Aurélio estava sentado de frente para Yuri, sua testa enrugada em preocupação, algo que não passou despercebido por seu amigo que o encarava intrigado.
_ O que tem te preocupado? - pergunta Yuri não aguentando mais aquele silêncio. Aurélio tinha o costume de preencher o silêncio por onde passava, então quando ele ficava em silêncio nunca era um bom sinal.
_ Não é nada muito importante. - diz ele, os seus olhos azuis frios e distantes, Yuri percebia que ele estava tenso pela forma em que os seus braços fortes estavam apoiados na pequena mesa a frente deles.
_ Não pode me enganar Aurélio, por mais que convivamos há pouco tempo já aprendi a ler você muito bem. - diz Yuri o olhando de forma tranquila. Aurélio bufa se esticando na sua poltrona.
_ Vai bancar o paternal agora? - diz ele com um meio sorriso que não chegava até os seus olhos. O sorriso era a máscara que ele usava sempre que não desejava que as pessoas vesem a sua verdadeira face.
_ Vai se fuder Aurélio! - diz Yuri chutando a perna dele por baixo da mesa.
_ Ei! - reclama.
_ Corta essa comigo Aurélio, de mim você não pode se esconder, e quanto aos outros, eles fingem que não veem o que você passa, mas veem, e muitas vezes eu sei que isso os preocupa muito.
_ Não vou ter essa conversa com você. - diz ele cruzando os braços no peito e desviando o seu olhar do de Yuri.
_ Apenas se lembre que se precisar estaremos aqui para você. - diz Yuri.
_ Qual é Yuri! - diz ele passando a mão pelo rosto. - Esta falando como o Ricardo, me dá até arrepios.
Yuri da risada de Aurélio, ele estava mesmo falando como Ricardo, ele pensa que devia ser a convivência, alguns hábitos de Ricardo estavam passando para ele.
_ Falando em Ricardo, pelo menos alguém vai se divertir essa semana. - diz Yuri sorrindo, aquilo chama a atenção de Aurélio e ele volta-se para Yuri com um largo sorriso no rosto.
_ Você também podia estar se divertindo se não fosse tão covarde. - diz ele o provocando.
_ Não é ser covarde, só acho que ele tem passado por muitas coisas ultimamente, então tenho certeza que ele não deseja que eu chegue na porta dele falando que desejo a sua irmã. - diz Yuri trancando os dentes, Aurélio ri dele.
_ Está com medo que ele te dê um desafio pior do que o de Xavier? - as palavras dele eram carregadas de sarcasmo.
_ Não tenho medo, e aquilo não é nada. - diz dando de ombros.
_ Com toda certeza você não conhece o conteúdo daquelas pastas. - diz balançando a cabeça, aquilo chama a atenção de Yuri.
_ O que tem nelas? - pergunta, a sua curiosidade falando mais alto.
_ Normalmente quem contrata serviços daquele estilo são o alto escalão, políticos importantes, magnatas do petróleo, organizações criminosas. - diz ele arqueando a sobrancelha.
_ Tudo bem, mas o que tem?
_ São pessoas difíceis de se eliminar, e normalmente as mortes têm que parecer acidentes ou causas naturais, isso dá trabalho, sem contar com a dificuldade de se chegar ao alvo. Xavier vai fazer isso sozinho, eu não me surpreenderia se ele voltasse só nos próximos três meses. - diz Aurélio dando de ombros.
_ Não, Ricardo deu a ele apenas duas semanas.
_ Exatamente, não sei que método ele vai usar para cumprir com o serviço, mas espero que dê certo.
Quanto mais Yuri aprendia sobre a Fênix mais ele percebia que não sabia nada, a organização era como uma caixinha de surpresas, cada dia uma informação nova aparecia se somando as outras.
_ Eu vou falar com ele. - diz Yuri por fim.
_ Use um colete a prova de balas quando for fazer isso. - diz Aurélio sorrindo.
_ Não pensa que me esqueci do que disse a ele mais cedo. - Yuri o encara chateado, ele jurava que Ricardo iria pular no seu pescoço, mais com sorte isso não aconteceu, ainda.
_ Só estava ajudando um amigo a criar coragem. Ultimamente você anda muito frouxo cara! - diz ele rindo da carranca de Yuri.
_ Eu quero descontar tudo isso em você assim que tiver uma oportunidade. - diz com o maxilar trincado, Aurélio tirava qualquer um do sério.
_ Se prepare então, porque isso vai demorar.
_ As vezes não, acho que a metade do seu limão pode estar mais perto do que você imagina. - diz Yuri sorrindo.
_ Não seria metade da laranja?
_ Não, você tá mais para limão mesmo.
Aurélio da risada de Yuri, ele gostava do russo, apesar do seu m*l humor constante ele era um bom amigo, e como tinha um génio forte era sempre mais fácil o tirar do sério, algo que Aurélio adorava fazer.
_ O conselho tem pegado no meu pé Aurélio, já perdi a conta de quantas ameaças de morte fiz semana passada. - Yuri passava a mão no rosto frustrado.
_ Casamento?
_ Sim. Parece que aqueles velhos não pensam em outra coisa, isso me deixa puto.
_ É por isso que se interessou por Sofia? - pergunta Aurélio deixando a brincadeira de lado.
_ Não, ela me chamou a atenção desde a primeira vez que a vi, não tem nada a ver com o conselho.
_ Te entendo bem. - Yuri olha surpreso para ele.
_ Estão te obrigando a casar também? - pergunta sorrindo, ele não via Aurélio se sujeitando a ninguém.
_ Tentaram, mas depois que eu arranquei o dedo do primeiro que tocou no assunto os outros sossegaram. - Yuri arregala os olhos então cai na risada segurando a barriga.
_ Eu devia ter pensado em algo parecido.
_ Consegui adiar por mais um tempo, sei que agora vai demorar até alguém tomar coragem para conversar comigo de novo. - diz ele com um sorriso de canto.
_ Pelo que vejo isso não te incomoda.
_ Nenhum pouco, não gosto de falar da minha vida Yuri, mas fui criado para matar ou morrer, então se preciso fazer coisas que outros vomitariam, eu faço.
_ É por isso que você queria se casar com a Síria? - pergunta Yuri.
_ Em parte, eu era realmente apaixonado por ela, Síria é uma mulher incrível, e também porque ela não se importa com o meu lado mais sombrio, não quero alguém que toda vez que me ver matando fuja de mim. Acho que não daria certo se me casasse com uma dessas meninas da máfia, elas mais parecem um robô, treinadas para obedecer. - diz ele bufando.
_ Entendo o que quer dizer, acho que, no fundo todos apenas desejamos ser amados, não pela nossa aparência, mas pelo que realmente somos.