despertando o trauma

905 Words
Quando enfim voltaram ao hotel passava das três da tarde, haviam almoçado em um dos muitos quiosques então apenas tomaram banho e deitaram para descansar. Já era noite, Lili acordou, Diogo continuava a dormir, ela decidiu que ia acordá-lo, se aproximou da cama na ponta dos pés e pulou sob ele que acordou de forma abrupta e assustado. — oh Deus Lili — ele disse colocando a mão sob o peito enquanto ela ria.— não sou jovem quando como você era criança, estou ficando velho e com uma dessas vai me causar um infarto. — não seja bobo, ainda é quase um adolescente. — só na sua concepção. — que tal uma noite de filmes? — já é noite? — é sim. — liga na recepção e pede pra trazerem algo pra gente comer. — nada de salada. — ok, ok, escolhe o que você quiser. — vou ligar na recepção e depois vou tomar um banho, eu tô queimando de calor. Depois de pedir todas besteiras que queria comer, Lili foi para o banheiro, após o banho colocou uma camisola, era lisa e preta, não tinha decote nem nada muito sensual, mas era um pouco curta. Enquanto escolhia o que iam assistir, Diogo aproveitou para tomar um banho e quando ele voltou ela deu play na série escolhida e deitou de bruços com os pés para o lado da cabeceira, do outro lado, na mesma cama estava ele, escorado na cabeceira atento a série, sequer havia percebido a posição que ela estava. Já era o segundo episódio, estavam atentos enquanto comiam alguns salgadinhos e tomavam refrigerante, mas um pequeno desvio da direção em que a horas ele olhava o fez perceber, a bund@ levemente tremia enquanto ela balançava as pernas, a camisola curta a deixando meio exposta, a pequena calcinha que não cobria muito, por uns segundos ele esteve a olhando, mas só a ideia de a desejar o deixou enraivecido. — Lili...deite direito. — não, eu tô confortável assim. — deita direito. — Diogo, eu sempre assisto filme assim. — o que custa você deitar ou sentar direito, tenha postura, você é uma mulher, não uma criança de oito anos — disse ele alterando um pouco a voz, aquilo fez um gatilho disparar em sua cabeça, tudo que lhe veio a mente foi seu pai e a forma que sempre estava irritado, gritando ou batendo em sua mãe, ela ficou estática por uns instantes, a força se foi de seu corpo e ela deixou o pacote de salgadinho que segurava cair de suas mãos a fazendo despertar daquele torturante transe. — tá, eu...eu vou sentar — ela recolheu o salgadinho em seguida sentou de costas para ele, e nós últimos dois minutos em que faltava para acabar o capítulo ela apenas tratou de segurar as lágrimas. Quando o capítulo da série acabou ela levantou e sem olhá-lo disse, não tinha coragem de virar-se para ele. — eu vou dormir. — apaga a luz, eu também vou. — ela apagou a luz e foi em direção a sua cama, ele nunca havia a tratado daquela forma, mesmo quando era necessário lhe dar uma bronca, era gentil, sabia bem dos traumas de infância dela e fazia o possível para não desperta-los. Lili não pôde evitar as lágrimas, eram mais fortes que ela, relembrou todos os gritos, xingamentos, barulho de coisas quebrando e pior, os gritos de dor da sua mãe, ela cobriu a boca na tentativa de abafar os soluços, mas mesmo assim eram audíveis. — Lili...está chorando? — não — disse ela, mas a voz a delatou, era trêmula e falha, Diogo rapidamente levantou de sua cama e foi até a dela e ali no escuro mesmo a colocou em seu colo e a abraçou. — Lili... — por que gritou comigo? — ela disse em lágrimas. — me perdoe, eu me irritei mas a culpa não é sua princesa. — o que houve, o que eu fiz? — se acalma tá. — me diz... — Lili, sua postura as vezes não é adequada, já é uma mulher e... — eu não quero, quero ser sua garota — era verdade, mas também tinha um duplo sentido no que ela disse. — minha garota? — sim, você mudou comigo. — se é por conta do que aconteceu, prometo que não vai mais acontecer. — não é só por isso, você não me trata mais como a uns anos atrás. — por que você cresceu Lili, quis deixar você crescer e achei que gostaria que fosse assim. — e eu gosto, mas sinto falta de algumas coisas. — prometo que vou ficar ainda mais perto. — dorme aqui — ela pediu manhosa. — mas Lili... — como quando eu estava com medo e você deixava eu dormir em cima das suas costas. — mas naquela época você pesava uns vinte e cinco quilos e eu era jovem — ele disse a arrancando uma leve risada que era tanto entristecida. — agora são só quinze a mais. — eu fico aqui ok, mas não vai dormir nas minhas costas, ou amanhã não vou conseguir levantar. — tudo bem — ele a tirou de seu colo e a colocou na cama em seguida deitou a seu lado, Lili sentiu seu coração se apertar, então deitou no peito dele e o abraçou forte. — vai ficar tudo bem princesa. — sinto falta da mamãe. — eu também sinto.
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