Eu estava inquieto e eufórico. Sentia que hoje seria o grande dia. Aliás, já poderia ser considerado um grande dia desde quando ergui mais um troféu. Mas isso era tão rotineiro que já não tinha tanta emoção. O que me enchia de orgulho era ver o nome da Cia Gallagher brilhar através de seus integrantes. Eu sempre fui o melhor, desde quando meu pai ainda administrava tudo. Apesar de amar aquela vida, eu já dava mostras de cansaço, querendo me aposentar e ficar apenas por trás dos holofotes.
Aliás, se fosse analisar bem, eu já estava cansado de muita coisa. Cansado de viajar sempre, cansado de mulheres que continuavam se jogando aos meus pés, cansado de amar sozinho e pior... cansado de sentir saudade. Sete anos... sete longos e solitários anos. Nunca me envolvi seriamente com uma mulher, pois meu coração já tinha dona.
Eu percebi que toda essa teoria sobre sentimentos é a maior furada. Quem foi que disse que a paixão é passageira? Pois eu digo que não é! Ou então sou um tremendo fodido que estava pagando pelos meus pecados. A verdade é que nunca esqueci minha garota. Mulher alguma mexeu comigo do jeito que ela fez. Eu pensei que com o tempo, ela sairia de minha mente. Entretanto, quanto mais eu pensava e tentava dizer a mim mesmo que ela não passava de uma golpista, mais ela se infiltrava em minha mente.
Eu dormia, acordava, almoçava e jantava Danielle. Meus pensamentos eram completamente dominados por ela. E aquele sentimento foi evoluindo, foi crescendo. Como pode? Como pude enlouquecer por uma mulher que desapareceu feito fumaça? E a pergunta que mais me atormentou nesses anos todos: como essa paixão passou a ser amor, se eu sequer a vi novamente?
É... eu sei que é loucura. Mas todos os sintomas me levavam a crer que estava amando Danielle. Eu só conseguia alcançar o prazer se eu imaginasse que minha parceira era ela. Eu me tornei frio sexualmente. Juro que nunca ouvi falar em homem frígido. Eu, que quando mais jovem era quase ninfomaníaco passei a ser quase um monge. Uma transa a cada duas semanas e olhe la.
O meu maior desejo era poder voltar no tempo. Mas como isso não seria possível, eu fiz o impossível para encontrá-la novamente. Mas o que eu sabia sobre ela? Nada. Nem me recordava muito bem o seu sobrenome. Mas eu a queria. E se pudesse me ajoelharia aos seus pés e pediria perdão.
Sei que fui um tremendo filho da p**a com ela. Meu ego foi machucado e eu a odiei por ter ido para cama comigo somente para ter uma chance na comitiva. Que e******o eu fui. Ela era apenas uma adolescente cheia de sonhos. Que m*l havia nisso? Eu poderia tê-la orientado, afinal eu soube desde o primeiro momento o quanto ela mexeu comigo.
Poderíamos estar juntos, rodando o mundo com nossa companhia. Obviamente, eu fingi esses anos todos. Meus pais insistiam que eu deveria encontrar uma mulher legal pra mim. Mas o que eu poderia dizer a eles? Que transei com uma garota, me apaixonei e a tratei como uma qualquer? Não. Eu me esquivava quando era esse o assunto. Eu não queria uma mulher em minha vida. Não qualquer uma.
Olhei para meu troféu sobre a mesa e torci os lábios, numa careta. Eu precisava mesmo me afastar das competições e ficar nos bastidores. Mas para isso eu precisava dos melhores comigo. Um deles, Roland Lawson, aceitou a proposta da Farmer, abandonando minha comitiva e me deixando realmente furioso. Ele era o melhor e era bem remunerado por isso. Até hoje não entendi o que o fez aceitar a proposta do ordinário Case Farmer.
Mas agora eu devolveria a gentileza, tirando dele sua maior estrela. Estava no começo ainda, mas era sucesso absoluto. E admito: era perfeita. Era o tipo de pessoa ideal para a Cia Gallagher. Ainda não tinha tido a oportunidade de vê-la pessoalmente. Parecia um tanto arredia e avessa a badalações e exposição na mídia. Mas hoje, felizmente, com a ajuda da minha assessora Shannon, eu falaria com ela.
Eu vi de longe sua apresentação e tão logo terminou, ordenei que Shan fosse até ela e vim para o pequeno escritório. Eu me sentei, deixando minha mente voltar novamente no tempo. Eu era tão jovem, tão egocêntrico. Tudo poderia ter sido diferente.
– Droga.
Resmunguei e nesse momento a porta foi aberta e a loira escultural entrou, com expressão nada amigável. Shannon era linda e tenho a certeza que meu pai a contratou na esperança de vir a ser minha mulher. Gostamos imediatamente um do outro, mas apenas como amigos, nada mais.
– Fiz a proposta e a resposta dela foi um sonoro não.
– Já imaginávamos que ela diria isso. Todos que estão começando têm um pouco de medo da grandiosidade da nossa comitiva. Se eles cometerem um único erro, poderá ser fatal para a carreira deles. Entendo isso.
– Céus... mas ela chegou a ser grosseira.
Ignorei. Shannon sabia ser dramática quando queria. Enchi um copo com uísque e fui até a janela, observando os vários peões que caminhavam pelo campo. A tática era sempre a mesma. Shannon fazia a proposta, deixando os peões com o ego inflado por serem chamados pela Gallagher, e depois eu dava a cartada final, oferecendo muito mais do que as outras companhias ofereciam.
– O que me interessa é: ela virá?
Uma batida na porta e Shannon bufou.
– Está ai sua resposta.
Eu ainda não tinha me virado quando ela abriu a porta e eu ouvi a voz suave, mas irritada.
– Diga logo o que tem a dizer. Tenho mais o que fazer.
Fiquei um instante estático. Ninguém nunca ousou falar assim comigo. Eu girei o corpo, vendo que ela estava de costas, observando a decoração na parede. Era baixa, provavelmente um metro e sessenta, corpo bem feito... traseiro empinado. Usava uma calça jeans justa, botas e camisa xadrez azul. O chapéu preto ocultava seus cabelos. Um arrepio percorreu meu corpo e fiquei alerta. Eu sabia que aquele era um apelo s****l do meu corpo. Mas há anos eu não ficava assim por uma mulher. Eu precisava vê-la.
– Hum...
Pigarreei, mas ela não se virou.
– Quero ratificar a proposta feita por minha assessora, senhorita Barker.
– Não perca seu tempo. Minha resposta é não.
– Por que não?
Perguntei entre incrédulo e irritado.
– Porque não tenho cacife para estar na sua comitiva.
Eu quase ri. Estava jogando? Ela sabia que era uma das melhores. Poderia até dizer a melhor na atualidade.
– Não seja modesta. Você é a melhor do mundo. É perfeita pra minha comitiva.
Quase em câmera lenta, eu a vi erguer uma das mãos, se virar e retirar o chapéu. Os cabelos castanhos caíram em cascata até suas costas. Seus olhos cor de âmbar encararam os meus... frios, arrogantes, raivosos. Meu coração deu um salto e inspirei, fechando os olhos e sentindo minha cabeça girar. Era sonho? Delírio? Eu não conseguia acreditar.
Apertei o copo com força, quase o estilhaçando com as mãos. Minha respiração estava acelerada e eu não conseguia proferir uma só palavra. Ela deu dois passos e parou.
– Não foi isso que você me disse ha sete anos? Mas se você está com a memória tão curta... eu o lembrarei. Eu nunca teria cacife para estrelar sua comitiva. Eu não passava de uma oportunista que abri as pernas para você, entregando minha virgindade somente para conseguir entrar para a companhia.
As palavras estavam travadas em minha garganta. A cena de sete anos atrás passava em minha mente. Ela atordoada, humilhada, com o rosto banhado em lágrimas. Deus, como eu pude fazer isso?
– Bom... o que tenho a dizer, senhor Gallagher, é que não aceito trabalhar nessa comitiva. Aliás, não sou eu que não tenho cacife para trabalhar aqui. Você é que não tem competência para ter uma pessoa como eu trabalhando para você. Não passa de cowboy metido a b***a, que se acha melhor que todo mundo. Você pode ter tudo o que quiser Gallagher. Mas não terá a mim. Eu pertenço à Farmer... com muito orgulho. Portanto, pegue sua proposta e enfie no r**o. Eu não preciso de você... não mais.
Ela se virou e saiu, batendo a porta. Apenas ouvi o grito de Shannon e então percebi o sangue em minha mão. Eu tinha acabado de esmagar o pobre copo entre meus dedos.
Dani... a adolescente de apenas dezessete anos que eu fiz mulher, e logo após a acusei, chamando-a de interesseira. E como se não bastassem minhas palavras ferinas, eu desfilei a frente dela no dia seguinte com sua amiga, Dakota Pope.
– Jesus... o que foi isso?
Eu acordei do transe momentâneo e empurrei Shan, ignorando minha mão que sangrava e corri até a porta. Eu a vi se afastando e não pensei duas vezes.
– Dani espere...
Ela apertou o passo e eu corri até alcança-la, agarrando-a pelo braço e girando seu corpo para me olhar.
– Solte-me. Agora.
Ela vociferou, os olhos ardentes mostrando toda sua fúria. Ela estava linda. Mais linda do que eu me lembrava. E tudo o que eu queria era enfiar as mãos em seus cabelos sedosos e beija-la.
– Por favor... eu preciso falar com você. Eu te procurei tanto e...
–Pra que? Faltou me dizer mais alguma ofensa? Vagabunda e oportunista foi pouco? Ou veio dizer que consegui entrar na Farmer porque abri as pernas para os donos?
Obviamente não pensei isso. Mas de repente a hipótese de que ela pudesse estar com o Farmer me apavorou. Eu lembro que ele estava noivo e depois, do nada, a noiva o abandonou. Teriam voltado? Forcei minha mente, tentando me lembrar se vi algo relacionado a isso.
– Ora, seu e******o.
Ela disse revoltada e puxou o braço sujo de sangue. Nem percebi que a segurava com a mão que machuquei.
– Eu não pensei isso. Eu juro. Eu só preciso...
– Você não precisa nada, seu... mimado.
Ela se aproximou e por um segundo meu coração se alegrou. Seu cheiro ainda era o mesmo e me deixava atordoado.
– Escute aqui, Gallagher. Eu não quero nada que venha de você. Nada. Saia do meu caminho ou juro que atropelo você. Eu. Te. Odeio.
Ela pontuou cada palavra. E mesmo sentindo uma faca atravessando meu peito, eu a puxei pela cintura e beijei sua boca. Ela ficou parada, estática, mas eu não me importei. Meu corpo inteiro vibrava ao sentir seu gosto novamente. Empurrei minha língua para dentro de sua boca, que se abriu levemente e então...
Meu rosto ardeu. Ela arfava e me olhava ainda mais furiosa. Passou as costas da mão com força sobre a boca.
– Desgraçado. JÁ disse para ficar longe de mim. Longe.
E dizendo isso ela correu. Mas eu só conseguia sorrir feito um bobo. Eu a reencontrei. E não a deixaria escapar novamente.