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Os Olhos Mortos

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intro-logo
Sinopse

Este vazio que a cada dia transborda mais que a vida, que supre toda vontade de saudade de algo ou alguém e exauriu minhas aspirações e inspirações que outrora tive com tanta vivacidade e ardor. Se um dia tive vida, hoje as roubo como vampiro que extrai tudo que há de mais vivo em você e suga como uma flecha envenenada que mata aos poucos.

Meus olhos insignes que ofuscaram e preencheram corações desesperados, arromba e preenche, com meus olhos mortos, o vazio que te faltava e rouba a vida que usava.

Deixe-me, deixe-me entrar!

Antes que obscureza o consuma dantes de mim - que implorar pela sua misericórdia para banhar-me com sua vida e reascenda o que me falta.

Os Olhos Mortos

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PT. I A Noite no Bar
Era noite, no ápice das farras no bar comumente repleto de boêmios com almas transbordando desespero ou inspiração, pessoas fatigadas pela dura semana de trabalho e após uma semana dedicada de estudo. Pessoas riam, algumas sofriam, outras recolhiam-se em solitude ao beber e outra tentavam afugentar a solidão. De todas as formas, todos se divertiam de sua forma durante uma noite no bar. A vida em um bar, seja em pleno dia ou noite, continham tantas histórias felizes e trágicas que qualquer um podia imaginar! Talvez, na falta de um livro ou inspiração, vinha alguém – sempre vinha – para falar ideais do mundo, para se tornar filosofo, bilíngue ou tudo que estivesse entrelaçado ao mais alto patamar de conhecimento – ou coisas do gênero. Em específico, eu frequentava o bar com dois objetivos em mente: beber muito e escutar boas histórias! E foi assim que a conheci Cecília, a Boemia, como alguns poetas e poetisas, cronistas, romancistas e como quaisquer tipos de escritores a conhecia. Ela era uma máquina de informações! Aparecia sempre com uma história diferente e apresentava seu conhecimento vasto. Conversava de tudo e, às vezes, cantava com sua voz penetrante sedutoramente para enfeitiçar todo o local com sua beldade, ambientando tudo em calmaria, e às vezes, intensificava o animo de todos com seu espírito festivo ou indistinguíveis misturas de sentimentos com seus contos. Cecília ficava até certa hora durante a madrugada, seguindo à risca esse limite, esse horário e partia sempre sem titubear, mesmo que alguns insistisse para que ficasse, ela sempre saía com aquele ar de mistério juntamente com aquele espírito tão vívido repentinamente. Muitos diziam que era o único momento em que Cecília ficava diferente, e até mórbida, senão rígida! Os boatos circularam depressa, o que é algo de se esperar; para que haja boatos, basta você desconhecer e estar sedento para saber e ter criatividade, e principalmente, basta deixar pontas soltas. Em uma madrugada, eu indaguei para um grupo de pessoas: - Por que Cecília nunca fica um pouco mais? Tipo, não que ela não devesse ir embora, mas sempre que a madrugada chega, ela muda por completo com seu anseio para partir estampado em seu rosto. Vocês notaram? – disse enquanto pegava um tira gosto e os fitava. - Não percebemos isso! Mas a resposta é: você é um maníaco! – em seguida, Caio virou o copo de cerveja e grunhiu como se estivesse aliviado. - QUÊ?! Não..., não é isso que eu quero dizer! Eu...! – fiquei exacerbadamente desconcertado, pois não era essa a mensagem que quis passar, nada a ver com alguém obsessivo. Antes que eu terminasse de falar, Caio me interrompeu com sua gargalhada e retrucou, para meu alívio: - HAHAHAHA! Relaxa, irmão – e deu um leve t**a no meu ombro –, eu entendi o que quis dizer. – em seguida, ele dirigiu sua face em minha direção e fez um leve sinal solicitando que eu me aproximasse, como se estivesse pronto para dizer um segredo, mas só queria transmitir as informações com facilidade e nitidez e evitar com que eu não escutasse – Todos percebemos, cara, mas nunca perguntamos. Aliás, já perguntaram e ela só disse “porque eu quero ir embora, eu posso?”, e desde então, ninguém mais perguntou e só especulou. E ela está acerta, né? – e então, Caio começou a encher o seu e o meu copo novamente. Refleti um pouco, mas não fiquei satisfeito e indaguei completamente entusiasmado, já sob efeito do álcool: - Mas sempre foi assim? - p***a, mano – disse com um sorriso enquanto colocava a garrafa de volta na mesa –, como vou saber? Vai que seja amante ou marido... Em seguida, o dono do bar, seu Fabricio, se aproximara com nossos churrascos e com um olhar sério, como se tivesse escutado nossa conversa: - Opa, aqui, pessoal... – e manteve-se calado, apenas nos encarando, como se aguardasse nossas palavras para tomar liberdade para falar, como se devêssemos a permissão – mais alguma coisa? – disse enquanto limpava as mãos em seu avental. - Na verdade, sim! Cecília frequenta bastante seu bar. Sabe dizer se ela já ficou até mais tarde? - hmmmmmm, sim! Ela já ficou até de manhã, para você ter ideia, – em seguida, Fabricio puxou uma cadeira e se juntou a nós – mas... as coisas mudaram desde quando ela notou um novo freguês do bar. Ele é bem simples, humilde, zeloso e todos se encantavam com seu carisma. Todos, exceto Cecília. - Mas o que ele tem demais, além dessas características? – eu questionava enquanto tomava um gole de cerveja. - Não sei..., mas por que você quer saber sobre ela? – indagou Fabricio com seu olhar penetrante de desconfiança. - Só curiosidade mesmo... – retruquei um pouco desconfiado da reação dele, já que soa estranho você questionar rotina alheia – é que sempre exatamente nesse horário da madrugada, ela parte, e teve uma confusão por causa disso. De certa forma é um padrão, sabe? Não sei se está entendendo o que quero dizer – complementei um pouco nervoso a fim de esclarecer as dúvidas enquanto tomava mais um gole de cerveja. Fabrício se aproximou um pouco mais de nós, ainda sentado e sério, e disse em tonalidade tenebrosa e misteriosa: - Ela o chama de ‘Olhos Mortos’, não só porque seu olhar é intimidador, misterioso e profundamente vazio. Segundo Cecília, seu olhar é personificação de um arqueiro que atira e extrai tudo que há de mais vivo em você e drena para si com uma flecha envenenada que mata aos poucos. Ela nunca terminou o conto ‘Os Olhos Mortos’ e quando questionam, ela fica enfurecida e diz “não mencione este nome, pois ele fareja vida, como os cães farejam ossos, e nos devora para se satisfazer com nossa desgraça”. - Não entendo, é só um homem! Nunca levei a sério, de fato, talvez seja só mágoa que ela deve carregar dele, tipo por terminado o relacionamento – disse Caio com um sorriso e embriagado, seguido de um soluço. - Talvez... não duvido! Mas esse homem não anda com as mesmas pessoas. Sempre é um grupo diferente depois de um dia, semana, sei lá – retrucou Fabrício enquanto se levantava impaciente –, bom, agora terei que voltar. Espero que tenha ajudado! Qualquer coisa, é só chamar. - Beleza – dissemos ao Fabrício enquanto o víamos partir por alguns segundos antes de virarmos à mesa e nos embriagar mais. Caio se levantou com um pouco de dificuldade, com falta de equilíbrio sob efeito do álcool e disse um a voz um pouco arrastada “vou fumar lá fora e já volto” e dirigiu-se até a saída. Como estávamos sentados em frente a saída, fiquei observando e rindo um pouco do seu gingado de bêbado que de forma fracassada tentava esconder. Então de repente, enquanto ele se distraía procurando o isqueiro, Caio esbarra em um homem alto, pálido e esbelto vestindo roupas simples como uma camisa polo aberta preta e calças de jeans preta e tênis branco. O homem estava sério e Caio ficou sem reação por alguns instantes e o encarou desconfortavelmente e um pouco envergonhado disse: - Opa, desculpa, irmão, é a bebida, me desculpa mesmo! O homem o olhou bem nos olhos como se procurasse algo, olhou de cima a baixo e retrucou com um sorriso e em palavras leves e singelas: - Que é isso, cara, não se preocupe! É um bar, não tinha como adivinhar que eu iria aparecer assim, tinha? – ao dizer isso, o homem deu uma tapinha em seu braço como se fosse alguém íntimo – se me der licença, hoje irei me embriagar com alguns amigos, irmão. - Ah, sim... se quiser, pode sentar-se com a gente, pô, tem quase ninguém porque deram um bolo na gente, está bem ali – disse enquanto apontava até a mesa onde estou sentado e um pouco mais aliviado pelo homem ter sido compreensível. - Muito obrigado pela gentileza! Amo novas amizades. Aguardaremos você com seu amigo... Caio – disse enquanto sorria o bom moço. Caio ficou um pouco confuso como se não escutasse direito por causa da música e o alvoroço do ambiente e retrucou: - Quê? – colocando a mão no ouvido e o aproximando – entendi só até a parte do “amo novas amizades” – disse enquanto sorria. - Falei que aguardaremos você, querido! – deu um t**a nos ombros de Caio e dirigiu-se com mais 3 pessoas até nossa mesa sentaram-se. Fiquei um pouco calado e tímido para puxar assunto com eles: eram dois homens e uma moça que logo de cara pediu uma dose de cachaça. Usei como pretexto para quebrar esse gelo e disse para descontrair: - Uau, hoje vocês realmente não estão brincando – falei isso enquanto sorria. - Sim, meu caro, é nosso ritual. – disse enquanto devolvia o sorriso, antes de perguntar algo a Fabrício –, seu Fabrício, e Cecília, hein? Faz tempo que não a vejo! Gostaria tanto de escutar seus contos inebriantes – ao falar isso, pude notar um ar gracioso, como se fizesse pouco dela. Era cínico e dissimulado, mas com certeza era paranoia minha, pois não estava tão acostumado com aquela graciosidade. - Ela saiu faz pouco tempo, meu querido, talvez devesse chegar mais cedo! Digo a ela que está preocupado. Quer mais alguma coisa? - Um... espetinho desse aqui. – disse enquanto apontava para o cardápio –Vocês querem mais alguma coisa? - Espetinho também! – respondeu ambos. - Certo, já volto – em seguida, Fabrício saiu rumo as bebidas. Ficamos mais um pouco calados, e então me apresentei: - Sou Marcos, e vocês? – perguntei um pouco tímido. - Eu sou Stefanny! Prazer em conhecer você, Marcos. - João, prazer – ele m*l olhou-me em meus olhos porque estava atento ao celular. - Eu sou Victor, meu caro, prazer em conhecer! E peço desculpas por João, ele deve estar resolvendo alguma coisa séria – disse enquanto pressionava as mãos uma contra outra, como se estivesse rezando. - Não, tudo bem, não se preocupe! Às vezes faço isso. - Não, não está tudo bem, já conversei com João sobre isso e parece que ele nem me escuta. Com certeza é besteira – disse Stefanny nervosa, respirando fundo para retrair sua raiva. - Você nem sabe e fica falando besteira! Por que não age como Victor e tente ser mais compreensível? Por isso estamos sempre brigando – retrucou João nervoso, e totalmente impaciente guarda seu celular no bolso e descansa seus braços na mesa. - E o que você quer dizer com isso? – disse Stefanny enquanto cruzava os braços. - Gente, por favor, – em seguida, Victor abraçou ambos, colocando o braço por cima do ombro de cada e os aproximou um pouco – vamos nos divertir! Estamos muito cansados e isso é o mínimo por nós! Vamos lá, vamos beber e deixar isso para lá! O que acham? É uma péssima ideia? Vou até desligar meu celular. – Victor retirou seu celular do bolso e o desligou antes de devolver para seu bolso – Agora estou em total disposição de ambos. - Bem que ele poderia ser que nem você, Victor – disse Stefanny já aborrecida. - QUÊ? – retrucou João enfurecido. - Ela disse que ama você, João, é isso, bobo! – retrucou Victor com leveza em suas palavras e um leve sorriso para descontrair. Novamente tive a paranoia que Victor não estava usando destes artifícios para apaziguar a situação, a cada momento, ficava mais tenso o clima entre o casal e parecia que Victor se divertia disso. Aquele sorriso não era para descontrair, mas sim a demonstração é que ele estava se divertindo e parecia querer mais... esse homem... assombra meus pensamentos então pouco tempo... esse olhar perdido, misterioso e profundamente vazio era... assustador, muito assustador! Isso era, de fato, intimidador. A essa altura, o álcool estava me deixando paranoico, mas seu olhar era perturbadoramente... estranho e penetrante, como se enxergasse meus pecados nas entrelinhas.  

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