CAPÍTULO 2

2532 Palavras
CAPÍTULO 2  Evellin Brown  — Senhorita Brown. — O diretor Franklin disse assim que me viu na porta. — Aconteceu algo? — perguntei, aflita, olhando para William por impulso, mesmo sabendo que não deveria. — Não finja que não sabe o que está acontecendo aqui. — William respondeu, irado. Meu coração acelerou ao perceber o olhar dele sobre mim. — Fique calmo, professor. — O diretor tentou apaziguá-lo. — Foi bom ter aparecido, mas acredito que, pelo seu olhar, você nem imagina o que está acontecendo aqui. Assenti, confusa com a situação. — Eu, me acalmar? Ela vai acabar com a minha vida e deve saber muito bem disso! — William quase gritou, seus olhos cravados em mim. — Eu não estou entendendo nada, William. — Falei, assustada, tentando compreender aquele olhar cheio de ódio. Eu nunca imaginei que o homem por quem me apaixonei perdidamente pudesse olhar para mim dessa forma. Ele fechou as mãos em punhos, claramente lutando para controlar a ira que transbordava. — Você ainda não entendeu? — A voz dele saiu como um rosnado, e meu corpo inteiro tremeu de pavor. — Por quê... Você está assim? — Perguntei, gaguejando, ainda atordoada com o que estava acontecendo. Um sorriso frio surgiu em seus lábios, como se fosse um presságio de algo terrível. — Você sabe muito bem o porquê, não se faça de boba, garota estúpida! Balancei a cabeça, negando. — Não, eu não sei. — Respondi imediatamente. — MENTIRA! — Ele se exaltou, me fazendo recuar, passo a passo, assustada com a intensidade de suas palavras. Ele respirou profundamente e declarou, fixando seus olhos nos meus: — Agradeça se eu não transformar sua vida num inferno a partir de hoje. As lágrimas escorreram pelo meu rosto, quentes e descontroladas. Suas ameaças partiram meu coração em pedaços, e o pior era que eu realmente não sabia o que estava acontecendo. Olhei ao redor, buscando respostas nos rostos das outras pessoas presentes, mas o silêncio e os olhares fixos apenas intensificaram minha angústia. — Você não pode ameaçar uma aluna, professor. Peço que se acalme, ou será muito pior para o senhor. — Frank finalmente interveio, percebendo o meu desespero. — Você só diz isso porque já decidiu o que vai fazer! Estou ferrado, de vez! — William falou, frustrado. — O que está acontecendo, William? — Perguntei, tentando sair do choque. Ele deu um sorriso amargo, quase c***l. — Eu vou explicar: você acabou com a minha carreira, Evellin, ao enviar fotos para a direção denunciando o nosso envolvimento. Meus olhos se arregalaram, incrédulos. — Eu jamais faria isso! Nem sei de que fotos vocês estão falando! — Exclamei, aflita. — Senhorita Brown. — Franklin me chamou, sinalizando para que eu me aproximasse. Olhei para a mesa e vi as fotos. — Quem entregou isso a vocês? — Perguntei, tentando processar o que estava diante dos meus olhos. — Você, pare de fingir, Evellin! Eu sei que foi você. — William insistiu, me acusando. — Não! Eu não fiz isso! — Retruquei, quase desesperada. — Não acredito nas suas palavras mentirosas, Evellin. Eu me arrependo amargamente de ter me deixado envolver com você. Devia ter seguido a minha razão. Agora, vou pagar caro por ter sido levado pelo desejo. — Ele saiu da sala, furioso. Minhas pernas se moveram antes que minha mente pudesse decidir. Corri atrás dele pelo corredor, incapaz de deixá-lo ir sem tentar esclarecer tudo. — William, me espera. — Pedi, correndo atrás dele pelos corredores da faculdade. — Esperar? — Ele parou abruptamente no corredor e me encarou. — Eu fui mandado embora por sua causa. — O ódio em seu olhar me fez estremecer. — Eu sei que você acha que fui eu quem enviou aquelas fotos, mas não foi. Eu jamais faria isso com você! — Declarei, minha voz carregada de desespero. Ele riu, mas o som foi frio, carregado de sarcasmo. — Eu não acredito em você. Faça-me um favor agora: some da minha frente, da minha vida, Evellin. Acabou. O que nem deveria ter começado, terminou. Suas palavras cortaram meu coração como lâminas afiadas. — Não, nós podemos reverter isso. — Implorei, enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. — Não, Evellin. Acabou. William começou a se afastar, mas as palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse controlá-las: — William, você não pode me deixar. Ele parou e virou-se para mim, os olhos faiscando de raiva. — Por quê? Por que eu não posso? Quem vai me impedir? — Ele perguntou, sua voz carregada de ironia. — Você sabia desde o início que nunca teríamos um relacionamento. — Declarou friamente. Respirei fundo, buscando forças para enfrentar o momento. — Eu... — Suspirei, sentindo as palavras queimarem em minha garganta. — Eu... estou grávida. — Disse finalmente, com a voz trêmula. Ele arregalou os olhos, surpreso, mas sua reação foi um misto de descrença e raiva. — Você acha que eu sou i****a, garota? Inventando uma mentira dessas para me segurar? — Perguntou, revoltado. — Não, eu estou falando a verdade! — Respondi, sem conseguir conter as lágrimas. Ele balançou a cabeça em negação. — Nunca imaginei que você pudesse ser tão baixa a esse ponto, Evellin. Se antes eu já queria você longe, agora eu sinto nojo. Como você pode acabar com a minha carreira e, agora, dizer que está grávida de mim? — Suas palavras foram como uma adaga perfurando meu coração. — Eu estou, William. — Falei, minha voz carregada de dor, sentindo-me cada vez mais despedaçada. Ele riu novamente, cruelmente. — Então, se está grávida, vá procurar o pai dessa criança, porque, com certeza, não sou eu. Ah, talvez seja... do Chris, o barman da boate, certo? Me diga, quantas vezes você transou com ele enquanto estava comigo? — Eu nunca transei com ele! E você está me ofendendo, William! — Protestei, sentindo a acusação como um tapa na face. Ele sorriu ainda mais, um sorriso carregado de desprezo. — Não acredito em você. Fique longe de mim, porque você nunca significou nada para mim e nunca significaria. Ainda mais depois do que fez. E, se você estiver grávida, tenho pena dessa criança por ser gerada por uma insignificante como você. Quer saber? Faça um grande favor a todos: acabe com isso. Ninguém merece ser pai de um filho seu. Afinal, você nem sabe se amar, e nunca foi, nem de longe, uma das melhores mulheres que passaram pela minha cama, sua coitada. Ele se virou para sair, suas palavras ainda ecoando em meus ouvidos como um pesadelo sem fim. Uma onda de revolta cresceu dentro de mim, uma fúria que queimava por dentro. Como ele podia fazer isso comigo? Com o filho dele? Depois de todas as noites de amor que compartilhamos? E ainda me chamar de insignificante? — William, eu me entreguei a você! Perdi minha virgindade, te dei o meu mundo inteiro, para agora receber isso em troca? — Perguntei, incapaz de acreditar no que estava acontecendo, enquanto um mar de lágrimas escorria pelo meu rosto. Ele volta a olhar para mim, impaciente. — Você fez tudo isso porque quis. Eu nunca quis um relacionamento, e você sempre soube disso, então não se faça de pobre coitada, porque isso é algo que você definitivamente não é, Evellin. — Falou, irritado. — Eu ainda não acredito que, depois de tudo que tivemos, você vai me abandonar... grávida! — Não se abandona aquilo que não existe, Ewellin. E, mesmo que exista, não é meu! — Ele afirma, frio e categórico. — Entenda de uma vez: a partir desse momento, você morreu para mim. Acabou. Não me procure nunca mais. Acabou. — Repetiu a palavra “acabou” como se quisesse gravá-la em minha mente para sempre. Balancei a cabeça negativamente, sentindo meu peito apertar ainda mais. — Quer saber, William? Eu é que me arrependo de ter me entregado a você! — Aproximei-me e, em um impulso, dei um soco em seu peito, que permaneceu imóvel. — Fui uma burra, ingênua, de acreditar que algum dia poderia ser amada por você. Mas quer saber? Eu acordei. E não serei eu a morrer para você, mas sim você a morrer para mim. Ou melhor, para nós. — Declarei, sentindo meu coração sangrar em meio ao ódio e à mágoa. — Então morremos um para o outro. — Ele falou, dando de ombros, sem demonstrar o menor interesse pelo que eu acabara de dizer. Fiquei parada, observando as costas de William desaparecerem pelo corredor. Ele nem sequer olhou para trás, deixando claro que eu realmente não significava nada para ele. Desprezada... Abandonada... Rejeitada... E agora grávida! Eu deveria estar acostumada com essas palavras, já que cresci em um orfanato, desprezada pelos meus próprios pais desde o momento em que nasci. Desde cedo, a vida já me mostrava que eu parecia destinada a ser rejeitada por todos aqueles que eu ousava acreditar que poderiam me amar. Será que eu não sou digna de amor? Será que algum dia serei realmente amada por alguém? Por alguém além dos meus amigos próximos ou do meu irmão do coração? Agora, para piorar tudo, aqui estou eu: desprezada, humilhada e com um filho no ventre. Um filho que terei que criar sozinha, pois também foi rejeitado pelo pai. Em meio às lágrimas e ao gosto amargo da solidão, saí da faculdade sem rumo, andando pelas ruas como se estivesse à deriva. Sentia-me destruída e sem saber como me reerguer dessa vez. Mas, no fundo, eu sabia que precisava ser forte. Não por mim, mas por aquela vida que estava crescendo dentro de mim. Eu jamais poderia rejeitá-lo, como meus pais fizeram comigo ao nascer. Eu precisava ser forte. Mesmo que fosse apenas por ele. Deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto enquanto me sentia a pior pessoa do mundo. Mas, conforme elas secavam, percebia que precisava construir uma nova armadura para enfrentar a vida, como fiz tantas vezes antes. Eu era a Evellin que sempre ajudava todo mundo, mas, por dentro, era uma mulher que precisava desesperadamente de ajuda. No entanto, neste momento, eu sabia que só poderia contar comigo mesma. Mais uma vez, eu precisaria ser a minha própria salvação. — Evellin? — escuto alguém gritar meu nome ao longe, e, quando me viro, vejo Chris correndo em minha direção. Levanto-me do banco da praça, tentando controlar o choro e parecer normal. — Chris, eu... — Nem tenho tempo de terminar as palavras, pois sinto seus braços envolvendo meu corpo em um abraço apertado. — Calma, Eve. Você não está sozinha. Eu estou aqui com você. Sem dizer mais nada, me permito chorar em seus braços calorosos. Chris passa as mãos pelo meu cabelo enquanto eu molho completamente sua camisa branca com minhas lágrimas. Após alguns minutos, ele gentilmente me faz olhar em seus olhos. — Vamos sair daqui. Depois, você me conta o que aconteceu. Aceno com a cabeça, concordando silenciosamente. Chris me acomoda no banco do passageiro e logo entra no veículo. Ele dirige por cerca de dez minutos até o centro da cidade. Para minha surpresa, ele entra em um prédio imponente, com janelas que vão do chão ao teto, e estaciona no subsolo. Saindo do carro, ele estende a mão para me ajudar a descer. Seguimos até o elevador, onde ele aperta o botão da cobertura. Quando chegamos, adentramos um apartamento luxuoso, decorado com grandes janelas, luminárias suspensas, uma adega com balcão de mármore, além de um sofá amplo, uma enorme TV e quadros sofisticados nas paredes. Consigo perceber à distância que tudo ali é absurdamente caro. — Chris, de quem é este apartamento? — pergunto, surpresa. — É de um amigo. — Ele responde, pegando minha bolsa e colocando-a sobre o sofá. — Nossa, eu não sabia que você tinha amigos ricos. — Comento por impulso, lembrando que Chris nunca mencionou muito sobre sua vida fora da boate. Ele sorri de lado, mas apenas acena com a cabeça, confirmando. — Agora senta aqui e me conta o que aconteceu. — Ele sugere, mudando de assunto e desviando do tema sobre o dono do apartamento. Suspiro profundamente, tentando encontrar as palavras. — Eu... — Começo, mas as lágrimas retornam com força, interrompendo minha voz. — Ei, calma. Eu estou aqui com você. — Chris diz, envolvendo-me em outro abraço acolhedor. — Chris, eu fui rejeitada. — Confesso em meio aos soluços. — O William me acusou de coisas horríveis, disse que eu enviei fotos nossas para a universidade, mas eu não fiz nada disso! Ele suspira, mas vejo a ira em seus olhos, embora ele tente conter o impulso. — Evellin, aquele professor nunca foi bom para você. Ele nunca soube dar valor a uma mulher como você. — Diz, enquanto passa a mão pelo meu rosto, enxugando minhas lágrimas com delicadeza. — Eu sei... mas eu o amo. — Admito, sentindo meu coração doer ainda mais. — E agora, tudo ficou pior porque estou grávida. Chris me encara, surpreso. — Grávida? — Ele pergunta, como se quisesse ter certeza de que ouviu direito. Aceno com a cabeça, confirmando, enquanto outra lágrima escorre pelo meu rosto. — Sim. Eu fui rejeitada... grávida do William... grávida. — Falei com a voz embargada pelo choro. Chris me envolve novamente em um abraço apertado, e sua voz baixa ecoa em meu ouvido: — Não se sinta sozinha, Eve. Aquele homem é um i****a. Eu vou te ajudar. Você não vai enfrentar isso sozinha com essa criança. Suspiro profundamente, tentando absorver suas palavras de conforto. — Eu nem sei como vou contar isso ao meu irmão... O Lucas vai querer me matar. — Admito, com a voz carregada de preocupação. Chris balança a cabeça negativamente, um sorriso leve surgindo em seus lábios. — Conhecendo o Lucas, ele vai querer matar o William, não você. Respiro pesadamente, reconhecendo que ele tem razão. — Agora você vai tomar um banho e descansar. Não pode ficar nervosa, ainda mais agora que está esperando um filho. Aceno com a cabeça, concordando sem forças para argumentar. — Eu nem sei como vou cuidar dessa criança, Chris. Estou tão assustada... Ele sorri de lado, transmitindo uma calma que me faz sentir um pouco mais segura. — Você vai cuidar com todo o amor que tem dentro de você, Eve. Sempre foi uma mulher incrível. Esse bebê tem muita sorte de ter você como mãe. Suas palavras fazem mais lágrimas escorrerem pelo meu rosto, ainda marcadas pelas palavras cruéis que ouvi do pai do meu bebê. — Obrigada, Chris. Obrigada pela sua ajuda. Ele balança a cabeça e responde, seu olhar intenso fixo no meu: — Não precisa me agradecer, Eve. Amigos são para essas coisas. Fixo meu olhar no dele, cheio de gratidão, antes de me dirigir ao banheiro. Quando entro no banheiro luxuoso, tão alinhado com o restante do apartamento do misterioso amigo de Chris, me permito chorar mais uma vez. Não sei qual caminho seguir, nem como lidar com a ideia de criar uma criança sozinha. Tudo parece incerto, assustador e impossível. Mas, por enquanto, só consigo deixar as lágrimas fluírem, na esperança de que, ao menos por alguns minutos, aliviem a dor. Continua...
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