar.
Matheus: Tá bom.
**Ligação encerrada**
Deitei na minha cama e eu poderia até passar a minha noite em claro, mas ele não vale o meu sono perdido.
(...)
Acordei e fui para o salão me arrumar. Meu casamento vai ser no final da tarde, então dava tempo de eu planejar a morte do meu marido.
Sandra: Como vai falar que não é mais virgem?
Nala: Você acha que o projeto de vagabundo vai trocar em mim? Nem se ele fosse o último macho do mundo e se a procriação dependesse de mim. Ainda bem que eu não gosto tanto assim da humanidade. Então eu ia deixar todo mundo morrer.
Sandra: Eu não sei quando você ficou assim. Se eu soubesse, não teria te contado desse acordo antes da hora.
Nala: Ia me contar quando? No dia de casar pra eu fugir ou dar uma facada nele? Mãe, eu vou casar, esse foi o acordo, mas eu garanto que essa palhaçada não dura um mês.
Sandra: Para ele, vai te matar.
Nala: Hahaha, coitado dele, ele não está preparado para a mulher que eu me tornei.
Sandra: Nala.
Nala: Vamos terminar essa arrumação, eu estou indo para o enterro do Baco.
Me arrumei, fui para casa. Me ajudaram a pôr o meu vestido, todos nervosos. Pelo visto, o gênio do meu maridão não é bom, porque ninguém queria me deixar sair de preto, como se eu fosse obedecer.
Vadson: Minha filha, por favor.
Nala: O que, pai? Eu estou pronta, cadê o carro?
Vadson: Ele vai matar todos nós.
Nala: Vai nada, relaxa, ele já deve ter tomado Rivotril.
Vadson: Você não conhece o Baco.
Nala: Vou conhecer daqui a alguns minutos. Vamos.
Baco
Ontem eu meti o pé na jaca, saí pra beber e acordei doidão. Bebi de novo e dormi. Acordei com o Pão me sacudindo e eu ainda estava tonto. Me levantei rápido, me escorando na parede, e fui andando até o banheiro. Tomei um banho gelado, demorado, mas não adiantou, eu estava muito tonto.
Pão: Você está com chupão no pescoço. C.aralho, era pra tu ficar em casa ontem.
Baco: Eu não devo nada a essa mina, eu posso fazer o que eu quiser.
Pão: Teu pai vai te matar. Tu escovou o dente e ainda fedendo a cachaça. P.uta merd.a.
Baco: Vamos logo antes que eu desista.
Pão: Ela ia dar graças a Deus porque você está horrível.
Baco: Ela é interesseira. Eu vi as contas que meu pai pagou: vários cursos, roupas e bolsas. Ela é uma Paty às minhas custas. Sustento ela desde sempre e olha que eu nem tinha morro.
Pão: Você nem sabe como foi o acordo entre eles.
Baco: Nem preciso. Vamos - falei descendo a escada. Olhei para os carros e peguei a chave da minha Ferrari.
Pão: É melhor eu dirigir.
Baco: Pode ser. Imagina eu bater de carro e não conseguir chegar na igreja. Ia ser muita sorte, não acha?
Pão: Você é maluco, na moral.
Baco: Maluco é o Mestre que quer me casar com uma maluca com o nome de leão.
Pão: Hahaha, falei que o nome era estranho.
Baco: Muito.
Fomos em direção à igreja e eu entrei com dificuldade, tentando manter a postura, mas tava f**a. Meu pai veio na minha direção, me deu dois tapas no peito e falou:
Mestre: Você está bêbado?
Baco: Não, imagina, isso é coisa da sua cabeça, mestre. Mas fala aí, cadê a noiva?
Mestre: Não era para você ter saído ontem.
Baco: Hahaha, despedida de solteiro, já ouviu falar? Todo mundo tem direito, inclusive eu. Quer que eu me case e não quer que eu tenha uma despedida de solteiro? Aí você quer demais da minha pessoa, né, pai? Eu sou vagabundo sem futuro, você quer me casar suave, mas não peça que eu me conserte por causa de uma maluca que eu nem conheço.
Mestre: Eu espero que ela faça da sua vida um inferno.
Baco: Que bom que você deseja a minha felicidade, papai. Minha mãe deve estar muito feliz com a sua atitude.
Mestre: Trate de virar sujeito homem e fique em pé no altar.
Baco: Como você achar melhor, dono da p.orra toda, inclusive da minha vida.
Mestre: Eu vou esquentar a tua cara no meio da igreja, na frente dos convidados.
Baco: Pensei que a vida que ia me bater, não o senhor.
Mestre: Para de me responder, que eu sou pai raiz. Eu te quebro.
Baco: Me dá essa moral, me faz parar no hospital, me livra desse casamento.
Mestre: Não, sua esposa é um castigo, muito melhor do que a sua cara quebrada. Você vai aprender direitinho.
Baco: Então vamos - eu falei, tentando andar, e ele me ajudou.
Não demorou muito para a música começar. As portas foram abertas e ela entrou. Eu passei a mão nos olhos quando coloquei os olhos nela.
Baco: Eu estou doidão ou ela realmente está de preto?
Pão: Tá mesmo, e olha que eu nem fumei um baseado.
Baco: Essa filha da put.a é maluca.