Hannah Lannister
Sim, eu sou abençoada. Meu esforço todo esse tempo me rendeu o melhor fruto. Poder estudar numa Universidade renomada. E meus pais não poderiam estar mais orgulhosos.
Levantei da cama e calcei meus chinelos para ir pro banheiro.
— Hannah! Volte e cubra seus ombros. Tem outros irmãos nossos aqui de visita. — Papai me alertou e voltei imediatamente para meu quarto. Quando estamos só nós em casa, costumo dormir com um pijama de alça. E às vezes saio do quarto com ele. Mas quando tem pessoas de fora sempre uso alguma coisa de manga. A minha religião não permite roupas curtas e devassas. Também não corto meus cabelos nem faço minhas sobrancelha ou pernas.
Vesti um casaco e agora posso escovar meus dentes.
Ontem tivemos um culto em comemoração a minha entrada na Universidade. Recebi várias dicas de como me dar bem lá. Como não fazer amigos que não sejam da nossa igreja, nunca ir a festas e estudar muito mesmo.
Vou seguir tudo ao pé da letra. Essa chance é única e eu cresci almejando essa vaga.
Depois de escovar meus dentes e lavar meu rosto, voltei ao meu quarto. Tenho que arrumar minhas malas. Pois hoje à tarde mudarei pra o Campus da Universidade. Isso vai ser muito difícil. Viver longe da minha família, longe da minha igreja e morar com uma pessoa que nunca vi.
Se for uma garota do mundo? Que ouve músicas escandalosas e com fama de promíscua. Eu não sei se irei aguentar. Mas já orei para que dê tudo certo. E que seja preparado pra mim uma colega de quarto abençoada.
— Hannah meu bem. Bom dia. — Mamãe aparece aparentemente surpresa na porta do meu quarto.
— Benção mãe. — Levanto e beijo sua mão.
— Deus te abençoe minha querida. — Mamãe fez o mesmo com a minha mão.
— Já está arrumando as malas? — ela reparou na bagunça que está em minha cama, agora que arrastei tudo o que eu tinha pra fora do guarda—roupas.
— Sim mamãe. Só não sei por onde começar. — respirei preocupada. Eu até tento não me preocupar com isso. Já que sou muito organizada. Mas hoje é um dia diferente de todos os outros. E estou com medo. Medo de tudo ser diferente do que estou acostumada a ver. Medo de não conseguir me encaixar nesse lugar.
Sair pra fora do ninho dói muito. E eu já sinto isso desde 15 dias atrás, quando soube da minha ida pra Universidade. Mamãe volta e meia chora. E sempre fala algo relacionado a como as coisas vão ficar sem mim aqui.
E eu me imagino sem minha família. Com quem vou desabafar? Sim, eu sei, Jesus sempre está me ouvindo. Mas às vezes a gente quer ter alguém da nossa família ou uma amiga que também nos ouça e que nos dê um abraço ou um puxão de orelha.
— Vamos começar pelas saias. — mãe sugeriu já revirando meu monte de roupas. Sem dúvidas as saias são importantes. Eu não uso shorts, nem calças nem roupas muito acima do joelho.
Pego as minhas favoritas e coloco dobradas na minha mala gigante.
— Nossa... É muita coisa. — me confundi com as outras saias que mamãe me entrega dobradas. São muitas, mas se eu olhar pelo ângulo de que vou morar lá, acho quase tornam poucas.
— Ainda nem separamos as blusas e os casacos querida! — mamãe riu da minha confusão.
— Como eu vou viver sem vocês mamãe?! — perguntei angustiada. Nunca fiquei tão longe como irei ficar. O máximo de tempo que me separei dos meus pais foi quando acampava com os escoteiros. O que durava um fim de semana. Mas meses nunca. Morar fora? Isso vai ser um terror.
[...]
— Você está bem Hannah? — papai perguntou quando parou o carro em frente ao campus depois de 3 horas de viagem.
Estou nervosa. Muito nervosa. Não quero sair do carro. Não quero deixar minha família. Não estou pronta para o mundo.
— Hannah querida?! — mamãe reparou na minha falta de atenção. Me enxergo através do espelho retrovisor e percebo meus lábios um pouco pálidos e sinto também um tique estranho nos meus músculos. Como se tivessem tremendo involuntariamente.
— Oi. Desculpa. Eu me distraí. — tentei relaxar o máximo possível. Apesar de ser infeliz na tentativa.
— Você está bem querida? Parece pálida! — Papai me observou.
— Sim. Estou um pouco nervosa. Ou muito nervosa. Não consigo calcular a dimensão. Eu não quero descer do carro. — apertei a mão da minha mãe. Ela sorri como se eu tivesse aprendido uma nova palavra.
— Ahhh, minha bebê cresceu! — alisou meu rosto e passa a mecha do meu cabelo pra trás da minha orelha.
Apesar de já ter o Thomas com 6 anos, ela ainda me trata como uma criança indefesa. E no fim das contas, acredito que sou.
— Vai ficar tudo bem. Você só precisa orar todos os dias, antes das refeições e de dormir, quando acordar e agradecer por todas as benções. Mantenha o foco e fique longe de pessoas perdidas. Principalmente garotos. — papai me aconselhou.
— Okay papai. — assenti. Os conselhos dele sempre me serviram e me ajudaram a ser quem sou hoje.
— Desce logo sua chata! — Thomas resmungou. — Eu quero sorvete!
— Também vou sentir dia falta Tom. Cuida bem do Shawn Mendes. — o abracei.
Shawn Mendes é o meu hamster. Queria trazê-lo pra cá. Mas não permitem animais.
Abro a porta do carro e o papai também sai pra ajudar da tirar minhas coisas do porta-malas.
Minhas malas ficaram muito pesadas e eu vou ter uma certa dificuldade para arrastar as duas até meu quarto. Mas mesmo assim não vou aceitar que meus pais me ajudem a ir até lá. Chega de depender deles.
— Boa sorte meu amor. — mamãe me abraçou quase chorando.
— Obrigada — engoli seco. — Sua benção. — beijei sua mão.
— Deus te abençoe querida. — ela tocou meu rosto toda meiga.
Me virei para meu pai e o abraço.
— Que orgulho da minha menina. Na faculdade. Você vai ser uma profissional maravilhosa. — me encarou orgulhoso.
— Sua benção papai — uma lágrima desceu pelo meu olho e eu beijo sua mão.
— Deus te abençoe.
E por último, meu irmãozinho impaciente.
— Vou sentir sua falta Tom. — o abracei.
— Eu sou homem. Não choro. Não sinto falta. — cruzou os braços sério.
Esse vai ser dos brabos.
Pego minhas malas e aceno pra eles que já estão de partida de volta pra nossa casa.
Eu queria gritar. Pedir para que voltem e me deixe ir com eles. Mas já é tarde. Pois já viraram a esquina.
Respirei fundo e me viro para o campus. Agora chegou hora de andar com minhas próprias pernas.