Capítulo 1

1058 Palavras
Ela acelerava a moto na estrada, focada apenas em não perder de vista o seu alvo, que estava a uns quinze metros de distância. — Alcançou ele? — alguém pergunta através do ponto eletrônico em um dos seus ouvidos. — Sim, vou interceptar agora. — Sua voz não tem emoção; para ela, era apenas mais um dia de trabalho, nada que merecesse uma reação diferente. O carro à sua frente acelera, e ela faz o mesmo com a sua Ducati modificada. Já imaginava a bronca que iria receber pelo que planejava fazer com a moto, mas o alvo era importante; não podia deixar que ele escapasse. À sua frente, o carro reduz a velocidade tentando fazer uma curva. Ela acelera e lança a moto sobre o carro, fazendo-o parar com um forte barulho de colisão. Ela é lançada no ar, mas, com algumas cambalhotas para amortecer a queda, sai ilesa. Ela se levanta e alcança a sua nove milímetros no coldre, pega um silenciador e o coloca na ponta. Ela anda em direção ao veículo de forma confiante, sem hesitar. O seu rosto não tem expressão; nenhuma emoção a domina. — Você acha que vai conseguir algo de mim, sua p**a? — o motorista guincha. O seu rosto está cortado e o sangue escorre por ele. — Não tenho a intenção de interrogá-lo. - Seu olhar era indiferente, a vida da pessoa a sua frente não significava nada. Ela chega até o motorista, que geme de dor. A moto colidiu do seu lado, causando várias fraturas por seu corpo. — Não importa se você me matar hoje, sempre haverá outro. Ela levanta a pistola, apontando para sua testa. Olhando nos seus olhos, faz um único disparo, matando o alvo. — Estou preparada para os outros. Retirando um aparelho do bolso, ela faz a leitura biométrica da retina do alvo. Em seguida, colhe as suas digitais e se afasta. — Está feito. Mandem a equipe de limpeza. — Ok! Eles já estão a caminho. Estou te esperando na rua de trás. Ela caminha em direção a uma van estacionada não muito longe, abre a porta e entra, entregando o leitor biométrico e as digitais do alvo. — Teve alguma complicação? — Não, estava tudo tranquilo, Charles. — Ok. Vamos para casa então. O chefe quer nos ver ainda hoje. Eles se dirigem para um bairro de classe alta na cidade, que ficava mais afastado do centro. Para os negócios da organização, era melhor, pois chamavam menos atenção. Após alguns minutos, a grande mansão fica à vista. Com três andares e dois subterrâneos, era uma construção imponente e bela. Charles observava os arredores enquanto se aproximava da mansão. Vendo que não havia nada irregular, ele entra e estaciona a van. Caminham silenciosamente até a sala, onde os outros os aguardavam. — Boa noite — cumprimenta Ricardo, ou, como todos o chamavam ali, “chefe”. — Boa noite, chefe. — Fiquei sabendo que a nossa garota tocou o terror hoje — diz Nico, sorrindo. Mas sua brincadeira não rendeu o sorriso que ele esperava. — Está tudo bem, Síria? Ela olha para todos na sala e se lembra de que eles não têm culpa dos demônios que atormentam a sua alma. Eram sua família e mereciam respeito. Ela se joga no sofá com um suspiro, fechando os olhos. Até respirar era difícil naquele dia. — Estou bem, Xavier. Não se preocupe. — Bem, queria falar para você, Síria, que está de licença na próxima semana. Não quero você aqui. Vai dar uma volta, viajar, não sei! Só não quero você aqui trabalhando. Ricardo se preocupava muito com Síria. Ele assumia para si mesmo a responsabilidade de cuidar dela e mantê-la segura. Ela era como uma irmã para ele, alguém que ele amava ver sorrir, apesar de isso não acontecer mais. Ele não sabia mais o que fazer com ela, não sabia como poderia ajudar alguém que já havia recusado ajuda. Para ele, era como se ela gostasse de sofrer, como se o sofrimento fosse amenizar a dor que a assombrava todos os dias. — Não quero uma licença — responde ela, encarando-o fixamente. Sabia o que ele estava fazendo; ele fazia isso todas as vezes em que achava que ela iria perder o controle. — Dessa vez, não estou perguntando, Síria. Estou apenas te informando. — Vai ser bom para você descansar um pouco, maninha — diz Nico, vindo se sentar ao seu lado e a envolvendo num abraço desajeitado. — Ouça o chefe ao menos desta vez, Síria. Vamos ficar preocupados se você acabar fazendo besteira. Xavier era sempre sério, mas, quando se tratava de Síria, ele abandonava a sua máscara e tentava o melhor para vê-la bem. Tinha algo de engraçado em ver quatro homens enormes pisando em ovos perto de uma garota pequena, que media um metro e meio. Eles já tiveram essa conversa inúmeras vezes, e ela sabia que ceder era a melhor opção. Caso contrário, não a deixariam em paz. — Tudo bem, uma semana, então. Era possível ver o alívio no rosto de todos. Eles esperavam uma batalha árdua para convencê-la, mas desta vez foi mais tranquilo. — Se era só isso, vou para o meu quarto tomar banho. Ela se vira e sobe as escadas. O seu peito ardia, a dor familiar que já era sua companhia havia alguns anos tinha finalmente aparecido. Tudo de que precisava era silêncio. — O que você acha, chefe? — pergunta Xavier assim que ela sai. — Estou preocupado. Mas todo ano, nesta data, ela fica assim. Em comparação com outros anos, ela ainda está bem calma. — É essa calma que me assusta — diz Nico. — Você notou algo diferente hoje, Charles? — pergunta Xavier. — Não, ela estava bem concentrada e agiu rápido. Foi um serviço limpo. — Bem, espero que ela melhore. Ela não pode carregar essa culpa para sempre. — Charles sabia do seu sofrimento. Ele estava lá quando tudo aconteceu, e as memórias daquele dia ainda o assombravam. Ele entendia a sua dor, mas ela havia se fechado para o mundo, permitindo apenas que algumas pessoas entrassem na sua concha impenetrável. Todos naquela sala desejavam poder salvá-la de si mesma, mas não sabiam como. Continuariam tentando até que a sua irmãzinha, como a chamavam, recuperasse a alegria que foi perdida.
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