Capítulo 3

1503 Palavras
A praça estava silenciosa agora, como se nada tivesse acontecido. O corpo do homem, que segundos antes havia sido derrubado pela brutalidade de Pietro Medici, já não estava mais ali. As pessoas que haviam corrido em pânico voltaram lentamente para suas rotinas, como se o que ocorreu tivesse sido uma simples ilusão. Não havia mais agitação, não havia mais gritos ou correria. A vida, em Florença, parecia continuar seu curso inabalável, como se o poder de Pietro fosse algo tão natural quanto o vento que soprava pelas ruas estreitas da cidade. Pietro ficou de pé por um momento, observando a praça se acalmar. Não houve comemoração, nem alarde. Ele não precisaria disso. O homem que ele havia eliminado – um rival do mundo do crime organizado, que tentava usurpar seu território na Toscana – não merecia mais do que isso: um fim rápido e impessoal. Pietro Medici não era um homem de exibições, mas seu gesto havia sido claro, explícito. Não só para Florença, mas para toda a Itália: ele era o capo, o único rei, o homem que dominava o submundo das drogas, do tráfico, da violência e do poder. Os cidadãos que passavam pela praça não se atreveram a olhá-lo diretamente. Eles sabiam o que Pietro representava. Sabiam que ele não fazia ameaças vazias. Seu controle sobre a cidade era absoluto, seu poder inquestionável. E, de alguma forma, isso os fazia temê-lo e respeitá-lo ao mesmo tempo. Eles sabiam que, sob a superfície tranquila da cidade, havia um império em construção, um império imbatível, e que Pietro Medici estava em seu centro. Minutos depois de eliminar o homem, a vida na praça voltou ao normal. As pessoas que haviam presenciado a execução retornaram aos seus afazeres, tentando fingir que nada havia acontecido. Era como se o medo e a admiração fossem agora parte do ar que respiravam. Mas isso era o que Pietro queria. Ele não precisava de gritos ou aplaudos. Seu reinado não dependia de shows ou demonstrações públicas. Ele já havia deixado claro o que precisava ser dito, e ninguém ousaria questioná-lo. Não naquele momento, e talvez nunca mais. Pietro se virou para Arman, seu braço direito, que observava a cena com a frieza de sempre. Arman não expressava emoções com facilidade, mas havia algo em seu olhar que indicava aprovação. Eles não precisavam falar muito um com o outro. Ambos sabiam o que significava aquela manhã. Era um marco. Um aviso. Para os rivais, para os aliados, e até para os que ainda estavam tentando encontrar seu lugar no jogo sujo do crime organizado. — È finita, qual o próximo assunto do dia? — Pietro murmurou, quase para si mesmo. — Temos um encontro com Armand Piaci, na sua boate senhor, porém e só a noite, o homem está ansioso para vê-lo Pietro abre um sorriso. — Que sorte ele tem… Eu também quero vê-lo… Ou talvez ele não tenha tanta sorte assim. — Senhor, o senhor não pode matar todos seus desagradou de uma vez. — Meu caro Arman, quando cobras visitam o ninho dos passarinhos comem todos os ovos. Sem pensar duas vezes, você acha que as cobras estão aqui, na minha casa para me visitar ou comer os ovos que estão no ninho? — Pela sua lógica, comer os ovos senhor. — Porém, só tem um probleminha, as cobras estão entrando no território do animal errado, os tubarões não tem ninho. * * * Anne corria pelas ruas de Florença com o coração acelerado e os pés doloridos, os olhos fixos no caminho à frente. A visão de Pietro Medici eliminando seu rival ainda martelava sua mente, mas ela tentava afastar aquele pensamento, como se, de algum modo, a velocidade de seus passos fosse capaz de apagar a cena da sua memória. A cidade parecia tão normal, tão alheia ao caos que ela acabara de testemunhar. As pessoas ao redor continuavam suas rotinas, sem saber o que acontecia nas sombras de suas vidas. Anne, porém, sentia o peso do mundo nas suas costas. Ela desceu até a Ponte Velha, cruzando a água com uma urgência silenciosa, até que chegou perto de onde ela e seu pai estavam acampados. Antes de voltar para casa, fez uma parada no mercado. Com o pouco que havia conseguido naquela manhã, ela comprou o que podia: legumes frescos, carne, pão e queijo, frutas e aveia para o pai. Não sabia como as coisas estavam indo, mas se ao menos pudesse proporcionar uma refeição decente para ele, já se sentiria um pouco melhor. Seu pai precisava de ossos para a sopa e de uma mistura mais nutritiva para tentar fortalecer seu corpo cansado. Anne comprou um par de sapatos novos, pois os seus estavam tão desgastados que m*l a protegiam do frio. Com o pouco dinheiro que lhe restava, ela comprou também o remédio para aliviar as dores do pai. Mas ao fazer as contas, soube que o suficiente para o dia seguinte não era mais que um sonho distante. Ela queria parar, sentar e pensar sobre o que acontecera, mas não podia. Não tinha tempo para isso. Em sua mente, os olhos de Pietro, frios e impessoais, estavam sempre ali. Ele não parecia um homem que fosse capaz de mostrar qualquer tipo de misericórdia. A memória daquela cena ainda queimava sua alma, até porque o homem era lindo, porém um demônio, então ela a lembrança empurrou para o fundo de sua mente. Não podia fraquejar. Seu pai dependia dela. Respirou fundo e se dirigiu até seu trailer, onde o cheiro de comida quente e o som das conversas se misturavam à dureza do dia a dia dos habitantes. Chegou no trailer e encontrou seu pai sentado em um canto, ainda fraco, mas sorrindo ao vê-la. Ele m*l conseguia ficar de pé, mas o sorriso que ele lhe deu foi o único consolo que Anne precisava. Colocou as compras sobre a mesa e sentou-se ao lado dele, com o peito apertado pela dor das últimas horas. — O que aconteceu hoje? — Boris perguntou, sua voz rouca e cansada. Anne olhou para ele com carinho, tentando esconder a tristeza de sua própria alma. — Não se preocupe, pai — ela disse com um sorriso forçado. — Apenas mais um dia. Eu trouxe comida, e você vai se sentir melhor em breve. Vai ficar tudo bem. Boris a olhou com olhos cansados, e, por um momento, ela pôde ver a preocupação dele com ela. Anne se levantou, indo para o fogão, onde preparava a comida. Quando o prato estava pronto, ela o colocou na mesa diante dele e, com um gesto gentil, serviu a refeição. Em seguida, ela voltou para a rua, agora com os sapatos mais quentinhos, embora o frio de Florença não fosse facilmente apaziguado. Anne foi para o seu segundo bico, era ficar na porta de um restaurante movimentado, com os olhos baixos e a voz suave, chamando os fregueses para dentro. Mas, para sua frustração, os turistas que passavam não se importavam com ela. Eles a olhavam rapidamente, desviando o olhar, como se sua presença não fosse mais que uma distração. O peso da rejeição foi quase físico. Ela estava vestida com roupas velhas e gastas e até um pouco sujas e estava magra demais para quem trabalha em um restaurante. Os clientes não vinham e o dono do restaurante de maneira ríspida, mandou-a embora. — Vá embora, garota! — disse ele, com uma expressão impaciente. Anne recuou, sentindo as lágrimas ameaçarem seus olhos, mas lutando contra elas. Ela sabia que não podia chorar. Não agora. Não quando seu pai estava lá, esperando que ela trouxesse algo para ele. Foi até outra praça e tentou dançar em troca de moedas mas mais uma vez não deu certo. Triste e desanimada, Anne voltou para casa, onde tirou os sapatos e caiu na cama. O trailer estava frio, e ela sabia que, nos próximos dias, o inverno seria ainda mais implacável. Ela precisava de mais dinheiro para cobrir o combustível do aquecedor e o querosene para se aquecer. Mas, por mais que tentasse, a única coisa que parecia fazer era se afundar em uma realidade que não a poupava. Com o coração pesado, ela olhou pela janela do trailer para o céu. Estava claro, mas o inverno fazia com que a cidade parecesse distante, como se o frio a separasse de tudo o que ela mais desejava. Ela não sabia mais o que fazer, nem como poderia mudar seu destino. A vida parecia ter se tornado uma luta constante contra as adversidades. Fechando os olhos, ela murmurou baixinho, como se fosse um pedido para alguém que pudesse ouvi-la, talvez sua mãe, lá no céu ouvisse suas preces. — Santa Sara Kali, a padroeira dos ciganos... se você puder me ouvir, me dê uma chance. Uma única chance de sair dessa situação. Ela respirou fundo e, finalmente, caiu no sono. O silêncio tomou conta do trailer, mas a sensação de desesperança ainda estava ali, como uma sombra invisível, pairando sobre ela.
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