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O CORVO

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Blurb

"Os meu sentidos pareciam ter fugido, começava a achar aquilo tudo muito real para ser um sonho. Era quase impossível permanecer dormindo quando sentia aquela doce agonia reverberar em todo o meu corpo. Um suspiro escapa dos meus lábios e finalmente abro os meus olhos, era tarde da noite não conseguia enchergar nada, o que quer que fosse tinha a respiração pesada tal como a minha, era grande, não estava deitado, mas estava em cima de mim... eu conseguia sentir o calor emanado do seu corpo. Aquilo não era um sonho, como muitas vezes ocorrera... Eu estava acordada. Devia sentir medo... Contrariando a lógica e tudo o que me foi passado, Àquilo de todo era medo, o que eu sentia era algo indescritível e bem mais perigoso...."

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Capítulo um: Prólogo
A janela mostrava a noite gélida e sem estrelas, a lua cheia iluminando o céu era perfeita. O vento forte fez as janelas se abrirem, ouvia as folhas das árvores se movimentarem a favor do vento. Em outros tempos teria me ressaltado, apavorado... mas a noite tinha se tornado um amigo, e com ela a escuridão um aliado. Estava deitado, com o braço direito debaixo da cabeça, olhava para as luzes fracas que incidiam sobre o ambiente, voltei o rosto para o lado esquerdo, mirando para o seu rosto adormecido, não me cansava de a observar, admirava a sua beleza, era a mulher mais bonita que já vira. Parecia um anjo de tão serena. — Um anjo lindo e safado, solto um riso ao lembrar de momentos atrás. Sempre que nos encontramos ela é de uma entrega alucinante. Desci os meus olhos para o pequeno corpo coberto, se meche felina como se soubesse exatamente que estive o tempo todo a observando. Ela tinha o corpo pequeno cheio de curvas e gostoso, na medida perfeita pra mim. Solto um suspiro, mesmo sentindo ser um erro, já tinha tomado uma decisão. Levantei-me até a janela, não tinha que voltar ao Ducado tão cedo, tinha tudo preparado para o noivado do meu irmão, Thomas normalmente não houve ninguém e actualmente eu tenho de estar a fazer o papel do irmão amoroso, fingindo tal como ele. Alguns anos atrás, o meu pai insistiu que eu tinha de estar sempre a controla-lo — descobriu tarde sobre como ele era manipulador e cruel... Foi triste pois ele estava morrendo. O meu irmão é daquelas pessoas que têm o cérebro extremamente brilhante... para maldade, é forte, soberbo, arrogante... o típico snobe psicopata, a única coisa que o importa é dinheiro e poder. Quando crianças, enfrentava muitos conflitos com ele, no início éramos uma boa dupla, funcionávamos como uma grande equipe, mas já estranhava a sua obsessão pela ciência, ele apanhava rãs, gafanhotos, baratas e até pássaros e os dissecava, a primeira vez que testemunhei, ele pediu-me que não contasse nada, fiquei calado mas a nossa ama descobriu e contou aos meus pais, ao ser colocado contra parede ele mentiu, me colocando como o executor, tentei me defender mas foi difícil os meus pais acreditarem em mim, ele tinha 9 mas parecia ter 7 e eu já tinha 14 anos, era mais fácil acreditar na criança que começou por manipular todos naquele mesmo ano. Comecei a notar que éramos muito diferentes, e parecíamos estar vivendo cada um no seu mundo, achava que era pela nossa diferença de idades. Quando a minha mãe apareceu com um bebê nos braços, fiquei radiante, ia deixar de sentir-me sozinho, tinha um companheiro agora... e foi assim durante alguns anos, Thomas era o irmão mais novo que todo mundo quereria, adorável e perfeito. Mas tudo mudou naquele dia. Depois do incidente, ele havia descoberto que era muito bom na arte da manipulação, afinal ninguém ia colocar em questão a palavra do menino loiro com o rosto angelical, que se comportava como um santo na frente de todos, apenas eu via o que ele fazia, e não podia fazer nada porque ele era o menino "perfeito". Ao longo dos anos que se seguiram tentei me manter longe dele, mesmo todo mundo achando estranho, aos olhos dos nossos familiares, Thomas me amava como ninguém, ele fazia todos acreditarem nele, menos eu, eu via tudo e ele fazia questão que eu visse, era como se estivesse passando uma mensagem. No verão de 1955, tinha estado a chover, estávamos na propriedade dos meus avós em Cumberland, tive um pequeno surto de coragem, estava farto de o ver matar os animais e enterra-lós no quintal, conversei com a minha mãe, alertando, aquilo não era normal, o meu irmão precisava de acompanhamento, se não mesmo de uma camisa de força, a minha mãe era absorta, soberba e dona da razão... "É claro que irmãos brigam, todo mundo que tem irmãos sabe que algum tipo de rivalidade é comum! O seu irmão tem muito menos capacidade que um adulto de refletir sobre o que está o incomodando, ou reprimir os seus impulsos, por isso ele briga contigo... ou melhor, você se irrita com ele o tornando num gênio diabólico. Richard, o seu irmão é apenas uma criança! Pare de o tornar maquiavélico!" disse ela. — solto um pigarreio só de lembrar a sua expressão abismada e reprovadora. Já é incrível observar o que uma mãe é capaz de fazer por um filho, imaginem o que uma mãe faria por um filho que idolatrava como um ser perfeito e soberano... era doentio! Nesse dia apanhei uma surra, não só do meu pai, mas do meu tio também que era padrinho de Thomas e herdeiro da mansão de Cumberland, o meu irmão ficou se deleitando assistindo eles baterem em mim com um sorriso maléfico. Comecei a ter pesadelos, os meus pais já não me olhavam com os mesmos olhos, e devido à falta de amor e atenção deles, me apeguei aos cadernos, livros, a tudo que me pudesse dar liberdade quando completasse 18 anos, precisava de uma escapatória, porque verdade seja dita, eu morria de medo do meu irmão, ele seguia me perseguindo mesmo eu tentando o máximo me afastar dele, essa foi uma das principais razões para que eu insistisse com o meu pai em colocar-me na academia militar — a melhor decisão que podia ter tomado. Entretanto, eu ainda era menor, academia militar aconteceu anos depois, na época eu não queria me tornar no alvo de um garoto que desde cedo apresentava características de sociopata, ou psicopata na sua forma mais pura. Podia ter fechado os olhos, aguentar mais alguns aninhos, já não faltava muito... Mas era impossível ficar simplesmente vendo o meu irmãozinho dissecar uma rã com tanta frieza, na altura, eu achava realmente que o podíamos ajudar. — Talvez pudéssemos... Não sei.... Num surto de coragem, esperei todo mundo ir se deitar conversei com ele, como um irmã mais velho, procurando entender o porquê do seu comportamento frio, era pra ter sido uma conversa educativa, mas ele simplesmente não tentou se defender ou sequer me contrariou, chorou dizendo que precisava de ajuda e prometeu-me que não voltaria a machucar os bichinhos que não o faziam m*l algum. Fui pra cama tranquilo, com o sentimento de dever cumprido, acreditava que podia finalmente o ajudar. — O erro que não devia ter cometido. Naquela mesma noite, ele conseguiu transformar uma pequena conversa numa agressão. No dia seguinte, os meus pais o encontraram no fim das escadas, havia fraturado um braço e tinha o corpo todo machucado, e o pior nem foi isso, eu sabia que provavelmente iria morrer de tanta porrada... O pior foi ele ter morto o meu animal de estimação e colocá-lo ao meu lado na cama enquanto eu dormia e depois foi se jogar escada abaixo. — Senti o meu corpo reclamar parecia ser do vento que fazia lá fora, mas era de outra coisa. As lembranças desse dia ainda me perturbavam. Ele tinha 12 anos, mas era de uma inteligência quase prodigiosa, era maléfico. O animal que ele matou era meu melhor amigo, havia ficado tão transtornado, horrorizado com o cenário bizarro no meu quarto, não ouvia ninguém, os empregados os meus pais gritavam tão ou mais horrorizados que eu, e claro, ninguém acreditou em mim. Outra vez me via numa situação em que a sua palavra valia mais que a minha... — Talvez eu próprio não acreditasse em mim na época. — tinha tudo contra mim, um irmão machucado, um quarto ensanguentado, as minhas roupas cobertas com sangue e para completar naquilo tudo, eu era franzino, feio, não tinha amigos e sequer tinha herdado as características dos meus pais, a minha mãe vivia dizendo que talvez tivessem feito uma troca do seu bebê no hospital, duvidando que fosse seu filho. — Sorrio triste. — É mãe, foi tão difícil perdoar a senhora! — concluo. O segundo incidente pagou-me a minha primeira estadia no hospício, também foi a primeira vez que morri, literalmente por causa da terapia de choques... o primeiro adolescente a servir de cobaia com aquele tipo de tratamento naquele lugar, não queriam exagerar na sua aplicação por se tratar do herdeiro de um ducado... engraçado, isso nunca foi razão para os impedir de torturarem-me. Num desses tratamentos morri por 15 minutos, minutos esses que me pareceram uma eternidade, me vi sobre a cadeira de força, era como se estivesse flutuando, a sensação era boa e ao mesmo tempo angustiante. Se após 10 minutos sem receber sangue, as células do cérebro morrem e a pessoa é tida como morta, imaginem regressar a vida após 15 minutos. É uma experiência aterradora. — Fui com a mão na parte das costas onde se encontravam as cicatrizes das agressões que tinha como lembrança da minha estadia num lugar que me foi impedido de esquecer — era uma criança. Eles haviam escolhido a criança errada para colocar numa camisa de força. Quando saí do manicômio, o meu pai estava voltando da guerra, não havia dinheiro no mundo capaz de impedir uma guerra que no fim provou-se ter sido desnecessária. Ele nunca mais voltou a ser o mesmo, estava quebrado, tão ou mais que eu. Pude finalmente ir para a escola militar porque a Europa toda tinha medo de que se, se desse o início de uma terceira guerra mundial, os países mais afectados fossem pegos de surpresa como aconteceu na última vez.... Aquelas lembranças todas faziam o meus ossos doer, tudo que passei por conta da crueldade do meu irmão. Quando observamos pessoas em conflitos, parece ser implícito que como elas vieram do mesmo lugar, da mesma família, do mesmo ventre, é simplesmente justo que a nossa vida seja similar, que fiquemos no mesmo nível e que tenhamos até comportamentos idênticos. Que os problemas surgem, quando um dos irmãos tem a sensação de que algo não é justo na vida deles, certo?... Errado!! Eu achava sim, que algo não era justo em nossas vidas, mas apenas por ver quem era de verdade Thomas e estava feliz em perceber que finalmente poderia ver-me livre dele já que se casaria com uma herdeira qualquer da Grã Bretanha, mais rica que ele obviamente, ainda que sentisse pesar pela garota... Não deixava de estar um pouco como um arco íris depois de uma chuva torrencial com a promessa de que não mais sairia prejudicado por ele. Devia ter permanecido com os meus escudos impenetráveis....

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