Capítulo 02

1481 Palavras
Bradock narrando Amanheceu na Cidade de Deus, e o calor já tava comendo solto antes das oito da manhã. Aqui não tem trégua, nem pro sol, nem pra gente. Sai da cama jogando o lençol pro lado e logo senti o peso do cordão de ouro no pescoço. Era como se ele fizesse parte de mim, assim como a Glock que nunca sai da cintura. Sou o Bradock, o dono dessa p***a, e cada canto desse morro sabe disso. Coloquei a bermuda preta e calcei o kenner, aquela marca registrada de quem vive aqui. No espelho, as tatuagens que cobrem meu corpo me encaravam como lembranças de cada guerra que enfrentei. Do pescoço ao peito, cada desenho tem uma história. Um pedaço da minha vida marcado na pele. Peguei o maço de cigarro em cima da mesa e enfiei no bolso, junto com o isqueiro. Quando saí na porta, já senti o cheiro de café misturado com fumaça. O som de vozes, samba tocando numa caixa de som velha e o latido dos cachorros enchiam o ar. A favela acorda mais rápido que o resto do mundo, porque aqui ninguém tem tempo pra esperar. — Bradock! — gritou um moleque lá de baixo, levantando a mão. Era o Zeca, o mais novo dos olheiros. — Fala, pivete! Tá ligado, né? Mantenha o radinho na cintura e os olhos abertos. — Tranquilo, chefe. Tá tudo sob controle. Desci pelo beco, cercado pelos sons e cheiros que fazem do morro um lugar único. Russo já tava me esperando na esquina, com o cigarro pendurado no canto da boca e o olhar sempre atento. — Bora descer, chefia? Bala já tá lá embaixo te esperando. — Bora. Hoje o dia vai ser longo. A Glock tava bem encaixada na cintura, mas a cada passo eu sentia o peso dela me lembrar do mundo onde vivo. No morro, não dá pra vacilar. O respeito aqui é tudo, e o respeito que tenho é p**o com sangue, suor e bala. Enquanto caminhava, as pessoas iam me cumprimentando. Cada aceno, cada sorriso, era mais uma prova de que aqui eu sou mais do que um bandido. Sou o cara que segura o tranco pra essa gente. — Fala, chefão! — gritou o Salim, do bar. — Chegou cedo hoje! Vai querer um café ou já tá na cerveja? — Café, p***a. Ainda nem acordei direito. Salim riu e me trouxe um copo de café forte. — E aí, tudo certo com as entregas? — perguntei, enquanto dava um gole. — Tá, sim. Os moleques passaram ontem à noite. Tá tudo sob controle. — Beleza. Se precisar de alguma coisa, só chama. Segui pela praça, onde a criançada jogava bola com uma pelota velha. O som dos gritos e risadas era música pra mim. Aqui, eu sei que faço a diferença. A dona Lurdes tava sentada na sombra, descascando uma laranja. — Deus te abençoe, Breno! — E a senhora também, dona Lurdes. Tá precisando de alguma coisa? — Não, meu filho. Só reza pra gente ter paz. Paz. Palavra pesada pra quem vive aqui. No morro, paz é uma ilusão, mas faço o que posso pra manter isso perto do meu povo. Chegando na boca, o clima mudou. Os olhares eram de respeito e cautela. Cada soldado sabia o que tava fazendo, e quem não sabia aprendia rápido. Russo se adiantou, falando com um dos caras no portão. — Tá tudo certo? — perguntei, olhando em volta. — Tá, sim, chefe. A carga chegou limpa, e o dinheiro tá contando. — Então mantém o esquema. Qualquer coisa errada, me avisa na hora. Não quero vacilo. Bala chegou correndo, com o fuzil cruzado no peito e um sorriso de quem sempre tá pronto pra ação. — Fala, chefe! Tá sabendo da fofoca? — Que p***a de fofoca, moleque? — Os PM tão rodando perto do asfalto, mas não subiram ainda. Parece que tão esperando alguma merda acontecer. — Então deixa eles esperando. Se subirem, a gente responde. Mas por enquanto, calma. Dei mais uma volta pelo morro, passando pelos becos e vielas que conheço de cor. Cada canto tem uma história minha, um pedaço do que construí. Passei na casa da Neuza, que tava sentada na varanda costurando. — Já rezou por mim hoje, tia Neuza? — Todo dia, Breno. Deus te proteja. — Valeu. Protege o povo também, que aqui tá todo mundo na luta. A caminhada foi longa, mas cada passo me lembrava do motivo de eu estar aqui. No morro, eu não sou só um líder. Sou um protetor, um juiz e, às vezes, o executor. Mas acima de tudo, sou alguém que luta pra manter isso tudo de pé. Quando voltei pra casa, o sol já tava alto e o calor só piorava. Sentei na varanda, acendi um cigarro e fiquei olhando o horizonte. A favela nunca para, e eu também não. Aqui, o tempo não é medido por relógios, mas por batalhas vencidas e perdidas. Sou o Breno, o Bradock. O rei dessa p***a toda. E enquanto eu tiver de pé, ninguém mexe com o que é meu. Estava fazendo minha correria do dia a dia, pelo celular, mas já ia descer pra boca. Estava resolvendo minhas tretas toda. Tinha mercadoria pra conferir, p**a pra dar atenção, arma pra trocar, bagulho aqui e disputado, todas querem a atenção do Bradock, isso é fato, e eu me divido em vários pra dar conta de tudo Tinha que ir pra boca resolver um negócio. Gosto quando posso resolver tudo de casa. Construí um palácio pra poder usufruir né… Mas como querer não é poder eu fui agitar pra poder descer - oi Bradock, você me deu um perdido ontem né… tá de bobeira, amor ?- vitória me chama no w******p e eu reviro os olhos Tô fazendo nada, vou dar uma aliviada antes de começar o dia né, custa nada, essa daí só quer me dar, e ganhar um troco as vezes. O negócio dela é espalhar para as amigas que eu como ela. Essas meninas fica maluca mesmo, só me ver que a b****a pisca, e eu aproveito a que tô afim, quando tô afim. Já que a que eu sempre quis não tá disponível e nunca me deu moral. Eu me contento com as da rua mesmo - vai pro qg em dois minutos - eu respondo ela e começo a me ajeitar Pego meus bagulho tudo, arma, celulares, carteira e vou pra garagem, pego minha moto e vou descendo o morro pro qg dos cria. Passo pela vitória no caminho mas não dou carona não. p**a nenhuma anda comigo. Eu como e vazo, não dou condição assim pra nenhuma andar do meu lado Estaciono a minha moto e vou entrando num dos quartos do qg e me sento na cama pequena que tinha ali e acendo o meu baseado - poxa Bradock, você passou por mim, custava me dar uma carona ? Maior sol cara- ela reclama e eu reviro os olhos - veio esvaziar meu saco ou deixar ele mais cheio ?- eu pergunto sem paciência e ela se cala - então abaixa e faz o teu trabalho - eu falo grosso e ela me obedece Ela se ajoelha na minha frente, abre a minha bermuda e quando ia começar o seu trabalho o meu rádio começa a tocar frenético - coe Bradock, maior k.o com a mel na praça, Maurício tá comendo ela na porrada mano- russo meu sub fala comigo e meu p*u murcha na hora Eu jogo a p**a longe, fecho minha bermuda me levanto com pressa e vou saindo nervoso do qg - ninguém encosta nela, não deixa ninguém botar a mão nela, eu tô indo - eu grito nervoso no rádio e vou descendo o morro sem enxergar nada, via tudo vermelho na minha frente Quando cheguei na praça e vi aquele alvoroço, ela com o menino, ele chorando, ela toda machucada, o meu peito disparou igual a minha arma, que sa ate mais alto de tão nervoso que eu fiquei Ta maluco, eu não sabia nem o que pensar, p***a e a Melissa mano, a minha Melissa, eu não ia deixar isso assim, como ele ousa tocar nela, c*****o. Tudo tem limite. Tudo. E o dele atingiu hoje o topo, o inegociável. Quando eu olhei pro Noah desesperado aquilo me cresceu um ódio tão grande… Ela não tem noção de tudo o que eu sou capaz de fazer por ela. É óbvio que eu não pensei duas vezes em cuidar dos dois, e levá-los pra onde eu sempre quis que ela estivesse, na minha casa. Eu estava possuído de tanto ódio que eu estava sentindo em ver o que ele fez com ela, ainda tentando peitar ela na minha frente ? A cena ficava repetindo várias vezes na minha mente e meu ódio só aumentava
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