HEMBER - E se eu ficar...

Garcia Decepcionado.

- Quem te beijou a força? – os seus olhos estavam carregados de uma coisa que eu nem sei dizer o que era.

- Ninguém que você conheça – digo nervosa. Odeio ficar nessa posição de ter que ocultar as coisas da minha família.

- Então diz quem escreveu esse bilhete. – Ele não vai desistir. Conheço o meu pai. Gosta sempre de saber tudo nos mínimos detalhes.

- Pai, isso é invasão de privacidade sabia. – Tento pegar o bilhete, mas ele não deixa.

- Quem? – a sua voz era robótica.

- Pai é complicado... – esfrego o rosto com as mãos – E eu não sou mais uma criança. – eu já sabia por que o meu pai está insistindo tanto. Há meses ele indaga sobre o João e eu, como se de algum modo ele soubesse dos meus sentimentos. Mesmo quando eu disse que não existia nada, ele continuou desconfiado.

- Quem Hember?! – ele olha novamente o bilhete. – Eu vou matar ele. Por isso não quer me dar o nome, não é?

- Para pai. O beijo não foi à forca, está legal – e finalmente consigo identificar o que se passa nos olhos do meu pai. Decepção, era isso que eu vejo, um sentimento que nunca vi antes, não direcionado para mim, ele está decepcionado comigo. – Pai por favor, eu posso explicar.

- Pode... – ele diz com tristeza.

- O que está acontecendo aqui? – a minha mãe pergunta com preocupação. Ficamos em silêncio por alguns segundos até que o meu pai estende o bilhete para a minha mãe.

- A sua filha tem um caso com um homem casado. – Fecho os meus olhos lamentando o ocorrido – É isso que está acontecendo. – Ele cospe as palavras com nojo.

- Pai...

- O quê? - a minha mãe também fica em choque. Assim que lê o bilhete.

- Eu posso explicar, não é nada disso. – Digo olhando para minha mãe.

- A você pode explicar, então começa – ele diz passando as mãos no cabelo. – Começa a explicar também o porquê da mentira quando eu te perguntei se existia alguma coisa.

- É complicado... – tento justificar.

- Não se preocupe, eu sou ótimo em entender coisas complicadas. – Ele fala com ironia.

- Isso que o seu pai falou é verdade Hember. Você não tem um caso com o João, Certo? – o rosto da minha mãe estava confuso. – Ela estava tão em choque quanto ele.

- Não! Mãe eu não tenho um caso com ele, eu jamais faria isso. – Digo indignada, como os meus próprios pais por pensam isso ao meu respeito.

- Ainda estamos aguardando as suas explicações – ele gesticula com os braços abertos – Porque não é possível que você esteja tendo um caso com um homem casado, eu não acredito que a minha filha esteja se prestando a esse papel. – a sua voz vem carregada de nojo.

- Eu não tenho um caso com o João! – falo pausadamente – Isso, não é nada de mais. Aponto para o bilhete

- A não? Então por que você não explica o que está acontecendo, porque por esse bilhete tudo indica que você tem um caso com um homem casado, com um filho pequeno está com a esposa grávida. – Ele grita – E de verdade eu não acredito que você seja tão burra assim.

- Alex... – a minha mãe chama a sua atenção.

- Alex o que Isabelle, ela está arruinando a carreira dela, em troca de quê? Porque já sabemos que ele tem um caráter duvidoso. Eu jamais tive coragem de olhar para o lado desde que conheci a sua mãe, principalmente quando ela estava fragilizada carregando os meus filhos no ventre. – Ele estava bem alterado. – Então me diz o que você quer com isso? Porque, o seu ele nunca vai ser.

- Eu realmente me apaixonei pelo João, mas nunca tivemos nada – engulo seco, não sei mentir para os meus pais. Nunca menti para eles. Está tão difícil não falar. – Até hoje... – falo baixinho.

- Hember - a minha mãe diz com tristeza no olhar – Como pode fazer isso com a Cristina? Essa não é a educação que te demos.

- Não é isso que vocês estão imaginando, aconteceu um beijo, ele me beijou, nós nos beijamos - fico confusa - Eu não sei explicar direito, mas eu não fui adiante e eu não vou adiante com isso.

- Você está destruindo a sua carreira devido a uma paixãozinha boba por um homem casado. Tem noção do quanto isso é impulsivo e burro. – A voz dele já não estava tão alterada.

- Não estou fazendo isso pai, nós não temos um caso. Foi uma única vez.

- E o que acontece quando todo mundo descobrir esse beijo? Como você acha que vai ficar o seu nome dentro do escritório, acha que vão pensar simplesmente que você está lá pela sua competência? Negativo! Eles vão achar que você está lá por favoritismo porque você tem um caso com o chefe. E a sua carreira estará acabada antes mesmo de começa. É isso que você quer? – mesmo sem gritar, a sua voz estava carregada.

- Ninguém vai saber sobre isso, e nunca mais vai se repetir. – Eu ando de um lado ao outro do escritório, esfregando o meu rosto com as mãos.

- Espero que não mesmo, porque você está parecendo uma dessas mulheres, que se trocam por cargo e dinheiro, e é desse jeito que todos vão pensar que você é uma verdadeira vága...

Fico em choque, o meu pai nunca falou desta forma comigo. A minha reação foi ficar olhando para ele com os olhos arregalados.

- Alexander Garcia! Não ouse falar dessa forma com a minha filha. - a minha mãe c0rtou o meu pai quando ele ia com certeza ia me chamar de vag@b***a. Os seus olhos carregados de decepção, ele não diz mais uma única palavra apenas balança a cabeça positivamente apertando os lábios numa linha fina. Respira fundo e sai do escritório. – O seu pai está nervoso. – Ela diz depois de alguns segundos.

- Por que só comigo? – depois que o choque passa fico irritada. Ela me olha sem entender – Papai nunca falou assim com nenhum de nós, os meninos aprontaram tantas coisas e ele nunca olhou ou falou com eles desta forma. Mas comigo. Eu sempre fui o maior exemplo desta casa mãe, nunca dei trabalho ou fui desobediente.

- Hemb...

- Não me leve a m@l mãe, eu amo a Renata e a Maitê, mas Benjamim trouxe uma estranha para nossa casa com uma suposta filha pequena e ele não fez isso, foram tantos riscos. Gabriel nem se fala aprontou tantas coisas, a família quase foi para o buraco por causa dele e eu não vi metade dessa ira com nenhum dos dois. Por que comigo? – bati no meu peito enquanto as lágrimas rolavam pelo meu rosto – Ele podia acreditar em mim. – Me sento na poltrona, cobrindo o meu rosto com as mãos.

- O mundo é mais c***l conosco mulheres Hember, acha mesmo que um dos seus irmãos sofreriam as consequências de ter um caso com uma mulher casada? Não que seja certo, mas o mundo é machista. Você, por outro lado, jogará a sua carreira no lixo se fizer isso.

- Eu não tenho um caso com ele mãe, eu jamais faria isso com os filhos com a esposa dele muito menos com vocês dois.

- E com você querida, você faria? Porque não é em nos que você deve pensar agora, e sim você. Você quer isso, você quer ser isso associado a você o resto da sua vida, a sua carreira há um caso com o chefe porque é o que vai acontecer, o que o seu pai está pensando agora você acha que ele está irritado pelo nome dele? Não querida, ele está irritado porque ele sabe o tamanho do estrago que um assunto desse nível todo pode fazer com a sua carreira, na sua vida. Pensa direitinho, reflete o que você quer para a sua vida, porque isso vai marcar você para o resto dela. - a minha mãe me entrega o bilhete também sai do escritório me deixando ali sozinha com os meus pensamentos.

Claro que eu já pensei em todas as coisas é claro que eu já imaginei 1001 vezes o quanto se poderia ser prejudicial a minha vida, minha carreira, eu jamais teria um caso com ele mesmo que eu passo o resto da minha vida apaixonada pelo João eu jamais deixaria que ele saísse da casa dele, da família dele, dos filhos dele para ficar comigo. Entendo isso, sei que ele é um homem impossível para mim, esse beijo só aconteceu por uma pequena falha minha que jamais vai se repetir.

Depois do que parecia uma eternidade ali parada pensando toda a besteira que aconteceu, as palavras do meu pai e da minha mãe ecoando na minha cabeça, estou exausta, eu pego papéis e vou para o quarto. Toma um banho rápido e vou dormir, não tenho cabeça para mais nada hoje. Eu só preciso dormir para esquecer esse dia. Quem sabe amanhã as coisas fiquem mais claras na minha cabeça, e eu consiga resolver o que fazer.