Entrando, Marcus acende a luz do corredor e eu consigo ver melhor. Todo o lugar está impecável. Pisos de mármore branco e uma escadaria enorme levam ao próximo andar. Não consigo ver nos quartos ao lado do hall de entrada, ele não acendeu essas luzes, mas se o hall é algo a se considerar, o resto da casa deve ser de tirar o fôlego. É exagerado; nada menos do que eu esperaria do Blood Alfa, é claro. Eles são a matilha mais rica e possuem metade da cidade sob sua reivindicação.
— Por aqui — Ele diz, fazendo um gesto para eu o seguir. Eu o sigo por dois lances de escada antes de pararmos em uma porta preta, que ele abre para revelar uma cama king-size de mogno com um dossel. Mobília combinando e um grande tapete preto no chão. Embutida na parede, há uma TV de tela plana, que ele liga antes de abaixar um pouco o volume. De um lado, também consigo ver uma porta que leva a uma varanda.
— Obviamente, eu não tenho um berço, mas a cama é confortável, e o banheiro fica por aquelas portas. É compartilhado com o quarto do Alfa Valen ao lado, mas tenho certeza de que ele não estará aqui hoje à noite. Provavelmente ficará em seu apartamento na cidade. As toalhas estão lá e eu voltarei para te ver às 6 da manhã; eu te levarei para conhecer o Alfa — Ele diz antes de entrar no closet e pegar algumas roupas para si mesmo.
— A cozinha fica lá embaixo caso esteja com fome, verei você mais tarde — Ele me diz antes de sair pela porta. Olho ao redor por um momento, então ligo o aquecedor para esquentar o quarto.
— Isso é bom, meu bem. E amanhã você poderá conhecer seu pai — Sussurro para ele. Não consigo evitar sentir uma sensação de empolgação e antecipação. Não há como o Alfa negar seu próprio filho assim que o conhecer. Ele vai saber com apenas um olhar que ele é seu. Ele será capaz de sentir esse fato.
Entrando no banheiro, eu suspiro. É de mármore branco e azulejos brancos com acabamentos dourados. Uma parede é toda de espelhos acima da pia, e o chuveiro pode facilmente acomodar três pessoas. A pia é do tamanho perfeito para dar banho em Valarian. Ele não tomou um banho adequado desde o hospital e tenho certeza de que ele vai adorar. Instantaneamente, começo a preparar a pia com água morna, usando o cotovelo para testá-la antes de tirar suas roupas e colocá-lo na água, garantindo que eu segure sua cabeça acima da água. Ele mexe os braços e as pernas, balançando a água e murmurando felizmente enquanto leva as mãos à boca.
Quando a água esfria, eu o tiro. Escorro a água e o envolvo em uma toalha antes de secá-lo e deitá-lo na cama enquanto o visto. Depois da mamadeira, ele adormece rapidamente, quase como se soubesse que está seguro. Coloco travesseiros em volta dele para garantir que ele não caia da cama antes de voltar para o banheiro, deixando a porta aberta para ouvi-lo. Depois de rapidamente tirar minhas roupas, eu ligo o chuveiro e entro debaixo da água quente. Marcus não mencionou usar os produtos de banho, então aproveito a oportunidade e uso o gel de banho e o xampu para me lavar profundamente, como não faço há muito tempo.
Enquanto enrolava a toalha felpuda em volta de mim, eu de repente ouço vozes, tropeços bêbados, uma mulher rindo, e eu congelo. Tem alguém aqui. Pego minhas roupas da pia e estou prestes a ir para o quarto de Marcus quando a porta do banheiro se abre e uma bela mulher ruiva entra. Ela para quando me nota. Seu vestido extremamente apertado deixa pouco à imaginação e ela está claramente embriagada, conforme uma nuvem de álcool entra depois dela.
Ela me olha de cima a baixo antes de rosnar para mim, seu lábio superior recuando sobre os dentes.
— O que você está fazendo aqui, errante? — Ela rosna.
— Eu… Beta Marcus… — Meu coração dispara loucamente no peito. Gaguejando, eu tento explicar quando a porta é empurrada aberta, e um homem entra furiosamente.
Não, não é um homem, é o Blood Alfa. Ele também cheira muito a uísque, o cheiro é tão forte que queima meu nariz, mas não consigo desviar o olhar dos seus olhos âmbar. Ele é absolutamente lindo mesmo estando completamente embriagado e m*l conseguindo se manter em pé. Ele é alto também, e muito mais musculoso do que eu me lembrava, com cabelos escuros e uma barba por fazer também escura. Mas os olhos dele, aqueles olhos dos quais não consigo desviar o olhar. Eles brilham como a personificação do outono.
Parece que alguém fritou meu cérebro até ficar tostado, e tudo o que consigo fazer é encarar, meu cérebro gritando, meus sentidos sobrecarregados com a essência dele.
Companheiro!
O Blood Alfa.
Ele é. Meu. Companheiro.
Eu sei disso, sinto isso, com cada fibra do meu ser, mesmo sem ter me transformado ainda. Eu sou maior de idade agora, e sinto meu coração bater animadamente. Eu encontrei meu companheiro! Dando um passo em sua direção, estico a mão para ele, mas seus lábios se curvam sobre os dentes, revelando caninos afiados. Seu rosto, seu lindo rosto, está distorcido de raiva. Eu respiro com dificuldade, percebendo que ele está tão embriagado que não me reconhece. Em vez disso, ele corre em minha direção. Suas mãos agarram minha garganta e ele me pressiona contra a parede fria e azulejada.
— O que diabos um errante está fazendo na minha casa!? — Ele grita antes de me cheirar. Não consigo falar; ele está segurando com força, restringindo minha respiração. Ele me cheira de novo antes de balançar a cabeça. Então me empurra de volta antes de me comandar.
— Saia da minha casa agora antes que eu te mate! — Ele rosna, e meu estômago se revira. Ele não consegue me reconhecer. Posso ser facilmente confundida com qualquer prostituta errante que esteja na rua para com o quanto ele está bêbado. Embora, ele continue cheirando o ar, seu corpo dizendo a ele que algo está errado. É apenas que seu cérebro não consegue me registrar. Meu coração afunda.
A mulher atrás dele está claramente aproveitando esse confronto; provavelmente esperando que ele me mate; uma errante em território da matilha. Eu nunca deveria ter vindo aqui. Eu nunca deveria ter criado esperanças. Nem mesmo meu próprio companheiro vai me ajudar. Essa era minha única chance de mostrar que ele é pai, e agora isso acabou de ir por água abaixo.
— Espere, mas, você é meu... — Imploro desesperadamente.
— Saia! — Ele grita, e eu recuo, seu comando me deixando impotente. Pego minhas roupas do chão onde as deixei, corro para o quarto de Marcus e as visto. Por mais que deseje desesperadamente continuar discutindo, seu comando me deixa sem poder. Os lobos Alfa, uma vez que atingem a maturidade, podem usar uma certa voz, um comando, que o destinatário deve obedecer.
— Vamos, querido — A mulher murmura, segurando-o. Lágrimas enchem meus olhos enquanto pego minhas coisas, incapaz de fazer qualquer coisa contra seu comando, incapaz de me explicar. Envolvendo meu filho em seu cobertor e o colocando contra mim, pego minha bolsa antes de correr pelos degraus.
A dor repentinamente me atravessa, tirando meu fôlego. Agarrando o corrimão, minha barriga dói, me fazendo gritar. Eu aperto os dentes, a agonia rasgando meu coração. Eles estão claramente transando. Já ouvi dizer que as mulheres sabem quando seus companheiros são infiéis, podem sentir, mas eu fui apresentada a ele com outra mulher.
Não achei que doeria assim; nunca imaginei essa dor. Ele nem sequer me marcou.
Correndo pelos degraus, saio pela porta. Está chovendo torrencialmente enquanto uma tempestade atravessa o céu noturno. Estou a quilômetros do meu carro, mas o comando dele me disse para sair e não me deu escolha. Olhando em volta desesperadamente, começo a correr, protegendo meu filho do frio com a minha camisa. Minhas pernas me levam sem destino enquanto tento desesperadamente descobrir onde encontrar abrigo.
Não sei por quanto tempo corro, mas de repente me vejo na rua principal da cidade, a linha que separa a Matilha Nightshade da Matilha Shadowmoon, a matilha do meu pai, meu antigo território. Nossa casa fica a apenas dez minutos daqui.
Talvez ele tenha pena de mim; talvez ele mude de ideia quando conhecer o neto. Só posso esperar, pelo menos pelo bem do meu filho. Engulo em seco, sabendo que não tenho escolha, senão vou passar a noite na chuva com um bebê.
Decidindo arriscar, começo a correr para casa. Corro o caminho inteiro antes de parar na frente da minha antiga casa. As luzes estão todas apagadas.
Meu coração aperta enquanto olho para a entrada da casa suntuosa de um único andar. Quando era criança, brincava com as crianças da matilha nessa rua, andava de bicicleta na calçada com minha irmã. Meu pai costumava jogar futebol americano conosco nesse mesmo gramado após o trabalho quando éramos pequenas, ou nos ajudava a escalar a árvore gigantesca que fica ao lado da entrada da garagem. Isso era lar.
Sinto falta da minha antiga vida, sinto falta da minha família; só espero que eles também sintam minha falta.