Capítulo V

2054 Words
— Não sei se é uma boa ideia você ir à calourada desse jeito, não era para ficar de repouso? — Perguntou Renato enquanto ajudava Eduardo a descer as escadas. Val os aguardava no saguão, braços cruzados sobre o peito e um sorriso que Eduardo considerava "bocó" no rosto. Com o braço em torno dos ombros do amigo, Eduardo caminhava devagar, poupando a perna avariada. Ele não sentia dor, mas a previsão de briga com Fábio por causa de Bianca precisava ser levada em conta. Ele não tinha dúvidas de que levaria a melhor facilmente, mas não tinha a menor intenção de dar vantagem para o i*****l do ex dela! Além disso, ele tinha o próprio ego para amaciar. Precisava estar inteiro para se exibir para a amada, como um macho alfa selvagem, embora jamais admitisse tal ideia, nem mesmo para si mesmo... — Que brilho escroto nos olhos é esse, Val? — Vocês ficam tão bonitinhos assim abraçadinhos, não posso deixar de imaginar que formariam um casal... ou seria par... casal, isso! Casal lindo! — Tá engraçadão hoje, hein, Val!? — Ripostou Eduardo, enquanto Renato balançava a cabeça de um lado para o outro contendo o riso. — Fazer o quê, se tenho tanto orgulho de minhas crianças? — Tá bom , mamãe urso, onde estão os outros? — Foram na frente! Alex queria passar na casa de Vanessa e parece que Rafael vai atrás de uma garota também, então saíram juntos e vão nos encontrar lá. Com que carro? — Foram de táxi. — Aliás, por que vocês não compram logo um carro? Dinheiro não falta para vocês.... — Eu não gosto de dirigir, nem meu irmão, e a gente tem vocês de motorista, então, pra quê? — Quando teu irmão não está por perto, você fica quase igual a ele, sabia? — Igual em quê? — Dá v*****e de lascar um pescotapa da mesma maneira que faço com ele! — Hey, sai fora! — Tomara que Rafael não leve a garota que ele estava saindo mês passado... — Qual delas? — Aquela do unhão! — Argh.... Gemeram em uníssono. — Até hoje me pergunto como ela lava o- — Rafael jamais estaria saindo com a mesma garota por tanto tempo. — Verdade, acho que estragamos ele quando colocamos aquelas meninas para beijarem ele juntas. Camarada "despirocou"! — Ah, fala sério! Rafael e meu irmão não têm jeito, são caroços do mesmo abacaxi. Nasceram galinhando! — Na verdade não, quando conhecemos Rafael, ele até estava noivo, né não. Edu? O sorriso cínico no rosto de Eduardo se expandiu para um enorme sorriso estampado no rosto com a lembrança. — Não sacaneia?— Perguntou Renato ao terminarem de descer os degraus, parando ao lado de Eduardo que já estava de pé sem apoio. — É verdade! Uma porrinha de meio metro e uma vasta cabeleira crespa gritando que ia casar com ele. — Eu preciso conhecer essa garota para poder zoar ele! — Infelizmente não tem como, a mãe dela era faxineira... ou babá, não lembro direito, mas parece que arrumou um emprego com uma família lá em Portugal. Cidade do Porto, acho... — Não, era uma cidade pequena, de montanha eu acho, que produz aquele queijo gostosão que é cremoso por dentro. — Completou Eduardo. — Ah é.. Ela até mandou para ele um queijo de lá, enorme e inteiro! — A mina mandou um queijo inteiro de outro país pro Rafa? — É... e não era queijo baratinho não, o i****a ficou tão bolado que nem comeu. Aliás, ele queria jogar fora sem nem provar. A mãe dele obrigou ele a comer um pedaço e posar para um foto que mandou para a miúda em Portugal. — Respondeu Eduardo andando cautelosamente na direção da porta. — Boa lembrança, a gente comeu queijo até dar dor de barriga! Minha mãe fez tudo de queijo, bolo, pudim, lasanha... e se deixasse fazia até refresco!— Comentou Val rindo. — E por que ele ficou tão irado? Eu queria uma mina que mandasse comida para mim! — Porque a miúda dizia que era noiva dele para quem quisesse ouvir, parecia uma pulga atrás dele enquanto a mãe dela trabalhava na casa dele. Ele ficava envergonhado com a adoração dela. — De pensar que hoje em dia ele anda todo pimpão quando uma guria fica atrás dele... — Exato! Por isso acho que Eduardo e eu criamos um monstro. — Para como papo e abre logo esse carro. Já estamos atrasados, os calouros já devem estar sendo liberados! — Hey, espera! Eu fiquei de levar uma tequila, vou buscar lá no meu quarto e já volto. Renato correu de volta para dentro da pensão enquanto Eduardo e Val esperavam dentro do carro. — Por que essa afobação toda para a calourada? Você nem curte essas festas da U.C.C... — Essa será especial, Val, você vai ver! *************** Eduardo parou na entrada do ginásio onde estava acontecendo a calourada. Respirou fundo e esfregou as palmas das mãos na calça jeans para enxugar o suor. Fechou os olhos por uns instantes, tentando se lembrar em que momento aquela determinada música havia tocado. Renato havia demorado demais para pegar a garrafa de tequila, pois ainda parou para atender o celular. A festa já estava cheia, e se fosse tarde demais?  E se Fábio conseguiu intimidar Bianca? E se... Renato entrou sem perceber que o amigo havia parado, mas Val notou. O rosto de Eduardo estava pálido e gotículas de suor se formavam na testa dele. Val franziu o cenho quando o amigo passou a mão nervosamente pelo rosto respirando devagar. — O que houve, Edu? Está sentindo alguma coisa? Sua perna está doendo? Eu falei que era cedo para você sair de casa assim, ainda mais sem o gesso! — Eu estou bem, Val, relaxa! — Não mente para mim, mano! Você quase bateu as botas, a agora está com a cara toda pálida... Vamos, eu vou te levar de volta para a pensão! — VAl! Eu já disse que está tudo bem, ok? Eu sou estou um pouco ansioso... — Ansioso por causa de quê? Eduardo abriu a boca para responder o amigo, mas a fechou em seguida sem dizer palavra alguma. Ele já havia falado demais no quarto do hospital e ninguém tinha acreditado nele. Se ele insistisse na história de Bianca, que o médico classificou com construção da mente dele enquanto em coma, provavelmente preocuparia o amigo, e mais provavelmente ainda, Val com o jeito de mamãe urso dele insistiria em terapia. Eduardo não tinha nem tempo nem paciência para convencer o amigo de que tudo o que ele dissera antes era real. Ele teria que mostrar, e naquela noite Eduardo tinha certeza que tudo se resolveria. Bianca estaria lá, tinha que estar, ele ele repetiria as ações que os levaram a ficar juntos, a começar pelo beijo roubado que tatuou Bianca na mente dele. — Por nada, Val, vamos logo entrar nessa "bagaça" antes que a tequila que Renato trouxe acabe! ***** — Até que enfim chegaram! Disse Alex ao cumprimentar os recém-chegados mantendo um braço em torno de Vanessa, que os cumprimentou com beijos no rosto. — Cadê Rafael e Renato? — Foram buscar mais cerveja! Enquanto os amigos conversavam, Eduardo olhava em volta, ansioso. Mentalmente tentava se lembrar daquela noite, mas nada lhe vinha a mente que pudesse indicar em que momento haviam se beijado. Aceitando que sua memória em nada o ajudaria, ele murmurou uma desculpa qualquer no ouvido de Val e se afastou para procurar Bianca. Depois de alguns minutos perambulando, ele passou as mãos pelo rosto aflito. Duvidando da esperança que havia sentido até aquele momento, ele seguiu em direção a fila das bebidas, decidido a esperar pelo momento em que ela apareceria. As luzes piscantes incomodavam seus olhos e dificultavam ainda mais a busca. A cada minuto que se seguia, mais angustiado ele se sentia e mais dúvidas nublavam sua determinação. Ele respirou fundo, soltando o ar lentamente. Se prometeu que lutaria por ela, que não desistiria deles nem do amor deles, e se suas conclusões sobre toda aquela situação estivessem corretas, aquele evento seria a chance de encontrá-la para retificar o m*l que ele, de alguma forma sobrenatural, havia causado. Passou a mão pelo rosto mais uma vez, a determinação reavivada. Não foi à toa que Bruno o havia apelidado de casmurro! Decidiu então aguardar na bancada de bebidas e seguiu na direção dela, até que seus olhos encontraram longos cabelos castanhos, que completavam um corpo de curvas quase perfeitas. Sentiu o coração saltar dentro do peito. Apesar da pouca iluminação e a irritante luz piscante, ele seguiu na direção dela como um marinheiro encantado por uma sereia. Era Bianca, tinha que ser Bianca conversando com o i*****l do Ricardo e ... Luíza... Ele não se lembrava da presença de Luíza na calourada, mas pouco se importava! Ele viu quando Luíza notou a aproximação dele e cochichou sorridente no ouvido de Bianca. Ela estava de costas para ele, e ele se aproximou rapidamente, clamando mentalmente para que ela se virasse, para que ele pudesse ver seu rosto, suas bochechas se avermelharem e as covinhas... Tão logo a jovem se virou, Eduardo sentiu uma mão frita espremer seu coração até que sangrasse. Piscou repetidas vezes para evitar que lágrimas saltaram de seus olhos. Ele parou, ainda a alguns passos das jovens que o olhavam sorridentes. Eduardo fechou os olhos na tentativa de conter o turbilhão que eram suas emoções e pensamentos. Com o rosto fechado e feições frias, ele mudou de direção. Não era ela, não era Bianca... Como ele pôde confundir aquela jovem estranha com seu anjo? Mas antes que pudesse responder as perguntas tortuosas de sua mente, sentiu seu corpo ser empurrado por jovens assustados que se afastaram de uma comoção na fila das bebidas. Com o cenho franzido e as mãos em punho, Eduardo empurrou todos que travavam sua passagem sem pestanejar, abrindo caminho para a origem do tumulto. Sentiu uma mão em seu ombro, e levantou o punho, pronto para acertar quem o estivesse estorvando, mas se deparou com Val de olhos arregalados. Alex estava à frente deles, abrindo caminho empurrando a todos ainda com mais brutalidade que Eduardo. — O que está havendo? — Perguntou Eduardo no ouvido de Val. — Nosso mano está precisando da gente! Finalmente Eduardo conseguiu chegar no olho do furacão, e se deparou com um g***o de alunos da U.C.C . Pôde ver quando Alex, m*l chegando, chutou o peito de um deles com uma voadora digna de filme de ação. Com o chute, Alex afastou um dos alunos que estava agredindo Renato, que estava no chão atracado com outro aluno, enquanto um terceiro que permanecia em pé o chutava. Val correu na direção desse terceiro, e segurando-o pela gola da camisa o atirou a três passos de distância, como se fosse um boneco de pano. Um pouco afastado, Eduardo viu Fábio com o rosto e***********o no chão e Rafael sacudindo a mão direita em óbvia dor, enquanto a mão esquerda segurava a mão de uma jovem que chorava com a mão na boca. Val falou algo no ouvido de Rafael, que concordou com a cabeça e puxou a jovem pela mão, afastando-a de Eduardo antes que os alcançasse. — Temos que ir embora antes que o diretor chegue, Edu! — Disse Val sinalizando para que Alex e Renato o seguissem para fora. Eduardo seguiu Val como se estivesse em transe. Enquanto se dirigiam para a rua, tudo a volta dele parecia estar em câmera lenta, e ao mesmo tempo, na velocidade da luz. Seu cérebro estava com dificuldades para compreender o que havia acabado de acontecer. Ele olhou em volta, quase em desespero, mas não havia nenhum sinal de Rafael. —Esse i****a nunca vai aprender a dar um soco? Sempre machuca o dedão, ainda vai acabar quebrando!— Resmungou Alex. — Bela hora para querer dar uma de herói... — Disse Renato enxugando o sangue do nariz. — Ah, mas valeu a pena, né não, Val? Viu a gata que ele levou para casa? — Mas isso tudo está errado! — Sussurrou Eduardo com o rosto pálido.. — Do que você está falando, Edu?— Perguntou Val. — Era ela, Val... era para ter sido eu!
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