Ela não está sofrendo.

1072 Words
— Isso passa. Eles gostam de Omar, mas quando eles enxergarem que acabou, irão tirar isso da cabeça. — Mudo de assunto, tentando dar leveza à conversa. E de repente, minha voz soa mais suave, mais relaxada. Eu tento controlar meu ritmo, meu tom, para não deixar transparecer a insegurança que sinto. — O que você costuma comer de manhã? Ele me olha por um momento, pensativo, antes de responder, sua expressão séria, mas gentil. — Só café puro. Eu rio, a surpresa me pegando de surpresa, e então os meus olhos deslizam por seus braços fortes, notando o contraste entre sua força e o hábito simples que ele menciona. — Um homem desse tamanho só com café puro? — Digo, sorrindo e tentando brincar com ele, mas meu tom esconde uma curiosidade genuína. — Não acredito! Temos pão integral, geleia, manteiga, queijo, presunto. Se quiser, eu faço uma tapioca? Leonardo sorri, e o brilho nos seus olhos quase me faz derreter. Aquele sorriso... um daqueles que fazem tudo ao redor desaparecer. Eu fico sem palavras por um segundo, embriagada pela sua presença. — Só café. Eu rio de novo, mas agora é mais para disfarçar o nervosismo que se esconde por trás da fachada de confiança. Há algo nele que me faz querer agradá-lo, mesmo em coisas simples, como essa. — Está certo. Só café então. — Respondo, dando de ombros, mas com um toque de humor no tom. Minutos depois, monto a mesa com tudo o que preparei: os pães quentinhos, a geleia e o queijo. Tudo está à nossa frente. Me sinto satisfeita, mas ao mesmo tempo inquieta, como se estivesse fazendo algo muito íntimo, sem saber aonde isso vai nos levar. Me sento ao lado dele, tentando parecer natural, mas o coração acelera de um jeito que eu não consigo controlar. Os pães integrais, que eu aqueci no forno, estão fumegantes, soltando um aroma doce e reconfortante que preenche a cozinha e me faz sorrir. A leveza do cheiro se mistura com a sensação de estar compartilhando algo simples, mas tão genuíno, com ele. — Não vai querer mesmo? — Pergunto, passando a manteiga e vendo-a derreter lentamente sobre o pão quentinho. A cena parece tão íntima, tão familiar, que fico por um momento perdida, observando-o. — Deus! Não costumo comer tão cedo, mas... me passa um aí. — Ele diz, com um tom de brincadeira, quase desafiador, e isso me faz sorrir ainda mais. Eu pego o pão e, com um movimento quase automático, o entrego para ele, observando seu gesto de pegar o alimento com uma naturalidade que me deixa inquieta. Há algo no modo como ele se comporta que me deixa à vontade, mas também me faz questionar os limites entre o que é real e o que estamos tentando representar. — Geleia, manteiga ou requeijão? — Pergunto, com um sorriso travesso, tentando deixar a conversa leve, sem pensar no peso das palavras não ditas. — Manteiga. Ver seu pão abriu meu apetite. — Ele responde, e eu sinto uma onda de prazer ao ouvir isso, como se ele realmente estivesse ali, compartilhando algo genuíno comigo. Ele saboreia o pão com prazer, e eu fico observando, quase hipnotizada. Passo uma camada generosa de manteiga, ainda sorrindo. Entrego para ele, e meu coração acelera quando vejo a satisfação estampada no rosto dele enquanto come. Cada mordida, cada gesto, é uma dança silenciosa entre nós dois, e eu fico perdida nesse jogo, sem querer sair dele. Escuto o barulho dos meus pais na sala, levando as malas para o carro, e isso me faz voltar à realidade, lembrando que o que estamos vivendo aqui é só uma parte de algo muito maior. — Você me ajuda a retirar a mesa? — Pergunto, tentando dar um tom mais prático à situação. — Claro! Vamos nessa! — Ele responde, com um sorriso, se levantando com facilidade. Sua presença, forte e calma, me envolve de maneira confortável, e, por um momento, eu só quero continuar no mesmo espaço que ele, como se o mundo lá fora não importasse. Pouco tempo depois, estamos com o pé na estrada. O som do motor preenche o silêncio que se instalou entre mim e Leo, enquanto ele segue o carro do meu pai, que tem o endereço da casa de Omar. A paisagem à nossa volta muda aos poucos, mas minha mente está presa no gesto de Estela. Sua mão alisando a perna dele é uma imagem que não consigo afastar. O sentimento de culpa aperta meu coração como um punho fechado, e eu viro o rosto para a janela, tentando escapar da angústia que me corrói por dentro. As árvores que passam rápido tornam-se borrões verdes, refletindo meu estado de espírito. — O que foi? — a voz de Leo rompe o silêncio, baixa, mas cheia de curiosidade. Eu o encaro, hesitando antes de responder. O olhar dele está fixo na estrada, mas é como se pudesse sentir meu desconforto. — Estou pensando em Estela. Não me sinto bem com o que estamos fazendo. Leo solta um suspiro curto, quase impaciente. Seus dedos apertam levemente o volante antes que ele responda. — Eu terminei com ela. — Ele diz de um jeito seco, quase sem emoção. Meu coração acelera com a revelação, uma explosão de alegria que tento esconder. — Terminou? — Minha voz sai quase num sussurro, mas é carregada de surpresa. Leo não tira os olhos da estrada. Sua expressão está séria, distante, mas suas próximas palavras são carregadas de honestidade. — Não estava dando certo. Na verdade, nunca vi futuro em nós. Eu estava levando essa relação, mas chegou num ponto que ou avançaríamos para algo mais sério, ou terminaríamos. Não sei como reagir. Uma parte de mim quer gritar de alegria, mas me controlo. — Sinto muito. — As palavras saem automáticas, embora uma pequena fagulha de satisfação brilhe em meu peito. Ele finalmente olha para mim, o semblante firme, mas com algo diferente em seus olhos. — Não sinta. Ela não está sofrendo. Te garanto. Minhas sobrancelhas se erguem, curiosa e ao mesmo tempo intrigada. — Por que diz isso com tanta certeza? — pergunto, aproveitando a deixa para saber mais sobre o que ele sentia por ela e como foi o término. Leo dá de ombros, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Acredite, eu sei. — Ele diz simplesmente, sem entrar em detalhes.
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