— É exatamente disso que precisamos, caras conhecidas para a Dinasty. Se chamarmos personalidades como Pamela Hastings, Austin Timberlake e Sasha Thompson, podemos promover ainda mais a nossa marca. Eu tenho certeza que o nosso retorno vai ser surpreendente.— Peter mordeu de leve a ponta na cadeira enquanto imaginava nas possibilidades.
Ele estava sentado do outro lado da mesa, de frente para o outro homem.
— Só precisamos nos certificar quanto aos gastos. Pagar um cachê para esses influenciadores digitais não será nada barato.— Sugeriu Edgar, um dos chefes do departamento financeiro.
— Se junte com os contadores e me traga todas as relações. Vamos conferir todas as informações de ordem econômica e fluxo de caixa. Se estiver dentro das nossas condições, podemos negociar um preço justo.— Peter ficou de pé, prestes a deixar a sala.
— Pode ser sincero, Peter. Quer apenas competir com a Eleanor, ou quer reviver o passado com a Sasha?
Ele apenas deu um sorriso sugestivo antes de dar de ombros e caminhar até a porta.
A sua saída foi impedida com a chegada da Molly, a outra chefe do departamento pessoal, acompanhada da Ellie.
A expressão dele mudou na hora ao se deparar com a garota em questão.
Era perceptível a inquietação perto dela. Ellie também nunca o suportou.
— Vim com a Molly para marcar a nossa conversa definitiva.
— A contabilidade vai me mandar uns relatórios dos fluxos de caixa para ver se a ideia do Peter vai funcionar.
— “ Se”? O “ se” é totalmente fora de questão. Eu não sou um imaturo despreparado que foi enfiado aqui dentro.
— Você é um imaturo despreparado que não sabe lidar com as diferenças. Vai passar o ano inteiro me soltando farpas?— Retrucou Ellie, cansada de ficar quieta.
Peter piscou os olhos, incrédulo.
— Como é?
— Eu não vou ficar calada só aguentando as suas agressões. Eu posso não ter a experiência prática que você tem, mas vou trabalhar o bastante para isso. Eu fui preparada pelo meu pai, ele não teria me delegado uma responsabilidade como essas se não confiasse na minha capacidade. E quer saber? Eu também confio na minha capacidade. E te digo mais ainda… Eu vou conseguir fazer a Dynasty golden thread expandir para novos horizontes.
Ele arqueou uma das sobrancelhas loiras.
— Novos horizontes?
A garota deu um sorrisinho insinuante.
— Consiga o que precisa, Peter. Você logo verá.
Caminhando alguns passos para a frente, Peter diminuiu a distância que separava os dois.
Se divertiu bastante ao perceber o desconforto dela com aquela aproximação.
— Não pense que vai conseguir ir muito longe com essa sua brincadeira, sabe-se lá o que está pensando. Levo o meu trabalho muito a sério, garota. Não vai ser uma menina que quer brincar de escritório que vai me fazer levar tudo a perder. Eu tenho uma década na sua frente, eu quem modernizei este lugar.
— Pode ter modernizado os sistemas, incluído melhores tecnologias. Mas ainda tem muita coisa que precisa mudar aqui.
— Eu vou atropelar você, Eleanor Lowell. Pode ficar certa disso.— Foram as últimas palavras dele, antes de deixar o ambiente.
Como só seria obrigada a lidar com ele no dia seguinte, Ellie se permitiu relaxar.
Ela foi resolver outras coisas em seu dia, até aproveitou para finalizar o seu trabalho na cafeteria do lado da empresa.
Bruno, seu melhor amigo latino, a fazia companhia enquanto degustava o segundo copo de chocolate quente.
— Pode admitir, ele é gostoso.
Ela piscou os olhos, confusa.
Desvencilhou os olhos da tela do notebook apenas para encará-lo questionadora.
— Peter Fernsby, claro. Existe outro gato bilionário de dois metros de altura, loiro, olhos azuis e que conhece todas as celebridades do país?
Ellie revirou os olhos, foi inevitável.
— Eu só consigo enxergar um homem insuportável que pensa que é o centro do universo. Peter Fernsby sempre foi assim.
— O que não anula todo o resto.
Dessa vez ela só respirou fundo.
— Onde quer chegar com isso, Bruno?
— Desde que você recebeu o testamento do seu pai não para de falar nele. Ainda mais agora, que vocês estão competindo pelo mesmo cargo.
— Cargo esse que eu estou empenhada em ganhar. E fique o senhor sabendo que eu só pronuncio o nome do Peter porque sempre soube que ele seria uma pedra no meu sapato.
Bruno apertou os olhos, desconfiando das palavras dele.
— Você sente atração por ele.
Dessa vez Ellie fechou a tela do computador portátil. Seria impossível continuar com qualquer trabalho durante aquela conversa estranha.
— Tem cachaça nesse chocolate quente? Porque não é possível que você fale um absurdo desses com o mínimo de sobriedade.
— Não é racional ter tanto ódio por alguém se não for desejo reprimido.
— Eu não gosto dele porque ele nunca gostou de mim, nem quando éramos mais jovens. E olhe que o Peter é 10 anos mais velho do que eu.
— No começo até podia ser implicância pela diferença de idade. Mas nada me tira da cabeça que isso é desejo reprimido.
Ellie fez uma careta.
— Eu tenho todos os motivos para ter algo contra ao Peter. Ele é arrogante, prepotente, e se acha superior a qualquer pessoa só por causa dos bilhões que tem na conta. E quer saber por que ele não gosta de mim? Porque eu sou a única pessoa que não puxa o saco dele.
— Ah, mas qualquer mulher com o mínimo de consciência adoraria “ puxar” o saco dele.— Bruno esboçou um sorriso insinuante.
Aquilo fez Ellie ter ânsia de vômito.
— Eu vou fingir que não escutei. Mas se quer saber, o nome “ Peter Fernsby” só vai me interessar enquanto eu tiver que tirá-lo do meu caminho. E pode parar com essa ideia absurda. Peter Fernsby seria o último homem da face da terra que eu poderia sentir atração.
— Nunca diga nunca.
— Digo e afirmo. Se um dia isso acontecer, pode me amarrar em uma camisa de força, porque eu fiquei louca.
…
Ellie conseguiu adiantar a maior parte do projeto que apresentaria no dia seguinte, quando fizessem a tão esperada reunião para conhecerem as estratégias de marketing das equipes. Bruno foi embora pouco tempo depois da pequena discussão que tiveram, o grande problema é que um temporal chegou após a partida dele.
Agora sim Ellie estava perdida.
Sem carona e sem nenhum carro de aplicativo aceitar a corrida, ela não tinha como se proteger da chuva, a cafeteria havia fechado.
A única opção era tentar tomar um ônibus.
Mas qual?
Ellie nunca andou de transporte público, ainda mais em uma cidade tão grande como Londres.
A medida que caminhava para o ponto de ônibus a chuva ficava mais forte, tanto que o salto alto do sapato chegou a derrapar na calçada. Ela desequilibrou e quase caiu.
Foi naquele instante que um carro escuro parou do lado dela. O coração da Ellie quase estourou da caixa torácica antes de ver que era o Peter.
— Entra no carro.
— Eu prefiro ir de ônibus.
— Você não sabe andar de ônibus, vai se perder, e não é como se estivesse no seu interiorzinho em Sunflowers do Sul para todos te conhecerem.
Claro, ele não perderia a oportunidade de lembrá-la que não passa de uma caipira desnorteada.
— Agradeço. Ainda assim, prefiro esperar.— ela fez menção de caminhar.
— Os ônibus estão atrasados, Eleanor. O próximo vai demorar no mínimo uma hora. Mas se ainda assim quiser esperar…
— Tudo bem.— ela se deu por vencida.
Não pegaria uma pneumonia por conta por conta de orgulho.
— Eu vou molhar o seu carro inteiro.— ela se encolheu, constrangida.
— Não tem problema.— Peter tirou o próprio casaco e o ofereceu.
Ellie estava com tanto frio que aceitou.
— Obrigada.
Ele não respondeu, deu partida com o carro.
Foram em silêncio durante toda a trajetória, Ellie se esforçou muito para ignorar o próprio desconforto.
Involuntariamente lembrou da conversa que teve com o Bruno no café.
A situação era tão ridícula que ela ficou morrendo de vergonha.
As janelas estavam tão embaçadas que ela não conseguiu ver quando chegou em casa.
Peter parou bem de frente para o casarão em que ela morava.
— Entregue.
— Obrigada pela carona.— Ela levou a mão na direção da porta para puxá-la.
Estava travada, Peter precisou cruzar o braço por cima dela para abrir.
Foi tudo muito rápido, sendo que mais uma vez ele ficou perto demais.
Algo diabólico no interior de Peter se divertiu ao ver Ellie enrijecer todo o corpo, nervosa com a aproximação.
De propósito, ele se prolongou um pouco naquela posição.
— Nos vemos amanhã na Dynasti para a apresentação dos projetos.
— Até amanhã.— ela praticamente saltou do carro.
Saiu tão rápido que levou o casaco do Peter consigo.
— É mesmo uma caipira desengonçada.— ele disse para si mesmo, antes de sair dali.
Do outro lado, Ellie resmungava sozinha enquanto abria a porta.
Assim que adentrou a sala de estar se deparou com Claire, que até então lia um livro muito bem acomodada no sofá.
— Era o carro de Peter Fernsby?— Perguntou Claire.
Claire era irmã de Ellie por parte apenas de mãe, mas as duas odiavam a expressão “ meia-irmã”.
Tinham apenas dois anos de diferença, já que assim que Ellie nasceu os seus pais se divorciaram.
Ainda assim, o pai de Ellie acompanhou todo o crescimento da filha e sempre a preparou para assumir o seu lugar algum dia.
Ellie não entendia o motivo da separação dos pais quando criança.
Depois que ficou mais velha, entendeu o que era traição e como a sua mãe trocou o seu pai por Roger Bridgerton, pai de sua irmã.
— Eu estava na chuva e ela se ofereceu para me trazer. Se tivesse ao menos algum ônibus passando na hora eu não tinha aceitado.
— Sei… Ônibus? Você não sabe andar de ônibus.
— Nenhum carro de aplicativo aceitou a corrida. Eu não sei o que acontece ultimamente.
— E magicamente Peter Fernsby apareceu para te salvar.
— Foi muito estranho. Acho que esse foi o máximo de gentileza que eu vi Peter Fernsby demonstrar. Bom, pelo menos para mim.
— E esse casaco cinza masculino? Pensei que você não gostasse da cor.— Claire mordeu os lábios, maliciosa.
O casaco…
Ela havia esquecido totalmente de devolver.
— Droga…
— Pelo visto vocês não se detestam tanto assim.
Ellie apenas lançou o bom e velho olhar fuzilante que as mais velhas destinavam as mais novas.
Em seguida, subiu para o seu quarto.
Colocou o casaco para secar e se espantou ao perceber que o cheiro de Peter estava impregnado no seu corpo.
Ela foi imediatamente tomar um banho quente.
A final de contas, o último que precisava era lembrar do Peter sempre que sentisse o próprio cheiro. Não estava nada disposta a ter pesadelos.