Uma segunda chance ao amor

1493 Palavras
Isabela já se preparava para dormir quando Rosa voltou a bater na porta do seu quarto. O vestido vermelho que ela usou para o casamento no civil ainda estava sobre a sua cama, pronto para ser enfiado em qualquer parte do armário. — Vim verificar se a senhora está com fome. — Eu ouvi quando o seu chefe gritou que eu morreria de fome se não comesse a mesa com ele. Como prefiro evitar ficar na companhia daquele homem, é exatamente isso o que vai acontecer. — Não dê ouvidos para isso. O senhor Arthur já foi para o quarto há muito tempo.— Rosa segurou Isabela pelo antebraço e a conduziu para fora do quarto. — Rosa, eu fiquei muito curiosa para saber sobre a história da minha mãe. Não tivemos a oportunidade de falar antes porque você precisou servir o jantar do seu patrão. — É uma longa história. Vou começar a contar do dia em que Ísis conheceu Giuseppe. A sua mãe tinha dezoito anos, era a festa da uva aqui em Rosa Rosso. Rosa Rosso, abril de 1991 Ao som da tarantela, duas moças esmagavam as uvas que estavam dentro do grande cesto. Uma tinha os olhos dourados e os cabelos escuros, a outra tinha os cabelos loiros e os olhos dourados, ambas na mesma faixa de idade. Naquela festa tradicional, era comum que as famílias mais poderosas da cidade se unissem as famílias menos abastadas. Ainda que Ísis e Olga pertencessem a uma das famílias mais ricas da cidade, não se igualava ao nível de importância dos Colombo e dos Esposito. Os Colombo movimentava todo o fornecimento de massas e bolos da região Sul. Os Esposito eram responsáveis pelas colheitas das uvas e pela indústria de laticínios, além de outros negócios que tinham pelo ramo alimentício. As duas famílias sempre disputaram poder, ainda que trabalhassem com produtos diferentes. Dois homens se aproximaram das moças para admirá-las durante o processo clássico do “ esmagamento” das uvas. Ainda que suas famílias fossem concorrentes, Giuseppe Colombo e Daniel Esposito sempre se deram bem. Daquela vez não foi diferente. As duas moças eram lindas e cada um se interessou por uma. Já as moças… As primas Isis e Olga Bianchi se interessaram por Giuseppe Colombo, que havia gostado de Isis no instante em que a olhou. Embora aquela fosse uma cidade pequena, grande parte de sua vida Giuseppe estudou fora, não teve a oportunidade de conhecer Isis assim que ela “ desabrochou”. Olga não gostou nada quando percebeu o olhar de Giuseppe para a sua prima, e Rosa que as observava de longe, foi a única que percebeu aquilo. Rosa Rosso, fevereiro de 2024 Deixando para trás suas memórias do passado, Rosa puxou a cadeira para que Isabela pudesse se sentar. A mesa do jantar ainda não havia sido tirada, tudo esperava por ela. — Eu não sabia dessa história. Não sabia que a Olga e a minha mãe tinham conhecido o Giuseppe no mesmo dia.— Isabela se acomodou na cadeira. — O olhar de ódio da Olga foi o que me chamou atenção. Ela sempre quis tudo que era da sua mãe, não seria diferente com Giuseppe. Mas dessa vez Olga estava mais empenhada em tirar a Isis do seu caminho. — O que aconteceu depois? — Giuseppe e Isis começaram a sair. Daniel convidava Olga com frequência e ela aceitava para sempre ficar de olho no Giuseppe. — A Olga então namorou o pai do Arthur? — Sim, mas por pouco tempo. Logo Daniel percebeu que a Olga era apaixonada por seu amigo e terminou tudo. Foi aí que ele conheceu a Amélia, mãe do Arthur. Anos depois, quando Giuseppe e Isis se casaram, Olga pediu para a prima a oportunidade de trabalhar como governanta. — Mas a Olga é professora graduada. Não estou fazendo pouco caso do trabalho de governanta, mas… — Ela queria ficar perto do seu pai a todo custo. Ísis sempre teve um coração bom demais para perceber quem era aquela prima dela. A Olga foi contratada assim que o Gabriel nasceu. O orgulho do Giuseppe era nítido, principalmente por causa da marca no pulso que o seu irmão tem e que é igualzinha a dele. — A marca de nascença dos homens da família Colombo. — Sim, sim. Depois que o Gabriel nasceu, a inveja da Olga só piorou. Eu tentei avisar a sua mãe, mas ela nunca me deu ouvidos. Eu disse para Ísis que ela iria se arrepender por contratar Olga, mas a sua mãe gostava demais daquela prima dela. — A Olga sempre fez questão de me humilhar. De me chamar de intrusa, de dizer que eu vivia naquela casa por caridade do Giuseppe. — Foi pouco antes de você nascer que começaram a chegar supostas cartas de um admirador secreto para a Isis. Foi aí que as brigas entre o Giuseppe e ela começaram, e Giuseppe começou a mudar. Rosa Rosso, maio de 2003 — Isis, o que houve com você?— Perguntou Rosa, preocupada, abrindo o portão que dava para o hall de entrada da casa. O rosto da mulher estava com uma grande marca roxa de agressão. Nos braços ela segurava Isabela que tinha apenas três anos, e uma de suas mãos segurava a mão de Gabriel, que já tinha oito. — O Giuseppe está louco. Ele colocou na cabeça que eu tenho um amante por causa daquelas cartas que eu te contei. — Eu te disse desde o começo, filha. Enquanto a Olga estiver naquela casa, ela vai fazer de tudo para te separar do seu marido. — Pena que eu te escutei tarde demais, Rosa. Eu flagrei uma conversa da Olga com o Giuseppe. A minha prima estava incentivando o meu marido a me pedir o divórcio. Ela disse que ajudava a criar o Gabriel e que seria todo o apoio que ele precisasse. — Espera aí… Ela só falou do nome do Gabriel? — Olga fez Giuseppe acreditar que Isabela não é filha dele. — Não deixe que façam isso com você, Ísis. Exija um exame de DNA. — Giuseppe não quer expor o nome dele ao ridículo, isso poderia repercutir nos negócios. — O que você está pensando em fazer? — Eu vou voltar para casa com os meus filhos. Não vou entregar nenhum deles nas mãos da Olga. — Você não vai com o meu filho a lugar nenhum!— Exclamou Giuseppe, logo atrás dela.— Com essa menina você faça o que quiser, mas o Gabriel volta para casa comigo. — Eu não vou abrir mão do meu filho. Se quiser, podemos brigar na justiça. — Então será assim. O que eu puder fazer para o Gabriel não chegar perto de você, pode ter certeza que eu farei. Rosa Rosso, fevereiro de 2024 — Os dois brigaram pela guarda do Gabriel na justiça. O juíz determinou que as duas crianças viveriam sob guarda compartilhada. Giuseppe ordenou que Ísis buscasse todas as suas coisas, ele não queria nem mesmo olhar para você. Quando Isis voltou na casa, os dois tiveram uma última discussão, então a sua mãe saiu dirigindo transtornada e sofreu aquele terrível acidente que tirou a vida dela. — Então foi a Olga… Foi ela que acabou com a vida da minha mãe e a minha também. — A Olga sempre odiou a Isis, é natural que ela transferisse esse ódio para os filhos dela. Principalmente você, que é tão parecida com a sua mãe. — Se a minha mãe estivesse viva a minha vida seria diferente. Eu não teria sido obrigada a viver em uma casa onde a maioria das pessoas me despreza. Eu não teria sido obrigada a me casar com esse homem. — O Arthur não é má pessoa, filha. Ele costumava ser um menino tão bom, tão apaixonado pela vida. A decepção do amor por aquela mulher, ainda mais depois da briga que ele teve com o seu irmão, transformou o Arthur nesse homem amargurado e cheio de rancor. — Eu lembro do Arthur antes do acidente. Ele era lindo… Bom, ainda continua, apesar das cicatrizes de um lado do rosto. — Essas cicatrizes mexeram muito com a auto-estima dele, Isabela. Já tentou tantas cirurgias até fora do país, com os melhores médicos, mas sem muitos resultados. — Não é algo tão absurdo assim. O pior do Arthur é a personalidade dele, aquele gênio terrível. Se ele fosse uma pessoa mais agradável… — Talvez ele volte a ser. Talvez a ajuda de uma boa mulher que possa abrir o coração dele para o amor novamente. Isabela piscou os olhos algumas vezes, perplexa. — O que está sugerindo? — Que se você desse uma chance a fazer o Arthur se apaixonar por você, poderia acabar se apaixonando por ele também. — Não conte com isso, Rosa. Eu não tenho interesse em recolher os cacos de ninguém, eu tenho os meus próprios cacos para juntar.
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