Minha mente tenta decifrar a resposta, mas me resigno. Apenas aceno com a cabeça, mantendo a expressão séria. Por dentro, no entanto, meu coração dispara, cheio de esperança e expectativa pelo que pode acontecer.
O trânsito está incrivelmente tranquilo, e poucos carros cruzam nosso caminho. A viagem segue sem interrupções, e o cenário vai ficando mais rural conforme nos aproximamos do destino.
— Seu ex sabe que eu irei com você? — Leo pergunta de repente, quebrando o silêncio que havia se instalado.
Eu o encaro, surpresa com a pergunta, mas logo balanço a cabeça, procurando a resposta certa.
— Não sei. Deve saber.
Leo sorri de canto, despreocupado, mas com um brilho no olhar.
— Se ele não sabe, será uma surpresa e tanto.
Dou de ombros, fingindo indiferença, mas minha mente vai longe. Olho novamente pela janela, focando em conter as minhas emoções. Não é por Omar, não é medo de enfrentá-lo. É por Leo. Saber que ele está solteiro me dá um pouco de tranquilidade, como se, agora, houvesse uma chance real de algo entre nós. A ideia de transformar essa relação em algo verdadeiro me invade com uma força quase esmagadora.
Quando o carro do meu pai reduz a velocidade, Leo acompanha o movimento. Meu coração acelera ainda mais. A sensação de que algo grande está prestes a acontecer é quase palpável. Tento focar no aqui e agora, mas a promessa do que está por vir pulsa como eletricidade dentro de mim.
O relógio marca seis e quarenta quando entramos na propriedade. Os carros avançam para o interior, e meu pai estaciona no gramado. Leo para ao lado do veículo dele.
Omar está na grande varanda, de frente para a imponente mansão branca de telhado cinza. Atrás dele, o mar se estende até onde a vista alcança. Ele está parado, braços cruzados, em uma postura rígida. Seus olhos escuros, carregados como uma tempestade prestes a estourar, analisam cada detalhe, e sua expressão mistura tensão e surpresa.
Quando seus olhos me veem saindo do carro com Leo, é evidente que ele não esperava isso. Ele fica pálido por um instante, mas logo o vermelho toma conta de seu rosto. Seu peito sobe e desce rapidamente. Ah, quem mandou forçar uma situação?
Foi ele que pediu isso.
Leo, em um gesto inconfundível, envolve minha cintura com possessividade. Seu toque transmite calor, segurança e excitação, e um arrepio percorre minha espinha. Sem pensar, me aproximo mais dele, como se precisasse daquela conexão que vai além do físico.
Meu pai e minha mãe sobem os degraus, e meu pai troca um olhar resignado com Omar, como se dissesse: "Eu avisei." Omar se recompõe rapidamente e os cumprimenta com um abraço.
— Fizeram boa viagem? — pergunta com um tom ensaiado, mas ainda tenso.
— Sim, foi ótimo fugir do trânsito. — responde meu pai.
Eu e Leo nos aproximamos, e os olhares de Omar e Leo se encontram. É um duelo silencioso, mas carregado de significado.
— Omar, deixe-me apresentá-lo. Este é Leonardo, meu namorado. Ele passará esses dias comigo. Espero que não se importe. — Minha voz soa firme, mas por dentro estou saboreando cada segundo.
Omar não responde. Ele apenas inclina a cabeça, tentando mascarar a expressão, mas não consegue esconder o olhar de quem acabou de engolir um jacaré inteiro sem mastigar. Sorrio internamente, saboreando o momento. É um prazer indescritível vê-lo em uma posição desconfortável, especialmente depois de tudo.
Ele desvia finalmente o olhar, recompondo-se.
— Por favor, entrem. Vou pedir para retirarem as malas dos carros. Deixem as chaves com Anna.
Seguimos para o interior da casa, deixando uma empregada com as chaves. Um senhor a acompanha para retirar as bagagens. Omar caminha à frente, guiando-nos.
— Bela casa. — Leo sussurra no meu ouvido, provocando um arrepio que me deixa trêmula.
— Sim, muito bonita. — respondo, tentando parecer casual.
— Preparei uma mesa de café. Tereza, coloque mais um prato. — diz Omar, virando-se para nós.
— Obrigado, mas não precisa. Eu e Sofia tomamos café antes de pegar a estrada. — Leo responde educadamente.
— É verdade. Já comemos. Se nos permitir, gostaríamos de conhecer a praia. — digo, observando o movimento da cortina na porta de vidro. A brisa vinda do mar traz um aroma fresco e salgado, e o cenário é simplesmente irresistível.
Omar me encara, e o sorriso que ele dá no final não me agrada. Há algo de calculado nele, algo que faz meus instintos gritarem. Mesmo assim, ele assente.
— Claro, por que não? Acho que já sabe o caminho.
Lanço um olhar para os meus pais. Eles me fuzilam com os olhos, mas eu os ignoro, voltando minha atenção para Leo.
— Vamos, Leo?
Atravessamos a luxuosa sala com seus tapetes altos, sofás confortáveis e almofadas floridas. O ar lá dentro é impregnado por um leve perfume floral. Quando alcançamos a varanda, a paisagem é de tirar o fôlego. O mar cintila sob o sol, e a brisa acaricia nossos rostos.
— Esse cara não vai desistir de você. Vi isso nos olhos dele. — Leo diz de repente, sua voz baixa, mas firme.
Viro-me para ele, admirando o brilho verde de seus olhos, agora ainda mais realçados pelo reflexo do mar. Ele é incrivelmente lindo, e meu coração tropeça por um momento.
— E quem avisa amigo é? — provoco, tentando aliviar o clima.
Ele estreita os olhos para mim, sua expressão séria. Algo nos olhos dele sugere que minha brincadeira não foi bem recebida.
— Fique esperta com ele. — diz, desviando o olhar para o horizonte.
Dou um passo mais próximo, forçando-o a me encarar.
— Leo, vamos esquecer Omar. O dia está lindo, o clima é perfeito. Vamos aproveitar!
Ele suspira, os seus ombros relaxando enquanto fixa os olhos no mar. Quando finalmente volta a me encarar, há uma mistura de dúvida e algo mais que não consigo decifrar. Ele hesita, mas sorri de leve, e é como se algo entre nós se alinhasse, mesmo que por um instante.
—Você tem razão. O que acha de caminharmos pela praia?
Eu sorrio ao mesmo tempo que sinto o meu coração se agitar de alegria.
—É pra já —digo e já me inclino e apoiando-me em Leo começo a tirar as minhas sandálias.