Charles Ricci
Estou dentro do meu ringue de luta treinando um pouco para desvencilhar um pouco os meus pensamentos. Fiquei sabendo essa manhã através do John que o senhor Smith saiu do hospital ontem, de acordo a conversa que ele escutou do pai dele conversando ao telefone. E o velho pretende retornar ao hotel ainda nas próximas semanas.
Ótimo!
Assim pode resolver de uma vez por todas essa situação, pois essa compra do hotel já se estendeu demais enquanto ele estava no hospital.
E odeio ter negócios inacabados.
Pode me chamar de sem coração, mas quando negócios estão envolvidos eu sou mesmo, e não sinto nenhum remorso por isso.
Saio dos meus devaneios quando escuto a minha governanta falar comigo.
— Senhor Ricci, o seu irmão Thomas o aguarda na sala.
Suspiro pesadamente, pois Thomas sabe que eu gosto do final de semana para ficar em casa sozinho, sem nenhum enxerido vim me visitar, mas ele nunca respeita isso.
Droga!
— Diga a ele que eu vou demorar. — respondo, voltando a bater no saco de pancadas.
— Que coisa feia Charles, vai ignorar o seu irmão por uma simples luta de boxe. — Thomas aparece com o seu sorriso irritante no meu campo de visão ao lado do meu cachorro.
A minha governanta abre um sorriso sem graça, como se não soubesse o que dizer.
— Eu não autorizei a sua entrada. — falo entredentes e volto a bater no saco de pancadas.
— Pode ir senhora Lee, o meu irmão amou a minha presença. — ele diz a governanta.
Posso jurar que escutei um sorrisinho dela, mas decidi fingir não responder, pois ainda preciso continuar treinando. E o mais importante é Thomas sumir daqui.
— Olha o seu dono é bem focado.
— au, au.
Ao escutar ele falar com o Ônix e ele responder eu me desconcentro totalmente, não vou conseguir continuar treinando, não enquanto Thomas continuar na mansão, ele precisa ir embora agora.
— Diga o que veio fazer aqui e vá embora. — falo saindo do ringue e tirando as minhas luvas, para pegar um pano para limpar o suor do meu corpo, e uma garrafinha de água.
— Obrigado por me receber tão bem na sua residência caro irmãozinho. — fala com ironia. — Mas, eu gostaria de saber quando ia me falar que está tentando comprar a empresa Smith? — pergunta curioso.
— Não ia contar, pois isso não é da sua conta. — respondo dando de ombros.
— Nossa, você poderia ser mais amável Charles. Sabe que eu gosto de estar por dentro dos próximos negócios da família.
— Então aproveita e cuida dos seus negócios Thomas, e esqueça que os meus existe. — falo subindo de volta no ringue e colocando a minha luva. — Feche a porta quando sair. — aviso.
— Você está cometendo um erro Charles, sabe muito bem que o senhor Smith jamais venderia aquele hotel.
Suspiro sem paciência.
— Ele já vendeu Thomas, esse negócio já esta nas palmas das minhas mãos. — respondo olhando para ele.
— Se não tem documento assinado não tem venda! — responde o óbvio. — Sem contar que você se aproveitou para ir ao hospital aceitar comprar o hotel, poderia ter esperando ele sair. — ele fala revirando os olhos.
Olho friamente para ele.
— Você sabe muito bem que as boas oportunidades não podem ser desperdiçadas, independente da situação. — respondo seco. — E foi ele que me chamou até lá, então se quer questionar alguém sobre isso, recomendo que vá até ele e não eu.
— Não faça essa cara de homem frio e arrogante, sabe muito bem que isso não é justo Charles, você poderia ter no mínimo esperado para ir ao encontro dele, e sem contar que aquele hotel é a vida daquele homem, todos nós sabemos disso.
— Escute aqui. — falo olhando fixamente para ele, pois a minha paciência já sumiu. — Ele me chamou quando aceitou vender a propriedade para mim, e eu fui somente um homem de negócios, implacável como sempre sou, então assunto encerrado, agora se não tem mais nada de útil para fazer aqui eu recomendo que vá embora! — falo grosseiramente.
Ele arqueia a sobrancelha pouco se importando com o que eu falei, vejo meu irmão se sentar em uma das poltronas que tenho nesse espaço, ele cruza as penas e fica me olhando tranquilamente, como se fosse o dono do lugar.
‘’Thomas sabe bem me irritar’’ — penso querendo colocar ele dentro do ringue e usar ele de saco de pancadas.
Coloco a mão em minha cintura somente olhando para ele irritado por ele não ir embora logo.
— Recomendo que não compre esse hotel.
— E eu recomendo que cuide da droga da sua vida! — falo me estourando de vez.
— Sabia que a filha do senhor Smith vai assumir os negócios do pai? — pergunta.
Arqueio a minha sobrancelha surpreso, nem sabia que Yala voltou para cidade. — penso.
Yala Smith é uma garota irritante que sempre gostou de me tirar do sério, quando tinha alguma festa envolvendo as nossas famílias, ela tentava puxar assunto comigo, porém eu nunca dei atenção, até porque o jeito dela animada não condizia com o meu fechado. Já tivemos as nossas discussões porque ela se irritava fácil com as minhas poucas palavras.
Inclusive quando ela foi embora, pensei em alguns dos nossos debates, mas logo tratei de expulsar os pensamentos, pois nada que viesse daquela garota me fazia bem.
Ela só era uma pedra no meu passado que devia agradecer por me livrar.
— Pela sua cara acredito que não sabia. — saio dos meus pensamentos com as palavras irônicas do meu irmão.
— Não me interessa nada que vinha daquela garota, sem contar que ela não entende nada sobre negócios. — digo dando um soco no saco de pancadas para voltar a treinar.
— Ela é formada em administração. — ele retruca.
— Um simples detalhe insignificante. — falo dando de ombros e dou outro murro no saco.
— Ela pode usar o conhecimento dela para levantar a empresa do pai.
Thomas só pode estar querendo que eu o coloque dentro desse ringue, e o use para ser o meu saco de pancadas.
‘’olha que ele está a um passo de conseguir isso.’’ — falo irritado na minha consciência.
— Ela não vai conseguir fazer isso, seria muita ignorância dela se tentasse, os negócios exigem braços fortes e não uma simples menina brincando de ser CEO. — falo arrogante.
— Não é porque acha a menina irritante que ela seja desprovida de inteligência Charles, se me lembro bem um curso de administração é o ponto fundamental para partir do início do conhecimento em reerguer uma empresa falida. Sem contar que o nome Smith mesmo manchado ainda tem força nas mãos das pessoas certas, ela pode conseguir parceiros fora de Nova York e tentar reerguer o império do pai, ainda que comece de baixo, se for esperta aquele hotel vai se recuperar, ainda que leve algum tempo e você sabe bem disso. — fala com cenho franzido.
— Não me importa para nada disso, o senhor Smith já está com o negócio fechado comigo, inclusive os documentos já estão quase pronto, ele só vai precisar assinar, então que se f**a que uma garota qualquer queira assumir o lugar dele. — falo irado.
Thomas tem o poder para me deixar assim, ao seu lado dificilmente consigo falar três palavras.
— Charles, essa sua arrogância e prepotência pode colocar você em grandes problemas.
— Não me venha dar os conselhos que ninguém pediu Thomas, sabe muito bem como os negócios funcionam, todos vão querer acabar com ela, e vão conseguir. E outra você é muito pior que eu quando quer alguma coisa, ou pensa que esqueci o que vivemos no passado, sabe que o nosso sangue é r**m irmão, ainda que tente se esconder atrás desse seu sorriso animado, eu sei do que você é feito, e de bondade sabe muito bem que não é. — toco numa ferida sem nem me importar, Thomas em muitos casos é bem pior que eu, inclusive é capaz de matar alguém sorrindo, sem sentir qualquer remorso ou piedade que seja. — Agora se quer dar um conselho que seja para Liam, tenho certeza que ele terá mais paciência em ouvir. — digo dando um soco muito forte no saco de pancadas, mas que na verdade, eu queria dar nele por está aqui me tirando do sério.
Ele continua ostentando o seu sorriso e acena em positivo.
‘’isso é o que mais me irrita, ele continuar sorrindo independente da circunstância. ’’
— Ainda bem que sabe que não somos bons, porém em algumas ocasiões temos que ter limites, e você sabe que o senhor Smith não merece isso.
— Não me importo com isso, só quero a compra da empresa, e ele quer vender não a nada de m*l nisso. — dou outro soco no saco.
Ele levanta as mãos em rendição.
— Tudo bem, vai ser interessante ver você e... — ele coloca a mão na cabeça como se estivesse tentando lembrar de algo. — Ah, lembrei, sua bonequinha de porcelana rebelde.
O meu sangue chega a ferver de raiva com as suas palavras.
— Éramos jovens quando chamei ela assim, e não somos mais crianças Thomas, então esse assunto encerrou.
Ele gargalha da minha cara, p***a, um dia eu mato o meu irmão, é serio. — falo em pensamento.
— Tudo bem. — ele levanta as mãos em rendição. — Vamos ver onde isso vai dar. — ele olha Ônix que está o tempo todo quieto nos olhando. — o seu dono é muito cabeça dura, ainda bem que você é diferente. — ele abaixa e beija a cabeça do meu cachorro. Depois se levanta e olha para mim. — Agora eu já vou irmãozinho e obrigado por me receber tão bem nessa sua caverna, em breve eu volto.
— Vai tarde. — volto a bater no saco de pancadas, mas escuto a sua risada antes de sair.
Thomas só quis me irritar, o senhor Smith não iria retroceder na sua palavra sabendo da situação em que se encontra, seria ignorância demais.
Tempos depois...
Estou a caminho da empresa do senhor Smith, faz mais de uma semana que ele saiu do hospital e não entrou em contato comigo, tentei falar com ele, mas a empregada da mansão disse que não tinha autorização para passar o telefone para ele, pois de acordo a ela, a sua patroa Yala Smith, não quer que o pai se estresse com nada, mas de acordo as minhas fontes, eu fui informado de que hoje ele retornou ao hotel, e assim posso conversar com ele pessoalmente e entender o que está acontecendo.
Assim que passo pelo hall de entrada do hotel, o vejo conversando com um dos seus funcionários, quando os nossos olhares se encontram ele abre um sorriso amigável no rosto.
— Sabia que alguma hora ia aparecer. — ele estende a mão e eu o comprimento de volta.
— Bom dia Sr. Smith, esperei a sua ligação. — sou objetivo.
— Vamos ao meu escritório. — fala apontando para mesma direção em que fomos à primeira vez.
Ao passar no corredor percebo que não tem mais aqueles quadros valioso na parede, e estranho, porém não falo nada.
Assim que entramos nos sentamos e ele diz,
— Charles, eu fico muito grato pela sua oferta em comprar o meu hotel, mas não posso vendê-lo.
Arqueio a minha sobrancelha.
— Sabe que isso não é inteligente.
Ele suspira.
— Minha filha retornou e está querendo tentar recuperar o hotel, preciso dar essa oportunidade a ela.
Aceno em negativo.
— Sua filha provavelmente não sabe nem o que está fazendo, sugiro que converse com ela, pois o meio que está se metendo pode colocá-la em grandes problemas. — falo o óbvio.
Ele abre um meio sorriso de lado sem saber o que me responder.
— Senhor Smith, eu trouxe os documentos para serem assinados, o senhor sabe muito bem que está cometendo um grande erro não os assinando, a sua filha vai tentar lutar uma guerra perdida, assim como o senhor lutou quando estive aqui a primeira vez, poupe a menina desse trabalho, pense que ela vai está a segurada e sem preocupações com o valor que vão ganhar na venda do hotel. — falo tirando o documento da minha pasta e colocando sobre a mesa com uma caneta de ouro, eu fico olhando para ele e vejo a sua respiração ficar acelerada.
— Charles, Yala está decidida a tentar, ela é uma boa menina, e estudou para isso, acredito que possa conseguir. — ele tenta retrucar.
A minha vontade é de abrir um sorriso irônico ao ver a bondade desse homem, não é atoa que perdeu império inteiro, por ver competência e bondade onde certamente não existe.
— Sua filha vai está perdendo tempo, a poupe disso, sabe que estou lhe dando um grande conselho, os negócios não são feitos para pessoas desinformadas, e sim para pessoas como nós, que sabe o que faz, e mesmo assim às vezes cometemos erro lastimável, imagine alguém que nem experiência tem, então peço que reconsidere. — falo o persuadindo, pois não vou perder um negócio que está tão perto de ser fechado, por uma garota querendo brincar de ser CEO de algo que ela nem conhece.
Ele suspira e segura à caneta em sua mão, levanto a minha cabeça sentindo o cheiro da vitória, mas antes que ele possa assinar, escuto a porta sendo aberta.
— Não se preocupe senhor Ricci, agradeço o conselho, mas eu estou pronta para enfrentar qualquer coisa para reconstruir os negócios do meu pai, ainda que venham milhares de CEOs arrogantes e sem coração em minha direção, irei acabar com todos, agora sugiro que vá pela mesma porta em que entrou porque esse hotel não está a venda. — surpreendo-me ao escutar uma voz atrás de mim, quando viro vejo Yala diante dos meus olhos, aquela menina irritante, virou uma bela mulher, porém a sua determinação a falar comigo é admirável, mas, ao mesmo tempo, uma grande estupidez.
Continua...