A minha visão ficou vermelha, e eu sabia que quando chegasse naquele ponto, era muito difícil voltar atrás. A primeira coisa a voar foi a taça, que estava bem na minha frente. A segunda seria a garrafa, mas eu fui interrompido.
- Calma! - Segurei a garrafa, um segundo antes de jogar. - Por favor, calma! - Ela não estava encolhida diante da minha explosão, ou mesmo com medo nos olhos. Ela estava realmente preocupada.
- Terei calma quando você entender que eu vou me envolver. Que eu estou envolvido até os ossos!
A minha intenção não era gritar, mas eu estava segurando aquela fúria fazia quase uma hora, depois que eu vi os machucados dela.
- O que está feito, já está feito. - Ela levantou, mantendo os olhos nos meus, e pegou a garrafa da minha mão. - Estou aqui agora. - Ela parou de frente para mim, o rubor subindo pelo pescoço e fazendo brilhar cada pedaço de pele até as bochechas.
- Te machucaram Lara. - Ela assentiu, e segurou a minha mão, com os olhos ainda nos meus. Eu sabia o que ela estava vendo, ela via o tipo de descontrole que eu poderia ter. E mesmo que ter conseguido me conter tenha sido uma novidade, eu ainda sentia o ódio queimar em cada célula do meu corpo.
- Sim, mas faz bem pouco tempo que você mesmo planejava me machucar. - Ela segurou a minha outra mão e o calor da pele dela me deu a sensação de criar raízes ali.
- Você tem razão. - Eu me ouvi dizer. - E eu me arrependo… - Meu Deus, eu considerei mesmo matá-la. - Eu não iria te fazer sofrer, e durou muito pouco essa ideia absurda… - Ela sorriu enquanto eu lutava com as palavras e a raiva. - Eu não vou machucar você. - Eu prometi, do fundo do meu coração.
- Eu sei. - Ela apertou as minhas mãos. - E nem vai quebrar a sua casa… - Ela olhou em volta e eu me dei conta que a taça não foi a primeira coisa que eu quebrei. A cadeira estava destruída no chão, a mesa estava devastada… Ela com certeza achava que eu era um monstro.
- Desculpe. - A vergonha assumiu todos os meus sentidos, quando eu retornei o meu olhar para o dela.
- Está tudo bem. - Os olhos dela eram duas piscinas em que eu me afogaria pela vida inteira.
- Não está tudo bem… Eu te assustei. - Ela negou com a cabeça, e o sorriso dela ficou maior. - Poucas são as coisas que me assustam.
Qual tipo de vida ela teve?
Uma vida de mentira, em que ela não poderia assumir ao mundo quem era, e nem pedir socorro…
- Victor? - O meu nome naqueles lábios doces quase me deixava de joelhos. - Eu gostaria… - Ela parecia confusa, as mãos ainda nas minhas.
- O que você quiser, Ruivinha. Me peça e considere feito. - Ela abaixou os olhos e eu me senti intensamente abandonado por aquele olhar. Levantei o rosto dela, apoiando a minha mão no queixo dela, sentindo a maciez da pele dela, uma pele que eu precisava desesperadamente morder.
- Eu quero entender… - Ela respirou fundo e soltou as minhas mãos, tomando uma distância segura de mim. Ainda bem! Ela caminhou até a janela, parando de costas para mim. Eu me aproximei, dando espaço para ela, mas sem conseguir ficar muito longe. - Entenda, não é que eu não esteja grata…
Ela virou na minha direção, o cabelo envolvendo o rosto rosado, aqueles olhos intensos voltando para mim. - Você não tem a mínima noção do que fez, de como me salvou… - Eu fui obrigado a sorrir.
- Talvez, você não tenha a mínima noção do risco que corria. - Ela pareceu endurecer.
- De qualquer forma, obrigada. - Eu estava realmente surpreso. - Talvez as suas intenções sejam mais nobres e você seja uma pessoa melhor do que dizem. - Eu não pude conter uma risada.
- Não se engane Ruivinha. - Eu dei um passo na direção dela. - Eu talvez seja pior do que aqueles que você conhece, pior do que aqueles que te fizeram algum m*l… - Esperei ver medo nela, mas ela manteve a calma. - A diferença, entre eu e eles, é que eu nunca machucaria você.
- E por qual motivo?
Mordi a parte interna da minha bochecha, tentando desesperadamente me manter parado, enquanto ela respirava fundo. E eu dei uma boa olhada nela agora. Sem nenhuma maquiagem ou produção ela era ainda mais linda do que as minhas lembranças eram capazes de gravar.
Vermelho era, sem dúvida, uma cor que favorecia muito a beleza dela, e eu cometi o erro de passar os meus olhos por ela, descendo pelo vestido, que não revelava muito, mas marcava os quadris fartos, o decote era simples, mas seria fácil me livrar dele. A boca dela estava fechada em uma linha fina, enquanto ela esperava a minha resposta, os olhos fixos nos meus.
O movimento da boca dela foi leve, um pequeno abrir para tomar fôlego, e eu estava condenado.
- Eu não tenho uma boa resposta para a sua pergunta. - Eu dei um passo na direção dela, agora bastava puxar ela para mim, e ela não se afastou. - E talvez eu não encontre uma boa resposta. - Mais um passo, e ela continuou onde estava.
- Você pode tentar me explicar. - Ela sugeriu, se dando conta que eu estava mais perto, talvez pela primeira vez.
- Posso… - Eu quase conseguia sentir o gosto da pele dela na minha boca agora, poucos centímetros entre nós. - Eu, talvez, seja apenas egoísta. - Com calma, segurei na cintura dela e apoiei a outra mão no rosto quente dela. - E talvez queira você para mim. - Ela prendeu a respiração e deitou o rosto na minha mão. Fechou os olhos, os cílios longos e ruivos acariciando a pele sensível.
- Isso seria complicado. - Ela falou em um sussurro.
- Sim, seria. - Ela abriu os olhos de novo, e eu não consegui me conter, ao envolver a nuca dela. - E honestamente, eu não ligo para o tamanho do problema que eu posso arrumar.
- Um problema Belladona? - Eu senti o sorriso nascer no fundo da minha alma.
- Não existe problema melhor. - Eu a puxei para mim, finalmente tomando aqueles lábios doces para mim.