Fico em estado de choque, o que ele está fazendo aqui? Ele está ali de pé segurando um buquê de flores na mão. O seu rosto está inexpressivo, seu maxilar rígido, seus olhos passam chateação talvez, João e eu estamos muito próximos e isso pode passar a impressão errada de que estamos tendo alguma coisa. Certeza de que o Pedro está imaginando a pior coisa de mim agora. Ele vem me fazer uma surpresa, traz flores e eu estou sozinha com João, tão próximo que parece que estamos juntos.
- Oi, o escritório está fechado volta amanhã. – João responde com rispidez provavelmente, incomodado por ser interrompido.
- Tudo bem? – os seus olhos estavam semicerrados, a sua sobrancelha se eleva, tentando entender a situação, com certeza olhando pelo ângulo que ele está não é nada agradável.
- Sim. Como eu disse volte amanhã. – João insiste que ele vá embora. Ele está visivelmente nervoso.
- Perguntei para ela. – a sua voz vem carregada de arrogância e autoridade, ele nem mesmo desvia o olhar do meu rosto. Saio do meu estado de choque que estava e vou na sua direção.
- Oi, o que faz aqui? - Eu pergunto, a minha voz está tremula, meu sorriso sem graça. Não entendo por que me sinto tão culpada. Mas e essa a sensação, culpa por ser flagrada nessa situação.
- Cheguei de viagem ainda pouco, senti saudades, pensei que pudesse me dar mais um bolo, então vim diretamente de buscar. – Pedro diz, os seus olhos vão na direção do João com raiva. Respiro funcho. – Atrapalho?
- Claro que não. – Tento sorrir – É. que surpresa agradável. – Vou na sua direção sem saber o que fazer, queria abraçar ele, mas me falta coragem. Paro de frente para ele, analiso o buque nas suas mãos, é lindo. Parece ter umas três espécies de flores, e bem coloridas, o cheiro está ótimo.
- Então esse é o Pedro? – João pergunta de forma ácida.
- É. – me viro para o João - Pedro esse é o João, um dos meus chefes. João esse é Pedro, meu amigo – eles se encaram, parecendo dois cães prontos para se embolarem ali mesmo.
- Satisfação. – João atravessa a distância e estende a mão para o Pedro, ele não estende a mão de volta, pelo contrário ele fica encarando o João de uma forma estranha, não consigo identificar se é raiva, chateação, ressentimento, só sei que tem alguma coisa no olhar do Pedro que passa medo, João não deixa barato, devolve o olhar desafiador. Prevendo um possível embate desnecessário resolvo intervir antes que essa disputa de ego se torne uma briga de verdade e eu me veja tendo que dar explicações do porquê o meu chefe e, o que ele é meu? Não sei. Bom não quero ter que explicar por que João e Pedro estão brigando.
- João, resolvemos tudo que tinha para ser resolvido aqui, espero que tenha compreendido. – Não espero pela sua resposta – Tchau. Pedro vamos. – Pego na mão dele levando em direção ao elevador, como se fosse uma criança.
Descemos o elevador em silêncio, Pedro está tenso, posso sentir que ele não gostou nada de me ver sozinha conversando com João. Mesmo que a gente não tenha nada “ainda” conversamos sobre o João, naquela noite, ele sabe do beijo. Nunca mais falamos sobre isso de fato, mas acredito não ser nada agradável essa cena.
- Por que você meio que sumiu? – pergunto assim que saímos do elevador. – M@l nos falamos esse fim de semana. – Questiono.
- Estava resolvendo um problema. – Ele responde seco.
- Entendi. Bom, eu já vou indo. – Aperto os lábios e começo a me afastar dele. Ele respira fundo apertando os olhos, parece está tentando se controlar.
- Espera. Desculpe por isso – vejo vergonha nos seus olhos. – Geralmente eu não sou tão descontrolado. - o seu sorriso é sem ânimo.
- Tudo bem. É compreensível. Mas eu acho que eu devo ir agora. – Na verdade, eu não queria ir, quero ficar com ele, conversar, acabar com essa saudade estranha que senti dele esses dias. Chega a ser patético, sentir saudade de uma pessoa que eu vi duas vezes. Tudo bem que passamos dias nos falando praticamente o dia inteiro.
- Para você. – Ele finalmente me entrega as flores, um buque de flores-do-campo, tem margaridas, alstroemérias, pinóquio, rosa, estatística e tongo. Inalo o seu cheiro, essa combinação ficou perfeita. Com os olhos fechados cheiro elas novamente. Achei sensacional a forma que ele fugiu do tradicional, um buquê de flores do campo e totalmente diferente de um bique de rosas que talvez seria a primeira opcão de alguém, mas é igualmente lindo.
- São perfeitas – abro os meus olhos, ele me fita com intensidade – Obrigada, são realmente lidas as flores.
- Que bom que gostou, achei que elas combinam com você. - ele fala de forma delicada.
- Tem um barzinho há umas duas quadras daqui.um Drink? – aquele sorriso maravilho que eu me lembrava estava lá tomando o lugar da sua cara tensa.
- Talvez outro dia. – mesmo que eu queira ir com ele, a minha conversa com João não foi muito agradável, ter que ameaçar ele de assédio me deixou bem chateada afinal de contas eu provoquei aquele beijo, ou melhor, eu deixei acontecer.
- Mesmo pessoalmente está me dando o fora?
- Não é isso, é só que...
- É só um drink vai? Eu estava com saudade. – Senti vontade de dizer que também estava com saudades, mas me seguro. Ele está certo, por que não ir com ele? Não posso permitir que João tenha esse poder sobre mim.
- Tudo bem. – Dou um pequeno sorriso de canto de boca, ele sorri de volta.
Fomos caminhados para o bar, realmente era próximo do prédio do escritório. Fico olhando aquele buquê lindo nas minhas mãos, eu achei ele tão incrível, chego a sentir um frio na barriga enquanto admiro ele.