PT. III Essa é a nossa resposta para um mundo que não é nosso

2063 Words
Victor fitou-me furioso, inclinando seu corpo sobre a mesa em minha direção e disse: - Espero que tenham gostado meu show naquele lugar, espero que tenha lidado muito bem com seus fantasmas. Eu não fiquei tímido de entrar para o show e reforcei: - Aquilo quase me matou, realmente..., você é cheio de surpresa, aquela explosão então... NOSSA! Quase me matou mesmo, mas não foi e nem será como o que faremos com você agora. Espero que chame todos os seus lacaios antes que possamos agir, quem sabe não tenhamos piedade – fui domado de ousadia e provoquei ele a ponto de bufar e seus olhos escorrerem o sangue e ficarem escurecidos novamente. Victor foi domado pela fúria, mas rapidamente desfez aquele semblante e embebeceu a si com sarcasmo, como se estivesse ainda mais a beira do seu triunfo, e disse: - E são nesses momentos que esqueço da genialidade de vocês, porque até o fim... – continuou enquanto se levantava mantendo sua prepotência – continuaram sendo previsíveis. Em seguida todo o cenário mudou, sendo preenchido por uma densa neblina que impossibilitava com que eu enxergasse, mas pude escutar os passos de Cecília vindo até mim e seu chamado. Ficamos juntos até a neblina se dissipar, nos preparamos como pudemos! Tive o reflexo necessário para apanhar a bolsa, dando grande alívio à ela quando notou que eu estava com a bolsa e os materiais necessários para sobreviver, e determinados a acabar com ele. No aguardo do show de horrores dos Olhos Mortos, Cecília disse aflita e um pouco insegura, por mais que alguns segundos atrás estivesse confiantemente ousada: - Lembra de sobreviver, tá? Essa parte é importante. - E lembra de sair, seja lá de onde for, porque também é importante. Entreguei a bolsa à ela depressa, olhei por cada pedaço da neblina com ela em busca de algum ponto que possibilitava com que eu enxergasse, mas aos poucos a neblina se desfazia. Cecília se preparava colocando a mão em sua bolsa com seus olhos assassinos: serrilhados, cheios de veneno e perspicácia, no aguardo do menor sinal que resultasse em sua hostilidade. Aos poucos a neblina se dissipava, juntamente com seu cheiro de morte. Assim que sumiu, não havia mais ninguém e nem mesmo Victor. Era só nós dois completamente cautelosos e buscando, de cima a baixo, sinal dos Olhos Mortos e seus lacaios. Não tinha morte, nem cheiro e tampouco vida. Tudo novamente estava envelhecido com as luzes amareladas e coberto pelas trevas, trazendo um calafrio e a sensação desconfortável que vinha com uma pressão dentro de mim. Não enxergávamos ninguém por enquanto, mas me sentia sendo bisbilhotado de algum lugar onde meus olhos não alcançavam. Ficamos mais um pouco ainda no bar ainda no aguardo de algum outro sinal para atacar ou se defender, mas depois saímos com cuidado olhando para todos os lados. O céu perdeu toda sua beleza, ficou sem vida e vazio sem a lua, nem as nuvens existiam no céu, e a rua sumiu com seu pingo de beleza que ainda restava. No momento de puro conflito, pura aflição, ainda pensei nas pobres almas, tive empatia me perguntando se chegaram em segurança para onde estavam indo e torci para que os olhos mortos não tenham chegado a tempo, embora eu estivesse apertado e em um momento que eu deveria pensar só em mim, não devia pisar nos outros assim. Caminhamos um pouco pela rua desconfiados, olhando do lado pro outro. Cecília não tirava sua mão da bolsa quase em momento nenhum, seu estado alerta só aflorava mais, se intensificava mais como a defesa de uma fortaleza impenetrável, como Kuélap: - Ele sumiu tão rápido, tão de repente, mas ainda sinto que estão nos observando – acrescentei a fim de sanar a dúvida se estávamos ou não sendo sondados. - Também sinto, talvez não seja Victor, e acho que sei qual é o plano que ele tem em mente... – rebateu enquanto segurava minhas mãos, me conduzindo para rua abaixo do bar certa de sua decisão. Ela parecia ter compreendido de fato o que aconteceria e estava convencida de como agir, somente eu fiquei confuso: - Ah..., então me diga, qual é o plano dele? Cecília apontou com a cabeça e seu olhar destemido para cima e disse: - Aquilo responde sua pergunta? O bar, bem no telhado, assim como em outras casas nas redondezas. Além de toda aquela escuridão, aquele vazio, havia coisas parecidas com estrelas repiscando pelo céu como estrelas, tudo simultâneo. Meus olhos massacrados por lutar e ter que compreender tudo através das entrelinhas, naufragado no mar da calamidade mediu esforço até que tudo ficasse nítido para analisar de forma precisa, em meio aquele aspecto nada sadio, emanando energia daqueles que almejam suspirar mais uma vez além daquilo que o soterra, afaga; piscavam em meio ao breu, como estrelas e, como disse, cheguei a pensar que fosse, mas lembrei do inferno onde eu estava e o que lidamos quase dia a dia agora. Aqueles lumes quase sucumbidos a escuridão com o vestígio de luz perdido, parecendo riscos no céu que piscavam sem parar, miravam para onde estávamos sem perder nossos movimentos. Miravam sedentos e cada vez representava as estrelas que nos seguiam. Agora elas desejam algo, além disso, e emitiam um sonido com uma voz presa na garganta, uma voz roca obstruída, sufocada e aprisionada de poder falar qualquer coisa que quiser. Tudo que sobrou foi grunhir sem parar para aliviar seu tormento de não falar nada. Esses flashs de luz minúsculos, quase invisíveis dentro daquele breu vasto, se se mobilizavam, lento, aos poucos em nossa direção, ainda pelos telhados. Ouvia o ruído do peso sobre o teto ranger, com minha respiração apreensiva e ofegante, prevendo o pior prestes a acontecer. Os olhos famintos e miseráveis estavam se movendo ainda mais depressa, conversando entre si, correndo! Emitindo alguns gritos, murmurando aos sons de seus pisos sobre os telhados frágeis. Cecília me puxou com mais força e corremos o máximo que podíamos tentando despistar eles, que pareciam mais rápidos. O som que emitiam era terrível, repleto de tormento e somente eles compreendiam, avançavam calculando seus passos, observando tudo com estratégia. Nada era precipitado apesar da rapidez e eficácia de como se moviam, tornando nossas movimentações fúteis e desesperadas. Ela olhava de um lado para o outro querendo abrigo, mas Cecília corrigiu meu raciocínio capturando minha ideia no ar e arremessando-a longe: — Precisamos entrar em uma casa que tenha escadas, e estou falando na parte dentro. Podemos restringir os movimentos deles em local curto e selar todos do jeito que te falei. — Certo, mas realmente vai funcionar, não é? — Claro que vai, sei disso porque estamos com o corpo fechado. Na verdade, só você. Isso quer dizer que eles podem me sentir a distância daqui. Quero que vá para porta e tente se esconder em qualquer lugar. Não deve ser descoberto por hipótese alguma, senão nosso plano sofrerá gravemente com esse imprevisto. Sabe a importância de isso funcionar, não é? Titubeei para responder, incerto; ainda disse: — Faça o que for necessário, pois cuidarei da minha parte. Corremos com velocidade máxima, quase esgotados, mas os olhos de águia dela e seu conhecimento pela rua, nos ajudou identificar o domicílio que precisávamos. Ela entregou a mim uma vasilha com bastante ** da pedra do sol e correu para casa com sua bolsa. Fiquei no lado de fora. Avistei de relance um lamaçal com um odor forte que se formou, talvez, por alguma inundação como a que enfrentamos no depósito. Aproveitei e me afundei, deixando-me integrado com o cheiro do local, disfarçando o cheiro de vida que eu emanava. Não demorou muito para que as criaturas chegassem e entrasse, como uma manada descontrolada até a casa. Poucas se dividiram, e quando falo da escassez, deveras pude notar outros pensarem diferente do avanço. Porém, uma delas foi até onde eu estava, farejando feito louco, desesperado tentando encontrar o rastro que relutei para esconder. O exército, melhor; a manada desses seres, estava terminando de adentrar a casa. Meu tempo estava se encurtando mais e eu não tinha uma ideia de que me tirasse daquela situação e poder salvar nosso plano. Ficava afoito, estonteado de tão aflito que eu ficava ao ver seus números diminuírem e o serzinho não saía de perto. Ela chegou tão perto que quase pisoteou minha face! E não parava fungar em busca do que seria o odor. Tive que parar de respirar e torcer para que ela se distanciasse de mim logo. De modo repentino chegou o raciocínio de sair, brusco, derrubá-lo e despejar o suficiente do ** no maldito curioso, assim o fiz. Depois que o último entrou na casa, contei os segundos de segurança respirei o máximo que meus pulmões puderam aguentar, e agi. Derrubei o inditoso amaldiçoado, IMPIEDOSO. Avancei para impedir ele de se levantar, segurei todo feroz seu pescoço e subi nele. Em fração de segundos, peguei a vasilha e um punhado de **. A criatura tinha os olhos mais vagos que o céu, ou como a abóbada celeste trevosa, e os dentes pontiagudos com seu rosto pavoroso e mortífero. Com o mesmo punhado, derramei tudo em um golpe deferido em sua boca com seus dentes amolados, machucando minha mão. Senti minha dilacerar com a força, mas não hesitei e depositei tudo que estava em minha palma. Ela soltou um grito agudo exacerbado, temi o pior; achei elas voltassem, mas agi rápido. Assim que o infeliz afrouxou minha mão, levantei-me às pressas e corri até a porta para selar a entrada do local e percorri até a saída para encontrar Cecília.   Assim que cheguei no local, avistei Cecília ofegante, suada e exausta:   — Você está bem? — perguntei preocupado enquanto a via tentando recuperar o fôlego, fitando-me.   — Difícil de dizer, mas; consegui! Coloquei em todas as saídas ou aberturas da casa. Foi muito difícil   — Ufa! Ainda bem! peço perdão pela demora e quase ter afundado o plano.   Cecília sorriu aliviada, mas ainda preocupada quando observou minha mão ensanguentada e dilacerada. Esqueci do meu ferimento por estar sob efeito da adrenalina, porém, quando dei devida atenção.   — O que foi isso? — disse domada de preocupação, indo em minha direção para segurar minha mão.   — Isso foi o imprevisto. Ele não saía de perto e eu estava ficando sem tempo, então tive que agir logo, não foi nada. Cecília se aproximou de mim, pegou minha mão examinando direitinho, tocando em cada parte do ferimento. Depois rasgou um pedaço de sua blusa, da parte da sua manga, e tentou enfaixar minha mão. Por mais inútil que parecesse, a intenção já ofuscava minha dor. — Não se arrisque assim. – Notei seu rosto preocupado, mas queria esconder.   — Você disse que não teríamos como lidar com imprevisto, foi questão de tempo e viu que quase não chego na saída.   Cecília se absteve de falar algo sobre não porque eu estava errado, mas sim pelo fato dela deixar seu sentimento de zelar sobrepor o de dever. Ela rasgou a outra manga de sua blusa para garantir que a ferida fosse coberta. Por infortúnio, não tínhamos nada para colocar sobre ela, então era o máximo que podíamos fazer um pelo outro. Assim que terminou, seguimos para o beco para retornar a entrada da casa. Escutava muito bem as criaturas berrando dentro, ainda mais atormentadas. Tudo que faziam era gritar sem parar, enquanto transpassávamos. Durante o percurso, questionei o fato da rapidez de Cecília:   — Você conseguiu selar tudo muito rápido, temi que não desse tempo.   — Acredite, você não foi o único. Cada segundo que meu coração palpitava era audível, ele pulava para fora e volta — retrucou enquanto sorria.   Estávamos próximos da saída, prestes a repassar o plano de como aprisionaríamos Victor e ela entraria na mente dele:   — Ainda lembra como será, certo?   — Sim, e ainda pude praticar — retruquei sarcasticamente, e prossegui —, quando ele aparecer, gar...!   Antes de eu terminar, um estrondo enorme rasgou minhas palavras e partiu a casa ao meio bem onde estávamos. Era uma criatura enorme feita de sombras com garras afiadas e feroz. Sua força, seu poder de destruição foi imenso, tão inimaginável que só lembro de ter pensado “quando achei que não estaria mais surpreso”. Depois ser agarrado de forma brutal por suas garras e Cecília gritando meu nome. 
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