Capítulo XVII- Epílogo

2632 Words
Escuridão Ele se sentia perdido, vazio, sozinho com frio em meio a escuridão. Um pequeno feixe de luz e fez notar, reflexo de um pequeno objeto que parecia tão perto, mas por mais que esticasse o braço, não alcançava Vozes confusas, como se estivesse debaixo d'água. Era quase impossível discernir o que estava sendo dito por aquelas vozes tão distantes. A intensa dor que sentia o fazia acreditar que estava vivo, ou no inferno... Onde ele estava? Que vozes eram aquelas, quem seriam aquelas pessoas que falavam tanto intensificando ainda mais aquela dor? " Você acha que ele vai morrer, Val?" As palavras chegaram mais inteligíveis aos seus ouvidos. Se pelo menos ele alcançasse as asas de anjo... " Hum..." " É que...poxa, mano... vai ser culpa minha, não vai?" " Hum... não é sua culpa ter nascido i****a!" " Pô! Não precisa xingar! Se eu soubesse que isso ia acontecer não- " Falem baixo ou a enfermeira vai expulsar a gente de novo!" " Não era para ele estar assim, em uma cama de hospital tão pálido.... Meu menino!" O calor de alguém tocando sua mão se fez sentir, mas ele não conseguia abrir os olhos, suas pálpebras estavam pesadas. As vozes continuaram enquanto, internamente, ele se debatia para acordar. " E se ele perder a memória? Ou ficar aleijado? Ou cego? Ou...ou pior, e se ele ficar ainda mais mau-humorado? " Alex, sério mano, se você não calar a boca, eu vou te jogar pela janela e estamos no quinto andar! " Não fique com ciúmes, Valdemar, se você estivesse na cama assim feito um pepino murcho eu também estaria preocupado com você!" "Aw!Isso dói!" "Bianca, beba um golinho d'água, no seu esta-" Finalmente, com um sorriso de triunfo, Eduardo agarrou o cordão e seus olhos finalmente se abriram. — Hey!— Bianca gritou assustada quando Eduardo, que até então estava desacordado, puxou o cordão do pescoço dela repentinamente. O copo d'água que ela segurava voou de sua mão e esparramou água no rosto e peito dele.— Oh, meu Deus! Desculpa! Eu sou tão desajeitada e... você acordou! Você está bem? Como está se sentindo? Está com alguma dor? Um desconexo e desesperado coro de vozes ecoaram as perguntas dela entre outras, todos em torno da cama de Eduardo, querendo saber se ele estava bem. No entanto, ele só tinha olhos para ela, que estava sentada na cama dele com o corpo curvado, visto que ele ainda a segurava pelo cordão, sem nenhum intenção de soltar. — Filho, que susto danado você nos deu! — Ralhou Vera, emocionada abraçando o filho; E solta o cordão da menina antes que arrebente, criatura! Eduardo abraçou a mãe , contente em vê-la tão bem. Ele olhou em volta , ainda incrédulo e confuso. — O que aconteceu, por que estou aqui? Bianca abaixou a cabeça mordendo o lado de dentro da bochecha. Ao lado dela Renato segurou sua mão, enquanto Rafael se aproximou por trás e pousou as mãos no ombros dela. Com exceção desses três, todas as outras cabeças se voltaram para uma única pessoa que levantou as mãos como quem se rende. — Hey, não me olhem assim, não fiz de propósito... Quer dizer, fiz, mas a intenção foi a melhor possível! Os olhos de Eduardo se voltaram mais uma vez para Bianca, e as mãos de Rafael nos ombros dela o incomodaram mais do que o normal. Ele sentiu uma enorme fúria se formar no peito, um d****o de cortar fora as mãos do amigo para que nunca mais tocasse no que era dele...Suas sobrancelhas e uniram, por que a toque de Renato na mãos dela não o incomodavam tanto? Talvez, enquanto estava desacordado, tenha sonhado com Rafael... o sonho deve ter sido r**m, pois acordou com bronca do amigo. — Consegui! Consegui! — Disse Glória ao entrar carregando uma cesta grande de piquenique seguida por Roberto, que trazia um cooler nos braços. — Ah! Olha ele acordado, não falei que ele acordaria logo? Se contasse as vezes que esses garotos se metem em brigas e confusão... as cabeças já estão acostumadas com qualquer p*****a! — Mas meu filho desmaiou com a bolada! Uma bola de sinuca na cabeça não é pouca coisa, Glória! Meu filho poderia ter uma concussão, formar um coágulo! Um raio x e uma tomografia foi o mínimo que esses médicos puderam fazer! Vou exigir uma bateria de exames amanhã! — É véspera de natal, Roberto, deixe os plantonistas em paz! — Disse Vera ao se levantar e ajudar a amiga a por a cesta sobre uma mesinha. — O que é isso tudo? — Perguntou Luíza por trás de Val, fazendo com que Eduardo finalmente pudesse vê-la. — Minha mãe trouxe a ceia de natal pra cá. — Respondeu Val sorridente. — Hoje é dia de família reunida, se Edu está no hospital, então estamos nós...E lá eu ia deixar essa comidalhada estragar? Nem pensar! Eduardo passou a mão pelo rosto, ainda confuso, tentando se lembrar dos últimos acontecimentos. Ele descendo as escadas discutindo com Bianca, dizendo que não poderia ficar mais tempo com ela, a decepção estampada no rosto dela.... Ele desejando jamais conhecê-la... — Me perdoa! — Eduardo disse apressado, afastando as mãos de Rafael com um t**a, puxando-a para junto de si. — Me perdoa, princesa, eu não vou com os produtores, meu lugar é aqui com você, com minha família. — Sua mãe me contou que a gravadora está abusando de você, filho, mas eu já vou resolver isso! Eduardo fechou os olhos ao ouvir a voz do pai, tentando não fazer nenhuma grosseria desnecessária. — Será que vocês poderiam sair um pouquinho daqui e dar um pouco de privacidade para mim e minha namorada? As sobrancelhas de Rafael se ergueram e ele se virou para Val confuso, quando Eduardo forçou as duas últimas palavras olhando diretamente para ele, Val apenas deu de ombros, nem um pouco interessado nas razões da antipatia maior do que o normal do amigo, o alívio por vê-lo acordado era superior. — Vamos sair daqui, pessoal, eles precisam conversar. Depois voltamos para celebrar o natal. — Mas a enfermeira vai nos ver lá fora e vai nos expulsar de novo. — Gemeu Rafael — E depois de todo o trabalho que tivemos para entrar escondidos? — Completou Alex. — Se vocês não tivessem brincado com o controle da cama do Eduardo com ele desmaiado em cima, ninguém teria expulsado vocês! — Disse Renato. — Eu não vou pedir para que deixem vocês ficarem depois de terem sido expulsos, deveriam se comporta civilizadamente! — Comentou Heloísa saindo do quarto. — Querida, eles são jovens, não os recrimine! — Disse Gláucio — Ninguém vai expulsar ninguém, não se pretendem continuar a receber o dinheiro das minhas campanhas de caridade! — Disse Roberto.  — Foi m*l pela bolada, mano, eu queria que você calasse a boca para não falar o que não devia e não pensei direito. Fiquei com medo de você "atentar o destino" como diz minha abuela... — Está tudo bem, Alex, eu mereci! Val foi o último a sair do quarto, não antes de se virar para Eduardo e dizer: — Eu... eu tive um pesadelo a noite passada, sabe... me deixou o dia inteiro com mau pressentimento. Estou feliz que você esteja bem, mano! — Eu também, Val! — Cuida bem dele, BB. A cabeça dele é dura, mas ele não é imortal! — Val olhou para o amigo, então para Bianca, hesitou um pouco, mas finalmente os deixou a sós. — Você está bem mesmo, Eduardo? Mais rápido do que ela poderia esperar, as mãos dele seguraram o rosto dela e ele a beijou. Seus lábios se tocaram e ela sentiu o ardor com que ele a beijava, como se tentasse expressar tudo o que sentia naquele beijo. Borboletas dançavam em seu ventre e ela o abraçou bem apertado, não querendo permitir que parte alguma de seu corpo ficasse sem o toque da pele dele. Ofegante, Eduardo apoiou a testa na testa dela. — Me perdoe pelos absurdos que falei, princesa, eu magoei você e não sei o que estava passando pela minha cabeça para agir daquele jeito! — Eu...não precisa pedir desculpas, importante é que você está bem.. Eu também tenho que me desculpar, também falei algumas coisas que não devia e... — Você estava com a razão. Você é minha prioridade! Eu quero muito passar uns dias com você na casa de praia, isso se você ainda quiser, é claro! — Jura? Bianca exibiu o sorriso que ele tanto amava, fazendo com que o coração dele pulasse dentro do peito. Era possível se apaixonar mais de uma vez pela mesma pessoa, ele sabia disso, e naquele momento tinha se apaixonado por ela ainda mais. — Eu te amo tanto, Bianca! Mesmo que eu não consiga demonstrar o tempo todo, espero que você saiba disso! — Eu também te amo! " Eles fizeram as pazes!" "Aleluia! Estou cheio de rango e tia Glória deixou a cesta lá dentro!" — Acho que vamos ter que deixar eles entrarem...— Disse Eduardo contrariado. — Espera...Eu tinha planejado te dar eu presente na frente de todo mundo meia noite, mas acho que agora é o melhor momento. Bianca se levantou, foi até uma arvorezinha de Natal de balas de morango que Glória havia colocado sobre um gaveteiro e tirou um pequeno embrulho de dentro de uma das sacolas de presentes. Mordendo o lábio inferior evitando olhar nos olho dele, ela entregou o pequeno embrulho. Eduardo abriu sorridente como uma criança curiosa. O que poderia estar em um embrulho tão pequeno e leve? Quando finalmente viu o conteúdo, sentiu o coração parar de bater. Levantou o olhos, buscando no rosto dela se aquilo era verdade. Como era possível que um filete de papelão e uma folha de papel fossem capazes de mudar a vida deles para sempre? — É verdade isso? Ela balançou a cabeça afirmativamente. Ele conferiu as duas listras no filete de papelão, engoliu em seco, então olhou a folha de papel, uma imagem em preto e branco de algo disforme, mas que de alguma maneira, representava uma surpresa que fez lágrimas escaparem dos olhos dele. Eduardo achava que o amor que sentia por Bianca não tinha como ficar maior, mas estava enganado. Ele a amava ainda mais, e mesmo assim, o coração dele conseguiu abrir espaço para outro amor tão intenso e repentino, que o deixou sem palavras. — Como? Quando? — Há algumas semanas, mas eu achei melhor te contar pessoalmente! — Ela respondeu em voz baixa, receosa da reação dele. Eduardo segurou a mão dela e a puxou de volta para a cama. Ela caiu deitada, sorrindo ainda um pouco assustada, enquanto ele distribuía beijos pelo rosto dela, sorrindo feito uma criança. — Uma menina! Linda e inteligente como você, com covinhas nas bochechas! — E se for um menino? — É uma menina! Eu sinto aqui dentro que é uma menina! — Ele repetiu apontando para o peito se referindo ao coração.— Eu já te disse que te amo? — Sim, mas pode sempre dizer de novo! Ele sorriu, mas não repetiu a frase. Para surpresa de Bianca, ele se levantou, abriu a porta do quarto e gritou para todos que estavam no corredor do hospital: — Eu vou ser pai! Todos entraram de volta no quarto para cumprimentá-los. Algumas pessoas muito felizes, outras contrariadas e reclamando que eram muito jovens. Vera dizendo que era muito jovem para ser avó, que o neto teria que chamá-la de tia, até ela se acostumar. Gláucio sorridente como quem ganha na loteria, e uma discussão acalorada... — Eu vou ser o padrinho! — Eu que vou, Val, você nem é católico! — Eu fui batizado na igreja católica, o padre não precisa saber da minha vida! — Eu às vezes vou a missa, nada mais justo que seja eu! — Reclamou Alex. — Eu descobri que ela estava grávida antes de todo mundo e fui com ela na clínica, eu posso ser o padrinho! — Disse Renato. — Eu vou ser padrinho da Bbzinha e não se fala mais nisso! Dindo Val, quebrando a cara de todo fedelho que olhar para ela! — Então. se for um menino serei eu o padrinho! — Vai ser uma menina e Val é o padrinho. — RÁ! Eu falei! — Isso não é justo! — Não reclama, Rafa, você vai ser o padrinho do casamento! Isso se Bianca aceitar ser minha esposa, é claro! Mais uma vez e fez silêncio no quarto. Vera levou a mão a boca estupefata, emocionada ao ver o filho naquele momento. — Trouxe a parada, Val? — Sim, sim! Com um sorriso enorme no rosto, Val tirou uma pequena caixa da sacola de presentes e entregou a Eduardo que se ajoelhou na frente de Bianca, com todos os demais observando boquiabertos. — Princesa... Antes de agir como um i****a e falar o que não devia, eu havia planejado fazer isso, Val me ajudou a escolher, porque eu não tenho o menor jeito, mas acho que você vai gostar. — Eduardo passou a mão pelos cabelos tentando se acalmar e parar de falar mais que necessário. — Eu não tenho dúvidas que você é a mulher da minha vida, que com você ao meu lado eu sou melhor, porque você me faz querer ser o melhor para ser digno de você! Você não é a minha outra metade, você é inteira, linda e forte, que faz com que eu seja uma pessoa inteira também. Eu te amo, Bianca, e quero que você seja minha esposa. Você aceita casar comigo? Bianca estava de pé na frente dele, as mãos na boca e lágrimas escorrendo pelo rosto. Ela fez que sim com a cabeça, incapaz de pronunciar palavra. Aliviado com a resposta dela, um sorriso cínico se formou no rosto dele, — Palavras, princesa, quero ouvir tua resposta. — Sim, sim, seu babacaidiota! " A gente já pode começar a comer? Vai dar meia noite!" — Ouviu, princesa, vai dar meia noite, não vai fazer seu pedido de Natal? — Hum... eu d****o que nosso bebê nasça saudável! E você, qual o seu pedido? — Hum... — Eduardo beijou a testa de Bianca e olhou em volta. Alex atacando a cesta de comida, Rafael enchendo copos descartáveis com vinho. Val segurando o presente de Luíza mais alto do que ela poderia alcançar, e ela tentando pular irritada e xingando ele; Glória e Vera servindo o bolo de choconozes que trouxeram, Roberto conversando com Gláucio e Heloísa, Vanessa tirando bolinhos de bacalhau do prato de Alex e colocando no dela, enquanto ele tirava do prato de Renato e colocava no dele...— Não vou pedir nada, amor, eu já tenho tudo o que preciso bem aqui! ******* Val notou que Luíza saiu do quarto e a seguiu até a varanda para fumantes, onde ela acendeu um cigarro e olhou para ele soltando a fumaça. — Aff! O que você quer comigo agora, seu orangotango? — Como está se sentindo ao saber que ficou para titia? — Muito feliz! Vou poder mimar uma criança sem precisar sentir as dores do parto! E você não para de sorrir, né, "Dindo" Valdemar! — Estou feliz para caramba mesmo, Dinda Nanica! Para surpresa de Val, ela riu das palavras dele. — Meu pai me chama e nanica às vezes... Os dois ficaram lado a lado observando o céu da madrugada de natal em silêncio, até que ela deu a última baforada e jogou a guimba de cigarro fora. — Com a novidade deles, nós nem contamos a nossa.... — Não se preocupe, bruxinha, tem hora certa para tudo! A nossa não é agora, mas será em breve! FIM!
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