Eduardo virou o rosto na direção indicada por Will e lá estava ela. Bianca. O nervosismo evidenciado pela maneira em que ela mordia o lado de dentro da bochecha e seus olhos desviaram dele no mesmo momento em que se encontraram.
Como se estivesse em algum tipo de transe, Eduardo largou o violão sobre a cadeira onde estava sentado e seguiu na direção dela. Bianca notou que os olhos dele desviavam dela para seu entorno, como se procurasse algo ou alguém, enquanto seus olhos brilhavam. Ela sabia que aquele brilho significava que ele estava intrigado, ela sentia como se conhecesse cada traço daquele rosto e cada gesto dele. O que a deixava confusa e perturbada, visto que m*l o conhecia...
— Eu vim sozinha. — Ela se adiantou, a fala precipitada era mero resultado da ansiedade. — Quer dizer, eu vim sozinha, os outros virão mais tarde... hum... Eles estão muito animados e te ver cantar... Não que eu não esteja também...
Um tímido sorriso se formou nos lábios de Eduardo e de alguma maneira aquele sorriso amigável a acalmou.
— Não quis vir com os outros?
— Não... er.. Eu quis vir mais cedo para poder falar com você.
Eduardo a olhava com o rosto inexpressivo, mas por dentro estava curioso e confuso. Se a "versão" de Bianca que o olhava tão atentamente o conhecesse como a outra, teria percebido o discreto movimento da sobrancelha direita de Eduardo, forte indicativo de quando a mente dele se torna barulhenta.
Com um suspiro, Eduardo balançou positivamente a cabeça, dividido entre a curiosidade pelo que ela queria dizer e o movimento dos lábios dela, o que fez com que ele inconscientemente passasse a língua nos dele.
Não foi por coincidência que ele a levou para a mesma mesa com visão privilegiada do local no palco onde ele ficaria durante a apresentação. Ainda que negasse, bem no fundo do peito dele ainda ardia uma pequena chama de esperança de mudar o presente.
— Quer beber alguma coisa? Uma soda, talvez? — Eduardo perguntou chamando mais uma vez o garçom. Bianca fez que sim com a cabeça com um largo sorriso que exibia as covinhas que ele tanto amava.
Eduardo fez os pedidos e quando o garçom se afastou, seus olhos pousaram em Bianca que parecia estar nervosa, ou pelo menos ansiosa, visto que ele conhecia em as expressões do rosto dela, que tinha a testa franzida e mordia os lábios. O primeiro instinto dele foi de interromper a angústia dela puxando um assunto qualquer, mas ele não queria apressá-la. Uma parte egoísta de seu coração queria aproveitar o tempo em que ela estava tão perto. Se ele apenas esticasse o braço, poderia tocar em seu rosto, acariciar a pele, sentir os lábios cujo sabor ele ainda sentia na boca. Inesquecível... inalcançável...
— Hm... Ela levantou o rosto para encará-lo. — Eu queria dizer que sinto muito se de alguma forma fui a causa de você e Rafael terem brigado. Ai.. acho que isso soou como presunção mas...
Bianca respirou fundo, suas bochechas vermelhas como tomates, então olhou para Eduardo suplicante. Ele ergueu uma das sobrancelhas, o rosto sério e intimidador, se deliciando em torturá-la. Ela suspirou mais uma vez e prosseguiu:
— Rafael ligou para mim hoje de manhã e me explicou um pouco as coisas. Eu não quero parecer... eu não quis dizer que...é que-
— Princesa. — Eduardo finalmente se apiedou e decidiu interromper a verborragia de Bianca.— Se ele te ligou e explicou o que aconteceu, ele também deve ter te contado que está tudo bem entre nós, hm?
— Sim, sim... Me deu um baita alívio! Não sei se você faz ideia de como Rafael idolatra você e o Valdemar, mas ele fala de vocês o tempo todo com tanto orgulho e carinho, seria uma pena que uma amizade bonita como a de vocês se perdesse por bobagem...
— Não se preocupe, princesa, não foi a primeira vez que saímos na mão e não será a última.— Ele sorriu ao notar a expressão de alívio dela se transformar em sutil indignação ao ouvir que aos amigos era comum "saírem na mão".
Ao sorrir, Eduardo percebeu os olhos dela se voltarem em direção aos lábios dele, que o fizeram refletir o movimento. A atração entre os dois era inegável, a v*****e de beijá-la, abraçá-la, mantê-la em seus braços era maior do que toda sensatez que tinha na alma, e se não fosse por aquela mesa os separando...
Talvez se ele se aproximasse um pouco mais e se-
— Hum... Eu vim por causa de outra coisa que ele me contou no telefone...algo que eu acharia ser loucura se alguém tivesse me contado ao invés de eu mesma ter vivido...Alguém me ligou há um tempo atrás se dizendo meu namorado....Eu achei que era trote, embora a voz parecesse tão familiar e tenha me causado algo estranho... Com medo de ser meu ex, eu até troquei o número do meu celular. Eduardo... Foi você? Era você?
O sorriso nos lábios dele se desfez e, olhando intensamente nos olhos dela, ele apenas fez que sim com a cabeça.
— Mas como isso é possível? Como você conseguiu meu número? Eu ainda estava na casa dos meus pais, eu nem sabia que você existia, ou que te conheceria, como-
— Sinto muito se teve que trocar de número por minha causa...
— Isso não vem ao caso, não precisa se desculpar.... Tua voz, teu jeito de falar ao telefone era tão.... Como posso descrever? Verdadeiro? Parecia ser alguém acostumado a falar comigo, que me conhecia...
— Mas eu te conhecia, princesa...Eu ainda conheço cada gesto seu... Cada traço do seu rosto, Seu rosto corando a cada reação de timidez, essas covinhas quando sorri, cada sinal da tua pele, cada reação do teu corpo....está tudo gravado em minha memória. Tua voz, teu toque... o teu gosto ainda está na minha boca.
Eduardo se questionava se ela seria capaz de ler o desespero nos olhos dele enquanto descrevia o que sua mente culpada usava para torturá-lo. As lembranças do que viveu um dia, lembranças ao vento...
— Isso é loucura... é impossível!
— Ainda assim estamos aqui conversando sobre algo que você, por mais que não entenda, sabe que não é mentira. Você sente que me conhece, não sente? Não minta para mim, Bianca, eu notei sua reação na praia... de alguma maneira, mesmo que fugaz, você sente o amor que já tivemos.
— Nós nunca tivemos nada, Eduardo, eu acabei de te conhecer, isso é loucura!
— Ainda assim você veio me ver.
— Eu...Talvez tenha sido uma má ideia vir aqui...
Bianca se levantou evitando os olhos dele, pronta para se retirar, mas ele não poderia permitir que ela se fosse, não depois de confirmar, ainda que indiretamente, que sentiu algo por ele.
Talvez não fosse tarde demais.
Ele se levantou e segurou suave, mas firmemente o braço dela, que não rejeitou seu toque. Ele colocou o dedo indicador sob o queixo dela, erguendo a cabeça dela para que se olhassem nos olhos.
— Ou talvez tenha sido a melhor ideia que você já teve! Talvez se você der uma chance para nós dois, o que sentíamos antes pode-
— Eduardo. — Bianca o interrompeu em voz baixa, quase um sussurro. — Eu sou namorada de um de seus melhores amigos, essa coisa , seja lá o que for, n******e ser real. — Ao terminar de falar ela desviou os olhos, embora a mão dele ainda estivesse tocando o rosto dela.
— Olha para mim, Bianca, e me diz que não sente nada quando estamos assim tão perto... Que meu toque não mexe contigo...Me fala o que se passa aqui— Ele tocou a cabeça dela com a outra mão, então apontou para o peito dela, dizendo: — E aqui?
— Eu... Eu não entendo o que acontece. Quando estou com Rafael— Ele engoliu em seco ao ouvir o nome do amigo. — Eu não penso em mais nada... — Mas quando estou perto de você, então parece que todo o resto desaparece...como na praia...e quando estou dormindo, eu sonho com coisas que eu nunca fiz, nunca vivi, mas parecem tão reais e você está em todos os meus sonhos... e quando acordo, sinto falta de ter você a meu lado. Isso é loucura... Como posso sentir falta do que nunca aconteceu?
O coração dele batia tão rápido, que ele temia que o órgão vital explodisse ou saltasse do peito, para fora. A angústia que sentia doía emocional e fisicamente. O amor que sentia pelo amigo, a lealdade que Rafael merecia duelava contra o amor que sentia por Bianca, que parecia maior e mais profundo a cada dia, independente de tê-la como namorada ou não. Ela era a mulher da vida dele, disso ele tinha certeza.
Eduardo, em um movimento involuntário e instintivo, se aproximou mais um passo, os corpos quase se tocando, o rosto dela entre as mãos dele. Bianca respirou fundo, pousou as mãos sobre as mão dele que tocavam seu rosto, e as afastou.
— Entenda, Eduardo, não importa o que essa coisa entre nós seja, eu realmente gosto do Rafael... Gosto muito dele!
Eduardo fechou os olhos e respirou fundo, se esforçando para conter as lágrimas, pois não queria que ela o visse destruído como ele se sentia com as palavras dela.
— Uma vez, — Ele disse em voz baixa e grave, cheia de emoção contida. — Uma pessoa muito especial para mim me disse que devemos lutar por quem amamos... Ela estava certa como sempre, eu sempre fui o BabacaIdiota da r*****o. Me diz, Bianca, como parar de lutar por quem amamos? E como lutar por alguém que é tudo para nós, ainda que sejamos apenas um "sonho" para essa pessoa?
— Talvez, em algum lugar nesse universo, você tenha sido tudo para essa pessoa... Tudo acontece por uma razão, talvez, era para ser assim...já que é assim, eu acho... — Ela pareceu confusa, os olhos dela cheios de lágrimas brilhavam, contradizendo o pequeno sorriso que exibia no rosto.
Ele fechou os olhos com força, desejando que pudesse simplesmente parar de existir em um mundo em que ela não era a princesa dele. Como ele poderia suportar seguir em frente sabendo tudo o que foram, tudo o que poderiam ter sido, e ainda vê-la nos braços de quem ele considerava um irmão?
Ficaram em silêncio por alguns segundo, nenhum dos dois sabendo como prosseguir, até que Will se aproximou e interrompeu o momento deles.
— Hey, Edu, desculpa interromper — Will hesitou ao notar pela postura de Eduardo que ele não estava nada bem. — Temos que decidir o repertório, o show já vai começar.
— Ok, Will, eu já estou indo, me dê cinco minutos.
Will se afastou e Eduardo notou que o Clube estava bem cheio, a maioria das mesas já ocupadas. Com alívio, viu que a mesa reservada pelos amigos permanecia vazia.
— Eu espero que não haja nenhum sentimento r**m entre nós...Ou entre você e Rafael, não faz ideia mesmo do quanto ele te admira!
— Jamais, princesa! É... antes de voltar para o palco eu queria te dar uma coisa. — Ele alcançou atrás do pescoço e retirou o cordão que usava. — Eu mandei fazer esse pingente especialmente para... hum... Ele é seu, nada mais justo que fique com você!.
Ela olhou o cordão que ele oferecia, o belo e delicado pingente no formato de asas de anjo e não pôde aceitar.
— Não, Eduardo...— Ela fechou os dedos dele em volta do cordão exibindo um sorriso triste. — Por favor, não poderia aceitar. Está na cara que tem um grande valor para você e quando você encontrar alguém especial, é justo que dê para essa pessoa!
— E se esse alguém especial for você?
— Não aqui, nem agora, Eduardo...— Ele entendeu que ela se referia a realidade em que se encontravam — E se não sou eu, em algum lugar a garota especial vai estar e você vai ficar contente ao vê-la usando ele!
Com o rosto obviamente contrariado, ele colocou o cordão no bolso da calça.
— Então, fica, vou tocar uma música especialmente para você, como prometi na praia... Só não vai ser do One Direction... Uma das minhas, pode ser?
— Sim, claro, vai ser uma honra!