Capítulo XV

1142 Words
Asas de Anjo Quando na escuridão me acostumei a estar sozinho Quando o vazio me fez sentir do amargo fel, o gosto Com alma e corpo envoltos em espinhos Chuva e lágrimas se fundem em meu rosto. Quando, aprisionada, uma gota de esperança A garra covarde e fria, do peito arranca Olhando para o céu, te chamo perdendo a voz Sobra apenas você, eu, nunca um nós. Bianca não foi a única pessoa a notar a lágrima que rolou pelo rosto de Eduardo enquanto cantava a estrofe. Os olhos dele expressavam exatamente o que sentia, como ele havia retornado ao estado inicial em que antes de se apaixonar por ela. Branca, luz divina, em meio a escuridão Cabelos ao vento, lábios sorrindo Branca, suave, perfeita invasão Um sopro, brisa do mar, muros demolindo As asas de um anjo, condenado, caído. Perdido, t**o, de joelhos no chão Sangrando pelo perdão divino, aprisionado, temendo esperar em vão. No peito o veneno se torna a cura Liberto das correntes da solidão que seduz A emoção incontida nas palavras daquela canção alcançava o coração de todos que estavam presentes, inclusive dos amigos dele que haviam acabado de chegar e foram recebidos por elas. E enquanto Alex, Renato, Vanessa e Luíza seguiam em direção a mesa reservada, sem notar a presença de Bianca na mesa mais ao canto devido a pouca luz do ambiente, Val e Rafael pararam em pé diante do palco. A força que liberta, tão alva, tão pura São asas de anjo, meu anjo, minha luz.  Os olhos de Eduardo estavam fixos em Bianca, buscando desesperadamente no rosto dela algum traço de reconhecimento ou lembrança, enquanto os últimos resquícios de esperança se desfaziam no vazio de sua realidade. E embora ela parecesse encantada com a música e o olhasse atentamente, foi nos olhos dela que ele notou a ausência do amor que um dia, em algum lugar distante, eles refletiram. Em meio a dor e solidão que sentia, Eduardo se deu conta que não voltaria a ser o frio e distante "casmurro" que havia se tornado depois de Priscila. O efeito do amor que sentia por Bianca era muito maior do que aquela dor, e ele entendeu que, embora a esperança o tivesse abandonado, embora soubesse que Bianca jamais se encaixaria em seus braços novamente, ela continuava a ser a melhor coisa que aconteceu em sua vida. Ele abriria mão de tudo, até mesmo da própria voz se pudesse ver o brilho do amor dela por ele naqueles olhos mais uma vez, ainda que apenas por um dia... Aplausos explodiram pelo Clube, os integrantes dos Andarilhos aplaudiram o colega e o abraçaram. Eles sabiam o quão talentoso Eduardo era, mas nunca o haviam visto interpretar tão profunda e ardentemente uma canção... "Era como se ele estivesse sentindo cada palavra", pensaram... Mal sabiam o quão real eram... A apresentação prosseguiu como haviam planejado. O clube lotou ao ponto de os seguranças fecharem as portas de entrada e uma imensa fila de pessoas aguardava caso a oportunidade de assistir os Andarilhos, com participação especial de Eduardo, aparecesse. Quando ele começou a cantar as músicas pedidas pelos clientes, as meninas do fã clube foram a loucura com gritos e pedidos de bis, e obedecendo aos presentes, ele cantou mais uma vez Asas de Anjo, antes de descer do palco. Os amigos estranharam quando ele não se dirigiu à mesa deles, mas seguiu para os fundos, levando com ele o violão. Val sentiu movimento do lado e esquerdo e notou que Rafael intencionava seguir Eduardo, mas Val pousou uma mão no ombro do amigo e fez que não com a cabeça. Ainda sem dizer palavra alguma, Val apontou para Bianca que estava sozinha sentada na mesma posição de quando a havia avistado ao chegar. Rafael a reconheceu, surpreso e seguiu em sua direção. Sem pensar duas vezes, Val foi atrás de Eduardo a passos largos, empurrando todos que estavam em seu caminho, diminuindo a velocidade apenas quando a sua frente não estava um m****o do s**o masculino, mas uma bela jovem de vestido tubinho preto e cabelos pretos bem curtos. Uma coisa era Val se irritar e empurrar os marmanjões que atravancassem seu caminho, outra diferente era com ele se comportava com o s**o oposto. Para Val, mulheres eram seres sensíveis e delicados, independente do caráter que apresentassem, ele jamais tocaria em uma mulher com mau intento.  Delicadamente ele tocou a cintura dela e pediu licença com sua voz baixa e grossa, causando um arrepio na espinha dela. A jovem se virou e, ao se deparar com um belo espécime de moreno alto e forte a sua frente, abriu um largo sorriso. Ele piscou para ela, mas seguiu em direção a Eduardo, não antes de enfiar um pequeno cartão retangular com seu nome e telefone debaixo da tira da alça do vestido dela. O toque da mão dele foi recebido com o olhar de d****o dela. Val se virou com os passos mais apressados no intuito de recuperar os segundos perdidos flertando, o que causou a queda de alguns jovens distraídos que ele encontrou pelo caminho.  Quando finalmente cruzou a porta dos fundos, Val olhou em volta aflito. Não tinha visto Eduardo em lugar algum pelo caminho, nem nos fundos do Clube, nem no estacionamento. Val confiava em Eduardo com a própria vida, mas a dor que viu nos olhos dele enquanto cantava o preocupou. Ele sentia que precisava ver o amigo, falar com ele para ter certeza de que estava bem. Uma pontada na boca do estômago era como um pressentimento funesto que o impelia a encontrar o amigo.... Ou talvez fosse azia causada por ter comido um pudim de doce de leite inteiro sozinho antes de ir ao Clube... — Está procurando o Eduardo?— Val se virou assustado ao ouvir a voz do segurança do Clube que ele não tinha visto nem ouvido se aproximar. Sem esperar resposta o segurança prosseguiu: — Ele nem me ouviu cumprimentá-lo pela música nova, foi direto para a beira da calçada e pegou um táxi. Eu até pensei em zoar um pouco dele, mas parecia estar chateado e não apenas m*l-humorado como de costume. Decidi não cutucar a onça, sabe como é... Val encarou o sorridente segurança por alguns instantes tentando se lembrar se já haviam sido apresentados ou conversado em algum momento. O rosto dele não lhe era estranho, mas tampouco era importante. Na tentativa de não ser considerado tão antipático quando o amigo, Val achou que deveria retribuir a simpatia e achou melhor responder: — Hm... OK!? Satisfeito com seu esforço em se tornar menos "badboy". Val seguiu até o estacionamento, entrou em seu carro seguindo de volta para a pensão. Pelo celular ele alertou os amigos de que havia voltado para casa e que pegassem um táxi para ir embora quando assim desejassem.
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