O Cúmplice e o Assassino

Um homem de sucesso - parte 4/4

Fabiano obviamente conquistou seu espaço na Metal Industrial, única e exclusivamente por seu profissionalismo e, em menos de um ano, vendeu a sua antiga casa - tudo que havia lhe restado - e parou de pagar o aluguel da casa de Cidade Esperança, comprando um bem melhor por ali. Estava feliz, apagando todo seu passado e começando uma vida nova, e soube que mesmo com todos os cabelos brancos, ainda restava tempo para um recomeço. E agora estaria ao lado de seu amigo, o velho e bom amigo Augusto Gentil. A felicidade se tornou difícil de esconder quando aconteceu o reencontro. Reencontro este que rendeu a Fabiano muito dinheiro - que jamais alcançaria sozinho -, além de notoriedade no mercado industrial.

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Os anos foram se passando, e tudo ia bem, até que uma fatalidade aconteceu. Isadora, a irmã caçula de Augusto, e seu marido, Michael, morreram num acidente de trânsito. Foi h******l, o veículo colidiu com um caminhão. O acidente foi resultado de uma ultrapassagem errada feita por Michael. A sorte foi que a filha do casal, de doze anos de idade, passava os recessos escolares numa colônia de férias, caso contrário, também não teria sobrevivido.

O velho tentava de toda forma animar sua sobrinha, uma moça de cabelos castanhos e olhos bem negros e redondos, cujo nome sabemos bem, Juliet.

Augusto sabia que não era fácil perder os pais, principalmente naquela idade. A trágica realidade havia tirado Isadora e Michael da vida da menina.

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Juliet era uma miniatura de Isadora, magra, esperta, bonita. E, mesmo três anos após o acidente, quando a menina tinha quinze anos, em vez de esbanjar energia, ela ficava sempre num canto da mansão de Augusto, que a acolhera após a tragédia que a havia a deixado órfã.

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Abilene ainda trabalhava para Augusto (na realidade, todos os empregados antigos permaneciam ali, muito mais enrugados, é claro). Ela tentava animar Juliet também. Ás vezes, até conseguia arrancar um sorriso contido, mas muito bonito. No entanto, ela sempre andava tristonha pela mansão. E quando não fazia isso, confinava-se em seu quarto. Muitas vezes Abilene a via escrevendo em diários, transformando sua dor em palavras, e tinha certeza de que ela desabafava com alguém na internet. Talvez isso fosse mais fácil do que se abrir com as pessoas da casa.

Mas eles sabiam que esse luto não duraria para sempre, pois Juliet recebia todos os cuidados necessários - e exagerados - e todo o carinho do mundo. Um dia ela aceitaria a verdade e viveria.

Só não havia como saber que sua vida seria interrompida dali a três anos, quando estaria totalmente recuperada da perda e tentava levar um vida normal.

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Certo dia, Augusto recebeu um e-mail de Valéria. Ela contava que estava passando por dificuldades com seu filho, Anderson. Ela teve a delicadeza de não exprimir a decepção que estava vivendo com o garoto, que estava cada vez mais agressivo, menos compreensivo e se envolvendo com amizades duvidosas.

Estaria ele virando um marginal?

Mais três anos se passaram. Augusto sentia-se mais cansado que o habitual, e passou a ficar mais tempo em seu velho e bom quarto. Ele havia prometido cuidar de sua sobrinha, mas na realidade era ele quem estava sendo cuidado, aliás, existiam limitações para um senhor de 65 anos.

Acredito que tenha sido o destino que a trouxe até mim. Nenhuma riqueza me traz tanta alegria como você, Juliet.

Ela o tratava com muito carinho e, provavelmente, se a ideia de estudar na FHCE não a tivesse acometido, poderia cuidar dele até o dia de sua morte. No entanto, uma série de acontecimentos estava atrelada ao seu homicídio. Talvez o destino tivesse preparado de propósito aquela surpresa maligna.

Fazia tempo que a monotonia envolvia como uma cúpula aquela mansão, porém, o pacote de más notícias ainda não havia acabado. Numa tarde qualquer, escutaram o telefone tocar. Sempre atenta, Abilene atendeu, e ficou dura feito uma estátua com o telefone encostado na orelha.

Juliet e Augusto ficaram espantados quando ela pediu para que sentassem - se bem que ela própria precisava fazer isso também.

- O que houve Abilene? - falou o velho, gaguejando. - Por favor, conte-nos, não estou mais na idade de receber notícias desse modo, com esse suspense - ralhou ele. - Diga logo!

Juliet viu o lábio inferior de Abilene tremer e seus olhos se encherem de lágrimas. Queria acalmá-la, porém estava igualmente assustada.

- É do hospital... o Pedro, senhor, ele acaba de morrer...

Pedro, o velho motorista, de quem Augusto tanto gostava, estava morto. Mais um acidente de carro para a coleção de tragédias. Isso fez Juliet ter uma crise de choro. Lembrou-se subitamente de seus pais.

Que tempos são estes?

Depois do enterro de Pedro, chegaram à conclusão de que tinham que contratar outro motorista, Augusto não poderia ficar sem um.

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Um dos ajudantes de cozinha falou com Juliet sobre um amigo que precisava de emprego.

- Ele é jovem como a senhorita, e sabe dirigir muito bem - disse.

- Está bem, diga a ele para vir falar comigo, pois o tio Augusto não tem condições de tratar desse assunto agora. Pode ser neste final de tarde?

- Mas é claro! - exclamou o homem.

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Juliet gostou do rapaz, ela mesma havia feito a entrevista. Após a aprovação de seu tio, o contratou, com certo receio por ele ser muito novo, mas o rapaz havia se mostrado bastante confiante.

Foi assim que Alex entrou para o quadro de funcionários do milionário da cidade. Realmente era competente como motorista, mas tinha um defeito, tinha desenvolvido um hábito estranho de ficar ouvindo conversas alheias. Graças a essa mania, tomou conhecimento do testamento, enquanto Augusto conversava mais uma vez - depois de anos - com Abilene. Houve mudanças na distribuição dos bens, e sem aguentar segurar esse segredo, contou para seu amigo que trabalhava como ajudante do cozinheiro na mansão, detalhando tudo que ouviu, e este, eufórico pelo que Alex dissera, mostrou-se um fofoqueiro de mão cheia e espalhou de modo discreto o assunto para os demais empregados. Agora todos sabiam que seriam beneficiados caso Augusto Gentil viesse a falecer.