CAPÍTULO 07

1113 Words
“Querida” me chama a moça e encontro olhos piedosos “pode me levar ao banheiro por favor?” Aceno com a cabeça porque não tenho condições de dizer nada, e me levanto saindo da sala, todos notam as lágrimas, mas ninguém se sensibiliza, isso não gera mágoa, gera dor. Levo-a até a porta do banheiro e ela tira um lenço de sua bolsa e dá para enxugar os olhos, pelo seu comportamento, sei que é humana, ela tem olhos castanhos, a pele n***a, tão bonita e os cabelos pretos presos em um perfeito coque. Assim que ela estende a mão, não resisto e a abraço chorando, colocando a dor e a indignação para fora do meu coração, percebo no momento como estou carente, pois jogo minha alma sofrida nos braços de uma estranha e ela me recebe com força. Fico assim por um tempo e quando me lembro que a moça quer usar o banheiro me afasto de seus braços, usando o lenço que me emprestou. Ela sorri me confortando, tem um olhar meigo, lábios carnudos e dentes lindos e brancos. “Desculpe” peço tentando encontrar a realidade “Me excedi”. “Tudo bem, te entendo, você não quer lavar o rosto?” ela aponta para o banheiro abrindo a porta e então percebo que o motivo de estarmos ali é meu desespero. Obedeço e peço licença entrando sem demora no banheiro, vou até a pia lavar, meu rosto e tentar me recompor. “O que será de mim?” me pergunto enquanto desejo ardentemente que minha mãe estivesse viva, que estivesse no controle da minha vida, não sei como uma pessoa que foi tão feliz no passado consegue sentir tanta dor no presente. Não tenho esperança em nada. “O que ele viu em mim?” me pergunto enquanto olho no espelho, estou o caus. Os olhos estão vermelhos e inchados, o nariz vermelho devido ao choro, os lábios sem cor. Meus cabelos estão desalinhados e uma bagunça, algumas mechas caiem no meu rosto, instintivamente coloco-as para trás e encontro mais uma vez, meus imensos olhos azuis, eles são tão grandes e brilhosos que fazem até a mim estremecer. Pego uma escova de cabelo redonda com um espelho atrás e imediatamente passo a arrumar meus cabelos enquanto engulo meu choro, me preparando para o destino, procuro força em mim. Pego uma mecha média de cabelos, faço uma marca até a metade da cabeça e amarro, deixando a outra parte solta. Gosto do que vejo no espelho, mas acho que pode ficar melhor, quando puxo com o dedo duas mechas, uma de cada lado e faço dois cachos. “Estou bem melhor assim” penso enquanto levanto o vestido e escondo a escova de cabelo no espartilho, ela era da mamãe e não vou deixar, é minha herança. Respiro fundo, dou outra olhada para mim, é hora de viver a vida escolhida para mim. Quando abro a porta encontro a moça a minha espera, ela me recebe com outro sorriso, mas quando olha para as filhas de Bia que nos espiam muda o semblante simpático. “Quer levar alguma coisa querida?” ela me pergunta com a voz doce. “Sim, não tive tempo para nada” respondo tentando retribuir a gentileza dela, e nós duas seguimos até meu quarto, onde começo a pegar meus livros, preciso deles, por serem os companheiros que minha mãe deixou. “Você sabe ler?” ela se aproxima encantada. “Sim” respondo orgulhosa ciente que poucas fêmeas sabem fazer, acho até que é proibido. Abro a cômoda velha, e a moça se aproxima, pousa a mão em meu ombro e diz: “Não precisa levar esses trapos querida, você ganhará vestis novas, leve apenas o que tem valor sentimental” ela dá uma boa olhada no meu quarto, observa as filhas de Bia na porta e continua “Terá uma vida muito melhor que a que leva aqui, tenha certeza disso”. Ela encara as meninas com superioridade me ajuda com os livros e de cabeça erguida saímos do quarto e seguimos para a sala, o lorde Robert está parado perto da saída da porta, entendo que as negociações terminaram. Olho para Lucas, ele está sentado no sofá, com os cotovelos apoiados em sua coxa, segura a cabeça com as palmas das mãos, está desolado, tenho dó dele, mas não consigo o amar como padrasto nesse momento. Assim que me vê ele levanta rapidamente e vem em minha direção me engolindo com seu abraço e me molhando com suas lágrimas, tento conter, mas não consigo, algumas lágrimas percorrem meu rosto, mas dessa vez não me permito perder o controle. “Sinto muito querida” ele diz enquanto acaricia meus cabelos “Me perdoe”. Me afasto sem dizer nada, fitando os olhos vermelhos dele, “Como pode querer perdão?”, respiro fundo e dou de ombros, seguindo meu destino, me aproximando novamente da moça, que se retira de casa e faço o mesmo a seguindo. Quando passo por Lorde Robert o encaro, quero deixar claro que as coisas não serão fáceis e ele retribuiu com uma respiração profunda, pega o chapéu que segura em sua mão, cumprimenta Lucas e Bia e sem dizer nada o coloca e também se retira. Olho ao redor, quero memorizar tudo no dia em que a vida deixa de ser minha, quero ver pela última vez a fazenda onde minha mãe construiu os sonhos dela, respiro fundo guardando o choro em uma caixinha dentro dos meus sentimentos, não quero mostrar fraqueza. A moça já entrou no carro e agora o Lorde está na porta, acho que me espera. Mais uma vez respiro fundo, e acabo sugando a essência dele, seu odor, tão perto faz com que meu corpo inteiro fique arrepiado, percebo a ação que ele causa se espalhando e tomando meu corpo por inteiro e também minha mente. “Não posso viver assim” penso ao perceber que ele estava impaciente, então caminho em direção ao carro, cada passo faz com que meus sentidos fiquem aguçados e desejosos, tudo em mim está uma loucura. Ele abre a porta, mas não entro, paro em frente dele, vivendo aquela sensação que me deixa louca, não entendo por que estou parada, mas quando me dou conta, estou encarando o Lorde, sinto e ouso a respiração dele ficando ofegante, ele tenta desfaçar, mas consigo ver os olhos pretos ficarem desconcertados com minha presença. Ele morde o lábio, está perdido e não sabe o que fazer. Sinto algo mais forte, algo que faz minhas pernas vacilarem, “seria isso o desejo do lorde por mim?" Planejo descobrir.
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