Capitulo 03

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 Carmela  Minha vida nunca foi fácil, mas eu e meu falecido esposo David trabalhávamos muito para comprar nosso lar, e depois de alguns anos de casados conseguimos conquistar nosso sonho, aí vimos que era a hora de termos nosso primeiro filho, e isso não demorou de acontecer, e eu fiquei grávida o fruto do nosso amor estava por vir. Quando nossa menina nasceu foi o dia mais feliz de nossas vidas, arrumamos o seu quartinho, simples mas com tudo bem organizado, e limpinho, ela parecia um anjinho e só trouxe alegrias a nossa casa, era uma menina linda a nossa alegria. Mas isso foi mudando conforme ela foi crescendo, e nada do que fazíamos para ela estava bom, nada do que dávamos era o suficiente e quanto mais o tempo passava mais difícil ficava ela sempre reclamava e exigia mais do que podíamos dar, aos dez anos o David faleceu após ser atropelado na volta pra casa e eu perdi meu amor, e tive que me desdobrar para poder dar conta das despesas da casa e de criar a Sônia, mas foi uma missão bem difícil, a Sônia desde os sete anos que mudou completamente, suas atitudes em casa era sempre para reclamar e exigir o que eu e o pai não podíamos dar e depois da morte do David tudo ficou mais difícil, tudo se tornou um martírio em minha vida, saía o dia inteiro para trabalhar e quando chegava em casa ainda tinha que arrumar tudo, ela não me ajudava em nada. Conforme os anos iam passando a situação ia piorando, cadê vez ela ficava menos tempo em casa e quando estava era para reclamar da comida, da roupa, do calçado que eu dava, nada do que eu fazia era aceito por ela, trabalhava dobrado para conseguir manter as contas da casa e a comida na mesa, mas isso não era o suficiente para minha filha, quantas vezes ela jogou a comida fora por não ser o que ela queria, por mais que eu buscasse ser uma boa mãe, por mais que eu buscasse dar o meu melhor, nunca foi o suficiente para minha filha, que parece que todos os valores que tentei ensinar foi em vao, ela nunca seguiu nenhum, ela só queria ser rica e ter dinheiro, tudo em volta dela girava em torno de futilidades. Quando ela completou dezessete anos ganhou um concurso de beleza, e mesmo eu não concordando com ela ir para outro país, mas nada do que eu disse ela escutou, o único interesse dela na viagem era o dinheiro e mais nada, e como ela sempre dizia que queria sair do buraco onde morava, isso foi o suficiente para que eu deixasse ela ir e ver que a vida de riqueza não traz a felicidade a ninguém e que um dia ela ia ver tudo que perdeu por não valorizar o que realmente tinha valor que era sua família. Depois dessa viagem eu não tive mais nenhuma notícia dela, a não ser um telefonema me dizendo que havia encontrado um namorado e iria morar com ele, que agora sua vida estava indo para o lugar que sempre quis, e que não voltaria para essa "vidinha de pobre", assim ela se referia a nossa vida, então o que eu podia desejar a ela eu fiz, uma boa sorte nessa nova vida que ela estava iniciando, mas que a minha casa sempre estaria aberta caso um dia ela resolvesse voltar. Depois de oito meses recebo uma ligação sua que estava no hospital e queria me ver, não pensei duas vezes e fui, apesar dela ter esquecido que tinha uma mãe, eu não esqueci que tinha uma filha e mesmo ela não se lembrando desse detalhe eu fui, já preocupada em saber que ela estava doente, mas ao chegar no hospital tenho a maior surpresa, a minha filha tinha me dado um grande presente, uma criança linda, uma menina que mais parecia um anjo, e minha esperança dela ter mudado e essa criança ser a fonte de sua salvação, mas isso se acabou no momento de nosso diálogo. -Como assim você vai viajar amanhã com a Fernanda pequena Sônia? - Eu não vou levá-la mãe, essa menina só veio atrapalhar minha vida e se a senhora não quiser eu deixo ela num abrigo, mas eu não vou abrir mão de minha vida por causa dela, não agora que minha carreira vai estourar. - Sônia como eu vou trabalhar e cuidar de uma criança recém nascida, você e seu marido devia cuidar dela. - Acontece mamãe que ela não é filha do meu marido, o pai dessa menina é um nada e foi um erro eu ter ficado com ele e eu não vou perder a minha vida por causa de um erro que cometi, então a senhora é quem sabe, ou fica com ela ou eu deixo num abrigo. - Eu não vou permitir minha única neta ir pra um abrigo, pode deixar minha pequena Fernanda comigo que eu vou cria-la e dá a ela o amor que você está negando a ela. - Eu nunca quis essa criança, como eu disse ela foi um erro e eu não vou sacrificar tudo que conquistei e que ainda vou conquistar por causa desse erro. E ali a nossa conversa foi encerrada, eu olhava aquela criança tão linda, com os olhos da cor do céu, tão indefesa e eu não acreditava que minha própria filha estava rejeitando minha neta, que pretendia deixá-la num abrigo como um ser sem família, e eu naquele dia prometi que poderia passar por qual qualquer coisa, mas ia criar e dar o amor necessário para minha pequena Fernanda, meu anjinho de olhos azuis, ia dar a ela tudo que a desnaturada da mãe estava negligenciando, peguei tudo da minha pequena e levei para minha casa, ela deixou todo o enxoval e muitas latas de leite e fraldas, só esqueceu do principal que era o amor e o carinho de mãe que a pequena precisava. A Sônia foi sem ao menos se despedir, e apartir daquele dia eu me desdobrei para criar a Fernanda, os primeiros meses foi bem difícil, até ela se acostumar com a mamadeira, depois as coisas foram melhorando, minha vizinha Diana era quem me ajudava a olhar minha bonequinha quando estava fazendo minhas faxinas, depois de um dia cansativo de trabalho, chegar em casa e ver o sorriso e a alegria dela era a minha maior alegria, a Fernanda é uma menina doce, carinhosa, alegre, nem parece ser filha da Sônia. Minha bonequinha foi crescendo e cada vez mais amável, aos três anos eu a levava comigo para o trabalho, ela por ser tão doce e comportada minhas clientes não reclamavam, e assim eu fui criando a minha pequena, lhe dando muito carinho e amor, o quarto que era da mãe dela, eu arrumei e deixei pra ela, mesmo a mãe não se importando eu nunca deixei que ela tivesse uma má imagem dela, a minha esperança de que um dia ela resolvesse lembrar da filha. O tempo foi passando e a Sônia não me deu mais nenhuma notícia, nenhuma ligação, nem pra saber como a Fernanda estava, eu tentava de todas as formas suprir a falta que ela sentia da mãe, principalmente agora que ela estava na escola e sempre nas comemorações dos dias das mães ela sempre deixava de participar, e eu sabia que por mais que eu a criasse, ela sabia que eu não era a sua mãe e sim a avó, eu ia sempre explicando a ela que a mãe morava em outro país e era difícil vir visitar, ela sempre me dizia que entendia mas eu via a tristeza em seu olhar. - Vovó! vó! - Oi bonequinha, como foi a aula hoje? - Foi boa, ah vó vai ter aula de patinação na escola, a senhora deixa eu participar? - O quê precisa meu amor pra participar? - A senhora tem que ir lá, e assinar o papel, já que minha mãe não mora aqui. - Claro meu amor, amanhã a vovó vai com você e assina o papel. - É... só que tem que comprar os patins vó, mas se a senhora não tiver dinheiro não tem problema eu faço só quando a senhora puder comprar. - A vovó vai dar um jeito meu amor, mas você vai fazer a patinação está bem? - A minha mãe quando vir me ver vai ficar orgulhosa de mim né vovó? - Vai sim minha bonequinha, agora vamos almoçar que a comida vai esfriar. E assim aos sete anos ela começou a patinar, e eu mesmo pagando o patins em várias prestações estava feliz, cada vez que ela se apresentava na escola era o meu orgulho ver o seu talento e sua dedicação. Nesse ano que ela iniciou na patinação a Sônia passou aqui em Seattle e me ligou pedindo que a levasse até o hotel em que estava, foi a primeira vez depois de sete anos que ela viu a mãe,mas não foi o encontro que eu esperava, não houve nenhuma demonstração de carinho por parte da mãe, ela simplesmente lhe deu alguns presentes e mais nada, nenhum abraço, nenhum beijo, nada de sentimentos, mas a Fernanda mesmo assim ficou feliz em conhecer a mae, e suas palavras naquele dia depois que saímos do hotel sempre vai está na minha mente. - Minha mãe é bonita né vovó? - Sim meu amor. - Vó será que um dia ela vai gostar de mim? - Vai sim querida, sua mãe só está trabalhando muito, mas um dia ela vai levar você pra morar com ela. - Mas a senhora vai junto né? - Não meu amor, quando esse dia chegar, você vai só para morar com ela, a vovó tem a casa dela e vai sempre te visitar e você vai vir me visitar também. - Sabe vó essas coisas que a mamãe trouxe pra mim, eu posso dividir com a Alice, eu não preciso desse tanto de roupa e nem desse tanto de boneca, eu queria mesmo era que a mamãe gostasse de mim, que tivesse me dado um beijo, um abraço, não queria presentes, eu queria seu colo, seus carinhos, um pouquinho de sua atenção, mas um dia ela vai me dar né? - Vai meu amor, um dia ela vai. E eu tinha o maior orgulho de ter uma menina tão doce e tão carismática, a bondade em pessoa, a Fernanda não via maldade em nada, até a mãe que a abandonou, ela sentia um carinho enorme por ela e nunca a vi se revoltar quando falava dela, mesmo ela não dando o carinho que ela tanto precisava e queria, a Fernanda encanta a todos que a conhece, só tem elogios na escola, as professoras só tem elogios, além de ser uma ótima aluna, ajuda a todos os colegas, e tudo pra ela está bom, ela não questiona sobre suas roupas, calçados, a comida, ao contrário da mãe ela sempre agradece por tudo que tem, e mãe não sabe o quanto está perdendo as melhores fases da vida dela. Os anos seguintes foram só a alegria pra mim, a Fernanda cada ano que passava só me dava mais orgulho, estava cada vez mais linda e patinava cada vez melhor, sempre se apresentava em nome da escola, ganhou vários troféus, mas nunca perdeu sua simplicidade, agora com dez anos, estava uma mocinha linda e me ajudava em tudo, a mãe depois da última vez que a viu com sete anos, não a viu mais, algumas ligações e mais nada, a Fernanda já está acostumada com a falta de carinho da mãe, mas ainda assim tem a esperança de um dia ela vir e ser a mãe que ela tanto sonhou. Hoje não tive nenhuma faxina, então fiquei em casa, a Fernanda foi pra escola e aproveitei pra arrumar algumas coisas, estou no meio de uma faxina quando meu celular toca, olho o número e vejo que é a Sônia. - Alô? - Alô mãe, eu liguei para avisar que deixe Fernanda arrumada, estou me mudando pra Portland e vou levar ela pra morar comigo. - Você vai levar ela pra longe de mim? Mas Sônia... - Ela ainda é minha filha, então ela vai comigo, no final de semana eu passo pra buscar as coisas dela e a senhora providencie os documentos da escola. - Mas Sônia, como você vai tirar a menina assim, ela tem amigos, tem a patinação, ela tem a vida dela aqui, porque você vai tirar isso tudo dela. - Mãe eu já disse a Fernanda é minha filha e eu vou precisar dela comigo, e amigos ela faz outros, e a patinação também ela pode fazer aqui, e outra eu posso dar uma vida melhor a ela. - E por que isso agora? Você nunca quis saber dela, agora quer levá-la pra longe, tirar tudo que ela conquistou? - Mãe não adianta discutir, meu marido é advogado portanto a senhora não tem nada a fazer, a não ser arrumar as coisas e deixar tudo pronto pra mim pegar a Fernanda no final de semana e se eu achar que devo deixar ela pode ir ve-la um final de semana por mês. - Tudo bem, Sônia ela estará pronta. E assim minha vida se tornou triste, minha bonequinha, meu anjinho foi embora, a casa ficou sem vida, sem os seus sorriso, sem as suas brincadeiras e mesmo com meu coração partido por ter que entregar ela a mãe, meu medo de como seria a vida dela sem eu está perto, sem o carinho e o amor que ela estava acostumada, seus olhos cheios de lágrimas entrando no carro pra ir com a mãe nunca sairá de minha memória, mas eu vou ficar atenta e não vou deixar a Sônia maltratar minha menina, ela nunca a quis, e só a levou por eu não ter como brigar na justiça, mas se ela fizer algum m*l a ela, a Fernanda volta comigo e aí nós vamos brigar na justiça por quem vai cria-la, mas minha menina não vai sofrer por falta de carinho e nem de amor, a Sônia não vai tirar a bondade e alegria de minha bonequinha, antes disso eu a trago pra perto de mim novamente.
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