Rafael
Ao ouvirmos o toc, pedi silenciosamente para Melissa se esconder embaixo da mesa, ela retrucou um pouco, porém no final obedeceu
Arrumando as peças da roupa vou em direção a porta, destranquei devagar. Ao abri-la, Renata passou por ela feito um furacão... procurando alguém pela sala.
— O que você quer? Não deveria estar cuidando da sua turma?
Virou o rosto para mim com aquele olhar sabichão.
— Por acaso anda comendo alguém?
— Não é da sua conta a minha vida s****l, Renata! — Falei bruscamente.
Sorrindo aproximou-se, me afastei, desviando-me, sentando na mesa. Assim esconderia melhor a minha aluna.
— Sabe, não importa, posso dividi-lo com a outra, aliás, onde come uma, come duas. — Disse enquanto fazia um gesto com as mãos para cima.
Seus olhos brilharam de divertimento pela minha cara séria.
Cruzei os braços observando-a.
— Nunca que antes você diria essas coisas, queria até casar comigo. Estreitar os laços... Aí!
Senti um beliscão na canela.
— Que foi? — Questionou-me pondo as mãos na cintura.
— Nada. — Afirmei rapidamente.
— Então... — Tocou o queixo olhando estranho a mesa. — Por que gritou Aí!? Disse imitando a minha voz.
— Eu não gritei, Renata. — Relatei sem paciência. — Diz logo o que veio fazer aqui e vai embora. Preciso revisar os textos dos alunos antes de ir para a minha casa.
— Não é óbvio... — Sussurrou vindo até a mesa pondo as mãos em cheio nas minhas coxas, na hora as tirei, empurrando-a.
— Ei!
Reclamou alisando os pulsos, olhos faiscando de raiva.
— Ei! Digo eu! — Proferi indignado por esse atrevimento. — Posso levantar uma audiência na acadêmia dos professores, isto é assédio!
Desdenhou, bufando em seguida.
— Há! Para... Onde se viu? — Indagou achando graça.
A mirei estupefato.
— Existe e você mais que ninguém deveria saber, homens também são assediados sexualment.e, ou, não. — Confrontei apoiando os braços na mesa analisando o sorrisinho cínico desaparecendo.
— Que merda, Rafael! — Jogou os cabelos para trás, num gesto raivoso.
— Só estava brincando contigo, você ficou chato.
— Sempre fui assim. Mas nada justifica essa atitude ridícula sua.
Suspirei, cansando desta conversa.
— E lembra-se de uma coisa. Quem foi embora da minha casa foi você.
Apontei pra ela.
— Eu!
Voltei com o dedo só que dessa vez no meu peito.
— Não a forcei ir.
Seu semblante mudou ficando triste.
— Perdão.
— Está perdoada, agora pode sair daqui, por favor. — Ditei indicando com a cabeça a porta aberta.
— Ok.
Saiu cabisbaixa sem falar mais nada. Amém!
Deixei passar uns minutos olhando aquela porta, depois dei um toque na mesa.
— Melissa meu amor pode sair.
Avisei, e no decorrer ela saiu, aparecendo bem na minha frente, olhando-me super zangada.
— O que foi anjo? — Perguntei correndo os dedos para toca-la, no entanto afastou-se espontaneamente.
— É verdade que morava com aquela bruxa? — Questionou injuriada. — Odeio ela.
Confessou, os olhos verdes furiosos.
— Enquanto eu estava morta você ficava sassaricando com esse tipinho.
— Melissa...
Soltei da mesa indo até ela que se afastava novamente.
Parei sem ter como me defender, pensando num bom argumento.
Ficamos nos encarando por segundos.
— Passei anos sofrendo...
— Mentiroso! — Atacou-me verbalmente. Correu para pegar suas coisas. Fui atrás.
— Não faça isso Melissa... eu sou homem e...
— A tá! O velho discurso masculino.
Colocou sua mochila nas costas e deu de ombros, saindo de perto de mim, fugindo diretamente para a saída.
— Espera ai. É a nossa primeira briga nessa vida?
— É!
Exclamou asperamente sem olhar pra trás, passando pela porta a bateu forte.
Porra. O que eu fiz?
Corri os dedos no rosto preocupado.