Todo mundo me olhou quando eu falei isso....
Sim,eu ia assumir as bocas,e Júlio ia ter que perder pra ganhar.Não se pode ter tudo,e como ele mesmo gostava de dizer :o crime é um crime,não é um creme.Perder porque sem ele muitos já tinham pulado,mudaram de comando.E várias voltas tinham sido dadas também,isso tudo que fiquei sabendo por Thiago e tia Carmem.Eu não ia botar a cara e morrer,as bocas que não estavam rendendo eu ia negociar...alguma coisa precisava ser feita,sem dúvida.
A primeira coisa que fiz foi mandar avisar a todo mundo que agora não era mais patrão,e sim patroa.Eu era a dona,eu respondia por Júlio.
E ia ter um desenrolo em cada boca para que não houvesse dúvida sobre quem estava no comando.
Encarreguei Thiago de levantar quantas armas tinha em cada boca.
-Eu sozinho?
-Que p***a é essa Thiago,tu é homem ou é v***o?
Ele me olhou assustado,pois era assim que Júlio costumava falar com ele,mas eu estava brincando.
Eu ri muito....ri porque achei engraçada a cara que ele fez.
Flávia então disse que eu não sabia o quanto o bagulho era sério,que eu podia morrer ou acabar igual a Júlio presa.
-Mas Júlio não tá acabado...e ele não vai responder por tráfico!
-Quem garante?ela perguntou.
-Lívia garantiu,ela está empenhada em ajudar ele a sair de lá o quanto antes...
Meu irmão era contra,eles estavam já com o casamento por um fio,embora tivessem uma filha que vivia mais na creche...
Tinha muito trabalho a ser feito,se as bocas estavam indo m*l,a culpa era não só de Fred Kruger,mas de Júlio também.Arrogante,e foi deixando muito as coisas na mão dos outros.
Uma semana depois dessa conversa que tivemos,Júlio mandou uma carta por Livia para mim.
Ele estava me esculachando,dizendo que eu tava maluca porque eu era mulher,eu e tia Carmem não íamos dar conta,eu tinha que deixar as bocas na mão de um tal de Renato,que vinha de São Paulo a pedido dele.Ele ia ser o novo dono e não eu.
Falou para eu ficar nenen,porque eu não entendia,não sabia com funcionava...
Sim,eu não sabia,mas ia aprender,e não ia adiantar nada só um patrão,figura decorativa só serve de emblema,quem ganha a guerra é quem tá lutando ela,o dono do morro só tem nome e poder,mas se os soldados não trabalharem,se os gerentes não tomarem conta,nada anda.
Júlio era um b****a,se achava que podia confiar em todo mundo.
Eu,tia Carmem e Thiago poderiamos sim,dar conta.
No fim da carta ele pedia para eu ir na visita,porque ele tava com saudade.
Ia ter uma festa lá de dia das crianças,e ele ia poder ter uma visita.
Passei a semana toda em contato com Thiago,e Lívia.
Thiago me explicou que uma vez por semana a d***a chegava por mar,através de um contato de São Paulo,mas ficava no cais do porto por mais uma semana,pois esse era o prazo para tirar toda ela de lá.
Foi quando Mayra me procurou,precisando de um corre,tinham matado o marido dela.
Eu confiava nela,e com certeza ela não iria me sacanear.
Fui até a loja e perguntei ao meu irmão se ele tinha como assumir a loja,eu passaria para o nome dele,mas seria só de fachada,ainda seria minha.
Ele falou que estava tudo bem,mas não entendeu bem o motivo,estava triste e preocupado.
Eu fiz todo um esquema com Thiago e tia Carmem.
Thiago ficava me perguntando oque que deu em mim pra querer entrar nessa furada...
-Você vai ter que trocar tiro Marjorie,tá preparada pra isso?Você nem sabe atirar...
Eu m*l dormi pensando nisso.
Ia mudar muita coisa na minha vida,mas no fim Júlio ia ter orgulho de mim.
Lívia estava indo lá quase todo dia,dizia que era a única forma dele sair,e só saindo ele podia mandar as cartas para mim.Nessas horas ser advogado era bom!Eu mesmo não tinha visto ele!
Como ela era advogada ninguém mexia com ela,e esse contato durou um mês,pois chegou o dia da tal festa que eu enfim ia conhecer o presídio.
Lugar que eu nunca mais esqueci,as vezes quando acordo parece que sinto aquele cheiro,um cheiro de tristeza misturado com morte!