CAPÍTULO 1
Evelin Brown
Positivo... positivo... positivo...
Eu estou grávida.
Esse é o resultado dos testes de farmácia que estão em minhas mãos. O baque foi tão grande que não aguentei e me sentei no vaso sanitário do banheiro da faculdade.
Completamente em choque, sinto o ar faltar em meus pulmões ao encarar o resultado dos testes.
Não fiz apenas um teste, fiz três, tentando me convencer de que algum deles estaria errado. Mas todos mostraram o mesmo resultado: Positivo.
Quando minha amiga Eduarda sugeriu que eu poderia estar grávida, jamais imaginei que fosse verdade. Afinal, faço uso de anticoncepcional e me recusava a acreditar. Mas agora, diante da confirmação, percebo que o destino me pregou uma peça. Há uma vida crescendo dentro de mim.
Eu vou ser mãe.
Como será que William vai reagir quando eu contar que vamos ter um filho?
Será que ele vai pensar que eu fiz isso de propósito? Que manipulei a situação para que ele ficasse comigo?
William é meu professor na universidade. Eu o conheci há dois anos, quando ele chegou para dar aula. Desde o primeiro dia, fiquei fascinada por ele. Com os seus braços fortes e olhos intensos, ele arrancou suspiros de quase toda a sala. Quase todas as meninas eram loucas por ele.
Inclusive eu.
Naquela época, mesmo ainda sendo virgem, fantasiava sobre sentir aqueles braços me envolvendo.
Tudo começou alguns meses depois que ele começou a lecionar, quando me ofereceu aulas particulares para ajudar com a sua matéria.
Com o passar dos dias, nos aproximamos, e surgiu um clima entre nós. Ele hesitou, preocupado com sua carreira e as consequências de um envolvimento. Mas eu não me importei. Insisti... e acabamos nos envolvendo.
Nossos encontros se tornaram cada vez mais intensos. Tanto que foi com ele que perdi minha virgindade.
O que começou como algo casual acabou se tornando especial para mim. Pelo menos, era especial para mim naquele momento.
Eu me apaixonei completamente, mesmo sabendo que ele nunca prometeu nada além de encontros em seu apartamento e algumas noites intensas.
Mas agora, com um filho a caminho, me pergunto: como ficará nossa relação?
Um filho.
A ideia me invade novamente, me deixando em choque. Meu coração dispara, mas tento controlar a ansiedade respirando fundo.
Sei que tudo o que estou sentindo agora pode afetar o bebê, então preciso me acalmar.
Levanto-me do vaso sanitário onde estava sentada, com a cabeça cheia de pensamentos confusos.
Talvez eu tenha confiado demais no anticoncepcional. Deveria ter tomado mais precauções. Agora, estou prestes a me formar, mas também terei um filho para criar.
Ainda aflita, decido que preciso conversar com alguém.
Olho minha lista de contatos e penso em ligar para minha grande amiga Megan, mas sei que ela deve estar ocupada cuidando dos filhos. Katherine provavelmente também estará atarefada.
O número do meu irmão do coração, Lucas, e de seu companheiro, Bryan, passo direto. Eles surtariam e provavelmente quereriam matar William.
Quanto ao meu amigo Thomas, ele está com o coração despedaçado por não assumir a mulher que ama.
Droga!
Para quem eu ligo? — pensei, sentindo a angústia me consumir.
Vejo o número da minha amiga Eduarda. Ela é o amor da vida do Thomas, mas ele ainda não percebeu isso. Decido discar para tentar falar com ela, mas não consigo. Imagino que ela esteja no ônibus a caminho da boate e não possa atender.
Sem muitas opções, disco o número do Chris. Para minha surpresa, ele atende no primeiro toque.
>> LIGAÇÃO ON
— Oi, Eve. Está tudo bem? — ele pergunta, preocupado.
Fungo antes de responder:
— Chris, eu estou com um problema.
— Qual? — ele pergunta rapidamente, sua voz carregada de apreensão.
— Eu fiz uma grande besteira e não sei como sair dela — desabafo, sentindo as lágrimas prestes a escorrer novamente.
— Eve, onde você está? — ele pergunta, agora aflito.
— Estou na faculdade — respondo, tentando conter o choro.
— Eu vou aí buscar você. — ele decide de imediato.
— Chris, eu só quero desabafar... — digo, minha voz impregnada de tristeza.
— Você vai desabafar, mas será no meu carro, enquanto eu levo você para esfriar a cabeça. Pela sua voz, percebo que está aflita demais. Daqui a pouco estou aí.
>> LIGAÇÃO OFF
Chris nem me dá tempo de responder; simplesmente encerra a ligação.
Volto a chorar, escondida no banheiro feminino. A sensação de estar tão perdida me consome. Quando meu celular toca novamente, penso que pode ser Chris mudando de ideia. No entanto, vejo o número de Lucas na tela.
Lucas é como um irmão para mim. Nós dois fomos criados juntos em um orfanato, e ele sempre foi minha fortaleza.
Respiro fundo antes de atender, sabendo que, se não o fizer, ele vai perceber que algo está errado. Eu nunca recuso uma ligação dele, faça sol ou chuva.
>> LIGAÇÃO ON
— Demorou para atender, Eve. O que está acontecendo? — perguntou, preocupado.
— Oi, Lu. Eu estava em aula — tento responder com uma voz calma e tranquila.
— Humm... não parece pelo timbre da sua voz. Tem certeza de que está bem? — ele insiste.
Solto um suspiro.
— Eu estou bem, mas infelizmente peguei uma gripe.
— Não deveria ter ido à faculdade assim, Eve. Estou indo agora buscar você.
— Não! — quase grito no telefone.
— Ei! Quer me deixar surdo? — ele questiona.
Suspiro novamente.
— Não, mas eu realmente estou ocupada. Preciso levar alguns documentos na direção da faculdade e entregar trabalhos agora.
— Você sempre tão esforçada, Eve, mesmo quando está doente. — ele diz, e consegue arrancar de mim uma risada fraca.
— Você sabe que eu gosto de manter minhas matérias em ordem. — Respondo com sinceridade.
— Tenho muito orgulho de você, irmã, mas ainda acho que deveria se cuidar mais. — ele diz com carinho, mas um toque de repreensão.
— E eu de você. Agora me conta, como está seu império? — pergunto, tentando aliviar o clima.
— Está indo tudo bem, mas você deveria estar aqui comigo, e não com o Thomas — percebo a frustração em sua voz.
Solto uma risada verdadeira.
— Você sabe que não gosto de viver em escritórios.
— Eu sei, mas não entendo por que faz uma faculdade voltada para isso.
— Quem sabe, um dia, eu não mude? — provoquei.
— Agora que está quase se formando? — ele retruca.
Dou um sorriso.
— Tudo bem, você venceu. Mas talvez eu imagine um futuro cuidando da boate do Thomas. Quem sabe como gerente.
— Ou como dona da sua própria boate, né, Eve? — ele sugere. — Irmã, sonhe grande. Sonhos pequenos dão o mesmo trabalho que os grandes para se realizar, então mire alto. Acredito no seu potencial e sei que um dia você vai conquistar tudo o que desejar.
Sorrio, lembrando das vezes em que, ainda crianças, Lucas falava sobre vencer na vida e ser alguém respeitado. Hoje, ele e Bryan são exatamente isso, fruto de muito esforço.
— Obrigada por acreditar em mim, irmão. — digo, com sinceridade, tocada por suas palavras.
— Sempre acreditarei em você — declara, convicto. — Mas eu liguei para contar algo.
— Hum, o que seria? — pergunto, curiosa.
— Bryan está planejando uma viagem ao Brasil — ele revela, me pegando de surpresa.
— Vocês vão viajar? — pergunto, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas ao imaginar meu irmão longe, justamente agora que mais preciso dele.
— Sim — responde, e percebo a alegria em sua voz. — Mas não será agora. Ainda assim, estava ansioso para contar a você.
Dou um sorriso fraco.
— Que notícia incrível, irmão! — digo, tentando segurar o choro, mas uma lágrima acaba escapando.
— Eve, você está bem? — ele pergunta, preocupado. — Se aquele maldito professor fez algo com você, eu vou... — o interrompi rapidamente.
— Calma, Lucas. É só a gripe, que está me deixando fungar. Estou feliz por vocês. Mas me conta, por que querem ir ao Brasil?
— Bryan sempre quis conhecer o país. Dizem que tem lugares incríveis para visitar. Queremos descansar um pouco. Ah, e liguei para dizer que quero que você vá conosco.
Fico surpresa.
— Com vocês? — pergunto, incerta.
— Sim. Se quiser, posso até pedir ao Thomas para liberar você da boate por alguns dias, quando a viagem estiver mais próxima.
Dou um sorriso hesitante.
— Ainda estou fazendo provas e...
— Será quando suas aulas terminarem, Ewe. Por favor, venha com a gente — ele implora.
Instintivamente, levo a mão ao ventre, sem saber se poderei viajar com tudo o que está acontecendo em minha vida.
Solto um suspiro pesado.
— Vou pensar, mas depois conversamos, irmão. Agora preciso voltar para a aula.
— Tudo bem. Mas à noite vamos à sua casa para convencer você. Lembre-se: a viagem será daqui a alguns meses. Você terá tempo para se organizar — ele diz, e ouço sua risada calorosa do outro lado da linha.
— Okay.
>> LIGAÇÃO OFF
Assim que encerrei a ligação, chorei mais um pouco antes de sair do banheiro.
Pensei em voltar para a sala, mas a dor de cabeça era insuportável. Decidi ir para casa. Contudo, antes precisava passar na direção para entregar algumas documentações, já que o bimestre estava chegando ao fim.
Caminhei em passos rápidos até a direção. Ao chegar, fui surpreendida ao ver William na sala, conversando com o reitor e outro representante da universidade. Pelo tom da conversa e pelas expressões sérias, o clima parecia tenso.
Continua...