Esse será o nosso segredo

1243 Palavras
Júlia estava muito impaciente para que finalmente chegasse ás 18:00 da tarde. Ela já havia deixado o relógio de bolso de seu avô - no qual pegou escondido- por cima da mesa, assim facilitaria a sua ansiedade. Ela não sabia nada sobre o tal Thomas, mas algo inexplicável que vinha de dentro da jovem ansiava por saber. Por mais que fosse contra ao comportamento da amiga, Soraia acabou aceitando participar daquela empreitada. As duas estavam bem acomodadas em uma das mesas da casa de chá, na área que ficava bem de frente para a fábrica do pai de Júlia. O ambiente era decorado com móveis clássicos que já adornaram os lugares mais requintados da Europa. Os lustres eram cravejados com as pedrarias mais finas, desde cristais até safiras. As cadeiras, com madeira maciça e estofados avelulados. Apenas a elite de Aventine frequentava aquele estabelecimento. – Ainda dá tempo de desistir dessa loucura.– disse Soraia, mais uma vez, na tentativa frustrada de convencer a amiga do contrário. – Eu já te disse que não vou fazer nada demais. – Claro que não. Apenas quer se encontrar com um homem sendo noiva de outro! – Francamente, Soraia. Você nunca teve curiosidades de conhecer uma pessoa? – De conhecer um rapaz já estando noiva? Não! Não sou maluca feito você.– Soraia bufou, contrariada.– Qual a razão para tanta curiosidade se não for interesse? – E se eu estiver mesmo interessada? Não vejo nenhum problema nisso, até mesmo porque não farei nada demais. Eu só tive a forte sensação de que já conhecia aquele homem, é inexplicável. Sabe quando você olha para alguém que nunca viu na vida, mas é como se já a conhecesse? – Não. Júlia revirou os olhos com a resposta da amiga. – E sinceramente? Você deveria ter ignorado essa sensação. Céus, Júlia, queres perder um partido como o filho do prefeito? – Soraia, você está se tornando repetitiva.– Em um movimento abrupto, após conferir mais uma vez o relógio de bolso do avô, Júlia ficou de pé. – Aonde pensa que está indo? – Já são seis da tarde.– disse Júlia, em seguida, caminhando até a saída da casa de chá. Não tinha como ser mais explicativa do que aquilo, ela estava mesmo determinada a se encontrar com aquele rapaz. Soraia temia o resultado da teimosia de sua amiga. – Júlia, espere!– Insistiu a moça. – Shhhh.– Júlia parou de repente, voltando-se para a outra com os olhos arregalados.– Me chame de Sofia.– Em seguida, voltou a caminhar. – Céus... Eu devo ter sido Pôncio Pilatos em outra vida.– Resmungou Soraia.– Se o teu pai nos flagra aqui, ele ficará tiririca. Júlia já estava bastante adiantada em seus passos para ouvir a amiga, ela já tinha avistado Tom do outro lado da rua. O rapaz andava distraído, pensativo. Ele deveria estar mais focado nos seus planos, mas a sua mente era um gatilho constante. Não deixava de pensar no encontro que teve com a tal Sofia, e não conseguia deixar de pensar no que fazer para vê-la de novo. Como a encontraria? Ninguém parecia saber dela e olha que ele já tinha perguntado a um número razoável de pessoas na fábrica. Tom estarreceu ao ver a jovem surgir na sua frente, do outro lado da rua, como se fosse mágica. Ele apertou os olhos para ver se era aquilo mesmo que estava enxergando. Mas era... Era Sofia, e ela acenava para ele. Logo atrás da Sofia tinha uma jovem que não parecia muito feliz com a vida. – Sofia?– Perguntou Tom, incrédulo. – Costumo vim nessa casa de chá sempre nesse horário.– Mentiu a jovem, voltando-se para o estabelecimento mencionado e apontando para ele. Agora, sim, tinha dado para Tom uma boa dica de onde ele poderia encontrá-la e ele percebeu. – Entendo... Achei curioso o fato de ninguém saber sobre você na fábrica. – O meu pai é um dos economistas da fábrica e eu sempre vinha para aprender contabilidade na prática, mas o meu pai me proibiu. Ele acha uma total perda de tempo que uma mulher trabalhe.– disse a garota parecendo cabisbaixa. A história da moça parecia fazer sentido, no entanto, o sexto sentido de Tom apontou que tinha algo mais. Deveria haver algum outro motivo para o pai da Sofia não querê-la por perto dali. Com certeza tinha a ver com os negócios sujos de Eugênio Santiago. – Eu acho uma verdadeira lástima a forma com que os homens pensam. Acredito que não vá demorar muito para algumas opiniões mudarem. Por exemplo, você... Vejo que você é uma moça que inspira determinação e sede de aprendizado. É o que anda muito em falta em nosso mercado de trabalho. Soraia não evitou revirar os olhos. Tudo o que Júlia não precisava era de alguém para incentivar as suas loucuras. A jovem esboçou um sorriso melodioso ao ouvir aquele comentário de Tom. Aquele sorriso dela fez o coração dele bater mais rápido. – De onde nos conhecemos, senhorita Sofia?– Os olhos de flerte de Tom não deixavam mais sombras de dúvidas.. – Eu estava prestes a perguntar-lhe o mesmo.– Júlia retribuiu o olhar dele. Soraia estava pálida de tanto horror. – Será que posso convidá-la para um sorvete? Júlia aquiesceu, confirmando. – Mas não pode comentar com ninguém da fábrica que estive aqui! O meu pai transformaria a minha vida em um inferno. – Não se preocupe, esse será o nosso segredo.– Tom esticou uma das mãos na direção da jovem. Ela fez o mesmo, segurando a mão dele. Os olhos de Soraia estavam prestes a pular de seu rosto e aquela sensação se agravou quando Tom levou a mão que segurava da moça na direção de seus lábios, pousando-os no dorso. Júlia rapidamente prendeu o ar ao sentir a maciez morna contra a sua pele. Um súbito desejo proibido passou por sua mente. Por que desejou sentir aquela mesma sensação em seus lábios? O que mais deixava Júlia assustada é que ela parecia conhecer o gosto da boca dele, assim como tinha certeza de que também o conhecia. Por mais que estivesse tendo os sentimentos de uma devassa, nada daquilo parecia errado na cabeça dela. – Amanhã, nesse mesmo horário, na sorveteria da vila de Aventine.– Sugeriu Júlia. – Combinado.– Tom soltou uma piscadela para a jovem, antes de se afastar. – Você ficou maluca?– Soraia agarrou os braços da amiga com as duas mãos, a sacolejando.– Por que está brincando com fogo desse jeito? – É mais forte do que eu.– disse Júlia, como se estivesse hipnotizada. – Você não pode estar falando sério. Francamente, Júlia. Sequer conheces o moço. Eu sei que há um certo coqueluche nisso de mulher moderna, mas aqui em Aventine não aceitam esse tipo de modernidade, se estás me entendendo. O teu pai acaba te deserdando... – Soraia, chega. Ninguém vai saber disso, menos ainda o meu pai.– Júlia afastou os braços da amiga de si.– É apenas um encontro, que m.al pode haver? – Você nem sabe quem é o rapaz. E se ele for perigoso? – Ah, por Deus. Olhou bem para o Thomas? Ele não tem a menor aparência de bandido. – Não se engane com as aparências. – O meu sexto sentido não falha, Soraia. Eu sei que o Thomas jamais me causaria nenhum m.al.
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