CAPÍTULO 29

1145 Words
Os momentos que se seguiram durante o dia foram de silêncio, porque preciso pensar, resgatar em meu íntimo conhecimento para lidar com uma mulher do nível Aline, uma escrava que pensa ser madame, mas no fim, não passa de um brinquedinho, não assumido do lorde, tenho certeza que isso gera dor em seu íntimo. Procuro descobrir porque ela não contou o conflito ao lorde, como conseguiu estar responsável por mim, preciso desesperadamente reagir, fazer algo a respeito. Talinara me leva aos piores lugares, Aline foi cauteloza com suas escolhas e em nenhum momento do dia trombo o olhar sombrio do lorde. Sei o que ela quer, sua intenção é me desestabilizar, me enlouquecer com maus tratos e solidão, mas não a acho inteligente, pois está querendo usar algo que domino bem. A vida me ensinou a transformar solidão em liberdade, necessidade em cotidiano, “ela precisará de mais para afligir-me" penso saboreando a frustração que Aline viverá ao contemplar meu bem estar. O almoço foi outro pedaço de pão seco, um pouco maior do que o do café, Talinara não conta, mas sei que o pão velho que tenho recebido, deve ser alimento de algum animal, porco talvez. Não me importo, nem me ofendo, na verdade, me dou por satisfeita, pois pão seco é melhor que as migalhas que comia com Bia. Talinara está triste, tento a consolar, mas não consigo, porque ela conhece a maldade de Aline a fundo, por isso está a todo instante preocupada. Assim que termino o passeio obrigatório no sol escaldante, vou para o quarto, em busca de meus livros, eles me tirarão da realidade absurda que minha é. Talinara me ouve por um bom tempo, fica maravilhada com o romance que nos envolve e nos faz esquecer a realidade. “A leitura rega nossa alma” explico com um sorriso leve no rosto e continuo a leitura. Mesmo que lendo e imaginado as cenas do livro, penso nos personagens que conheço bem, nada tira o sabor dos lábios do lorde de minha mente, nem o peso do toque perfeito do meu corpo, relembro sem querer, como se o momento estivesse acontecendo ali, não admito, mas espero ansiosa pelo o próximo encontro. “Será que teremos?” pergunto-me preocupada com a situação atual que estou vivendo, preocupada com a forma que ele olhará após saber o que houve comigo e Aline. Pela primeira vez, percebo que estou temendo a rejeição, pois o simples pensamento de não o ter, faz com que meu coração trema, desesperado, não compreendo porque estou abalada e rendida ao lorde. “Ava, Ava” ouço a voz suave de Talinara a distância, despertando-me dos meus pensamentos, não havia percebido ter sumido. “Está tudo bem? Você não lê nada há um tempo”. “Desculpe” peço recobrando a consciência, “Talinara como soube que Peter era o escolhido, o homem certo para ti?”. “Quando percebi ter coragem de sacrificar suas vontades, para que prevalecesse as minhas, é muito difícil ver alguém renunciar a si, para favorecer o outro. Nós crescemos escravos, e Peter sempre fez coisas para me beneficiar, ele é o homem, além de provedor também tem que ser protetor, passar segurança.” “E como soube ser ele?” pergunto ajustando a postura, inclinando o rosto curioso para ela, na intenção de ouvir a história, enquanto meu coração esperava por algo que trouxesse clareza ao que sinto no momento. “Peter sempre esteve ao meu derredor, devido à idade próxima, se referiam como se fosse destinada a ele, mas não sentia isso, era como se fosse uma pessoa normal como qualquer outra. Ele conquistou-me aos poucos, com vários gestos, mas o que fez meu coração gritar desesperado por ele, foi algo único" ela se arruma tomando folego e continua, "em um dia em que caminhava no campo, segui para o rio, um lugar frequentado por pobres, mas naquele dia a cidade recebia visitantes, homens poderosos, com muitas posses, dentre eles um excêntrico lorde, detestável. Assim que o homem olhou-me. Meu coração parou atemorizado, me senti como um animal indefeso, uma presa perante ele, ninguém disse nada, comecei a correr tentando me distanciar do local, senti sua intenção maligna, ouvi muitos gritos e risadas, na sequência vários homens correndo atrás de mim, estava sendo caçada. Tinha certeza que seria violada, que seria alcançada, mas corria com todas as forças”. “Meu Deus, Talinara” interrompo percebendo a voz a sufocada, que demostrava como a lembrança era ruim.” “Eles me alcançaram, jogaram-me no chão, ouvia a distância o homem dizer que tinha ser o primeiro, enquanto os que estavam perto rasgavam minha roupa, ele gritava, que seu dinheiro apagaria a sujeira que faria comigo. Mas Peter e alguns rapazes estavam por perto, os rapazes tentaram o impedir, porque afinal, ele também poderia ser violado, mas Peter veio como uma fera irracional sobre os homens, conseguindo interromper com luta corporal, ganhando tempo para que eu fugisse. Naquele dia os homens o espancaram. Reconheceram a marca do lorde em seu corpo e quase desmaiado o devolveram, mas queriam justiça pela ousadia, queriam que o lorde pagasse com chicotadas.” “Não acredito” Respondi agoniada. “Somos escravas, Ava, aqui estamos seguras, porque lorde Robert é diferente, mas lá fora somos tratadas como animais, é perigoso. Peter apanhou até desmaiado, para promover paz entre o mostro e a cidade, o lorde teve que deixar. Naquele dia percebi que ele Peter morreria por mim, por minha honra, despertando uma gratidão e desejo de estar perto que não cabe em meu coração”. “Foi c***l, mais é lindo” comento percebendo a feição sufocada mudar para um semblante apaixonado. “Sim, naquele dia percebi que não existem muitos homens como ele, pois ele permaneceu firme, mas o restante correu, nos deixou, mas porque essa pergunta?” ela pergunta curiosa, sabendo a resposta. “Curiosidade” respondo disfarçando entendendo um pouco sobre amor. “Mas agora é sua vez de ler um pouco, vamos estudar” sugiro para mudar o foco. “Ava entendo que quer lutar por seu corpo, sua liberdade, mas se não sabemos que tipo de homem o lorde pode ser para você, no entanto, se permita o conhecer, antes de tentar qualquer loucuraela pediu temerosa e preocupada, “Durante a tarde terá um chá como Aline, independente do que aconteça, não posso interferir, então não a provoque, ouça-me como amiga”. “Sim senhora” respondo enquanto me pergunto que tipo de homem o lorde Robert deve ser com as mulheres, em seguida faço uma pausa na minha mente, olho Talinara examinando as palavras do dia anterior e digo “Talinara, tem o cronograma do dia todo?” ela consentiu “Então por que não passou tudo de uma vez?” pergunto fazendo uma careta.
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