O Canto da Sereia

Melissa olhou ao seu redor. O quarto que Vanessa, sua mãe, havia preparado não tinha nada haver com ela. Era todo fúcsia, com borboletas espalhadas pelas paredes. Sentiu falta do antigo quarto na casa do pai. As paredes eram azuis com desenhos de ondas, do jeito que os dois gostavam. O pai dela era surfista, levava ela para pescar às vezes. Quem diria que morreria afogado.  Já havia guardado suas roupas no armário, colocou o notebook sobre a mesinha no canto e enfiou as malas vazias sob a cama.  — Vai se atrasar pra aula — Vanessa disse após bater na porta do quarto.  — Já vou descer.  Ela já estava pronta. Usava uma bermuda acima dos joelhos e um moletom verde musgo largo. Calçou o all star, pegou a mochila e desceu.  Tomou café junto com a mãe. Era estranho, visitava ela poucas vezes e não sentia-se confortável. Afonso, seu pai, dizia que a mãe não queria ela depois do divórcio, quando ela tinha apenas quatro anos. Vanessa havia se arrependido, mas já era tarde, ele já havia conseguido a guarda da menina. Agora ela poderia se redimir, ou pelo menos tentar.  Elas moravam a dois quarteirões da escola. Mesmo assim Vanessa deixou que a filha fosse com o carro que era do pai.  Ao chegar na escola deu de cara com as duas melhores amigas. Poliana vestia um short de moletom cinza e uma camiseta colada, nos ombros vinha a bolsa com outras roupas e ela segurava as luvas de boxe. Luísa usava o uniforme das líderes de torcida e carregava a mochila nas costas.  — Oi — as duas disseram animadas ao ver Melissa se aproximando — como foi o primeiro dia?  — Estranho — respondeu antes de ser sufocada com um abraço.  Elas entraram na escola. A cada três passos alguém dizia:  — Oi Poli, oi Luísa.  — E aí — as duas responderam juntas.  Melissa não se importava. As únicas pessoas com quem conversava eram elas e o ex-vizinho b****a. Capitão do time de basquete da escola.  Melissa foi para sua aula de química enquanto Poli e Luísa foram para a quadra. Lucas, seu antigo vizinho, já estava lá sentado. Mascava chiclete e ouvia música no último volume. Melissa imaginou que daqui a pouco tempo ele estaria s***o.  Ela sentou ao lado dele e tirou-lhe os fones. Ele, educado como sempre, revirou os olhos e reclamou.  — Se não me ajudar irei dizer ao Sr. Nicholson que fiz tudo sozinha.  — Se eu mexer nisso aí, é capaz de ter uma explosão — ele diz olhando para os ácidos e outros líquidos coloridos.  Depois da aula de química, Mel foi até seu armário, onde encontrou Rodrigo. Ele podia dar festas em sua casa sempre que encontrava os pais transando na piscina, o que pelo visto era toda semana.  — Melissa Blackburn.  — Rodrigo Morrison.  — Toma aí — ele diz entregando a ela três convites.  — Festa? Por quê será que não estou surpresa?  — Eu sou previsível, não é? — Ele ri. — Leva a Luísa e a Poli.  — Pode deixar.  — Sabe se a Poli tá solteira? Um amigo meu queria saber...  Ela revira os olhos e ri.  — Por quê não pergunta pra ela? — Ela cruza os braços.  — Porque tenho uma fonte segura e confiável.  — Certo. As duas estão solteiras.  — Você é demais — ele pisca pra ela e sai em direção aos amigos.     Melissa pegou os livros da aula seguinte e trancou o armário. Viu Poliana se aproximar pelos corredores fazendo embaixadinhas, ao lado dela Luísa fazia o dever de casa correndo, então um garoto com acne e óculos se aproximou, oferecendo ajuda. No fim das contas, ela tirou um A em álgebra.  Melissa estendeu os convites para elas quando ambas estavam próximas o suficiente. Luísa vibrou animada.  — Uh! Festa.  — Rodrigo? — Poliana pergunta.  — O próprio. Inclusive, está afim de você.  Ela revira os olhos e dá uma risada.  — Era o que me faltava.  O caminho se abriu. No fim do corredor vinha um belo par de pernas, com scarpin preto e uma saia dois números menores. Raquel se considerava a garota mais gostosa da escola. Não existia nenhum cara que não quisesse ficar com ela, nem mesmo os homossexuais. Eles dariam um trato nela, e iriam odiar.  Ela era namorada de Todd, capitão do time de futebol e mais desejado da escola. Todas as garotas morreriam por ele, menos Mel.  A cachorra passou, mandou beijinhos falsos para Luísa e Poliana e ignorou Melissa totalmente.  — Então, o que vamos usar? — Luísa perguntou animada olhando o convite.