Beatrice Lombardi
Eu errei muito durante muito tempo da minha vida e sim, eu sei que meu pai foi uma grande influência para muitas dessas coisas que aconteceram, mas, eu tenho a consciência de que eu me deixei sim ser manipulada.
"— Você sabe que você é a melhor garota do mundo e você merece o mundo, você sabe, não sabe? — Meu pai disse, acariciando os meus cabelos. — A sua irmã está lá, vivendo uma vida de rainha, sendo temida e respeitada por todos, sendo a esposa do Capo, deixando a gente aqui e você sabe o que eu acho?
— O que? — Perguntei, me sentando no meio da cama. Cruzei minhas pernas na posição borboleta e mordi a minha bochecha.
Meu pai não tinha o costume de me elogiar, na verdade, ele não falava comigo. Isabela sempre acabava apanhando dele e eu tinha medo do dia que isso aconteceria comigo. Mas, desde que ela se casou e se afastou da nossa família, assim como a Nina, meu pai se aproximou de mim e começou a me dizer coisas.
No começo, eu tentei ignorar todas as coisas que ele disse. Mas, então Nina começou a concordar com ele sobre tudo.
— Você deveria estar no lugar dela, você é mais forte, mais decidida, você é muito melhor do que ela. — Ele murmurou.
E ela tinha sumido, minha irmã tinha sumido a alguns dias e as únicas que se importavam eram a minha mãe e Nina. Bom, Nina se importava.. do jeito dela, mesmo me apoiando pelas costas de Isabela, mas implorando para que eu nunca contasse nada, afinal, ela morreria e eu não, pois Isabela sempre me protegia.
— E o que você acha que eu devo fazer? — Eu perguntei, receosa.
— Casar com Vicent e levar a nossa família para a glória. — Ele passou a mão no meu rosto e deu um meio sorriso.
— Isso é muito errado e egoísta. — Eu comentei.
Eu tentava ter a consciência e o caráter que a minha mãe tinha, afinal, ela era a única mulher que eu tinha contato em anos. Na verdade, eu nunca entendi o motivo de eu nunca ter ido aos eventos e nunca perguntei também.
— Não, não é. — Ele deu um meio sorriso para mim. — Vicent vai precisar de uma esposa e você é perfeita, alias, a sua irmã não é merecedora desse cargo, ela ao menos gosta do Vicent ou do titulo que ela carrega."
Ele repetiu isso mais vezes que o necessário, e eu comecei a acreditar e fiz coisas que, sinceramente, eu me arrependo. Eu sei que Isabela é merecedora de tudo isso, principalmente, de ser a primeira dama. Ela tem classe, delicadeza, inteligência e o mais importante, ela tem amor.
Vicent a ama e faria qualquer coisa por ela, e eu não vou negar, eu tinha muita inveja dela. Ela tinha alguém que faria qualquer coisa por ela, e tudo bem, ele é tudo que qualquer mulher iria querer, mas por mais que Vicent pudesse ter tudo nesse mundo, ele tinha ela e para ele, ela era a coisa mais importante desse mundo.
Eu ainda me lembro — afinal, não têm muito tempo que tudo aconteceu — de quando Nina me ligava no meio da noite, querendo "desabafar" e passar mais tempo do que o necessário resmungando como o quão egoísta nossa irmã do meio era por ter fugido ou por odiar a vida que levava.
Na verdade, olhando por esse ângulo, eu entendo o motivo de ela ter feito todas essas coisas, minha irmã nunca quis ganhar esse posto, eu sabia que o seu maior desejo era viver uma vida calma, em algum lugar longe de tudo e de todos aqui. Ela nunca teve muitas opções na vida, na verdade, tudo o que ela fez durante os últimos anos tinha que ter o consentimento de um homem — o nosso pai.
É, eu acho sim que ela merece a vida que vive hoje, Vicent a entregou uma liberdade segura para ela e para Matteo.
"— Eu não aguento mais ter que escutar sobre como ela tem uma vida r**m, ou sobre como o marido não confia nela. — Nina murmurou, do outro lado do telefone. Ela tinha acabado de sair da casa de Isabela. — Ela surtou comigo, que não tenho nada haver com os problemas dela.
Eu revirei os olhos e coloquei o livro que eu estava lendo sobre a mesinha' de cabeceira. Me joguei na cama e encostei minhas pernas nas paredes brancas.
— Hum.. — Falei, mordendo a bochecha. — Sério?
— Sim, Beatrice. — Ela disse, alto. — Eu espero que ela não fuja novamente, ou teremos mais problemas, para todos os casos, se decidir fugir, que suma de uma vez e nunca mais volte.
Franzi a testa, confusa.
— Achava que você gostava da nossa irmã. — Comentei, como quem não quer nada.
Ela parou por alguns segundos e a única coisa possível de se ouvir, foi a sua respiração do outro lado da linha.
— E eu gosto, amo Isabela. — Ela disse, alguns segundos depois. — Mas, ela nos trás muitos problemas, nosso pai teve tanto trabalho para nos criar. Eu acho ela tão ingrata.
— É.. — Comentei, me levantei e olhei para a janela. — Eu tenho que desligar agora, nos falamos depois."
Eu errei muito, e durante muito tempo, eu não posso ser hipócrita e negar isso. Eu fiz coisas da qual me arrependo e não quero mudar.
Mas, existe uma única coisa da qual eu me arrependo todos os dias, quando eu coloco a minha cabeça em meu travesseiro. Me apaixonar. E não foi me apaixonar por qualquer pessoa, foi me apaixonar por Henrico Rossi, o ex-marido da minha irmã traidora.
Nina era extremamente manipuladora, e isso só foi ficando mais claro com o tempo e depois que todos os seus "podres" vieram a tona, mostrando a todos quem ela era. Eu sempre desconfiei que ela não fosse a mulher bondosa que ela demonstrava ser, só pelo fato de ela ter agido como uma v***a falsa e manipuladora.
De todas as coisas que aconteceram no último ano, ter conhecido Dereck foi a melhor delas. Ele era, nada mais e nada menos que o jardineiro da casa e bom, ele era um dos meus melhores amigos. Na verdade, a gente se conheceu quando, em um dia de chuva, ele não tinha como voltar para casa e estaav fazendo companhia para Anna e Anny na cozinha. Elas eram gêmeas e trabalhavam de empregadas na casa — e costumávamos conversar.
Desde então, somos inseparáveis e agora, sempre que eu posso, acabo passando muito tempo conversando com ele no jardim, para não me sentir tão sozinha. Quando não estou lutando ou estudando, acabo tendo muito tempo livre e eu já maratonei' todos os filmes da netflix e sonhei com uma vida boa por muito tempo, fantasiando com aqueles filmes adolescentes. Como se eu pudesse viver uma vida boa assim.
Henrico decidiu fazer um show hoje mais cedo, quando me viu conversando com Dereck e mesmo que eu não tivesse contado a ele sobre a amizade, não achava que ele tinha esse direito. Eu não era nenhuma i****a. Eu sabia muito bem qual era o meu lugar nessa sociedade de m***a em que vivemos, e não iria ser maluca de me envolver com qualquer cara, principalmente, o jardineiro da casa.
Eu posso estar apaixonada por ele, posso fantasiar uma vida com ele — vida essa, que eu sei que nunca vou ter —, mas não acho que ele tenha algum direito de fazer o que fez. Ele não era a p***a do meu pai, ele não era o meu dono e mesmo que seja difícil de admitir isso, ele não era Vicent.
Era estranho que o marido da minha irmã possa decidir as coisas que eu faço ou deixo de fazer. Eu me revolto, as vezes, mas tento me controlar. Vicent não costuma ter muita paciência e costuma me ameaçar muitas vezes, me deixando a beira de um colapso. Ele é um amor com a minha mãe, minha irmã e Matteo, mas não comigo.. eu acho que uma parte disso é minha culpa, mas não consigo ser diferente. Eu tenho que lutar por tudo que acredito.
E agora, olhando daqui, observando Henrico se engraçando para aquela mulher, cuja qual, acabou de chegar na famiglia, e que está, claramente, se engraçando para ele. É lógico que eu estou morrendo de ciúmes, me mordendo por dentro e querendo afogar ela em uma piscina.
Isabela me encarava, um pouco confusa. Desviei meus olhos do casal para as minhas mãos e resmunguei.
— O que está acontecendo? — Ela perguntou, alisando os cabelos de Matteo.
— Nada. — Resmunguei.
— Eu sou a sua irmã. — Ela olhou para os lados, garatindo que Vicent estava mesmo em um sono profundo. — Eu estou sentindo que alguma coisa está acontecendo, você não têm como me enganar.
— Não estou enganando você. — Falei, rapidamente. Não queria que ele ficasse me fazendo perguntas sobre os meus sentimentos, eu não gostava de falar sobre essas coisas. Não gostava de conversar com as pessoas, me sentia exposta e muito inconveniente.
— Você está apaixonada por ele? — Ela perguntou, seus olhos encontraram os meus e ela sorriu fraco. Seus dedos escorregaram até os meus e ela juntou nossas mãos.
Ela deu um suspiro um tanto quanto longo, que me fez estremecer. Eu não sabia qual seria sua reação, mas acredito que o meu silêncio foi resposta mais que suficiente para ela.
— Eu sabia que esse dia chegaria. — Ela limpou os lábios, mas rapidamente me encarou. — Não que você fosse se apaixonar por Henrico, mas que você fosse se apaixonar.. — assenti com a cabeça. — Porque não me contou? Eu não teria chamado Carolina.
— Não é assim que a vida funciona, irmã. — Disse, cabisbaixa. — Henrico é um homem adulto, já foi casado e eu sou jovem demais, ele nunca iria querer nada sério comigo e eu não me contento em ser a sua f**a de uma noite, nós nunca daríamos certo.
— Eu já acho ao contrário. — Comentou ela. — E se eu fosse você, falava com ele.
— Não, e por favor, guarde segredo também. — Falei, antes de me levantar. — Vou para a cozinha fazer um sanduiche, quer?
— Por favor. — Ela disse, sorrindo.
Eu andei até a cozinha, sentindo ela me encarar. Eu estava com o coração afundado, eu estava apaixonada por alguém que nunca seria meu e isso me destruia, principalmente, por ele estar com outra bem na minha frente. Eu sei que ele não sabia dos meus sentimentos por ele, mas esses existiam e acabavam comigo, totalmente.
Ele passou por mim com Vicent e como sempre, eu aproveitei para alfineta-lo. Ele sequer teve tempo de uma resposta antes de Vicent mostrar que não estavam para brincadeira. Sai da cozinha pisando duro. Eu, sinceramente, não estava gostando nada disso.
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Me sentei na espreguiçadeira, quando Carolina passou por mim. Ela sorriu para mim e se sentou ao meu lado.
— Você deve ser a Beatrice. — Ela comentou.
— Sim. — Resmunguei, sem querer muito assunto.
— Hum, não gosta muito de conversa? — Ela perguntou, eu não queria ser grossa, ela não merecia. Eu sei que ela não tinha culpa, mas eu sentia um ódio toda vez que encarava esse rostinho bonito dela.
— Só estou cansada. —Resmunguei e me levantei.
A encarei, e respirei fundo. Tentei passar por ela, mas tropecei e deixei que todo liquido do copo nas minhas mãos caíssem em seu corpo.
— Você está louca? — Ela gritou comigo, se levantando.
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