cap:1

996 Palavras
Cap.1: De onde você saiu? Andrômeda, na mitologia grega, foi presa em correntes. Ela foi acorrentada a uma rocha como sacrifício para um monstro marinho, o Cetus. Assim vivia Miliane, sem saber que havia sido comprada com um propósito sombrio. Ela era o sacrifício daquela família e, por isso, passou parte de sua vida em um quarto isolado. Aos dez anos, assistiu a seus pais serem levados diante de seus olhos. Não viu mais nada depois disso, mas ainda se lembra dos barulhos dos tiros. Porém, era muito nova para entender o que estava acontecendo naquele momento. Havia muitas coisas que ela não entendia, e uma delas era o que estava acontecendo com suas pernas. Em uma época distante, ela corria como uma corsa, mas agora, toda vez que ficava de pé, caía várias e várias vezes. Mesmo assim, nunca desistia. Mesmo que seus joelhos ficassem machucados, mesmo que seus pés doessem, ela continuava a levantar-se e a tentar, sem ter ideia do que estava errado, já que sempre foi uma menina saudável. Então, começou a observar sua rotina. Todos os dias, tinha direito a três refeições, mas, aos poucos, depois de três anos, percebeu que sempre após o café da manhã, sentia-se indisposta e sem forças. Decidiu, então, passar três dias jogando secretamente a sopa de legumes no vaso sanitário. No quarto dia, notou que suas pernas estavam bem e suspeitou que havia realmente algo errado na sopa. Um sorriso radiante se formou no rosto da menina que, agora com 13 anos, ansiava pela velha liberdade de correr. Embora a porta do quarto estivesse trancada, ainda tinha a janela. Os vidros estavam tão sujos que ela m*l conseguia ver do outro lado, mas, mesmo assim, moveu o trinco enferrujado e a abriu. A janela, localizada no segundo andar da casa, dava para o lado da casa, mas ela não se importou. Mesmo com pouca força nas pernas, pulou, caindo na grama malcuidada, e correu estrada afora o mais rápido que conseguia. O ar ricocheteando em seu rosto a fazia sorrir enquanto as lágrimas jorravam. Nem mesmo queria saber para onde estava indo, só se deu conta quando viu um carro na estrada. Não teve outra opção senão descer pelo barranco e entrar na floresta que se espalhava ao redor. Miliane correu por entre as árvores, ainda mais sem rumo e em pânico. O pavor de ter sido vista era mais apavorante do que estar perdida naquela selva. Ela não esperava encontrar uma velha e grande casa de madeira ali. Não tinha ideia de quanto tempo havia corrido. Observou o local e começou a andar ao redor, explorando. Viu uma pilha de madeira, uma fogueira que tinha sido apagada recentemente; com certeza alguém estava vivendo ali. Miliane tinha se esquecido que estava fugindo, dominada pela curiosidade. As janelas de vidro estavam empoeiradas, e mesmo que tentasse ver através delas, não conseguia. Ainda assim, tentava na esperança de sua visão se adaptar e conseguir enxergar através da poeira. De repente, sentiu como se algo tivesse sido lançado próximo ao seu rosto, atingindo a estrutura de madeira da janela. Ao olhar para o local onde o objeto havia atingido, teve a infeliz visão de uma navalha cravada na madeira. — Intrusos não são bem-vindos! — ela ouviu uma voz grave e rude atrás de si, a alguns metros de distância. Virou-se corajosamente para encarar a figura e soltou um grito agudo de medo. Contudo, o homem se manteve indiferente, cruzando os braços e a observando por alguns segundos. — Não sabia que crianças podiam entrar na floresta. Eu deveria te cozinhar viva e te dar para os cachorros por invadir meu território — ele disse de forma ameaçadora, aproximando-se e arrancando a navalha com facilidade da madeira. As pernas de Miliane tremiam como bambus enquanto ele a observava, sem demonstrar nenhuma emoção. Em segundos, ele percebeu muitas coisas suspeitas, ela vestia uma blusa velha, com manchas descoloridas, e um short jeans folgado. Ele notou seus joelhos vermelhos e os pés descalços com feridas, além do cabelo desgrenhado, que parecia não ver um pente há muito tempo. Miliane limpou o rosto e o encarou com rebeldia, sem dizer uma palavra, fazendo Kaleu suspirar de forma amarga. — Quem está te mantendo em cativeiro? — ele perguntou, agora sorrindo de forma leviana. — O gato comeu sua língua? Ela continuava calada, analisando aquele homem. Ele tinha metade do rosto coberto por curativos manchados de sangue. Quando gritou anteriormente, Miliane pensou que ele era um fantasma ou um morto-vivo, e ainda o achava assustador. Mas, ao ver o sangue, ela sentiu curiosidade, embora não conseguisse dizer uma palavra. — Eu vou te jogar para os cachorros se você não me disser o que está fazendo aqui! Não vê os troncos de árvore cercando justamente este local? Qualquer um que pisar neste espaço... bem, você já tem uma ideia. Tem muita sorte de não ter uma navalha atravessada na cabeça! — ele asseverou, irritado com o silêncio mórbido da menina. Mas ele não tinha ideia de que ela não conseguia falar; os remédios haviam feito com que perdesse a voz também. — Saia de perto dessa menina! — um homem gritou, fazendo Kaleu se virar indiferente para encará-lo. O homem, que havia gritado, recuou até os limites dos troncos e abaixou a cabeça. — Senhor... — ele balbuciou com os lábios trêmulos. — Como se atreve a pisar em meu território? — Kaleu deu um passo à frente, mas de repente sentiu alguém agarrar seu braço, abraçando-o com força. Ele olhou surpreso para a menina, que o encarava com pânico, mas deduziu que ela estava com medo de que ele fizesse m*l ao outro homem. Mas, quando Miliane viu que o homem que a mantinha presa demonstrou pânico e reverência ao ver Kaleu, ela se apegou a ele com tanta força como se fosse sua única salvação. A sensação que ela sentia era que ninguém poderia tocá-la se estivesse perto daquele lugar.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR