Sierra
Abro os meus olhos, tentando me acostumar com a pouca claridade do ambiente.
O cheiro de mofo e fezes fazem o meu estômago embrulhar e eu preciso me esforçar para não vomitar.
Tento mover os meus braços dormentes, mas descubro que eles estão presos a uma pilastra.
..._ Olha só, aquela ali parece ter acordado.
Sierra_ Uma voz de mulher chama a minha atenção.
..._ Você está bem, garota?
Outra voz me pergunta.
Ainda zonza, tento localizar de onde vem aquelas vozes até que as vejo no meu canto esquerdo.
Na verdade, vejo várias mulheres, todas presas como eu, mas elas não.
As duas estão soltas.
Sierra_ Onde estou?
Pergunto com a voz rouca, minha garganta está seca, como se há muito tempo eu não bebesse água.
..._ Você está em um porão de um navio no meio do mar.
A primeira voz diz aparecendo em meu campo de visão.
..._ Eu sou Karen e essa é a Mirna.
Ela se apresenta, me olhando com pena.
Mirna_ Veja Karen, ela é só uma menina, tão jovem, coitadinha.
Sierra_ Por que estou presa aqui?
Mirna_ Você não sabe como veio parar nesse porão?
Sierra_ A última coisa de que me lembro é de estar a caminho da rodoviária da minha cidade para ir até Nova York visitar algumas faculdades quando alguém me puxou pelo pescoço e colocou alguma coisa no meu nariz e eu desmaiei.
Karen_ Isso foi que dia?
Sierra _ Hoje, segunda-feira, por quê?
Mirna_ Querida, hoje é quarta-feira.
Sierra_ O quê? A meu Deus, a minha mãe deve estar morrendo de preocupação comigo, eu devia estar no convento na segunda à tarde.
Karen_ Devia estar mais preocupada com o seu destino do que com a preocupação da sua mãe.
Mirna_ Você disse que morava em um convento?
Sierra _ Sim, um convento convertido em orfanato.
Karen _ Pobrezinha, temos uma freirinha aqui.
Mirna _ Qual o seu nome?
Sierra_ Sierra.
Eu digo já sentindo o desespero me abater.
Mirna_ Sierra nós estamos indo para a Calábria, na Itália.
Sierra_ Itália!!
Eu falo um pouco alto, já sentindo as lágrimas caírem pelo rosto.
Karen_ Psiu! Fale baixo, não vai querer que eles descubram que você está acordada. De tempos em tempos, eles vêm aqui e aplicam soníferos em todas as garotas.
Sierra_ por que estou aqui? O que eles querem de mim?
As duas soltam uma risada, mas ao ver meu estado de pânico e desespero, param na mesma hora.
Karen_ Uma virgem como você vale milhões no mercado do sexo, magnatas milionários pagam caro por escravas sexuais.
Mirna_ Existem até leilões exclusivos onde quem paga mais leva a garota.
Karen_ E com a sua beleza e esse rostinho inocente, você é uma mercadoria valiosa para eles.
Sierra_ Eu... Só quero ir para casa, não quero nada disso.
Falo entre lágrimas, sentindo o peso da realidade cair de vez sobre mim, fui sequestrada por mafiosos para ser traficada como uma prostituta ou escrava s****l, sei lá.
Karen_ Sinto muito, Sierra eu gostaria de poder fazer alguma coisa, mas...
Mirna_ Caladas!
A Mirna diz apressada, apontando para cima, onde passos soam pelo ladrilho.
Mirna_ Eles estão vindo! Finja que está dormindo, garota e não abra os olhos por nada, entendeu?
Com o coração disparado e o medo viajando por minhas veias, faço o que ela pede.
Logo a porta se abre e alguém entra.
..._ Ei, você, alguma delas acordou?
Escuto uma voz grossa perguntar.
Karen_ Não, senhor, todas continuam apagadas.
A Karen responde e, bem nessa hora, alguém começa a gritar.
..._ Socorro! Eu quero a minha mãe! Me tirem daqui!
Parece que outra garota acordou justo no momento em que o homem chegou.
..._ Cale a boca, sua p**a!
O homem diz com raiva.
..._ Odeio as escandalosas.
Um segundo homem fala friamente, sem se importar com o quanto a garota está sofrendo.
..._ Socorrooo!! Socorrooo! Alguém me tira daqui!
..._ Talvez déssemos levá-la lá para cima e dar a ela um bom motivo para gritar.
Abro os olhos só um pouquinho e vejo a Mirna e a Karen encolhidas em um canto enquanto um dos homens desamarra a garota e lhe dá uma forte bofetada no rosto.
..._ Cale a boca, sua v***a, não tenho paciência para estérias.
O homem moreno diz irritado.
Logo o outro cara aparece em meu campo de visão, sua pele é mais clara e ele tem uma enorme barba, mas quando sorri maliciosamente olhando a garota agora imobilizada pelo seu companheiro, posso ver que lhe faltam alguns dentes.
..._ Vamos levá-la lá para cima e fazer uma festinha com os outros, a viagem é longa e precisamos relaxar.
Ele diz, passando a língua nos lábios ressecados.
..._, Mas e se ela for virgem? O chefe pode nos punir pelo prejuízo.
O companheiro dele fala preocupado, mesmo assim começa a andar com a garota em direção à porta. A coitada se contorce toda tentando escapar, mas de nada adianta, o cara é muito maior e muito mais forte que ela.
..._ Bobagem, a gente corta a língua dela para não falar nada e para eles será só mais uma prostituta.
O outro responde sem demonstrar nenhum remorso.
..._ Tá bom, mas eu serei o primeiro e...
Eles continuam a conversa enquanto passam pela porta, não escuto mais nada, pois suas vozes são abafadas pelos gritos desesperados da garota e pela distância, logo não dá para ouvir mais nada, somente os passos acima da nossa cabeça.
Agora, sim, abro os meus olhos completamente e começo a forçar as correntes que estão em meus braços.
Karen_ O que está fazendo?
Sierra_ Aquela garota... Eles vão estuprá-la. Ela precisa de ajuda.
Karen_ Todas nós precisamos de ajuda, se não percebeu, inclusive você.
Mirna_ Não há nada que possa fazer por ela, a não ser rezar para que tudo acabe rápido.
Sierra_ Mas...
Karen_ Mais nada, se tentar alguma coisa, terá um destino igual ou pior do que o dela, só fique aí quietinha. Quando chegarmos à Calábria, talvez tenha sorte de ser arrematada por um cara legal.
Sierra_ E desde quando um homem que compra pessoas, ainda mais para abusar delas, pode ser legal?
Mirna_ Desde quando há muito outros que são sádicos e se divertem causando dor às suas escravas, não vai querer cair nas mãos de um desses.
Sierra_ Eu não quero nada disso, só quero voltar para o convento e nunca mais sair de lá.
Karen_ Todas nós queríamos estar em casa Sierra, mas infelizmente isso é algo que nunca vai acontecer.
Sierra_ Como sabem tanto sobre eles e, por que não estão amarradas como as outras garotas?
Karen_ Porque viemos voluntariamente, nós somos prostitutas, trabalhávamos em Nova York e um desgraçado nos enganou com uma proposta de trabalho em um cassino na Itália e nos caímos direitinho no papo dele.
Mirna_ Era tudo mentira, quer dizer, não a parte da prostituição, mas a parte do salário. Nos vamos exploradas até não restar beleza ou juventude, sem ganhar nenhum tostão, no fim não seremos diferentes das escravas sexuais, fomos ambiciosas e agora estamos pagando um preço alto por isso...