GALVÃO AVILAR
Entro nas terras Avilar, terras que quer queira que não são minhas também, as terras que abandonei e agora retorno, sair daqui um menino assustado com 17 anos e hoje volto um homem com 34 anos e nada mais tenho do garoto que deixei aqui quando me fui, desapego dos meus pensamentos e sigo pela estrada.
Com dez minutos que começamos a andar pela estrada de barro o carro atola.
__ Vamos ter que ir andando!
Falo após tentar por minutos consecutivos desatolar o carro pisando com toda força no acelerador.
__ Você só pode está brincando Galvão.
Camily fala espiando o chão pela janela do carro e tem lama para todos os lados.
__ Não estou brincando e é melhor começarmos logo pois pelos meus cálculos temos meia hora de chão pela frente até chegarmos no casarão.
Antes de abrir a porta do carro e descer, já subo minha calça a dobrando até o joelho afinal sei que se não fizer isso ficarei com a calça toda melada de lama, tiro os sapatos e as meias e as trago comigo e saio do carro.
__ Vem Camily, desce!
Ela abri a porta e assim que ela pisa no chão com seu salto altíssimo ele vai afundando lentamente na lama até ser engolindo por total.
__ai, ai Galvão, socorro!
Camily fica presa na lama e não consegue erguer o pé do lugar.
__ Galvão me ajuda, meu sapato, meu sapato!
Sem paciência e querendo ir ao velório, me aproximo da Camily e a coloco no meu colo a arrancando da lama.
__ Vem, eu te levo!
Saio caminhando levando a Camily no colo, ela é magrinha e não pesa muito, pratico CrossFit e tenho muita resistência e preparo físico e então consigo carrega-la de boa, quando chegamos nunca parte onde não tem mais lama e o chão é de terra batida a coloco o chão.
__ Agora dá muito bem para você ir andando.
Falo e seguimos o caminho, parece que foi ontem que estava aqui, me lembro perfeitamente e tenho todo o trajeto na minha memoria como se tivesse um mapa vivo em minha mente, quando estou perto da casa principal somos abordado por um peão e ele está montado num cavalo.
__ Bom dia, desejam algo por essas bandas? essas terras são privadas e pertencem a familiar Avilar, vocês estão perdidos?
Ele fala descendo do cavalo e olha para Camily e para mim com a cara cismada, ele tem uma escopeta pendurada na cintura e isso parece assustar a minha advogada que vai para trás do meu corpo e parece o usar com escudo, até parece que sou o capitão américa.
__ não, não estamos perdidos, Galvão Avilar seu patrão.
Falo firme e estendo a mão, o homem aperta minha mão e me olha confuso.
__ Galvão? o filho perdido do finado patrão.
__ como você pode ver não estou mais perdido.
Falo prepotente e já vou falando o que aconteceu.
__ Meu carro atolou a uns quinze minutos daqui, mande alguém ir lá resolver isso, minhas coisas estão no porta mala, vou precisar do seu cavalo.
O Homem só escuta tudo e não contesta nada, em cinco minutos já estou cavalgando em direção ao casarão, sempre gostei de cavalgar é como andar de bicicleta, se aprende uma vez e nunca mais de esquece, sem falar que também pratico hipismo.
__ Galvão de vagar, meu Deus!
Camily está agarrada em mim e ela montou no cavalo muito assustada, quando enfim chego ao casarão que nasci e cresci meu peito aperta, minhas melhores e piores lembranças foram aqui, a casa é da mesma forma que me lembrava: Grande e velha, eu definitivamente não combino com esse cenário.
__ Chegamos!
Falo descendo do cavalo e em seguida ajudo minha advogada a descer, entramos na casa e sou recebido por um mulher que tem uma vassoura na mão, ela está limpando a casa, me apresento e estamos num sala, ela informa que toda família Avilar se encontra na igreja onde está sendo velado o corpo de Genaro e eu me identifico com sendo um Avilar, olho a sala e os moveis não são mais os mesmo, o piso que antes era de um chão vermelho agora é de uma madeira bonita e moderna e que dar uma ar rustico ao local.
__ Camily eu vou para o velório, se você quiser ficar e descasar fique a vontade.
Falo e me sento para calçar meu sapato e ajeito minha calça e fico apresentável novamente.
__ eu vou ficar, meus pés estão cheio de lama, preciso de um banho de banheira.
__ a acomode em um quarto!
Peço a moça que está limpando a casa.
Nesse momento um outro homem entra trazendo nossas malas.
__ Vou precisar de um carro para me levar ao velório do Genaro.
Por algum motivo eu não o chamo de pai, a muito tempo que não o considero meu pai.
__ Se o senhor quiser eu posso leva-lo a igreja.
__ Eu vou querer sim.
Me despeço de Camily e sigo com o peão que me leva a igreja. A caminhonete para em frente a única igreja da cidade, algumas crianças correm na frente da igreja brincando e alheios ao que acontece dentro do templo, tiro meu óculos de sol de dentro do meu terno importado e o coloco no rosto cobrindo meus olhos, marcho em direção a igreja.
Quando piso no templo vejo que tem muita gente, a maioria vestindo preto, o padre está ministrando seu sermão e quando me vê se cala me olhando, o padre é um senhor de cabelos tão brancos quase transparente, seria ele o mesmo padre de quando eu era criança? Então sou notado e todos fixam seus olhos em, ouço cochichos mas não consigo entender, olho para frente e vejo um caixão grande posicionado bem no centro, atrás do caixão estão meus irmãos, todos eles! E mesmo estando tantos anos sem vê-los eu sei exatamente que é que: Gerônimo na ponta, em seguida vem o Geraldo o caçula dos homens, Violeta e Gaspar na ponta, ignoro os olhares deles sobre mim e me aproximo do caixão, vejo o rosto do meu maior inimigo deitado dentro dele, dentro do famoso paletó de madeira, o rosto em nada se parece com o homem forte que me espancava por qualquer motivos, mas as suas caracteristicas marcantes estavam lá, ele nunca mais me fará m*l, o único culpado por tudo que sou, por minha dor e também por meu sucesso, pois ele me fez forte como ninguém fez, ele me tornou essa rocha firme e me ensinou a nunca confiar em ninguém, nem na pessoa que dorme com você, por culpa dele eu cresci e venci na vida, devo tudo a ele, meu ódio e meu amor. Seu rosto está coberto por um fino véu transparente e eu faço questão de descobrir seu rosto, magro e enrugado, a vida foi bem c***l com ele, me abaixo e sussurro em seu ouvido sabendo que não sou um homem bom:
__ Nos encontramos no inferno!
Me ergo ficando ereto novamente e volto a cobrir seu rosto, me afasto do caixão, virando de costas para ele e de frente para meus irmãos, o óculos escuro que uso escondem toda emoção que se passa em meus olhos nesse momento.
__ Galvão, meu irmão!
Gerônimo é o primeiro a falar comigo, antes que fale algo ele me puxa pelo pulso e me abraça forte e calorosamente e sinto algo estranho me incomodar com o contato.
__ Seja bem vindo a sua casa meu irmão.
em seguida sou abraçado por todos e Gaspar fala:
__ Sinto pelo momento ser esse a nos reencontrar, mas seja bem vindo a sua família.
Família? Essa palavra é desconhecida por mim, eu nunca tive uma, agradeço a recepção de forma educada, o padre também fala algumas palavras, diz que lembra de mim, e ele é o mesmo padre de quando eu era criança, a missa retorna e eu me coloco no meu lugar ao lado dos meus irmãos, depois é feito uma despedida final para o último adeus e eu não faço mais questão de ver ou me despedir de meu genitor, seguimos uma caminhada a pé até o cemitério, que não é longe da igreja e meus irmãos vão a frente carregando o caixão, Genaro é sepultado com a presença de todos os seus filhos, tem alguns rostos que eu não conheço, mas parecem ser bem próximos da família, vejo uma mulher loira bastante bonita e ela está gravida com uma barriga enorme, deve ser próximo ao Gerônimo pois a toda hora ele vai lá e fala algo no ouvido dela. Quando tudo termina nos reunimos para retornamos ao casarão e enfim vamos poder conversar e ver como tudo vai ficar, mas já sinto algo dentro de mim que me faz sentir como se de alguma forma eu fosse amado por meus irmãos e isso me deixa desconfortavel.
continua...