Meus amores essa historia irá conter
Racismo
Palavras de baixo calão
E lembrando que a autora não compactua com nenhuma dessas coisas.
Heliópolis
Lorena Gonçalves
Alguns dias atrás
Respiro profundamente para não ficar mais irritada do que eu estava, por que mais uma vez aqueles policiais fizeram eu parar naquela barreira, e depois que eles pacificaram o morro esse lugar virou o próprio inferno.
E olha que eu estou parada aqui a meia hora, os mesmo já me revistaram, revistaram o meu filho, olharam a minha bolsa, mas nada deles liberarem eu e o meu filho, e eu nem sei por que daquilo, mas eles só fazem isso por conta da minha cor de pele, por que as mulheres brancas e com p****s enormes eles nem revistam, e olha que eu já nem sei quantas mulheres brancas passaram aqui, que estavam voltando da cadeia e eles nem aí.
— Eai vocês vão querer tirar as roupas do meu filho também ou eu já posso ir embora ? — Eu pergunto já totalmente irritada, e um dos policiais me olhou com um olhar bastante superior
— Oh sua preta imunda você vai abaixar a sua bola e vai me respeitar ou você vai querer levar uma surra bem boa pra não desrespeitar autoridade ? — O mesmo se aproxima e pega na sua arma e então eu me irrito mais e dou uma tapa nele
E olha eu posso até ser presa mais ninguém aqui pode me humilhar, ainda mais na frente do meu filho por conta do meu tom de pele, isso eu não vou permitir mesmo.
— Sua v***a — Ele grita e vem pra cima de mim e eu dei alguns passos pra trás e coloquei meu filho atrás de mim
— Mamãe — meu filho me agarra chorando e eu respiro fundo e seguro ele atrás de mim, até por que se eu fosse apanhar eu não ia permitir que o meu filho visse aquilo
— Pode parar com isso c*****o — logo chega um homem alto e pelo o que pude ver ele parecia ser o comandante de todos eles, por que na hora que ele falou os homens abaixaram a cabeça
E o comandante dele era n***o, olha que ironia né.
— Você ficou maluco c*****o ? Você não viu que tem uma criança aqui não ? — Ele grita e bate na cabeça do policial que me olha com pura raiva — Será que eu vou ter que te entregar por racismo ? Ou você vai parar de bancar o fodão, e quero que você se lembre que o seu salário é p**o por um n***o — o policial fala e eu dou um sorriso debochado para o policial que me xingou e ele me encara com muito mais raiva ainda — Pode passar moça e me desculpa por tudo o que aconteceu — Ele fala e passa a mão na nuca e eu apenas dou um sorriso fraco e pego meu filho no colo.
— Obrigada — Falo e passo por eles finalmente podendo ir pra minha casa
E jamais eu irei abaixar a minha cabeça para pessoas como ele, afinal eu batalhei muito para ser quem eu sou hoje, eu já sofri bastante com preconceito mas hoje em dia eu tento não me importar mais, mesmo não sendo tão fácil como falamos.
Eu cresci sozinha e não tive uma mãe que estava ali pra fazer algo por mim, eu tive mãe mas ela não fez absolutamente nada por mim, ela nunca cuidou de mim e nem dos meus irmãos, mas hoje graças a Deus eles estão com pessoas melhores e estão sendo cuidados muito bem.
Mas eu também sempre trabalhei para comprar tudo o que eu queria, e eu já fiz de tudo nessa vida, já trabalhei como manicure, fazendo cabelo, já vendi bolo, já vendi roupas, então eu não tenho medo de trabalho.
E não é que eu não tenha uma condição de vida boa, mas graças ao meu bom Deus nunca faltou nada para o meu filho e depois que o pai dele faleceu eu me esforcei mais, e ninguém nesse mundo podia falar que o pai do meu filho não era um bom pai, afinal ele era um pai incrível e amava muito o filho, e ele também foi uma pessoa bem importante pra mim.
Mas logo em seguida aconteceu o acidente e eu não pude fazer nada, eu ainda tenho o apoio do primo do João, o Carlos também é padrinho do meu pequeno Thiago e do Yuri, eles me ajudaram bastante, mas agora que o Yuri está preso está todo mundo na merda.
— Já passou meu amor — eu sussuro e acaricio as costas do meu pequeno e ele estava agarrado ao meu pescoço soluçando
— Ele.. ia.. bater em nós dois ? — Ele me pergunta soluçando ainda, eu suspiro e dou um beijo na cabeça dele
— Você quer comer um pão doce ? A mamãe compra pra nós comermos com seu dindo — Falo mudando de assunto e o meu pequeno assente a passa a mão no rosto, e eu não vou esconder ele de toda a maldade do mundo, e eu prefiro que ele fique sabendo se defender do que ele ser morto por alguém, e ele só tem três anos então ele é muito novo pra entender tudo
E eu já estava querendo me mudar para um morro mais tranquilo, pois aqui não estava dando mais pra morar, e quando não é essa vergonha que temos que passar é o aluguel que fica bem mais caro, esse morro está um merda.
Passo na padaria aonde compro o pãozinho do meu filho e subo para a minha casinha, quando chego na minha casa Carlos estava todo largado na cama e assistindo televisão, e olha esse é outro que não está trabalhando e sempre tá aqui por ser foragido então ele não pode ir pra casa dele pois o morro está cheio de policia.
— O que aconteceu ? — Ele levanta rápido e eu faço um sinal de silêncio pois o meu pequeno havia dormido
— Fala baixo caramba — Falo murmurando e ajeito o meu filho na cama e cubro ele — O mesmo de todos os dias — solto um suspiro e coloco o pão em cima da mesa, logo em seguida sinto Carlos me abraçando e me dando um beijo na testa — Olha de verdade eu não aguento mais isso, você me conhece e sabe que eu não abaixo a minha cabeça pra ninguém, mas isso já está chegando em uma etapa que não estou mais aguentando, você tem noção de que um policial me xingou na frente do meu filho apenas pra se sentir melhor e por eu ser n***a ? — Falo soltando tudo de uma vez e o mesmo me olha com os olhos arregalados
— E o que você fez ? — Ele me pergunta mesmo desconfiado e eu me sento na cadeira olhando pra ele — Você ficou doida mulher ? E se ele resolve-se te matar lá ? Eu sei que temos que lutar contra todo esse racismo no mundo, mas você estava com o seu filho lá e eles todos armados você tem noção disso ?
— Eu sei disso, mas você me conhece e sabe que nunca vou abaixar a minha cabeça pra ninguém, e outra não aconteceu nada, apenas apareceu um policial que era o comandante deles e ele obedeceu e olha que o homem era n***o — Falo cruzando os braços e Carlos pega um pedaço de pão
— Isso só mostra que ele é hipócrita — ele fala mordendo o pão e se senta ao meu lado — Bom a Sofia veio aqui hoje e entregou um envelope que o Yuri mandou entregar — a Sofia é a mulher do Yuri e já nos conhecemos tem um tempo e eu tenho muita dó dela pois ela está praticamente só, pois ela só tem o Yuri e a Liz que está pra nascer
— O que tinha dentro dele ? — Pergunto curiosa e como um pão também
— Tinha o contato do dono de paraisopolis, mais pelo o que eu saiba ele é o aliado mais poderoso que ele tem, e pelo o que tô vendo ele irá tentar tirar o Yuri da cadeia antes do nascimento da Liz e tinha uma carta pra mim falando que era pra mim ir pra lá até a situação se estabilizar por aqui, e ele já sabia que eu era um vapor de confiança, mas eu ainda não aceitei ir até lá pois eu queria sua opinião, até por que você sabe que eu estou com você em tudo e se eu for pra lá você também vai
— Você sabe que eu saio daqui agradecendo, o problema é o dinheiro, e comparado com as demais coisas o aluguel daqui é bem mais barato, então como a gente vai morar em outro morro ? Se for preciso eu passo fome, mas eu não vou permitir jamais que o meu filho passe fome
— Nós vamos dar um jeito, e ninguém vai passar fome aqui e se tudo o que estiver naquela carta for verdade eu já tenho um emprego, se for preciso nos arrumamos uma casa pequena e você começa a vender quentinhas e a sua comida é maravilhosa, n**a a gente sempre deu os nossos pulos pra conseguir o que queríamos, mas o que não dá é ficar aqui, eu estou foragido e nem posso te ajudar a sair na esquina, e lá o Thiago vai poder brincar, ir pra escolinha sem ter que ser revistado todos os dias
— Será que posso pensar ? — Falo suspirando e o mesmo passa a mão no rosto e assente.
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Até o próximo capítulo
Virão que as coisas já começaram quentes né.