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1635 Palavras
Gabrielli Marcele ficou abalada quando expliquei o que significava os dois risquinhos, minha irmã é uma menina, isso não pode estar acontecendo! O meu teste também deu positivo, além de ter que carregar as lembranças do que fizeram conosco na mente, vamos ter que carregar os frutos da violência provocada contra nós. Irma comia o prato de sopa de carne esperando uma reação nossa que não veio. – Por que vocês não vêm comer? O Jorginho vai para o segundo prato, ficar assim não vai resolver nada. Marcele pegou o prato e se serviu com uma concha generosa de sopa, depois fiz o mesmo, estou com muita fome para raciocinar direito. Jorginho pediu mais sopa para Marcele que se levantou rápido para pegar. – Agora que estamos com nossas barrigas cheias, vamos conversar. Quem são os pais? São importantes e ricos, não é? Seus filhos são bastardos como eu, não é mesmo? Irma é uma bastarda, filha de um dos senhores das cinco famílias, mas nunca perguntei qual é. Sei que essa casa foi presente dele a mãe dela como também a casa que Irma vivi, mas com o tempo ele a abandonou, por isso Irma se tornou prostituta, sinto que não foi pelo dinheiro e sim pelo abandono. – O que isso importa, Irma? Temos que procurar um médico para nos ajudar com isso que aconteceu comigo e Marcele, você conhece um que faça o serviço? – Claro. Se quiser, ele pode até ligar suas trompas, assim não terá mais esse problema. É isso, vou pegar meu último colar de ouro e vender para conseguir o dinheiro dos abortos, vou ligar as minhas trompas e da minha irmã, assim não teremos mais problemas. Vou cuidar de tudo e seguir com meus planos de ser uma prostituta. – Eu quero, vou só vender o colar de ouro e conseguir o dinheiro. Você já fez? Dói? – Não, eu não posso ter filhos. Mas já teve algumas meninas lá do bordel que fizeram, é doloroso, mas logo passa, como tudo nessa vida. Marcele olhava para ela esperando que dissesse algo terrível, mas Irma não fala sobre as partes ruins, parece que sabe que não vai adiantar detalhar. – Não quero. Olhei Marcele como se não tivesse ouvido direito, como assim? Ela não quer? – Fadinha, você quer sim. Ainda é uma menina, e não entende que essa coisa que cresce em você é uma parte daquele maldito, é só um pedaço de carne que vamos tirar de você e tudo vai ficar bem, além disso iremos fazer a laqueadura também para não ter risco de isso acontecer de novo. Sou sua irmã mais velha, sei o que é melhor para nossa família, portanto você não tem de querer nessa questão. O sangue Gusmão vai continuar em Jorginho, não vou correr o risco de colocar uma criança nesse mundo para carregar o sobrenome do meu pai, já é um fardo complicado demais para meu irmão, não vou colocar outro inocente nessa situação. – Mas quero ficar com ele ou ela, podemos ter uma família grande como antes. O bebê não é um pedaço de carne, ele não será dele e sim meu, você entende, Gabrielli? Podemos fazer dar certo. – Dar certo? Mar, você está confusa, é isso. É uma informação muito complicada para absorver, mas estou aqui para cuidar de tudo. Irma, amanhã você me leva no comprador e depois no médico, assim marcamos logo essa cirurgia. Irma pareceu desconfortável, mas ela não é da família, portanto, não entende como essa decisão é importante, agora também vou parar de enrolação em relação a prostituição, saber sobre a gravidez foi ótimo, precisava desse choque de realidade. – Irma, também aproveite para me apresentar o judeu, quanto mais rápido me acostumar com a realidade melhor. – Gabrielli, tudo bem, mas é melhor pensar com calma, é uma decisão muito importante, não pode agir no impulso, sabe? Marcele se levantou pegando Jorginho e o levando para o quarto, ela está chateada, mas vai passar. – Já sei o que vou fazer e não vou pensar muito. Não queria tirar os bebês, mas é a melhor atitude nesse momento. Tudo que não temos é condição de manter três crianças pequenas, além disso operar será a melhor forma de não acontecer nunca mais, não podemos colocar seres inocentes no mundo para sofrer. Marcele – Jorginho, eu quero ficar com o bebê. Sei que a irmã tem razão, mas é uma chance para termos uma família de novo, se mamãe estivesse aqui Gabrielli não iria fazer isso, ela só está agindo assim porque pensa ser melhor para nós, mas não é. Se esse bebê for uma oportunidade de termos a família que precisamos? Fiquei abalada com a notícia, mas logo me recuperei quando percebi o que minha irmã planejava, a criança que cresce dentro de mim não é um Assis e sim minha, ele nunca vai colocar as mãos nele. – Mamãe Mar. – Não precisa se preocupar, Jorginho, vou dar um jeito. Estou chorando porque estou feliz, é uma chance mesmo que muito pequena de termos tudo que tomaram de nós. Gabrielli entrou no quarto se aproximando de mim e Jorginho, ela carrega uma responsabilidade muito grande cuidando de nós, mas ela não precisa decidir tudo sozinha. – Irmã, não precisa decidir tudo sozinha. Sei que não quer seu bebê, e entendo se quiser tirar, mas eu quero o meu filho. – Como pensa em cuidar desse bastardo? Suas joias já acabaram, as minhas estão acabando e como combinamos não vamos mexer nas joias da nossa mãe, é para a educação de Jorginho, além disso ainda é uma garota que não sabe nada da vida, você não cuidou de Jorginho quando era um bebê recém-nascido, eu sim, e digo que não vai aguentar uma noite acordada com um bebê chorando no seu ouvido. Gabrielli sempre cuidou de nós com mamãe, as missões deixavam papai longe de nós, sei que é muito pesado para ela também. – Gabrielli, as vezes você deveria chorar também, desde o dia que tudo aconteceu você não chorou, nem quando mamãe morreu. Sabe, é muito para você também, sofreu uma violência terrível como eu e Jorginho, mas parece que não quer ter tempo para sofrer. Sou uma garota ainda, sei disso, mas estou aqui, vamos dividir esse sofrimento juntas, não se feche dentro de si mesma. – Tenho que ser forte por vocês, chorar não vai mudar o fato que fomos estupradas, não vai trazer mamãe de volta e nem mesmo nos fazer entender por que papai nos abandonou a própria sorte. Não quero ser fraca, não posso chorar, preciso cuidar de Jorginho e você. Sei que chorar não muda o fato de todas as atrocidades que fizeram conosco, mas sinto alívio quando fico aqui nesse quarto sozinha ou no banheiro para chorar. Penso muito no que ele fez comigo, conhecia Gregório desde menina, ele dançou comigo na minha festa de quinze anos, foi gentil e até me elogiou. Mas penso que ele me odiava desde sempre, a forma como me violentou, urinou em mim e cuspiu só mostra como me odeia. Tenho pesadelos horríveis, choro todas as noites, mas sinto que com o tempo vai passar e se não passar é porque faz parte de mim, e terei que aprender a conviver com isso. – Gabi, me lembrei do que mamãe nos disse antes de morrer: o que houve não nos define, podemos cuidar desses bebês, dar uma chance a eles, ter nossa família maior como mamãe sempre quis. Eles não são Assis, são bastardos, não terão direito a nada, no entanto, serão nossos e de mais ninguém. Você não precisa ficar sozinha nessa jornada, estou aqui e Jorginho também, por favor reconsidere. – A vida não é um conto de fadas, Marcele, onde tudo dará certo. Com as crianças ficará mais difícil, duas bocas a mais para alimentar. Vou começar a me prostituir e com uma barriga enorme e todas as mudanças corporais que uma gravidez traz será complicado conseguir clientes. Gabrielli desistiu dela mesma, está deixando o que Hugo fez com ela a definir, percebo como parece aceitar bem a vida r**m que a traição do nosso pai trouxe. – Pode ser difícil, a vida não é um conto de fadas e sempre soube disso. Você me subestima, Gabrielli, sou muito mais do que você imagina. Faremos assim: ficamos com os bebês, e depois de nascerem vamos juntas virar prostitutas, não precisa e não vai carregar essa família sozinha. Mas caso insista em tirar nossos filhos, vou entender que deixou aqueles homens decidirem nossas vidas, o que eles fizeram não vai definir quem somos. Vejo nos seus olhos que quer o seu bebê também, do que você tem medo? – Eu tenho medo deles, podem vir aqui, machucar nossos filhos, e vocês também. Nosso pai traiu um Assis, eles não vão esquecer facilmente de nós como queremos. E você tem razão, não quero tirar o meu bebê, só que estou com medo, cansada e me sinto uma inútil por não poder dar a vocês o que precisam, entende? Pela primeira vez em meses vejo Gabrielli chorar, Jorginho foi até ela estendendo seus braços como faz comigo, a chamando de mamãe. O medo sempre vai estar aqui, mas estamos vivas e juntas, pode ser que um dia eles venham, mas não penso nisso, mamãe dizia que pensar demais em algo r**m pode atrair. – Entendo. Mas esse fardo não precisa ser só seu para carregar, vamos conseguir, você vai ver. De alguma forma vi a esperança de volta no olhar de Gabrielli, sinto que consegui convencê-la de que o melhor é ficarmos com os bebês. Vamos encontrar uma solução para conseguir o nosso sustento, pode ser difícil no começo, mas vamos fazer o nosso melhor.
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