CAPÍTULO 04

1153 Words
A adrenalina toma todo o meu ser, sinto uma energia percorrendo o meu corpo, todos estão parados, esperando o próximo ato, nenhuma mulher demora o mesmo que eu no palco. Me dou conta que posso ser escolhida, que meu tempo está acabando, então me desvio da presença embriagante do Lorde e corro para frente, pulando o do palco, rasgando uma parte do vestido branco, que enrosca em algo, deixando exposto uma parte da minha roupa íntima e também das botas que estava usando, não importo, na verdade, fico com as pernas livres para correr, e gosto do infortuno. Todos estão em choque, ninguém consegue reagir à loucura, que estão assistindo, caio e em seguida me levanto, acho que estou assustadora e gosto disso, gosto do impacto que minha autonomia causa, descubro que prefiro receber olhares amedrontados, do que piedosos, me sinto poderosa, tomando as rédias da minha vida. Alcanço a janela, e dou uma última olhada, sorrindo para Bia, depois, comprimento o lorde com a cabeça e pulo, sem pensar duas vezes, caindo na grama. Ouço o alvoroço que se faz atrás de mim, pelo barulho tem muitas pessoas correndo em minha direção, consigo levantar, mas não contava com outros guardas do lado de fora, estes estavam atentos e com lanças e cordas conseguem me parar, fazendo com que eu caia no chão, e me imobilizam, como se fosse uma fera. Sinto algo perfurando minha pele, dou um gemido de dor, mas não consigo ver o que é, lentamente os meus olhos começam a pesar, assim como o restante do corpo, não tenho forças para manter nem a cabeça ereta, não consigo me mexer, mas sinto quando sou amarrada como um animal. Meu coração desfalece neste momento, além do corpo, está ficando totalmente imóvel, sinto uma imensa dor na alma, por falhar, não tenho vergonha, por ser apanhada, mas o sofrimento é muito grande, acho que o nome dessa dor é tristeza, ela é horrível, acaba com minha existência. “Merda” Antes de desmaiar ouço a voz aguda de Bia, acredito que está se aproximando porque cada vez fica mais alta, consigo perceber que está me insultando, que pelo jeito não terei grandes mudanças, pego no sono com a certeza infeliz de uma vida amargurada. Sinto meu corpo se balançando, e o cheiro enjoativo do couro do banco no carro de Lucas. Antes de abrir os olhos, reconheço as pessoas que estão comigo, pela voz irritante dela. Prefiro continuar fingindo que estou desmaiada, enquanto Bia reclama sem parar, do vexame que a fiz passar. Tenho certeza de que estou sendo levada para casa, para a vida que quis tanto fugir, me sinto impotente, inconformada com o destino que me aguarda. Em minha alma cresce o enorme desejo, de na primeira oportunidade tentar novamente fugir, tentar auxiliar a mim mesma. A sensação que vivi enquanto tentava fugir, foi algo maravilhoso e inspirador, desejo o poder que me consumiu no momento em que lutei por mim. “Temos que dar um jeito nela, essa menina é perigosa, não nos respeita, e a nenhuma autoridade que se faça presente. Não podemos morar debaixo do mesmo teto, e se um dia ela decidi fazer algo contra nós? Lucas não é hora de se fazer indiferente, ela não é racional, e não é sua filha, não temos motivos para mantê-la” Dizia Bia com a voz carregada de ódio. “Você terá que escolher entre mim e ela”. Sempre soube que Bia desejava meu sumiço, mas o que sentia no tom da voz dela era algo diferente, não tinha a vontade de enriquecer com minha vida, ou de me manter sua escrava como havia feito, percebia algo a mais, era nítido o medo que exalava de sua voz aguda e irritante, gostei disso, gostei de saber que minha imposição era assustadora. “i****a” xingo antes de revelar que estou ouvindo tudo, me saboreando com o medo que sua voz deixava por todo o carro, de medo. Me ajeito lentamente no banco para não chamar atenção de ninguém, ainda com os olhos fechados começam a me lembrar do Lorde Robert, fiquei completamente surpresa por ver que ele não era um velho com cheiro de sabão, mas não só isso, a simples lembrança dele deixava meu corpo esmorecido, não entendo porque, mas gostaria de saber o que teria acontecido se fico até o final, se ele teria me escolhido. Lembro dele cheirando meu pescoço, e minha i********e responde rapidamente. Cada detalhe do Lorde permeia meus pensamentos de um jeito tão gostoso, que sinto como se estivesse revivendo o momento, a lembrança é tão forte e vivida, que desejo que não termine nunca. "Droga" resmungo "devo estar louca, desejando alguém que compra mulheres". Lembro imediatamente da voz dele, percebendo não ter apenas o corpo derretido por ele, mas também meu coração. “Amor a primeira vista?” me pergunto rindo internamente, “Isso não existe”. Por um instante, penso que o melhor teria sido ficar até final, acho que o resultado seria semelhante, pelo menos após ser negada, Bia não puniria. O carro pará, imagino que estamos em casa, acho melhor me recompor, abro finalmente os meus olhos, me dando conta de que não estou com as vestes normais, sinto o rosto corar, quando me dou conta de que estou coberta com um pano qualquer, e meu corpo está com uma parte exposta. Meus olhos também continuam um tanto pesado, tenho a sensação de estar grogue, por mais que queira não consigo dizer nada. Sento com dificuldade no banco. Ao olhar para fora, vejo que estamos mesmo em frente de casa, procuro por Lucas, encontro um olhar aliviado, enquanto Bia encara com uma mistura de ódio e medo, gostaria de sorrir, sarcasticamente para ela, mas não tenho controle sobre meus atos, por isso não consigo. “Eles disseram que ela demoraria quase um dia para acordar” ouço Bia dizer para Lucas, “Estou falando que ela é perigosa”. Pela primeira vez percebo que Lucas ignora o que ela diz, permitindo que entrasse sozinha na casa enquanto ele vem ao meu encontro. “Você foi muito corajosa hoje Ava, é uma mulher muito forte, sua mãe sempre dizia isso, mas agora tenho a impressão que você também sabe. Estou feliz por você”. “Obrigada” respondo abrindo a porta do carro e quase caindo. Lucas me segura pelo braço, ele tem um sorriso no rosto, um que desde a morte de mamãe não havia visto, com cuidado me leva para dentro da casa. Espero encontrar Bia com a cinta de couro me esperando, mas não vejo ninguém no caminho para meu quarto. Lucas me senta na cama, dá um beijo em minha testa e se retira. Estou zonza, mas consigo ir até a porta e a trancar, volto para a cama e desmaio enrolada no pano velho que cobria meu corpo.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD