capítulo 4

1702 Words
-Não. Estou tocado por sua generosidade, mas não posso aceitar isso. Sua casa está cheia o suficiente com seu novo bebê e uma sogra que se mudou recentemente. Eu balanço minha cabeça. -Obrigado, mas não. Eu não vou pedir isso de você... -Você não pediu. Ela aponta. -Mas então, você nunca pede nada a ninguém, não é? Não é uma pergunta, então escolho não responder. -Eu me viro. Há muito tempo me cuido. Eu vou passar por isso também. Do outro lado do bar, outro garçom chega e nos chama com um novo pedido. -Esteja lá. Tasha grita sobre o barulho do restaurante. Seus olhos suaves de corça me estudam por um longo momento, um tipo triste de compreensão em suas profundezas. -Sabe, não há problema em deixar as pessoas te ajudarem de vez em quando. Não há problema em deixar as pessoas se importarem com você. Não posso dizer a ela que concordo. Eu não posso nem dar um aceno fraco para apaziguá-la. Aprendi há muito tempo que a ajuda nunca vem sem uma etiqueta de preço, escondida ou não. E mesmo as pessoas que dizem se importar mais com você podem se voltar contra você em um piscar de olhos. Ela se afasta para atender os pedidos de bebidas que chegam da sala de jantar, e eu me ocupo trazendo novas rodadas para as pessoas sentadas no bar comprido. Percebo que a mulher do outro lado ainda está sozinha e esperando. Seu copo de Pinot está intocado, e seu celular está ao lado das unhas tamborilando de sua mão esquerda. Quando me aproximo para ver se posso trazer mais alguma coisa, ela olha para o telefone e o pega para ler o que presumo ser uma mensagem de texto recebida. Ela franze a testa, então seu queixo cai em um olhar de total exasperação. -Não . . . Ah, pelo amor de mer*da! Você tem que estar brincando comigo. Evidentemente, não sou o único a lidar com a decepção esta noite. Eu não sou do tipo que se intromete nos negócios de outras pessoas, então sua explosão não é mencionada. -Você precisa de mais alguma coisa agora? Ela bufa um suspiro pesado e levanta seus olhos verdes de cílios grossos para mim. -Que tal um milagre? - O que? -Deixa para lá. Jogando o telefone na bolsa, ela balança a cabeça. -Eu estava contando com um amigo para fazer algo por mim, e ele simplesmente cancelou. Agora estou totalmente em apuros. -Eu sinto Muito. Eu posso ver que ela está visivelmente chateada. Também me lembro que ela deveria pegar um vôo em algum momento esta noite. -Se você estiver pronto para ir, é só me avisar. Ela toma um gole de seu copo, então olha para o relógio. -Eu não preciso sair por alguns minutos. Prefiro ficar aqui do que esperar no JFK mais tempo do que o necessário. Eu sou Claire, a propósito. -Prazer em conhecê-la. Eu respondo. -Eu sou Ava. -Eu sei. Eu inclino minha cabeça. Talvez eu esteja um pouco boquiaberta também, porque ela imediatamente estremece e solta uma risadinha. -Eu sinto Muito. Isso soou um pouco perseguidor, não foi? Ela acena com a mão como se quisesse apagar qualquer desconforto. -Nós não nos conhecemos. Venho de vez em quando e ouvi alguns dos outros funcionários do bar falando com você. -Oh. Eu desligo com um breve sorriso. -Sem problemas. Ela não é alguém facilmente esquecido, mas não posso dizer que a tenha notado no restaurante antes. Então, novamente, Nova York está cheia de pessoas bonitas. Eu tive que me treinar desde cedo para não ficar boquiaberta com todas as celebridades, atletas e supermodelos que cruzaram meu caminho. -Eu tenho um apartamento a alguns quarteirões daqui. Ela se voluntaria enquanto eu pego um pano de bar e começo a limpar um lugar vazio a alguns assentos de distância dela. -Para ser honesta, porém, nunca estou em nenhuma cidade tempo suficiente para afirmar que sou uma verdadeira residente. Acabei de voar para casa na semana passada de um show em Paris. Hoje à noite vou para Tóquio por alguns meses para filmar alguns comerciais e um piloto de game show. -Parece emocionante. Ainda sou de uma cidade pequena o suficiente para sentir uma pontada de inveja de seu estilo de vida sofisticado e carreira glamorosa. -Nunca é chato. Ela admite antes de tomar um gole de seu vinho. -Mas eu não gosto de deixar meu apartamento vazio por longos períodos enquanto estou fora. O amigo que me deu um bolo esta noite deveria ficar na minha casa enquanto eu estiver no Japão. Minhas pobres plantas acabaram de receber uma sentença de morte. Eu faço uma careta. -Isso é péssimo. - Acho que você não conhece um bom serviço de babá que eu possa ligar? Um que eu possa contratar pelos próximos quatro meses sem aviso prévio? Ela precisa de uma babá por quatro meses? Essa parte desesperada de mim que eu não quero reconhecer praticamente geme com a ironia desta situação. Em breve estarei sem-teto e esta mulher – Claire – tem mais espaço do que ela pode usar. Embora eu tenha certeza de que a pergunta dela era mais retórica do que qualquer outra coisa, antes que eu possa responder, a voz de Tasha soa atrás de mim. -Ava, por que você não faz isso? Até aquele momento, eu nem percebi que ela estava por perto. Eu giro para olhar para ela, meus olhos arregalados. Que dia*bos está fazendo? Eu sei que ela pode ler essa demanda em meu rosto - no meu olhar mortificado - mas Tasha sendo Tasha, ela está completamente imperturbável. Ela sorri para mim como se eu não estivesse furiosa e sem palavras com sua interferência. -Pense nisso. Ela diz alegremente, e mais do que alto o suficiente para Claire ouvir. -O momento não poderia ser mais perfeito. Você me disse hoje que sua casa está sendo reformada em breve e você não pode ficar lá depois que o trabalho começar. -Reformada? Eu dou um aceno apertado de minha cabeça. -Eu não disse... -Sim. Você disse. Ela fala devagar e me dá aquele olhar. O que eu tenho certeza que faz até seu marido de 1,90m ficar um pouco mais ereto. Eu tenho que admitir, está funcionando em mim agora também. Mas eu não posso fazer isso. Não seria certo. Eu sou uma estranha para esta mulher. Eu não posso imaginar que ela sequer consideraria. -Isso é verdade, Ava? Você precisa de um lugar para ficar? Eu me viro para encarar Claire. -Sim, é verdade, mas . . . você nem me conhece. Ela pousa sua taça de vinho e me estuda por um segundo. -Por quanto tempo você trabalha aqui? -Quase um ano e meio. -Então isso me diz que você é responsável o suficiente. Ela aponta. -E confiável. Acrescenta Tasha. -Seis dias por semana, Ava está aqui. Às vezes, todos os sete. Nunca perdi um turno, nem mesmo um único dia de doença em todo esse tempo. -Impressionante. Claire acena com a cabeça como se sua mente já estivesse decidida. -Você estaria me fazendo um imenso favor. Eu não posso nem dizer o quanto eu ficaria grata. Ela olha para o relógio, então suga uma respiração. -Mer*da. Tenho que ir ou vou me atrasar. Se você puder fazer isso por mim, Ava, preciso da sua resposta agora. Tasha me encara com expectativa enquanto olho entre ela e Claire, a incerteza roendo meu estômago. Não acredito em sorte ou favores cósmicos, mas parece que o universo está me dando uma linha de vida bem aqui. Posso realmente me dar ao luxo de recusá-lo? Com meu apartamento esgotado e as chances de ganhar algum dinheiro com minha arte em breve sendo quase nulas, não tenho exatamente muitas opções. -Eu vou te pagar, é claro. Claire discretamente tira um envelope de sua bolsa Birkin preta. -Cinco mil para os quatro meses. Isso é o que eu ia pagar ao meu amigo. Ela estende o envelope de cor creme para mim e mantém a voz baixa. -É em dinheiro. Espero que não se importe. Minha mente gagueja com a ideia. Talvez pessoas como Claire possam gastar cerca de cinco mil como se não fosse nada, mas, para mim, especialmente agora, é uma pequena fortuna. Não, é dinheiro milagroso. Com o bônus adicional de uma suspensão de quatro meses de execução na minha situação de sem-teto. A realidade dessa incrível reviravolta do destino é tão esmagadora que m*al consigo formar palavras. -Eu, hum. . . -Ela vai fazer isso. Tasha interrompe. -Você vai fazer isso, certo, Ava? Acho que devo ter assentido. Para ser honesta, os próximos minutos passam em um borrão. Ela me dá seu nome completo – Claire Prentice – e anota seu endereço no verso de seu cartão de visita antes de me entregar a chave de seu apartamento. Ela anota meu nome e número de celular, então tira uma nota de vinte de sua carteira e a coloca no balcão. -Isso deve pagar o vinho. Sorrindo, ela desliza para fora do banco do bar e veste o casaco. -Vou entrar em contato com você de Tóquio depois de me instalar para ter certeza de que está tudo bem no apartamento, ok? Minha cabeça balança automaticamente. -Ah ok. Eu não estou prestes a discutir. Eu não acho que ela teria esperado para me dar essa chance de qualquer maneira. Com um agradecimento apressado, Claire Prentice sai pela porta e entra em um táxi que chega ao meio-fio. Fico ali parada por um momento, estupefata, processando tudo o que acabou de acontecer. Eu tenho cinco mil dólares em dinheiro na minha mão. No bar à minha frente há um endereço na Park Avenue. Além disso, uma chave de latão reluzente que me concederá quatro meses inteiros de abrigo. Quatro meses inteiros de misericórdia. Acabei de receber uma oportunidade de ouro em um momento em que não poderia precisar mais. Olho para Tasha, balançando a cabeça em uma confusão muda. Uma pequena risada irrompe da minha garganta. Então outro. É demais para conter o espanto, a esperança... o alívio incrédulo. Eu cubro minha boca, mas minha alegria transborda em uma risada ridícula. -Isso realmente aconteceu?
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