Eu estava cansado. E não é aquele cansaço físico, do tipo que algumas horas de sono e descanso conseguem amenizar. Era um cansaço mental. Além de toda a responsabilidade que carregava por ser a grande estrela da Cia Gallagher de Rodeios, havia o cansaço daquela vida fabricada que eu levava. Admito que no começo, quando comecei a fazer sucesso, e as mulheres choviam em pencas sobre mim, eu fiquei deslumbrado. Era apenas um adolescente cheio de hormônios, louco por fama e para desvendar os maiores prazeres da carne.
Talvez por ter começado muito cedo, eu também tenha me cansado ainda tão jovem.
Nunca fui obrigado a seguir os passos do meu pai. Eu fazia porque realmente amava o mundo dos rodeios. Sendo nascido e criado em Calgary, vivi até minha adolescência cercado pelo mundo maravilhoso do rodeio. Era impossível não ficar fascinado. Desde cedo comecei a treinar com meu pai e logo o fiz se orgulhar de mim. Apesar de nunca ter tentado me influenciar, eu sabia o quanto ele estava satisfeito por ver seu único filho trilhar o mesmo caminho que ele.
Aos dezessete anos comecei a colecionar troféus e medalhas. As vitórias já eram constantes e consequentemente, as mulheres começaram a surgir em minha vida. Era tudo novo. E eu, claro, não me fiz de rogado. Ainda era jovem e queria mais aproveitar o máximo que a vida me proporcionava. Perdi a conta de quantas mulheres estiveram em meus braços. Uma diferente a cada noite. Nunca namorei sério, por dois motivos. Um deles, como já disse, era o fato de ser jovem demais para me amarrar a alguém. E o mais importante deles, eu não era ingênuo. Apesar de ter uma beleza que muitos consideravam impressionante, o que atraia a grande maioria das mulheres, era o status. Minha riqueza. Eu queria ser mais que isso.
Por isso, levei a vida sem compromisso sentimental. Mas cinco anos depois, aos vinte e dois anos, eu comecei realmente a me sentir um pouco vazio. Gostava de sexo e mulheres? Sim, muito. Mas eu ainda queria algo mais. Eu queria aquela calmaria que eu encontrava todos os dias quando chegava na casa dos meus pais. Eu queria aquela cumplicidade. Mas todos os meus encontros se resumiam a cama e sexo selvagem, na maioria das vezes sem uma conversa decente. Pra ser sincero, muitas vezes eu sequer conseguia me recordar do nome delas no dia seguinte.
A solução que encontrei foi diminuir a frequência de minhas saídas, das festas e baladas. Nos dias de rodeio, na maioria das vezes eu voltava diretamente para meu ônibus, recusando-me a sair. Não significa que virei um monge. Continuava a ficar com mulheres variadas, mas cada vez mais frustrado.
Ao chegar no Houston Livestock Show and Rodeo, eu estava absurdamente desanimado. Não com o rodeio, mas com a festa, com todo aquele espetáculo. A única coisa que não me deixava deprimido era a proximidade da disputa. Ai sim, eu me transformava. Estar dentro daquela arena fazia com que minha adrenalina aumentasse consideravelmente.
Mesmo a contragosto, eu cedi aos apelos dos meus amigos Jimmy, Nate e Tom, seguindo com eles para a festa. Bastou chegarmos a uma das barracas para que toda a atenção fosse voltada para nós, e logo várias garotas se aproximaram. Eu estava distraído, aéreo. Ria e conversava, mas sem prestar atenção a conversa, tampouco ao show de uma banda country feminina.
Queria aproveitar o momento de distração deles para poder sair e ficar recluso em meu ônibus. No entanto, toda essa determinação caiu por terra, quando eu girei um pouco o corpo, procurando uma brecha para fugir... e então eu a vi. Na verdade, a primeira coisa que enxerguei foram dois olhos incríveis, que a distância não me permitiu perceber a cor. Só sei que mordi meus lábios e meus olhos automaticamente percorreram seu corpo de cima a baixo. Eu reafirmo que naquele dia eu pretendia voltar para meu ônibus sozinho. Eu não queria mais uma noite de sexo com um corpo voluptuoso, gostoso e suado sob o meu. Eu não queria gemidos fabricados, artificiais. Por isso mesmo, não entendi por que minhas pernas ganharam vida própria e me levaram até ela.
De perto era incrivelmente linda, perfeita. Os olhos de cor âmbar, como nunca vi antes, pareciam me olhar com cautela e até mesmo vergonha. Parecia que ela queria, e ao mesmo tempo não queria estar perto de mim.
Sendo acostumado com todo tipo de mulher, eu logo percebi que aquela era diferente. Ela não parecia aquelas biscates loucas para levar um famoso para a cama. Ela realmente parecia me olhar com admiração e respeito.
Danielle... linda, doce, fantástica Danielle. E eu que até então estava correndo de uma noite puramente s****l, logo a estava beijando. Era totalmente diferente dos beijos luxuriantes que eu costumava dar. E porra... como era bom. Ela era tão delicada, tão macia e perfumada que todos os meus sentidos ficaram meio anestesiados.
Eu queria, eu precisava ter essa garota em minha cama. Mas o que me assustou, é que essa não era uma necessidade puramente física. Ia além disso. Mesmo com medo daquelas sensações, eu a levei para o meu ônibus. Eu não estava preparado para tantas sensações. Eu deveria ter previsto, desde o momento em que passei a agir feito um viciado sem nunca ter experimentado a substância viciante.
Em minha cama, eu conheci pela primeira vez a entrega incondicional e verdadeira. Caralho... ela era virgem! Ela se entregou por inteiro. Corpos suados, costas arranhadas e o mais genuíno gemido de prazer. Não havia nada forçado, nada superficial ou artificial. Ambos queríamos aquilo.
E eu, novamente feito um viciado, não queria e não conseguia parar. Eu queria aquelas pernas à minha volta, eu queria aqueles braços e aqueles beijos.
Eu queria aqueles cabelos incríveis espalhados pelo meu travesseiro. Eu não queria mais apenas uma noite. Eu queria mais uns dias, semanas... meses.
Pela primeira vez, em meus vinte e dois anos, eu dormi agarrado a um corpo feminino... e não era o da minha mãe. Era o de uma feiticeira. Era o único nome que poderia associar a ela. Somente sendo uma feiticeira para me deixar louco em apenas um dia. Tão louco a ponto de não perceber seu verdadeiro intuito.
A descoberta de sua real intenção caiu como uma bomba em minha cabeça.
Danielle acabou se tornando pior do que todas as outras que passaram pela minha cama. Todas as outras tinham como objetivo apenas trepar com um homem bonito e rico. Mas ela queria mais. Ela queria fazer parte da minha companhia, utilizando-se do método mais nojento que poderia existir. Por que justamente ela? Por que me deixei enganar assim, acreditando que pela primeira vez eu tive algo de verdadeiro com uma mulher?
Não passava de uma golpista. E foram essas palavras ditas a ela, mesmo quando seu olhar parecia verdadeiramente chocado. Eu senti raiva dela naquele momento por me deixar em dúvida, por me deixar sem saber como agir. Feito um louco, sem saber que decisão tomar, eu a beijei, desesperado para sentir mais uma vez a doçura de seus lábios.
A bofetada que levei, nem de longe doeu tanto quanto saber que mais uma vez, eu fui apenas um objeto. Como dizem, tiro trocado não dói. Mas em mim doeu, e pior... eu nem sabia o real motivo daquela revolução dentro de mim.
Depois de sua saída, eu quase quebrei meu quarto inteiro. Eu realmente não estava em meu juízo perfeito. Não conseguia raciocinar com clareza. Ignorei as ligações em meu celular, ignorei os chamados dos meus amigos em minha porta. Apenas passei o resto da tarde deitado em minha cama, sentindo o cheiro dela.
*********
Ja era noite quando finalmente sai do quarto. Eu me recusava a continuar pensando naquela bruxa. Nada melhor que outro cheiro, outro sabor em minha cama. Sai sem esperar pelos meus amigos, indo direto para a barraca onde a encontrei na noite anterior. E não! Eu não estava procurando por ela... eu acho. E nem teria tempo. Logo uma garota bonita se aproximou de mim, enrolando os cabelos em seu dedo. Eu já conhecia os sinais para saber que aquela seria a próxima em minha cama.
– Olá.
– Olá... Blake.
Ela respondeu e arqueei minha sobrancelha. Era uma mensagem direta de: eu sei quem você é, e quero t*****r com você.
– Precisa de companhia?
– Seria interessante.
Respondi, mas no fundo não via nada de interessante. Ela era bonita, mas não tinha aqueles olhos intensos e brilhantes. Inferno.
– Qual o seu nome?
– Pope.
Franzi minha testa.
– Ja nos falamos antes?
– Creio que não.
A voz dela não me era estranha, mas nem tive tempo de pensar nisso. Meu olhar foi atraído como um ímã... para ela. Danielle ainda não tinha me visto e aproveitei os instantes para observá-la. Mesmo de costas... linda. Eu não podia ter esses pensamentos. Sem raciocinar muito bem, passei o braço pela cintura da garota.
– Vamos sair daqui?
Ela sorriu largamente, mas eu desviei o olhar. Sentia que Danielle me olhava e não estava enganado.
– Hum... será que quer mesmo sair daqui? Prove-me.
Eu não queria provar merda nenhuma. Eu queria apenas... sei lá. So sei que a beijei, e ao erguer a cabeça... eu vi Danielle chorando.
Uma sensação r**m atravessou meu peito ao vê-la correr. Tirei meu braço imediatamente da cintura da garota e dei dois passos como se quisesse ir atrás dela. Mas a garota irritante segurou meu braço.
– Esqueça a Dani, não vale a pena.
Eu parei e a encarei.
– Dani? Você a conhece?
Então ela sorriu novamente... dessa vez de forma debochada.
– Eu sou amiga dela... Dakota.
Minha respiração ficou suspensa. Dakota. A mesma garota que me fez ver quem era Dani. A mesma garota que ligou preocupada no celular da amiga. E eu... tomado por um ciúme inexplicável... atendi a chamada.
– Eu... preciso ir.
– Não vamos ficar juntos?
Eu a encarei, sentindo a bile me subir. Mais uma das tantas coisas inexplicáveis que vinham me acontecendo.
– Eu não quero você. Nem por um momento eu a desejei. Só quero ficar sozinho.
Deixei uma Dakota indignada e boquiaberta para trás e sai daquele inferno. Indeciso entre a vontade de ir atrás de Dani e confrontá-la mais uma vez, ou voltar para o conforto do meu quarto, eu covardemente optei pela segunda opção.