Anne corria pelas ruas de Florença com uma braçada de lírios brancos nas mãos, a respiração ofegante, o coração batendo acelerado contra o peito. A luz suave da manhã ainda iluminava a cidade, mas o relógio corria contra ela. Estava atrasada para o fim da missa na Catedral de Santa Maria del Fiore. Seu pai, Boris, estava muito doente, com uma febre tão forte que o fazia suar frio, e ele estava pálido, amarelado, com fortes dores no estômago e no abdômen. Os sintomas eram claros e terríveis — câncer no estômago, ela sabia. Não havia dúvidas.
Mesmo com três empregos, Anne não conseguia manter o suficiente para alimentar a si mesma e a seu pai. Ela m*l conseguia ganhar o necessário para o básico, e tudo o que queria era conseguir um pouco de pão e vinho para levar a Boris. Mas, de novo, o destino parecia c***l. Ela sabia que chegaria tarde à missa, mas fez questão de levar as cestas com os lírios brancos que vendia todas as manhãs na porta da igreja, tentando vender pelo menos um punhado de flores para garantir que, ao menos, o básico seria atendido.
Quando chegou à catedral, no entanto, tudo o que encontrou foram as pessoas saindo, as portas da igreja se fechando. A missa já havia terminado. Uma sensação amarga tomou conta de seu peito enquanto olhava para os fiéis indo embora, sem conseguir vender nada. Não havia mais como levar o pão e o vinho para seu pai.
Anne e seu pai eram ciganos nômades, e isso significava que nunca se fixavam em nenhum lugar. Eram como folhas ao vento, sempre se virando sozinhos, sem qualquer ajuda de caravanas ou grupos. Eles não pertenciam a nenhum lugar, a não ser ao vento, como dizia Boris, seu pai. Ele se considerava um rebelde, um cigano desgarrado, pois roubou a noiva de outro homem e fugiu com ela, cortando os laços com seu bando. Quando Anne nasceu, Boris se sentiu o homem mais feliz do mundo, mas sua felicidade durou pouco. A mãe de Anne morreu quando a menina tinha apenas cinco anos, deixando Boris sozinho com a filha, e ele jurou que nunca tomaria outra esposa, temendo que outra mulher não amasse sua filha como ele a amava.
Boris ensinou à menina todos os rituais ciganos, contando-lhe histórias sobre a princesa cigana que ele amara, a mulher com olhos cor de mel, que dançava como o vento, e como ele havia sido feliz com ela até que ela deu à luz a pequena princesa. A vida deles foi simples, mas Boris fez com que Anne se sentisse especial, a única coisa importante em sua vida.
Aos 23 anos, Anne deveria estar casada ou com sua própria família, mas com a vida nômade dos ciganos, ela nunca teve a chance de criar raízes, de ter uma profissão ou vínculos com a cidade. Era cigana, semi-analfabeta, e ninguém a contratava para qualquer trabalho. Tudo o que ela sabia fazer era vender flores e tentar dar o melhor a seu pai, que agora estava à beira da morte. Vida havia sido c***l com Anne, mais uma vez, e naquele dia ela não havia ganho nenhum centavo.
Sentada na porta da igreja, com as flores em mãos, Anne olhava a multidão que se dispersava, frustrada. Foi quando ele apareceu. O homem alto e imponente que caminhava pela rua com uma confiança inegável. Sua presença era marcante. As pessoas se afastavam dele, falando baixinho, como se o simples ato de passar por ele fosse um sinal de algo poderoso. Quando ele chegou perto de Anne, olhou para ela brevemente, sem sequer lhe dar um olhar significativo, e falou de maneira autoritária:
— Arman, compra tutti i gigli della ragazza È pelle e ossa, ha bisogno di mangiare — Arman compre todas as flores da moça, ela está pele e osso precisa comer — disse ele, com um sotaque italiano carregado, quase imperceptível para os outros, mas claro o suficiente para ela entender.
Anne olhou para ele, surpresa. Mas antes que pudesse reagir, outro homem se aproximou, sorrindo com uma simpatia forçada. Ele parecia interessado nas flores de Anne e perguntou, gentilmente:
— Quanto são as flores, querida?
Anne, ainda meio atordoada pela situação, respondeu com a voz suave e hesitante:
— Um euro por ramalhete.
O homem olhou para ela e, com um movimento rápido, tirou duas notas de 100 euros de seu bolso e as colocou em sua mão. Anne m*l podia acreditar no que estava acontecendo. Ela olhou para o dinheiro e depois para o homem, perplexa.
— 200 euros? — ela murmurou, sem acreditar. O homem sorriu, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— 200 euros é mais do que você ganharia em três semanas. Agora, vá até a outra praça, o mais rápido possível. Distribua essas flores para as mulheres, e diga que são um presente de Pietro Medici. Depois, corra daqui. As coisas não vão ficar boas.
Anne, ainda em choque, pegou o dinheiro e as flores e se levantou rapidamente. Correu até a praça indicada, distribuindo as flores com a mensagem que o homem lhe deu, mas, quando terminou, algo lhe fez parar. O som de gritos e correria preencheu o ar, e, de repente, Anne viu os homens de Pietro Medici arrancando um homem da catedral à força. As pessoas na praça começaram a correr, gritando em pânico. E então, Pietro Medici, o homem com o olhar implacável e a presença dominante, se aproximou do homem que estava sendo arrastado, sem expressão alguma em seu rosto.
Pietro, com um movimento quase de filmes de ação, tirou sua pistola branca das costas e deu um tiro no meio dos olhos do homem, eliminou o homem ali mesmo, no meio da praça pública, diante dos olhos horrorizados de todos. O corpo do homem caiu no chão com um som abafado. A visão foi rápida e brutal. Anne se afastou, o medo dominando seu corpo enquanto ela observava a cena que parecia irreversível. Ela nunca imaginou que um dia veria algo assim, algo tão impessoal, tão sem remorso.
Seu coração disparou, e ela sentiu o pânico a envolver. Ela sabia que Pietro Medici era alguém poderoso, alguém de influência, mas jamais imaginara ser testemunha de uma execução pública, em plena praça de Florença. O que ela sentiu foi um misto de medo e fascínio. Algo dentro dela a dizia que sua vida nunca mais seria a mesma após aquele dia, e que ela, de alguma forma, agora fazia parte de uma história muito maior do que imaginava.