Verdade? Então melhor atuarmos.

873 Words
Eu pisco, surpresa com a pergunta. Esperava um elogio, uma palavra gentil que alimentasse a chama que insisto em apagar. Mas, em vez disso, ele questiona minha mudança. Fico sem palavras. O que posso dizer? Ele ainda está com Estela. Preciso me lembrar disso, como um mantra que me prende à realidade. Não posso me entregar a essa atração com tanta facilidade. Quero que ele perceba. Quero que veja a diferença entre mim e ela, que entenda o abismo que separa nossos mundos. Somos de realidades opostas, mas, mesmo assim, algo em mim anseia por ser notada, por ser vista de verdade. Meu Deus! Espero que ele perceba. Mesmo que não seja para ficar comigo, que ao menos saiba o quanto estou tentando protegê-lo, evitando que sofra. Não quero ser a causa de sua dor. Nunca. Mas, se ele souber... Se ao menos entender o que estou tentando fazer, talvez torne tudo isso mais suportável. Para mim. E para ele. — Não gostou? — Pergunto, um pouco aturdida com como ele me observa, a expressão dele quase desdenhosa. Ele solta um suspiro profundo, o ar parecendo mais pesado por causa do que não foi dito. Seus olhos, antes curiosos, agora estão mais atentos. — Você quer mesmo afastar esse cara? — A pergunta dele soa mais como uma constatação, uma dúvida cravada em meu peito. Eu pisco, surpresa, mas logo entendo onde ele quer chegar. Ele está pensando que mudei meu visual por causa de Omar, como uma maneira de me aproximar dele. É quase como se fosse óbvio para ele. — Claro! Não há dúvidas sobre isso. — Respondo com firmeza, tentando convencer tanto a ele quanto a mim mesma de que essa decisão foi completamente por minha conta e não para afetar mais ninguém. Ele me olha por um momento, o seu olhar ficando ainda mais duro, quase desconfiante. — Não é o que parece. — Ele diz, a voz seca, como se não estivesse acreditando em mim. Eu não consigo resistir e me aproximo mais dele. A tensão entre nós dois cresce, o espaço diminui, e cada movimento se torna mais carregado de significado. — Leo... — A primeira vez que uso o diminutivo do nome dele. Algo na minha voz parece quebrar, mais suave, mais íntimo. — Relaxa. Eu estou de férias, amanhã é Natal. Por que não me arrumaria? Mulheres são assim, elas se arrumam por qualquer motivo. E você pode ter certeza de uma coisa, não estou te usando para afetar ou provocar ciúmes em Omar. Quero apenas fechar esse livro, dar um ponto final nessa situação. Eu vejo os olhos dele, normalmente tão implacáveis, suavizando por um momento, como se algo tivesse ficado claro para ele. Ele olha para longe, como se tentando se recuperar de algo que não entendeu direito. — Os seus pais estão na janela nos observando... — Ele diz, quase em tom de aviso, mas com uma leve diversão. Eu quase perco o controle de mim mesma, mas a resposta sai fácil. — Verdade? Então melhor atuarmos. — E, com isso, não dou tempo para mais nada. Engulo em seco e, num impulso, me aproximo dele. Ergo a cabeça, pronta para dar o beijo na boca, mas ele me puxa para seus braços antes mesmo que eu tenha tempo de agir. E o que se segue é um prazer completamente inesperado. Os seus olhos queimam nos meus, e a intensidade do olhar dele me envolve de uma forma que nem sei como descrever. Eu o vejo, e quase sinto o mundo inteiro desaparecer. Seus lábios, com aquele sorriso arrogante, descem para tomar os meus com uma intensidade que me faz tremer. Leo me envolve pela cintura com uma possessividade que me faz perder a noção de tudo ao nosso redor. Os seus lábios, firmes, quentes, se movem sobre os meus com uma urgência que não sei como controlar. Ele me aperta forte contra o corpo dele, e a minha mente se perde na sensação do seu toque. Quando finalmente nos afastamos, eu sorrio sem graça, tentando recuperar o controle, mas a sensação de prazer permanece, pulsando no meu peito. — Vem, entra. Quero te apresentar aos meus pais antes de viajarmos. E depois, tomaremos café. — Eu digo, tentando fazer com que a normalidade volte ao nosso encontro, mas, no fundo, eu sei que nada será o mesmo. Leonardo assente com um olhar sério, mas algo no canto dos seus lábios, um leve sorriso, me diz que ele está gostando dessa brincadeira. Então, ele dá um sorriso mais aberto quando olha para a minha casa, como se estivesse se divertindo com a cena que acabamos de criar. Ele pega a minha mão estendida para ele e, com um gesto tranquilo, me segue para dentro da casa. Meus pais, que estavam observando tudo da janela, se afastam rapidamente, como duas crianças pegas no flagra. E agora entendo o riso discreto de Leo, que não consegue conter o divertimento de ver os meus pais agindo como se tivessem sido flagrados em algum grande segredo. Rio também deles, sem conseguir disfarçar, e é quase como se o peso da situação se dissipasse por um instante, como se tivéssemos deixado uma parte das nossas máscaras caírem.
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