A ala proibida

1357 Palavras
No outro dia, Isabela acordou bem cedo para não precisar encontrar o Arthur pela casa. Tomou um banho rápido e saiu para o trabalho. A biblioteca ficava a poucos minutos de sua nova casa, então ela decidiu ir caminhando. Aproveitou para tomar um café da manhã reforçado na cafeteria que tinha lá, enquanto atualizava as informações das remessas novas dos livros que chegaram. Isabela era formada em biblioteconomia e começou como estagiária logo no início da faculdade. Aquele era o seu lugar favorito no mundo, e só de pensar que Giuseppe tinha o poder de tirá-la dali, fazia com que Isabela refletisse como a sua vida poderia ser vazia. Estava na companhia da sua amiga Nina, que trabalhava na mesma função. — Você é a primeira pessoa que conheço que ao invés de aproveitar a lua de mel, está trabalhando.— Observou Nina. Isabela desviou os olhos da tela de seu computador portátil para prestar atenção nela. — Você se dedica tanto por esse lugar e não tem reconhecimento algum. Ao menos deveria permitir olhar para si mesma em momentos como esse. — Eu me sinto bem estando aqui, Nina. O meu trabalho é a única coisa de especial que acontece na minha vida. — Não fale assim… — Você sabe que é. O Giuseppe e a Olga sempre fizeram da minha vida um pesadelo, agora que fui obrigada a me casar com Arthur Esposito não foi muito diferente. Esse homem é intragável e m*l-humorado. — Pois então trate de se recompor.— Nina olhou rapidamente na direção da porta.— O intragável e m*l-humorado está vindo bem aí. Isabela bufou, contrariada. — O que faz aqui?— ela perguntou assim que Arthur chegou. — Vim conhecer o trabalho da minha esposa. — A biblioteca municipal de Rosa Rosso foi fundada junto com a cidade. Não é como se você ou toda a população nunca tivesse colocado os pés aqui. — Acho que vou deixá-los conversando.— Nina ficou de pé e saiu dali. — Eu faço questão de que você esteja presente em todas as refeições, Isabela. Nunca mais saia antes do horário. — Eu não estava com fome e tinha muito trabalho para adiantar. — A biblioteca abre às oito, você não precisa sair de casa duas horas antes. Eu faço questão que você fique a mesa, mesmo que não coma nada. — Eu pensei que você não tivesse tempo para um café da manhã demorado. Um homem com tantos investimentos e tantos negócios… — Eu consigo administrar os meus negócios depois do meu café da manhã. Sugiro que você acate os meus pedidos, ou terei que te afastar do trabalho. — Como é?— Isabela ficou de pé ao ouvir aquele absurdo. — Há quanto tempo você trabalha aqui, Isabela? — Eu estagiei durante os quatro anos de faculdade e há dois anos fui efetivada a bibliotecária. — Pelo que percebi você é muito empenhada. Seria uma pena obrigar você a se demitir. Isabela engoliu em seco. Arthur não tinha mais influência do que Giuseppe, mas como o seu pai não compraria a sua briga, não seria inteligente medir forças. — Você acha que é dono do mundo, não é? — Eu não sou muito diferente de homens como o seu pai e o seu irmão. — Foi por isso que se casou comigo, não é? Para se vingar do Gabriel. — Sim, para me vingar do Gabriel e do seu pai, mas não só por isso. Eu ganhei um percentual considerável na fábrica da sua família. — Não me importa os negócios da minha família. — Mas a sua família deve te importar muito, assim como eu sei que você é muito importante para o seu irmão e para o seu pai.— Arthur levou uma das mãos a tocar o rosto dela, devagar e com cuidado.— É bom me obedecer, Isabela, porque nesse jogo sou eu quem estou com a vantagem. — Se é tão importante para você, eu vou comparecer a todas as refeições. Está bom assim? — Nos vemos no jantar.— ele se afastou, em seguida. — Eu não vou suportar isso por muito tempo.— Isabela murmurou para si mesma, antes de voltar para as suas obrigações. … Dessa vez, Isabela acatou a ordem do marido. As dezenove em ponto ela estava na mesa do jantar, mas foi ele quem não apareceu, avisou que iria atrasar uma ou duas horas e que ela não precisaria esperar por ele. — Só pode ser brincadeira… É exatamente isso o que esse homem quer, brincar com a minha cabeça.— Resmungou Isabela, ainda sentada na mesa do jantar. — Ele deve ter se enrolado com alguma reunião, filha. — Acontece que o seu chefe foi até o meu trabalho para me dar um ultimato, Rosa. Ele disse que ou eu desço para fazer as refeições com ele, ou ele vai obrigar o meu chefe a me demitir. — Mas como isso seria possível?— Perguntou Ana, uma das empregadas que servia o jantar.— O gestor da biblioteca não é um velho conhecido do seu pai? — O Arthur é um homem muito influente, Ana. Ele tem negócios com muita gente, sabe-se lá os métodos que utiliza para conseguir as coisas. A questão é: ele me ameaçou. Agora aqui estou eu para jantar, e o Arthur não apareceu.— Isabela se levantou, irritada. — Eu posso levar algo para o seu quarto, filha. — Não precisa, Rosa, eu agradeço. Eu não estava com apetite mesmo.— disse Isabela, deixando o ambiente da sala de jantar. — O senhor Arthur é mesmo um monstro. Como ele tem coragem de torturar uma pessoa dessa maneira?— Comentou Ana, indignada. — Não julgue a história dos outros sem conhecer, Ana. Você é novata aqui, não sabe de tudo o que aconteceu. Se conhecesse o Arthur de antes, você não o odiaria tanto.— disse Rosa, sendo a próxima a deixar o ambiente. Ela tentou procurar por Isabela, mas tinha perdido a garota de vista. Não suportando mais ficar trancada naquele quarto, Isabela decidiu perambular pela casa. Aproveitou que Arthur não estava para espiar um pouco da conhecida “ ala proibida”. Não diferente das outras, a ala oeste era enorme. Em especial, havia um quarto central. Devia fazer tanto tempo que ninguém entrava ali que a porta até estava emperrada. Isabela ficou boquiaberta quando conseguiu entrar no lugar. Haviam várias telas de pintura a óleo espalhadas pelo ambiente, todos capturavam o rosto lindo da mesma mulher. No fundo da tela haviam sempre rosas vermelhas, ou ela segurava um buquê com as mesmas flores. Havia uma tela em especial que ficava afastada das outras. A mesma mulher morena estava completamente nua, com apenas rosas vermelhas cobrindo a sua i********e debaixo. Isabela se afastou, envergonhada. Sabia que estava invadindo o espaço de outra pessoa, mas a sua curiosidade era maior. O lugar estava repleto de fotos do Arthur de antes do acidente. O rosto dele era lindo, um dos mais lindos de Rosa Rosso. Isabela chegou a segurar uma foto para analisar bem os detalhes, mas logo a devolveu para o lugar e se afastou. Aquele lugar parecia um mausoléu de lembranças do passado. Ela voltou-se para trás, encontrando uma mesa redonda no canto da parede, com uma redoma de vidro que continha pétalas secas de rosas vermelhas. Isabela se aproximou para verificar melhor do que se tratava. Chegou a abrir a tampa da redoma, mas foi impedida de continuar. — O que você está fazendo aqui?— Perguntou Arthur, com a voz trêmula de raiva. Isabela tentou responder, mas Arthur a impediu. — Eu disse que essa ala da casa é proibida. Por que você me desobedeceu? Ela retrocedeu alguns passos e ficou encurralada entre Arthur e a parede. — Eu vou perguntar mais uma vez.— ele avançou na direção dela e bateu com a mão brutalmente contra a parede.— Por que você me desobedeceu? — Eu só fiquei curiosa. — A sua curiosidade vai te custar muito caro.— ele segurou no braço dela e a arrastou para fora dali.
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