Eu me pego imaginando se isso tudo realmente tem algum futuro

1264 Words
Abro a porta da sala, e lá estamos, eu e Leo, prontos para enfrentar o que quer que venha. O cheiro do café no ar, vindo da cozinha, me lembra que nada disso está realmente sob controle. A minha mãe fez o café, como sempre, esse aroma familiar me acalma, mesmo em meio a tanta tensão. — Pai. Esse é Leonardo. — Eu digo, um pouco nervosa, mas tentando parecer tranquila. Meu pai, com a expressão séria, estende a mão para Leo, e, sem hesitar, Leo a aperta com firmeza, sua postura ainda imponente. — Jonas. — o meu pai diz, sem sorrir, mas de maneira educada. Leo o cumprimenta com um aperto forte, o que me faz sentir uma onda de orgulho, como se ele estivesse provando algo, mesmo que ninguém tenha pedido para ele fazer isso. — Prazer em conhecê-lo. — Leo diz, com uma voz que transmite respeito, mas também uma certa autoridade. — Leo, essa é minha mãe, Eleonora. — Eu falo, tentando dar o tom certo à apresentação, embora eu saiba que ela não está tão disposta a agradá-lo quanto eu gostaria. Ela acena com a cabeça para ele, mas sua expressão revela o desconforto que sente. Ela claramente está tentando manter as aparências, mas o olhar dela é de alguém que não se sente completamente à vontade com a situação. Leonardo, no entanto, não se deixa abalar. Ele sorri para todos nós, a confiança estampada no rosto. — Sofia fala muito de vocês. É bom finalmente conhecê-los. — Ele diz, e há uma sinceridade nas suas palavras que, de algum modo, me tranquiliza, mas também me deixa sem saber se é uma tentativa de agradar ou se ele realmente sente isso. Eu respiro fundo, tentando me ajustar ao papel que todos esperam de mim, mas algo dentro de mim, ao ouvir as suas palavras, me faz querer acreditar que ele está sendo genuíno. E, por um instante, me pego imaginando se isso tudo realmente tem algum futuro, ou se estamos todos apenas vivendo um jogo de aparências. — Verdade? Pois ela nos surpreendeu, pois não falava muito sobre você. — Minha mãe responde, com uma risada forçada, tentando disfarçar a surpresa que a frase revela. O impacto das suas palavras em Leo é imediato. Ele congela por um segundo, quase imperceptível, mas eu noto. Sua expressão suavemente confiante é abalada, e vejo os seus olhos vacilarem, como se estivesse a buscar alguma resposta que o reconduzisse ao controle da situação. Ele abre um pequeno sorriso, que mais parece um escudo, mas há algo na sua postura que denuncia o golpe — uma leve rigidez nos ombros, como ele desvia o olhar por um instante antes de retornar à conversa. — Ah, é mesmo? Bem, acho que ela é mais reservada do que eu pensava... — Ele diz, tentando rir, mas o som soa abafado, como se algo na sua garganta tivesse se fechado. É sutil, mas está ali: um desconforto crescente, um esforço visível para não deixar transparecer que foi atingido. Minha mãe, com aquele olhar analítico, percebeu. E eu também. Por um momento, a sala parece mais silenciosa, como se todos sentissem a tensão se espalhando lentamente, embora ninguém diga nada. — Sofia reservada? Mas não mesmo! — minha mãe solta a risada, tentando encobrir a incredulidade em sua voz. Sua expressão é uma mistura de ceticismo e desafio, como se estivesse testando Leonardo para ver até onde ele iria com suas palavras. Eu sinto novamente o peso da tensão no ar, espessa, quase como se o tempo tivesse parado por um segundo. Leonardo, no entanto, dessa vez não se deixa abalar. Ele mantém o sorriso, mais afiado que antes, e seus olhos brilham com uma faísca de desafio, como se estivesse pronto para se defender de qualquer acusação disfarçada, pronto para se esquivar de qualquer movimento que pudesse ser interpretado como uma ameaça. — Bom, talvez eu tenha sido um pouco... discreto. — Ele diz, com aquele sorriso enigmático, que é ao mesmo tempo divertido e cuidadosamente calculado. — Todo esse tempo estávamos nos conhecendo, é natural isso. Sua voz soa leve, mas há algo de muito mais pesado por trás de cada palavra, algo que só eu consigo perceber. Ele fala com a naturalidade de quem tem controle absoluto da situação, como se estivesse ciente de que, enquanto todos jogam suas peças, ele já sabe qual será o movimento seguinte. Ele joga seu próprio jogo, mas o que exatamente ele está tentando alcançar? Não sei. O que sei é que sua presença, silenciosa e forte, tem um impacto inegável sobre todos nós. Algo dentro de mim não consegue deixar de notar como ele manipula a situação com uma destreza que beira a perfeição, como se já soubesse de antemão qual seria o próximo passo de cada um ali. Eu desvio o olhar para minha mãe, tentando avaliar se ela está começando a ceder, mas seus olhos ainda brilham com uma mistura de suspeita e curiosidade. Então, vou para meu pai, que permanece em silêncio, absorvendo cada palavra, cada gesto. Ele não se move, não diz uma palavra, mas seus olhos são alertas, atentos, como se estivesse esperando o momento certo para intervir, como se fosse um caçador observando a presa. Eles não sabem o que pensar. Ainda não têm certeza do que estão vendo, mas estão de olho em cada movimento, como se fossem caçadores aguardando o momento de atacar. Eu respiro fundo mais uma vez, tentando acalmar os nervos que começam a ficar tensos. Tento me convencer de que sei o que estou fazendo, de que sei como esse jogo funciona. Este é o jogo. Eu sei disso. E, por mais que o medo de que tudo desmorone me assombre, há algo de bom nesse momento também. Algo de intrigante, como se fosse um novo território a ser explorado. — Vem, Leo, vamos até a cozinha. — Eu pego a sua mão, sentindo a firmeza dos seus dedos ao entrelaçá-los com os meus, e o puxo para dentro de casa, para longe dos olhares curiosos dos meus pais. Algo dentro de mim se agita, uma mistura de ansiedade e excitação, enquanto atravessamos o corredor. No fundo, não sei bem o que espero dessa situação, mas sigo, sem olhar para trás. Na pequena sala de jantar, afasto uma cadeira para ele, convidando-o a se sentar. — Sente-se aqui. Vou colocar a mesa para nós. — a minha voz sai suave, mas há uma tensão contida em cada palavra, como se eu estivesse tentando controlar tudo ao meu redor, mas sem saber se estou realmente conseguindo. Leonardo se acomoda onde indiquei, seus movimentos tranquilos e seguros, como se estivesse em casa, o que me desconcerta um pouco. É como se ele já tivesse tomado posse de tudo, desde o primeiro momento. — Os seus pais não gostaram muito de me ver com você. — Ele diz, a voz mais grave, a expressão séria, como se estivesse sendo completamente honesto, mas também tentando medir a minha reação. Isso me faz sorrir, de uma forma meio-amarga, mas eu me mantenho firme. Gostaria de dizer: "Porque eles não te conhecem." Mas eu me calo, não querendo que a minha voz soe muito ansiosa, como se eu estivesse desesperada para que ele visse as coisas da maneira que eu gostaria. Não quero que ele pense que estou ansiosa por dar continuidade ao nosso namoro. A verdade é que eu quero, mas, no final das contas, ele precisa querer também. Não adianta nada se não for algo que venha de ambos.
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