Meses antes...
— Pietra... — Finn se senta ao meu lado na cafeteria.
Levanto meu rosto em sua direção e coloco os meus papéis de lado.
Eu morava uma cidade pequena. Temos pouco mais de vinte e dois mil habitantes, vistas lindas e milhares de turistas no verão. Eu ainda me sentia bem morando aqui, mas alguma coisa me incomodava.
— Está procurando sobre ele de novo? — Pergunta.
— Sim. — Suspiro.
— Você não se lembra mesmo de onde veio? — Ele pergunta. — Pietra, é estranho que você lembre do rosto, da voz, do jeito, mas não lembre o nome do seu pai.
— Minha avó me escondeu isso por muito tempo. — Dei de ombros. — Eu tinha sete anos, nessa idade ainda achamos que nossos pais se chamam papai e mamãe.
Ele suspira e me encara por algum tempo e a garçonete se levanta, parando ao nosso lado. Letty é a atendente de uma lanchonete onde frequentamos a algum tempo.
— Bom dia, meninos. — Ela sorri, fazendo a sua covinha aparecer. — O que vão querer para hoje?
— Um chocolate quente, por favor. — Anuncio. — Como está o bebê?
— Vou querer o mesmo. — Finn diz.
— Ok. — Ela anota e se vira para mim. — Ele está ótimo, estou entrando no quinto mês, já posso senti-lo.
— Ah, céus... — eu toco levemente a sua barriga. Ela me permitiu ter esse tipo de liberdade a algum tempo. — Mais uma vez, meus parábens!
Eu abro um enorme sorriso e ele sai, deixando-nos sozinhos ali na mesa.
— E então? — Pergunta, puxando uma das folhas.
— Liguei ontem o dia inteiro. — Murmuro. — Nenhum Rossi que liguei perdeu a filha de sete anos.
— Eu sinto muito. — Suspira.
— De qualquer maneira, minha avó vem para a cidade amanhã, depois de algum tempo. — Eu anuncio e ele faz uma careta.
— Não acha estranho que a sua avó esconda o seu pai? — Pergunta, um pouco mais baixo.
— Acho, mas darei a ela um últimato. — Eu murmuro. — Ela tem que me levar para ver o meu pai ou eu mesma vou sair pelo mundo buscando algo que me leve a ele.
— Sua avó é tão estranha. — Ele faz uma careta. — Me desculpe dizer isso, mas não consigo acreditar nela e nas coisas que ela diz. Você tem lembranças tão bonitas com o seu pai.
Letty se aproxima e coloca as canecas na nossa frente, se afastando em seguida. Eu continuei o encarando, enquanto eu bebericava o líquido que me aquecia por dentro.
— Eu sei que você está nervosa com isso, mas é seu aniversário de dezenove anos. — Ele dá um enorme sorriso. — Você precisa se animar.
— Eu preciso mesmo ir para casa. — Resmungo. — Eu ainda prometi que ajudaria a Lisa com as aulas de piano.
— Não me deixe sozinho. — Ele faz bico. — Agora que terminei a faculdade, sinto que a minha vida está triste, vazia e sem propósito.
— Você é advogado. — Franzi a testa. — Você não tinha que estar defendendo alguém?
— Você já viu o ovo em que moramos? — Ele me olha como se fosse óbvio.
— Tá, você está certo... — dou de ombros. — E agora?
— Eu acho que você podia me deixar andar atrás de você igual um coadjuvante. — Ele bate no papel. — Eu acho muito mais interessante que ficar na minha casa.
Eu suspiro e o encaro, dando um sorriso fraco.
— Tá bom, tudo bem. — Eu bebo mais um pouco. — Vamos terminar e ir.
— - —
Finn e eu éramos amigos desde que me lembrava de vir morar aqui — ou até antes de eh começar a criar memórias.
A questão, no entanto, é que ele estava sempre aqui. Sempre esteve e era, sem dúvidas, a melhor pessoas que eu poderia pensar em conversar.
Ele era o melhor amigo que eu tinha e certamente, o melhor que eu teria em anos.
— O que você acha que vai acontecer nesse festival? — Pergunto, dando passagem para que ele entrasse na minha casa.
— Não sei, mas vão vir... — e eu paro um segundo, ficando estática assim como ele.
Minha avó tem uma expressão séria enquanto passa os olhos por nós dois.
— Vó, oi! — Eu digo, colocando a minha chave sobre um móvel.
— Oi, querida. — Ela diz, me puxando para um abraço.
Um abraço um tanto quanto estranho. Minha avó avó é a pessoa mais amorosa que eu conheço.
— Achei que chegaria amanhã. – Afirmo.
— Resolvi fazer uam surpresa, não gostou? — Pergunto.
— Sim.. é que... — eu não estou preparada ainda para enfrentar você.
Eu suspiro algumas vezes e expulso meus pensamentos intrusivos.
— Vai precisar de mim? — Pergunto. – Prometi a Lisa que....
— Sim, venha comigo. — Diz, virando-se e andando em direção ao escritório. — Sozinha!
Eu olho para Finn, ele se encolhe um pouco, mas eu ando atrás de vovó.
Quando entro, fecho a porta e me sento na poltrona que fica na frente da mesa que contém um computador e um telefone fixo.
Ela passa a unha pela madeira da mesa e se senta, passa a língua pela gengiva e me encara.
— Soube que tem zerado a lista, ligando pata todos os Rossi que conseguir. — Ela diz, seu tom um tanto quanto agressivo.
— Sim. — Engulo em seco.
— O que está procurando? — Ela pergunta.
— Você sabe bem. — Resmungo.
— Não, não sei. — Ela pisca, fazendo bico. — Porque não me conta?
— Meu pai! — Afirmo.
— Ah! — Exclama, em seguida solta uma risada alta. — Eu já falei que...
— Então me prove. — Falo, tomando uma atitude finalmente. — Me prove que ele mão me quer, que ele nos expulsou, me prova, vó.
Ela para um tempo e engole em seco.
— Eu quero que ele diga isso olhando para mim. — Murmuro, entredentes
— Quer uma prova? — Ela lambe os lábios. — Eu vou dar a você. Ele tem filho, uma família... ele só não quis você e olhe só, você sendo ingrata, me desafiando. Vou permitir que ele quebre você.
Eu pisco para ela e engulo em seco.
— Partimos pela amanhã. Arrume as malas. —Ela diz e sai, batendo a porta com força contra a parede, fazendo o som ecoar por todo o ambiente.
Eu consegui. Céus, eu consegui.
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