Episódio 1

1182 Words
Natália. A minha vida nunca foi fácil, mas entrar na universidade era minha saída para tudo, a minha fuga desta cidade. Então quando chegou o dia da inscrição, a felicidade me inundou. Eu finalmente iria embora e Evan poderia seguir em frente com a sua vida. Ele era muito jovem quando se casou com a minha mãe, mas ficou ao lado dela até o último suspiro. Não me lembro muito do meu pai, mas é o melhor assim. O meu pai maltratou a minha mãe quando eu era criança, mas quando ela se cansou dele já era tarde demais. Um ano depois de sairmos de casa, mamãe começou a passar m*al todos os dias e alguns meses depois foi diagnosticada com câncer terminal. Quando mamãe morreu, Evan decidiu cuidar de mim e o carinho entre nós aumentou muito, embora eu nunca o tenha chamado de pai e poucas pessoas saibam que ele não é o meu pai verdadeiro. Quanto a ele, ele nunca trouxe mulheres para casa e até pede o mesmo de mim, daí a regra "Nada de estranhos em casa" então ele, coitado, está sozinho há muito tempo e quando eu for para a universidade ele finalmente poderá ter uma vida. Poderá encontrar alguém e ser feliz. Eu não serei mais um fardo para ele. Eu quero ir embora mais do que qualquer coisa neste mundo. Por ele. Por nós. Para paz de espírito e felicidade, sem fardos ou obrigações. · · · Quando chego em casa sinto o cheiro de comida fresca, a carne tem um cheiro maravilhoso e a sobremesa, posso dizer que é chocolate só pelo aroma. — Que delicia. — Olá querida! Você chegou cedo. Ele sorri enquanto lambe o dedo cheio de mistura de farinha. — Nem pense em colocar esse dedo na mistura de novo, Evan. Ameaço, me aproximando da pia, ao lado dele. ─ O que você vai fazer, pequenina? Ele zomba enquanto pega a tigela com a mistura pronta para sujar tudo. ─ Evan! Eu grito, me aproximando dele. A sua risada enche a cozinha enquanto tento em vão pegar a sua mão, já que a sua altura o torna invencível para alguém como eu. A minha mochila cai no chão com estrondo e a sua risada aumenta de volume me fazendo cruzar os braços em aborrecimento. — Dê-me a tigela, Evan. Eu ordeno. A sua risada diminui lentamente e os seus olhos me examinam, por um momento parece que ele está me olhando da cabeça aos pés, mas no final ele apenas faz uma cara séria e me entrega a tigela enquanto se vira para lavar as mãos. Ele continua cozinhando em completo silêncio e eu começo a comer um pouco da mistura com uma colher, mas depois de um tempo fico enjoada então deixo na bancada e pego a minha mochila, sento e ligo o meu laptop. — Como foi a escola? Ele pergunta, servindo a comida nos pratos. — Bom, normal, não teve muita novidade já que o curso vai acabar. — E os exames? — Serão quatro, um é daqui a dois dias e os outros ainda não nos deram datas. Respondo enquanto abro o site oficial da Universidade de Harvard. — Ainda faltam três meses Evan, não se preocupe com o ensino médio, garanto que vou me sair bem em tudo. — Espero que sim, ou a Columbia não aceitará você. Diz ele, fazendo o meu pulso acelerar. Ainda não contei a ele que não quero ir para essa universidade. — Sim, claro que não custa nada enviar inscrições para outras universidades, certo? Pergunto nervosamente. — É verdade, mas Columbia é perfeita, fica na cidade e você pode ficar aqui se quiser, caso contrário você ainda pode vir com frequência. — Harvard é uma boa escola e Boston é linda... — Você quer ir para Boston? Ele pergunta lentamente. — Não sei, Harvard é muito cara e isso sem falar que é muito seletiva. — Tudo bem, mande a sua inscrição e não se preocupem com o dinheiro. — Vou para o meu quarto. — Coma primeiro, pequenina. Concordo com a cabeça, fechando o meu laptop e colocando-o dentro da mochila. — Como foi o trabalho? Pergunto sorrindo. — Tudo tem melhorado desde o meu último projeto, embora terei que passar mais tempo na empresa a partir de segunda-feira. — Tudo bem. Sussurro, abaixando a cabeça, não gosto de ficar sozinha em casa. — Ei, não, não aja assim, garota. Ele aproxima a mão do meu rosto e levanta o meu queixo lentamente. Os seus olhos se conectam com os meus e a felicidade retorna para mim brevemente até que ele retira a mão abruptamente e volta para sua comida, ele está estranho há dias e tenho que perguntar por quê. — O que há de errado, Evan? — Sobre o quê? Ele pergunta, se fazendo de bobo. — Alguma coisa está acontecendo, você não olha para mim por mais de dois segundos... — Não é nada, só tenho muito trabalho. — Evan... — Nada está acontecendo. Ele se levanta rapidamente mas antes de sair acrescenta: amanhã terei companhia, você tem permissão para chegar uma hora mais tarde. — Amanhã não tenho planos, estarei no meu quarto em silêncio. Sussurro, olhando para ele. — Chegue mais tarde, por favor... Com isso ele vai embora e fico com mil dúvidas na cabeça, mas decido ignorá-lo e focar novamente no meu laptop. Devo enviar as minhas inscrições até segunda-feira, mas m*al posso esperar, então começo a preenchê-las e guardá-las prontas para enviar. O final da noite já chegou, então vou para o meu quarto, mas quando subo o escadas posso ver a porta que Evan está aberta. Passo direto, mas ouço a sua voz alterada ao telefone. — Não posso contar isso para ela. Diz ele, irritado. Ele está se referindo a mim? Ele não me quer mais aqui? — Talvez eu lembre a mamãe agora que o tempo passou e ele não quer me ver. O simples pensamento parte o meu coração. Ele continua xingando enquanto anda de um lado para o outro, eu fico escondida para poder ouvir, mas do nada os seus passos param e a sua voz soa cr*uel. — Não vou contar isso a ela, pense em outra coisa. Posso ouvi-lo jogar o celular no chão e caminhar na minha direção, corro pelo corredor até a minha porta, mas antes de chegar lá a sua voz me alcança. — Não é bom ouvir as conversas dos outros. Ele me repreende. — Me desculpe, a porta estava aberta e eu... Eu lentamente viro-me para ele, mas a visão me deixa atordoada por um momento, a sua mandíbula está tensa, então eu sei que ele está furioso, mas o que chama a minha atenção não é mais a raiva estranha, mas a visão do seu corpo. Uma toalha cobre a sua cintura, apenas, enquanto o seu abdômen fica exposto parecendo uma mesa perfeita de chocolates. ‎​​‌‌​​‌‌​‌​‌​​​‌​‌‌‍
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